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Claudio Luiz Dias 06/19/2024 12:26
    Cordilheira Blanca – Lagunas e Glaciares no Peru

    Cordilheira Blanca – Lagunas e Glaciares no Peru

    Longe dos holofotes de Cusco e Macchu Picchu, o Norte do Peru reserva incríveis experiências, como vivenciadas em Huaraz.

    High Mountaineering Trekking

    Após participarmos de uma travessia sonora pelo Peru, passando por sítios arqueológicos como Las Aldas, Chankillo, Sechin e Chavin (www.puttuttoexpediciones.com), não retornamos a Lima com o grupo, mas ficamos um pouco mais nos Andes Centrais.

    Nossa base foi a cidade de Huaraz, capital da Província de mesmo nome e também capital do Departamento (equivalente a Estado) de Ancash. Fica a cerca de 3.900 metros acima do nível do mar e foi fundada em janeiro de 1574, apesar da presença de populações pré-hispânicas bem anteriores.

    Longe dos holofotes de Cusco e Macchu Picchu, o Norte do Peru (Costa, Cordilheira e Selva) reserva incríveis experiências, sem toda aquela horda de turistas.

    Huaraz é conhecida também com a capital do Montanhismo. De lá se parte para explorar o famoso pico Huascarán que é a montanha coberta de neve mais alta do Peru, com 6.757 metros de altitude. Está localizado no coração do Parque Nacional Huascarán, na chamada ‘Cordilheira Branca’ da região de Ancash.

    Ficamos hospedados no simples, mas eficiente hotel Sunrise Guest House, reservado pela Booking.com (Jirón Teófilo Castillo, Huaraz, Coordenadas GPS: S 009° 31.919, W 77° 31.856).

    Escolhemos a localização por ser perto da Plaza de Armas. No lobby há bastões de caminhada deixados por outros viajantes. O uso é livre para os hóspedes, o que nos ajudou bastante para explorar um Glaciar.

    As cidades nesta região são simples, com ruas muito bem pavimentadas e extremamente limpas.

    Era o mês de julho de 2023 e fazia frio, principalmente após o pôr-do-sol, nos fazendo usar gorro, cachecol e luvas. E por ser inverno, não chovia e os dias eram bem claros, com um céu azul contrastante com os picos nevados no entorno das cidades.

    Como já estávamos adaptados à altitude, a primeira atividade em Huaraz foi a subida no mirante de Rataquenua, uma caminhada de cerca de 4,5 km de ida e elevação de cerca de 300 metros em relação ao centro da cidade.

    Saímos a pé do centro da cidade (Plaza de Armas) e seguimos as indicações de um folheto que ganhamos no Serviço de Informações Turísticas com suas simpaticíssimas agentes. Até tiraram fotos conosco!

    Era um domingo e passamos por uma enorme feira livre, onde se vende de tudo, de comida e peças de automóveis.

    Passamos e seguimos em frente, sempre subindo. A cidade foi ficando mais distante e as casas menores.

    Do alto do mirante, onde há um cruzeiro, foi possível ver como a cidade se instalou em um vale plano, cercada de montanhas por todos os lados. As montanhas, ou Apus, são sagradas na cultura andina desde temos imemoriais.

    Uma delas é a Huandoy, a quarta montanha mais alta do Peru, com 6.395 metros de altitude. Tem quatro picos nevados, dos quais o lado norte é o mais alto.

    Do mirante também se avista o todo poderoso pico Huascarán.

    Apesar de ser uma cidade antiga, as construções são relativamente recentes. Em 1970 houve um forte terremoto de devastou a cidade, arrasando os casarões coloniais. Há apenas uma rua que conserva tais casarões antigos, poupados pelo grande terremoto de 1970.

    Mas isto possibilitou a reconstrução da cidade com um bom plano urbanístico.

    Após retornar ao centro da cidade, passamos pelo ótimo Museu Arqueológico e Ancash “Augusto Soriano Infante” , com muitas peças em cerâmica pré-colonial, múmias, crânios alongados (símbolo da elite de então) e crânios com trepanações (operações que consistiam em remover uma parte circular do osso do crânio visando tratar ferimentos de guerra ou outras doenças). Em alguns crânios, a reconstituição óssea comprova que o paciente sobreviveu e viveu por um bom período ainda.

    Esse Museu apresenta principalmente peças da cultura pré-incaica Recuay e nos fundo há um “jardim lítico” com esculturas pré-hispânicas em pedra, que vale ser visitado.

    Huaraz é também a capital dos esportes de montanhas nevadas na chamada Cordilheira Blanca.

    Há muitas agências de turismo pela cidade, principalmente ao lado da Catedral, oferecendo circuitos mais pesados ou mais leves, a gosto dos clientes.

    Há infinitas lagunas e glaciares para visitar, além de trekkings mais pesados aos picos nevados. Geralmente os destinos são distantes e levam o dia todo entre ida e retorno, ou mesmo necessitam pernoite em barracas para os trekkings mais longos.

    Para o segundo dia, escolhemos visitar a Laguna Paron. Creio que foi a escolha acertada por dois motivos: o visual é indescritível e a distância desde Huaraz é aceitável. E recentemente vimos vídeos no Youtube sobre outras lagunas, como a Laguna 69, bem mais distante de Huaraz, mas continuamos achando a Paron mais bonita.

    O lago está dentro dos limites do Parque Nacional Huascarán e o estacionamento das Van de turismo não é tão longe do lago, no que se chega após uma curta caminhada, sobrando tempo para explorar as margens do lago, pelo menos até a comporta que controla a vazão de saída da água, localizada aproximadamente na metade do lago. Por falta de tempo na excursão, não pudemos chegar até o extremo oposto da laguna. Além disso, ventava muito, fazendo a sensação térmica baixar a um ponto desconfortável.

    Paron é o maior lago da Cordilheira Branca, nos Andes peruanos, e se localiza a 32 km a leste da cidade de Caraz capital da Província de Huaylas, na qual tivemos o prazer de ficar dias antes com o grupo da Puttuttoexpediciones.com.

    Como já disse, a beleza é indescritível e por isso as fotos falam por si. Então vamos aos dados técnicos: a cor da água de um incrível azul turquesa é devida às altas concentrações de cal dissolvida, trazida pelo carreamento desde as geleiras que circundam a região. Todos os picos nevados ultrapassam 5.000 metros e alguns ultrapassam os 6.000 metros acima do nível do mar.

    A partir do lago é possível visualizar as imponentes montanhas nevadas de Pirâmide, Huandoy, Pisco, Chacraraju, Paria e Artesonraju. A Artesonraju com seus 6.025m é a montanha apresentada no logo da Paramount Pictures. Pelo menos é isso que dizem os locais e guias de turismo.

    O lago, formado como um reservatório de natural, tem uma área de captação de 44,3 km2, tem 3,7 km de comprimento (EW) e média de 700 m de largura (N-S), a profundidade original era de cerca de 75 m, mas hoje o nível foi reduzido para 15 m para evitar o colapso do reservatório. A Laguna Paron foi palco de uma disputa social entre a companhia de energia elétrica e os agricultores do entorno, com ganho de causa pelos últimos. O lago era considerado uma propriedade privada e a água era anteriormente utilizada para o aproveitamento hidrelétrico pela empresa Cañón del Pato, não mantendo água suficiente para os outros usos da população rural do entorno. Em 2008, após a laguna se parecer apenas como um brejo, o uso para geração de energia foi encerrado e o nível de água se recuperou. O nível da água é controlado hoje por um túnel e uma comporta subaquática, para manter o nível da água a 4.155m de altitude, alcançando um duplo objetivo: evitar o transbordamento e o risco resultante para a população a jusante e gerir a descarga do rio, cuja água é utilizada na agricultura. É possível contratar um passeio de bote a remo pelo lago, o que pode render algumas fotos interessantes. Mas é preciso avaliar o custo benefício, já que o vento forte impede um deslocamento extenso e o barquinho pode balançar bastante. Não fizemos este passeio de bote, pois no dia ventava muito.

    Há também uma loja onde se pode comprar artesanato, água e petiscos. Também não subimos no mirante, por recomendação do guia e avisos de perigo que estavam no começo da trilha.




    A encosta do mirante é constituída de rochas muito fraturadas, intermeadas com gelo. Ocorre que, apesar de ser inverno, esse gelo estava derretendo, podendo movimentar as rochas. A água escorria como cachoeira pela trilha de acesso. Prova sempre constante nessa viagem do aquecimento global...

    Alguns visitantes subiram no mirante, apesar dos avisos.

    No retorno, paramos para almoçar numa comunidade de agricultores e criadores de truta. Os pratos eram todos à base de truta: frita, assada, cozida... tudo muito saboroso.

    No dia seguinte foi a vez de conhecer um geleira, o Glaciar e Pastoruri. Meu companheiro Carlo tinha tido dor de cabeça e resolveu não participar desse roteiro, que envolvia caminhada mais extensa a maiores altitudes. Nestes roteiros em altitude e frio, é muito importante cada um avaliar suas próprias condições físicas.

    Então fui só. O Sol já ia alto quando a Van da agência de turismo passou para me pegar no hotel.

    O trajeto até o Glaciar é de cerca de 90 km adentrando na Provincia de Recuay, levando cerca de 2 horas desde Huaraz e o tour inclui algumas paradas em outras atrações.

    Passamos pelo Lago Patococha, conhecido por sua avifauna, mas não paramos.

    Da estrada foi ainda possível ver “currais” feitos de pedras empilhadas, em formato oval, onde pastores reúnem rebanhos de carneiros e lhamas.

    Depois do posto de controle do parque nacional, paramos em Pumapampa.

    Pumapampa é um grande vale húmido com altas montanhas no entorno. O alagamento equivale a um pequeno ‘pantanal”, chamado no Peru de “bofedales”, um importante ecossistema.

    Primeiro fomos ver uma fonte de águas gaseificadas naturalmente, que aflora do chão em borbulhas, no lado do vale, à esquerda da pista. Essa água não é potável.

    As vans são recebidas por simpáticos cães, cujos donos são vendedores de guloseimas e artesanato.

    Seguimos para ver as enormes bromélias chamadas Puya Raimondii, pela árida encosta no lado direito da estrada.

    A Puya é uma espécie da família das Bromeliáceas. É endêmica do Peru, Bolívia e do norte do Chile. A Puya raimondii ocorre nas altitudes situadas entre 3200 e 4800 metros acima do nível do mar. Seu nome homenageia o naturalista italiano Antonio Raimondi (1824–1890), que no ano de 1874 descobriu a espécie na região de Chavín de Húantar, no Peru.

    A planta tem cerca de quatro metros de altura, e quando floresce, no alto dos seus 80 ou 100 anos de vida, seu pendão chega a ter de 12 a 15 metros de altura. Cada planta produz, uma única vez em sua vida, aproximadamente 8.000 flores, contendo seis milhões de sementes. Apesar do gigantismo da planta, as sementes são minúsculas para serem dispersadas pelo vento.

    Depois, um pouco mais adiante, novamente pelo lado esquerdo da Pista, descemos até o vale alagado para observar um laguinho, chamado de “ojo de água Pumapashimin”. As algas e demais plantas existentes, além da incrível transparência da água, conferem um espetáculo multicolorido. À distância me pareceu bastante profundo.

    Não sei se era a saudade de casa, mas a parte do lago sem vegetação me pareceu o contorno conhecido do mapa do Brasil.

    Há um mirante elevado de madeira para apreciar melhor a paisagem

    Seguimos então para o nosso destino principal, o Glaciar Pastoruri, que é um dos poucos glaciares que restam nas áreas tropicais da América do Sul e está recuando rapidamente.

    Tecnicamente, nem é mais uma geleira, já que Pastoruri não acumula mais gelo no inverno, mas perde constantemente seu volume. Nos últimos 30 anos já perdeu 22% do seu tamanho e 15,5% da sua massa de gelo.

    As previsões dizem que só será possível visitar os restos do que já foi uma grande geleira por mais uma década.

    Paramos no estacionamento a 4.800 metros acima do nível do mar para iniciar a caminhada, que há cerca de 10 anos tinha uma distância de apenas 200 metros e hoje percorre-se 2,5 km para chegar na face da geleira.


    Este trajeto leva cerca de 40 minutos a uma hora de caminhada na subida. Apesar da pequena distância e da sinuosa trilha pavimentada em quase toda a extensão, a dificuldade está na altitude. Caminhar a quase 5.000 metros de altitude é árdua tarefa para nós acostumados a viver ao nível do mar.

    Para isso, mascar folhas de coca, vendidas nos mercados e feiras, auxilia na circulação sanguínea e, portanto, na oxigenação do corpo. Para os menos preparados, é possível alugar cavalos com os “arrieiros”, os peões que acompanham cavalgaduras de aluguel. Os cavalos chegam até a metade do caminho, aproximadamente.

    A paisagem é desértica, com alguns bonitos lagos azuis e “poças de água” em tom avermelhado, provavelmente devido aos óxidos de ferro que parecem ser comuns nas rochas.

    Algumas pequenas plantas do tipo de gramíneas insistem em florescer.

    Com um pouquinho mais de esforço, vale a pena subir até um mirante localizado um pouco antes da base da geleira.

    Por fim, se chega à base da geleira a 5.250 metros de altitude. Apesar da altitude e da proximidade com a geleira, o tempo não estava tão frio. Não precisei usar gorro ou luvas. Mas é um lugar que costuma ter variações repentinas no clima. Por isso é recomendável levar corta-vento, capa de chuva, além de deixar na Van uma troca de roupa seca. Importante levar também protetor solar e óculos escuros ou espelhados. Ainda não sei como descrever a sensação que tive. Tudo é muito lindo, as cores são berrantes, branco, azul, vermelho. E o vento... o vento forte levava até os pensamentos! Mas ao mesmo tempo, ver a geleira literalmente morrendo me causou tristeza. As profundas fissuras no bloco gelo e o constante e visível derretimento em pleno inverno me fizeram pensar em muitas coisas, como estilo de vida, tempo e finitude de tudo... Fico chateado quando vejo comentários sobre o Glacial Pastoruri na internet descrevendo-o como “passeio fraco”, “geleira pequena” e essas coisas, como se alguém estivesse falando mal de um amigo querido.

    Por fim, fiz minhas oferendas à Pachamama, tal como aprendi anos antes, na trilha para Macchu Picchu: Três folhas de coca íntegras, seguradas pela base e em forma de leque; soprando as folhas nas quatro direções visando as montanhas mais altas; e colocando-as no solo, sobre três ou mais pedras. Agradeci a possibilidade de estar ali e pedi a cura para essa febre que nos assola.

    E então iniciei a descida até o estacionamento onde a Van nos aguardava. Há um pequeno centro para turistas, mas infelizmente havia lojas abertas. Ficamos esperando por um bom tempo um grupo de retardatários que tiveram mais dificuldade na caminhada.

    O guia havia comentado sobre pinturas rupestres no caminho e então na volta eu pedi a ele para parar no local para eu poder fotografar. A contragosto, o guia concordou em parar, mas apenas eu pude descer da Van para não atrasar mais o almoço.

    Seguimos para o almoço na pequena e extremamente limpa cidade de Catac, rodeada de picos nevados.

    De volta a Huaraz, reencontrei o Carlo, já recuperado da dor de cabeça, jantamos num pequeno Food Truck pertinho do hotel, cuja proprietária foi muito simpática conosco. Aliás, simpatia não falta ao povo andino de Ancash.

    Na manhã do dia seguinte, nosso último dia em Huaraz, fomos visitar um pequeno sítio arqueológico dentro da área urbana da cidade. Fomos a pé, seguindo o folheto de turismo. Chama-se Waullac. Existem evidencias tanto da cultura Recuay como da cultura Wari terem ocupado o local.

    É constituído por terraços agrícolas pré-incaicos e há também outros terraços que servem de base para estruturas funerárias tipo “chullpas”. A entrada é livre e não há bilheteria ou guia.

    Uma das características marcantes desta cultura pré-inca é a adoração aos seus falecidos, especialmente aos Wari e Recuay, a quem correspondem os monumentos arqueológicos de Waullac, onde se podem ver 5 estruturas feitas de pedras, usadas para realizar cerimônias com seus mortos. Esses túmulos são feitos de tal forma que permitem a fácil transferência dos mortos (múmias) de um lugar para outro para suas cerimônias, típico desta cultura. Deve-se ressaltar que a cultura Wari via a morte como um sinal de fertilidade, onde se retorna à terra para germinar uma nova semente. Recentemente tem havido muita discussão sobre os museus exporem restos mortais, como múmias e ossadas e suas implicações éticas, já que se trata de serem humanos. Mas, pelo menos no caso dos Wari e Recuay, creio que as múmias expostas no Museu estão felizes de conviver com os vivos que as visitam, porque assim era no tempo delas.

    Apesar de ser declarado “Patrimonio Cultural de la Nación” desde 2005, a cidade e suas casas estão se expandindo por sobre o sítio arqueológico.

    Passamos a tarde na Plaza de Armas de Huaraz.

    Tivemos a sorte de estar em Huaraz na Semana Turística do Callejón de Huaylas, que ocorre de 22 a 31 de julho. Anteriormente era conhecido como Semana do Montanhismo, mas tornou-se um festival mais amplo. Acontece em Huaraz e conta com exposição de artesanato, comidas típicas e participação de empresas de turismo. Vimos desfiles de dança e música de comunidades do entorno da cidade com seus trajes e instrumentos típicos, fomos na feira de artesanato, dançamos na rua com os sempre simpáticos moradores da Cordilheira Blanca e assistimos a um show da bela, talentosa e adivinhem, simpática, cantora tradicional ancashina Pamela Toro Figueroa (@pamelatorofigue). Ao passo que a noite se aproximava, e nossa partida se tornava iminente a saudade dessa região e seu povo ia apertando. Mas enfim tomamos o ônibus da ótima e confiável empresa Cruz del Sur de volta a Lima, onde ainda passaríamos alguns dias antes do regresso a São Paulo.

    Claudio Luiz Dias
    Claudio Luiz Dias

    Published on 06/19/2024 12:26

    Performed from 07/18/2023 to 07/23/2023

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    Claudio Luiz Dias

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    Agrônomo pela ESALQ USP.Trabalha na CETESB (Agência Ambiental do Estado de São Paulo) desde 1990. Interesse por meio ambiente, historia e cultura (foco em cerâmica indígena)

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