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Claudio Luiz Dias 15/03/2016 20:51
    Cumuruxatiba - Sul da Bahia

    Cumuruxatiba - Sul da Bahia

    Recordação de uma antiga caminhada de 30km de Cumuruxatiba a Prado, pela praia, entre falésias e coqueirais

    Esta aventura eu recordei depois de ouvir o relato do Eduardo Chaves que atravessou a nado o rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba, carregando a bike presa ao pé e o celular na cabeça... tudo bem ele, a bike e o celular sobreviveram...

    Como é da década de 90, poucas fotos próprias restaram, mas com o auxilio da internet, vou poder ilustrar o causo.

    Bom, vamos ao relato...

    No ano anterior, creio que 1993, eu tinha feito um live abord de 4 dias no Mar, em Abrólhos para ver baleias jubarte, ver os ninhais de atobas (na única ilha do arquipélogo em que se pode desembarcar) e mergulhar neste incrível parque marinho, com a operadora Narwal (www.narwhal.com.br). Um dos mergulhos mais difíceis que fiz foi no navio Rosalina, que afundou com uma carga de sacos de cimento, ainda empilhandos jazendo no fundo do mar, dentro dos enormes porões. A correnteza e a profundidade, além do mar revolto na superfície me esgotaram, demorei muitos e muitos minutos para conseguir, já sobre o barco, desmontar o equipamento e tirar a roupa de neoprene. Mas foi inesquecícel. Assim, como a visão das baleias.

    Tão inesquecível que no ano seguinte, como a operadora não faria o pacote nas datas das minhas férias, voltei por conta, tentando embarcar em um outro grupo. Fiquei hospedado em Alcobaça, ponto de partida para Abrólhos.

    Mas não consegui nenhum live abord. Os grupos já estavam lotados.

    Consegui apenas um passeio de 1 dia, em lancha rápida para ver as baleias. Na volta, o sistema de arrefecimento da lancha de defeito, precisando parar várias vezes para colocar água. Eu ajudei o marinheiro no porão.

    E numa dessas paradas ouvimos uma algazarra de euforia dos outros turistas. Subi ao convés e vimos uma baleia macho exibindo sua calda. Visão maravilhosa que fez valer o passeio.

    Depois desse passeio, não tinha o que fazer na cidade e fui até a rodoviária perguntar por alguma dica.

    Um morador me falou de Cumuruxatiba, uma vila de pescadores e que era possível fazer a caminhada de lá, voltando a Prado.

    Topei.

    Fui de ônibus de Alcobaça até Prado e de lá até a vila de Cumuruxatiba. Isto levou quase o dia todo, em estrada de terra arenosa e quente. Uma longa espera entre um ônibus e outro.

    Em fim, cheguei na vila de pescadores que já naquela época, era bem arrumada, com algumas pousadas simples e um povo acolhedor.

    A vila fica na divisa sul com o Parque Nacional do Descobrimento e o Parque Nacional do Monte Pascoal, primeira porção de terra avistada por Cabral em 1500 e o último reduto de mata atlântica no extremo sul da Bahia. Despois do Parque, ao norte, está Trancoso e Porto Seguro.

    O nome Cumuruxatiba vem da língua tupi (grande variação da maré). Durante o fenômeno da maré rasante, a diferença entre maré baixa e alta, deixa à mostra os corais, permitindo ao turista caminhar alguns trechos mar adentro.

    Cumuruxatiba guarda magníficas praias que sofreram pouca interferência do homem, cercadas por falésias, coqueirais e riachos de águas limpas.

    Depois de uma boa noite de sono, levantei cedo para um café da manhã diferente: a desconhecida tapioca (que hoje está no meu cardápio diário) e cuscuz, só que doce, feito de coco e doce de leite (o mesmo que tem no Rio de Janeiro).

    Então peguei o caminho da praia, seguindo para o sul, tendo na mochila duas garrafas de água, algumas frutas, bolacha e um lanche de queijo. Sabia que eram cerca de 30km e tinha noção apenas da comparação com a estrada de Castelhanos da Ilhabela, com 25km que tinha feito quase um década antes.

    Um mar lindo, de um verde avassalador. Mas além da vila, não cruzei com viva alma. Isso me deixou com receio de entrar no mar para nadar. Correntezas e tubarões me vinham à mente.

    E anda, anda, na solidão nordestina, pela praia que ficava mais estreita com a subida da maré. Até que a certa altura, tive que escalar umas falesias e seguir por cima por entre infinitos coqueirais, e descendo quando a praia ressurgia. Com muito cuidado, pois cair e se machucar poderia ser a morte, já que a chance de alguem me ver era remota...

    Na sombra dos coqueirais, parava para descansar e reabastecer. A água de beber estava acabando rápido.

    Eu estava tranquilo sob o coqueiro, quando um coco enorme caiu perto de mim. Dai pra frente a opção da sombra do coqueiro ficou descartada. Duro é que não tinha nenhum outro tipo de árvore em quilómetros...

    Dai ocorreu o fato de que me fez lembrar desta caminhada quando o Edu Chaves atravessou o rio em Caraguatatuba:

    No meio do caminho tinha um rio.

    O rio Cahy tem sua nascente próxima ao Parque Nacional do Monte Pascoal e percorre aproximadamente 50 km até sua foz, na praia da Barra do Cahy.

    Eu tinha duas opções: atravessar o rio (que eu não sabia qual a profundidade ou a força da correnteza) ou voltar até Cumuruxatiba e pegar um ônibus até Prado.

    Após uma excitação/hesitação resolvi tentar atravessar. Todos os documentos, roupa, tenis e máquina fotográfica (com rolo de filme) dentro da mochila e a mochila sobre a cabeça.

    Fui entrando e afundando. A água estava gelada, mas a correnteza não estava forte.

    Água no peito e de repente... começou a ficar mais raso, mais raso e eu estava na outra margem.

    A recompensa foi encontrar um cruzeiro (cruz de madeira) marcando que naquele ponto Cabral mandou descer um batel (bote) da Caravela e uma equipe liderada por Nicolau Coelho (1460-1504) adentrou em terra firme por este rio e foi então que ocorreu o primeiro contato com os nativos, provavelmente os Pataxós que ainda vivem na região.

    Depois, foi andar e andar. A água acabou, a comida acabou, mas eu estava gostando muito da minha companhia.

    Passei por algumas construções particulares pé na areia e enfim cheguei a Prado.

    Com sede e tendo visto tanto coqueiro carregado, parei no primeiro quiosque de praia que encontrei e pedi um coco.

    A resposta foi: Tem não!

    Então me vê uma cerveja, respondi.

    E a tarde caiu mansa...

    Claudio Luiz Dias
    Claudio Luiz Dias

    Publicado em 15/03/2016 20:51

    Realizada de 14/10/1994 até 25/10/1994

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    5 Comentários
    Renan Cavichi 19/03/2016 09:22

    Que massa! Aprendendo um pouco de história... não sabia sobre esse parque nacional! Hhaaha ri muito com a história do Eduardo, Figura! Acho que é uma das aventuras mais antigas publicadas no AventureBox até agora!

    Claudio Luiz Dias 21/03/2016 08:11

    Renan, o tempo voa. As coisas ficam armazenadas em uma caixa preta na memória, e então um fato novo ou uma história contada por alguém ativa o back up. Ah, mas é só a aventura que é antiga, "falou bixo"!?

    Mochileiro Frois 30/03/2016 14:37

    Cumuru é top demais!!!

    Ederson 28/11/2017 15:34

    Muito bom!!! Já planejei pra fazer uma travessia de Cumuruxatiba até Caraíva, lógico, dando um pulinho na Praia do Espelho.

    Claudio Luiz Dias 14/12/2017 21:16

    Ederson. Depois quero ver sua postagem. Curioso para saber se está igual ou muito mudado este litoral bahiano

    Claudio Luiz Dias

    Claudio Luiz Dias

    Caraguatatuba

    Rox
    345

    Agrônomo pela ESALQ USP.Trabalha na CETESB (Agência Ambiental do Estado de São Paulo) desde 1990. Interesse por meio ambiente, historia e cultura (foco em cerâmica indígena)

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