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Mirador 3 Cruces em Paucartambo - Peru 2025
Nosso objetivo foi ver o nascer do Sol neste mirante que se localiza no limite entre a Cordilheira dos Andes e a Selva Amazônica.
Alta Montanha MontanhismoDepois de dois dias na capital do Império Inca, nos dirigimos à cidade de Paucartambo, há 2.950 m de altitude.
Tomamos um taxi da Plaza Maior de Cusco até o Control de San Jeronimo (13 Soles), de onde saem vans e taxis coletivos a Paucartambo (15 Soles).
Nos hospedamos no Hotel Paucartambo Piedra Grande Lodge (tel 51984 848 950 vilmayabard@hotmail.com ).
Nosso objetivo era assistir ao nascer do sol no Mirador 3 Cruces que fica no limite entre a Cordilheira dos Andes e a bacia amazônica.
O mirador está a uma altitude de 3.640 metros sobre o nível do mar e se encontra dentro do Parque Nacional del Manu.
Para tanto entramos em contato com o Guia Vladimir Yabar (51 984 749 463). Além do Vladimir e do motorista sr. Américo, nos acompanhou nesta viagem o Senhor Americo Samata Huaman,
Xamã do povo Q’ero, descendentes diretos dos Incas e que mantém a cultura tal como naqueles tempos...
Saímos de Paucartambo em carro às 2h00 da madrugada, passamos pela Portaria do Parque onde se paga uma taxa de 30 Soles por pessoa e chegamos ao Mirador às 4h00 uma viagem tranquila apesar das curvas da estreita estrada.
O estacionamento fica a poucos metros de uma casa de apoio (esta casa é para pesquisadores e por isso estava fechada), mas serve de base para todos porque há áreas gramadas e banheiros.
Descemos do carro, acendemos as lanternas e sob um frio de de 2 °C, pegamos nossos apetrechos, que incluía até botijão de gás, e nos dirigimos para a casa de apoio.
O Vladimir e o motorista da van rapidamente montaram uma barraca tipo Iglu para que pudéssemos ficar abrigados, enquanto eles preparavam um café, chá, queijo e pão. Apesar do frio intenso, não estava ventando o que aumentava nosso conforto.
A primeira coisa que nos chamou a atenção foi o céu estrelado. Nunca tinhamos visto um céu assim.
A nossa frente Vênus brilhava intensamente quase que clareando o local.
Ainda escuro se via ao longe e bem abaixo as luzes de três comunidades tradicionais, já na selva amazônica.
Lá pelas 5h00 da manhã o céu começou a clarear, as estrelas se apagarem e lá no fundo um horizonte vermelho se levantava, enquanto tomávamos o café da manhã abrigados pela parede externa da casa de apoio.
Já com o dia clareando, nos dirigimos a um promontório, uma espécie de plataforma onde podemos acompanhar todo o esplendor do nascer do sol no horizonte, tendo abaixo as nuvens que cobriam a bacia amazônica, como se fosse um grande lençol branco estendido.
Enquanto o senhor Américo realizava uma oração em que fazia agradecimentos e oferendas às diversas entidades da natureza , como os Apus (montanhas sagradas), o Sol aparecia com toda a sua força e beleza.
Vladimir nos levou então ao Sitio Arqueológico Wat’oqto.
Este foi um importante centro administrativo, cerimonial e ponto de controle da região política do Antisuyo. Monumento de arquitectura Inca que encontra-se a 18 km aprox. de Paucartambo e está a 2.930 metros acima do nível do mar.
Junto a este sítio arqueológico existe uma pequena comunidade de camponeses que crial ovelhas. Casas coloniais de adobe (tijolos feitos com a mistura de barro com vegetais e que não são cozidos) e uma Igreja compõem o cenário. Tudo parecendo poder ruir a qualquer momento.
O sítio arqueológico é acessado através um portão de batente duplo (doble jamba) de pedra polida, que dá as boas-vindas a um grande templo de forma retangular com nichos trapezoidais.
Na arquitetura pré-colombiana, portas com batente duplo indicam que o local é um templo (Waka ou Huaca).
Depois de passar por uma ponte de madeira em cima de um fosso, chega-se a uma construção ainda mais alta.
Levamos conchas da praia do Brasil para oferecer à Pacha Mama, tal como faziam as delegações dos quatro suyos do império Inca nas festividades ao Sol. Cada delegação levava oferenda de seus estados de origem.
As oferendas, incluindo folhas de coca, foram colocadas sobre o papel enquanto Américo invocava as forças vivas nos entes da natureza, inclusive do Oceano Atlântico, repetindo; hampuy hampuy (venha venha). Para o que se quer afastar, como pensamentos negativos, o Xamã repetia kuty kuty (afastem, retornem).
Vladimir nos explicava o significado de cada item colocado como oferenda e também nos falou que é preciso ter AYNI ou seja “Reciprocidade” com o que está ao seu redor. Deve-se ter harmonia, não equilíbrio, porque equilíbrio é estático e harmonia é dinâmica.
Os andinos, e principalmente o povo Q’ero buscam a Harmonia entre o amor/sentimento, o conhecimento e a ação. Os Q’ero acreditam que quando alcançarmos esta harmonia, um Inka retornará para governar. Este é o mito do Inkarrí, para o qual há esperança de um retorno às leis e tradições do Estado Inca.
Fechado o manto com todas as oferendas, nos abraçamos ao modo Q’ero, com 3 pulinhos.
A vista do alto do templo contempla outras construções da época e a bacia do rio Pichigua com muros de contenção feitos pelos incas.
Voltamos para a cidade de Paucartambo onde caia uma fina e gelada garoa. Fomos ao Museu dos Povos de Paucartambo, muito bem montado em uma casona colonial restaurada.
No museu há peças de culturas pré-hispânicas, como cerâmicas, itens de povos da selva, como têxteis, adornos, flechas e cestarias e também roupas utilizadas em danças folclóricas atuais. Vladmir nos explicou sobre cada item.
Almoçamos num restaurante da cidade. Foi servido o típico “menu”, que inclui um copo de chá morno, um caldo (de quinua) e um segundo (prato principal). Como segundo, escolhemos peito de frango e batatas.
Passamos o final da tarde descansando no Hotel e quando caiu a noite, nosso guia Vladimir e o sr Américo retornaram para finalizar o ritual xamânico.
Acenderam uma fogueira e o pacote de papel com as oferendas foi então queimado, para que a fumaça suba e leve as oferendas aos deuses, às montanhas sagradas e à Pachamama.
Se a oferenda for totalmente consumida pelo fogo, significa que foi aceita.
Enquanto o fogo nos esquentava, o sr. Américo nos fez um último benzimento. Em quechua orava aos entes sagrados, colocando sua “illa” (espécie de trouxa de pano especial recheada com peças simbólicas e folhas de coca) sobre nossas cabeças, braços e pernas, repetindo ora hampuy hampuy e ora kuty kuty.
No dia seguinte retornamos de van (10 soles) para Cusco, com o objetivo de conhecer o lado sem o turismo de massa de Ollantaytambo. Mas isso será descrito numa nova postagem!
Que viagem boa irmão!!!bjs