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Viagem de duas semanas na região de Santarém - PA
Viagem embarcada, praias, trilhas, cavernas, arte rupestre e selva. Grupo de amigos comemorando 35 anos de formatura na ESALQ/USP.
Trekking Cueva NavegaciónComemorando os 35 anos de formados em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ de Piracicaba - SP, um grupo de amigos embarcou (literalmente) nessa jornada pela Amazônia brasileira incluindo praias, arte rupestre e selva.
Os preparativos começaram cerca um ano antes da viagem, de forma a garantir preços razoáveis em passagens e hospedagens, bem como organização de férias.
É engraçado perguntar o que dificulta ou impede uma viagem desse tipo. Antes não tínhamos muito conhecimento sobre a região, exceto por um evento de congresso nos idos de 1986 em Belém. O mês de outubro não é muito propício para agrônomos saírem em férias, já que existe toda a movimentação de preparativos para safras, mas queríamos emendar nossa festa de 35 anos que ocorreria na ESALQ em outubro com a viagem.
Mas percebo que na nossa faixa etária, com as “crianças” já crescidas (para quem teve filhos), a grande preocupação de muitos foi com as mães idosas, o que inclusive demandou cancelamento da viagem por uma de nossas amigas.
Assim a vida via transcorrendo.... estudos, trabalho, filhos e genitores, até que nós mesmos nos tornamos tão idosos a ponto de não podermos mais viajar.
Finalmente chegou o dia da viagem, em 16 de outro de 2022, um domingo.
Além dos amigos esalqueanos, também participaram esposas, esposos, irmãos e filhos, transformando-se o grupo numa grande família.
E como família, uma das preocupações era a convivência. Apesar de amigos de quase 40 anos, estávamos ficando “maduros”, com manias e havia muito tempo não passávamos tanto tempo juntos, agravado pela restrição de espaço e privacidade, alterando nossa “zona de conforto”.
Mas então, aproveitando essas janelas de oportunidade que a vida nos oferece, em num período pós pandemia, começamos nossa viagem partindo uns de Guarulhos e outros de Congonhas, para encontrarmo-nos em Brasília, rumo a Santarém.
O roteiro escolhido foi navegar pelo Rio Arapiuns (afluente do Tapajós), conhecer o Parque Estadual de Monte Alegre com suas pinturas rupestres que datam de 12 a 11 mil anos e conhecer a Floresta Nacional do Tapajós (FLONA) no munícipio de Belterra.
O grupo ficou hospedado em Santarém no Barrudada Tropical Hotel, um daqueles imensos hotéis construídos na década de 1970 pela subsidiária da VARIG. Apesar da idade, assim como nós, o Hotel mantém seu charme com quartos amplos e uma ótima piscina entorno da qual havia muito espaço ao ar livre para reunião do grupo, o que outros hotéis mais modernos não oferecem.
Na manhã do primeiro dia em Santarém visitamos o Centro Cultural João Fona, com seu piso de madeira em cores claras e escuras, em referência ao encontro das águas do Rio Amazonas e do Rio Tapajós.
Aprendemos um pouco sobre a história moderna e também sobre a antiga população do local, em cuja aldeia Tapaius nas épocas pré-Cabralinas chegou a ter mais de 60.000 pessoas, produzindo objetos em cerâmica de grande valor artístico para fins ritualísticos, além de utilitários e urnas funerárias, hoje conhecida como cerâmica Tapajônica. Isto faz com que Santarém seja considerada o local mais antigo do Brasil com ocupação humana contínua.
Depois subimos em um mirante, local que teria sido escolhido para construção de um Forte português que nunca ficou pronto e que recentemente recebeu de volta seus canhões originais que estavam espalhados pela cidade.
De lá é possível avistar o Rio Tapajós desembocando no Rio Amazonas, mas não se rendendo a este, mantendo separadas suas águas escuras (cor de coca-cola). Apesar do belo visual, o local está degradado e no alto do mirante, o anteparo de madeira está solto, podendo provocar risco de queda (e morte) para quem nele se debruça para as famosas Selfies.
Andamos pela orla do Tapajós com um Sol para cada um, passando pela Catedral e Museu de Arte Sacra (que estavam fechados) e aproveitamos para dar uma primeira olhadela no Barco Comandante Levi que seria nossa casa nos próximos quatro dias e descemos até o mercado municipal.
Mas o Sol nos venceu e voltamos para o hotel com carro de aplicativo (que e é o Urbano Norte).
No meio da tarde uma Van nos levou do Hotel até o ponto de embarque, sem antes parar num depósito de bebidas para abastecimento de cerveja, vodka e cachaça. Também não poderia faltar a Pinga com Jambu, que deixa a boca ligeiramente amortecida.
Embarcamos e tivemos a grata surpresa de encontrar o Barco todo decorado, misturando símbolos da ESALQ, da nossa Turma F87 (formados em 1987) e do carimbó.
Toda a organização dessa parte fluvial coube à Andrea Arapiuns (93 – 99134 7121), representante comunitária da Reserva extrativista do Arapiuns-Tapajós, que possui um belo Stand de artesanato no Centro Comercial Cristo Rei em Santarém.
Com todos os 16 aventureiros acomodados, o Comandante Levi zarpou, navegando pelo Tapajós em direção ao Arapiuns, passando por um posto Fluvial da Marinha do Brasil para inspeção de lista de passageiros, roteiros, autorizações, etc.
Nos foi propiciado um belo pôr-do-sol entre nuvens, primeiro de muitos que viriam.
A tripulação era composta pelo Comandante Odair e seu imediato Mereré, pelos cozinheiros Francenildo e Danielle e pela própria Andrea, que nos presenteou com cuias personalizadas (que seriam nossos pratos e copos durante a viagem, evitando o uso de plásticos) e também com muiraquitãns.
O muiraquitã é um amuleto em forma de sapo. Conta a lenda que era presenteado a guerreiros pelas índias Amazonas.
Impossível não comparar a forma do Muiraquitã com o símbolo da ESALQ, o “A Encarnado”.
Já anoitecendo, atracamos na baia da comunidade de Urucureá para jantar a bordo e passar a noite.
A refeição a bordo foi algo extraordinário com salada, arroz paraense, baião de dois, peixes, vatapá de frango e frutas. Não faltaram sobremesas...
Após o jantar as redes foram instaladas lado a lado e iniciou-se o primeiro teste de convivência: os roncos.
A falta de internet foi um toque primoroso para nos desconectarmos da vida cotidiana e priorizar as conversas ao vivo! Celular mesmo só para tirar fotografias.
No dia seguinte, visitamos a comunidade Anã onde nos mostraram a produção de mel de abelhas nativas, sem ferrão. Uma evolução no manejo, já que antigamente as arvores que possuíam colmeias em seus ocos eram derrubadas para extração do mel, e hoje eles mantêm as colmeias em caixas apropriadas (chamado de meliponário), aumentando a população das abelhas. Compramos mel delicioso.
Essa comunidade possui ainda um projeto de criação de peixes em cativeiro, alimentados com ração. Claro que fomos visitar a criação utilizando canoas a remo.
Este projeto foi idealizado incialmente pela MUSA – Mulheres Sonhadoras em Ação – uma iniciativa de mulheres da comunidade de Anã para criação do peixe Tambaqui. Uma parte da produção atende o consumo da própria comunidade e outra é destinada à geração de renda.
Mas hoje os homens da comunidade também estão integrados ao projeto.
A visita aos projetos é realizada de forma independente e guiada por integrantes de cada projeto.
Passamos a tarde curtindo a praia da Ponta Grande. Com as águas baixando, formam-se centenas de quilómetros de praias fluviais de areia muito branca, que contrastam com a cor escura do rio.
Nesta época do ano (outubro) as águas já estão tão baixas que começam a aparecer também o fundo de lama dos rios, aumentando o risco de acidentes com raias. Por isso, todo o cuidado foi tomado ao entrar no rio, saindo dele antes do anoitecer.
Em alguns pontos, começam a surgir pontas de areia que avançam quilómetros rio a dentro, quase que querendo barrar o rio, proporcionando água rasa, límpida e queeente!!!
Só mestres com grande conhecimento local conseguem navegar com barcos grandes nessas águas rasas.
A lancha de apoio nos resgatou na praia no fim do dia para voltarmos ao Cmte Levi. Mais um lindo pôr-do-sol foi registrado por nossas câmeras.
O barco seguiu então para a praia de Caracaraí para passar a noite.
Na manhã seguinte visitamos a comunidade de Tarumã, uma vila de ribeirinhos que nos mostraram a fabricação da farinha de mandioca, a extração do tucupi e a separação da tapioca.
A mandioca (que é chamada assim quando é “brava” ou seja, tem cianeto) é parte deixada em água para fermentar e parte se mantem seca. Depois uma parte de cada é triturada e misturada. O Caldo amarelo passa por uma peneira e fica em repouso. Esse caldo será o tucupi e no fundo da bacia, a parte sólida e bem fina que sedimentou é a tapioca.
A massa de mandioca triturada é prensada no Tipiti (estrutura de fibra de buriti trançada) e depois de seca passa por uma peneira e então é lentamente torrada em fogo a lenha em um grande tacho retangular (alguns usam formato redondo).
Nos mostraram também a arte de cestaria, como tirar as fibras das folhas espinhentas do Tucumã, como tingi-las com produtos naturais (como açafrão e urucum) e como tecer lindas cestas e bolsas.
Compramos artesanato e até a farinha que tinha sido produzida durante a nossa visita.
A simplicidade e a alegria dos ribeirinhos são tão contagiantes que nos fizeram parecer amigos de longa data e felizes de participar de um “Turismo de Base Comunitária”.
Depois dessa visita, atravessamos o Rio Arapiuns para a outra margem, já fora da Reserva Extrativista, para visitar a comunidade Coroca, sendo esta mais bem estruturada para o turismo, com restaurante, banheiros, redário, meliponário e centro de venda de artesanato produzido nas comunidades do entorno.
Devido à vazante avançada nesta época do ano, o Barco não pode atracar diretamente na praia. Assim, para acessar a comunidade da Caroca utilizamos a lancha de apoio com motor de rabeta.
Nesta comunidade há um projeto de criação de tartarugas, onde a bordo de uma pequena balsa movimentada por cordas em uma lagoa, podemos observar bem de perto centenas de tartarugas.
Ficamos muito felizes pois, após longos anos de criação, as tartarugas começaram a finalmente se reproduzir na lagoa. No futuro parte dos filhotes poderão voltar a povoar os rios da região.
Passamos a noite na Comunidade São Miguel com o Barco atracado junto à praia. Nos foi presenteada a oportunidade de dançar o Carimbó, com as meninas do grupo vestindo as pesadas saias típicas.
Durante a noite botos rondaram o barco com sons muito forte de respiração. Coisa que eu nunca tinha presenciado nessas andanças pela Amazônia. A cozinheira Danielle nativa da região também estranhou tal movimentação. Impossível não lembrar das lendas do Boto.
Após o café da manhã, com muitas frutas, tapioca, mingau de abóbora e café, seguimos para aproveitar uma incrível praia chamada de Icuxi. Uma laguna se formou com a vazante do rio e a água que restava se esquentava com o Sol, chegando acima a 38 graus. Um verdadeiro SPA natural.
Neste momento a cerveja havia acabado e destemidas amigas foram de lancha até a comunidade de Anã para repor nossos estoques, salvando-nos da sede.
Aproveitamos mais um pouquinho da Praia Ponta Grande para uma não desejada despedida do paraíso e seguimos então para Alter do Chão, o bairro mais famoso de Santarém, já às margens do Tapajós.
Passamos a última noite a bordo do Comandante Levi na Ilha do Amor em Alter do Chão e após o café da manhã desembarcamos de mala e cuias, literalmente e nos despedimos da tripulação.
O dia foi a aproveitar Alter do Chão, onde um casal de amigos que não tinha participado na parte fluvial nos aguardava na Pousada da Flora (93) 99164-5760.
Aproveitamos os quiosques da Ilha do Amor e a incrível água quente do Lago Verde, comendo pratos tradicionais com peixes.
Também não faltou uma passada na incrível Loja de produtos indígenas Araribá. Um verdadeiro museu com peças de inúmeras etnias.
Na manhã seguinte, um grupo mais disposto fez a trilha de subida ao Monte Piraoca. Sendo um morro testemunho, do alto se tem uma vista completa e 360 graus da região, enfatizando as praias brancas da Ilha do Amor e os prédios de Alter-do-Chão.
Foi possível reconhecer também algumas praias vistas do avião quando chegamos a Santarém.
A subida não é difícil, mas é recomendado fazer fora dos picos de calor.
Depois o grupo se juntou aos demais em um quiosque da praia para a devida hidratação.
Encontramos mais um ESALQUEANO morador de Santarém que se juntou a nós com seus filhos. E a tarde passou suave.
E já era domingo novamente.... hora de ir para Monte Alegre
Saindo então de Alter do Chão com micro-ônibus fretado (Van Tour Receptivo 93 98408-7790) fomos até o Porto do DR em Santarém para tomar a Balsa que liga Santarém ao Porto de Santana do Taperá (Camila Navegação 93 – 99121-4030 ou 99121-4130). O Valor por pedestre é de 13,00 reais.
Apesar da moderna estrutura da Hidroviária de Santarém, dizem que uma das melhores do Norte, não foi prevista rampa de acesso para essa balsa (que transporta carros e caminhões de diferentes tonelagens). O acesso ainda é ao lado da Hidroviária, em precárias condições e conforto zero na espera.
A balsa partiu atrasada em cerca de 40 minutos. Ainda assim, preferimos a balsa à lancha rápida por maior segurança (nos disseram) e disponibilidade de horários. Na balsa há uma lanchonete que vende refeições e lanches.
Foi interessante observar a alteração de balanço quando a balsa saiu do Tapajós e adentrou no Rio Amazonas, passando sobre o encontro das águas. O Amazonas é bem mais turbulento.
Fomos observando a paisagem ribeirinha, com as casas, escolas, hospitais, tudo em palafitas, nos dando a ideia de onde a água chega nos períodos de cheia. Os ônubus escolares são barcos.
Na estiagem, o chamado verão amazônico, as terras planas das margens apresentavam pastagens verdejantes onde o gado ruminava.
A viagem levou cerca de duas horas e meia e chegamos na Hidroviária de Santana do Tapará, onde moto taxis, vans e ônibus de linha aguardavam os passageiros.
Combinado uma Van para o grupo (Viação Marte 93 – 99123-7074) e lá estava ela a nossa espera. Depois de rodar por uma estrada asfaltada e em boas condições (Rodovia PA 255) por cerca de uma hora e meia, a Van nos deixou no Hotel Shekinah (93 99110-9676), que já havíamos reservado com antecedência.
O hotel estava em meio reforma e ampliação, com as obras um tanto paralisadas, mas havia uma boa piscina.
O quarto era confortável e havia ar condicionado. Alguns quartos possuíam chuveiro elétrico, coisa quase que dispensável no Norte.
Saímos para jantar na praça central, no entorno da Igreja de São Francisco, padroeiro da cidade, localizada na cidade alta. Vários botecos, trailers e restaurantes servindo de cachorro-quente a pizzas.
Como bons paulistas fomos de pizza, que não nos decepcionou. Da Pizzaria Rocha (aliás, tudo lá é da família Rocha, parecendo um cenário de Os Flintstones), há um belo mirante para observar a cidade baixa e o imenso Lago de Monte Alegre.
Na manhã seguinte, bem cedo, quatro pick-ups 4x4 nos aguardavam na porta do Hotel para início da aventura no Parque Estadual de Monte Alegre.
A organização coube à empresa NW Transfer e Turismo (93 98406 6622 – nw.transfer@outlook.com) e pelo nosso guia, o famoso Ilivaldo (93 – 99110-4382).
A criação do Parque se deu através da Lei Estadual n°. 6.412, de 09 de novembro de 2001, que foi a primeira UC criada no Pará com a participação da sociedade local.
A proposta para a criação de UC em Monte Alegre, na Serra do Ererê, foi resultado de estudos realizados desde o final da década de 1988.
Apesar de estarmos no coração da Amazônia, a vegetação era típica de cerrado e cerradão, devido às condições hídricas e pedogênicas. Tal como no nordeste brasileiro, há nesta região rios que correm somente nos períodos chuvosos (o inverno amazônico).
Possui um centro moderno de apoio ao turista, com informações básicas sobre o local e uma loja com alguns souvenires. Mas poderia conter um museu com parte dos achados pré-históricos escavados nas cavernas, ou mesmo réplicas destes, já que os originais devem estar em alguma universidade por aí.
Mas o Parque em si é um grande museu a céu aberto.
Bem em frente ao Centro de Turismo há a Serra da Lua com pinturas rupestres impressionantes.
O acesso é bem íngreme, mas há corrimão para ajudar. Como há grandes blocos rochosos a serem vencidos e muitas pedras soltas, é altamente recomendado seguir segurando no corrimão, tanto na subida como na descida.
É difícil imaginar como as pinturas foram executadas numa altura tão alta em relação ao chão, mas é fácil imaginar o que significariam, já que a imaginação é livre.
Algumas são mais explicitas ao se referir às formas humanas ou de alguns animais. Outras são enigmáticas.
Fomos então de carro visitar a Gruta Itatupaoca (casa rochosa de Deus ou igreja de pedra) cuja entrada mede cerca de 9,5m de altura, dividida na metade inferior por uma trave rochosa, resíduo da ação erosiva. A sua gênese se deve à ação erosiva de fontes de água que ali brotaram associadas ainda a friabilidade e permeabilidade da rocha.
Um pouco mais adiante, chegamos na Pedra do Mirante de onde se tem a vista panorâmica (360 graus). Para alcançar o topo dessa rocha é necessária uma pequena escalada por entre as rochas e que atualmente é feita sem qualquer segurança. É no topo da rocha onde as pessoas costumam ficar para apreciar a paisagem.
Alguns de nós subiram e outros se anteciparam ao delicioso lanche preparado pela equipe da Agência de turismo.
Há ainda no local algumas formações rochosas engraçadas. Por exemplo há uma rocha em forma de coração sob a qual somente casais corajosos se arriscam a tirar fotos (quando você for lá o guia lhe dirá o porquê), mas há quem diga que também se parece com a cabeça do E.T de Spielberg.
No caminho paramos para observar a Pedra da Tartaruga. O nome se dá pela aparência da rocha que encima a formação. Mas ao olhar para o conjunto todo, é mais fácil identificar a forma de um pato.
Outra formação interessante esculpida pela erosão hídrica e eólica (lembrando que todo o arenito ali existente se formou em regime de águas doces e profundas), é o Cogumelo, que recebeu este nome devido à sua inconfundível aparência.
Deste ponto em diante o tour passou a ser por meio de caminhada em trilha arenosa.
Chegamos na Gruta do Pilão que apresenta pinturas rupestres em sua área externa, mas também internas. Nessa gruta importantes achados arqueológicos foram encontrados em escavações científicas. É um dos sítios arqueológicos mais antigos da Amazônia.
Caminhamos então para a Pedra do Pilão por um trajeto com pequenas escaladas, passando por espaços entre enormes rochas e subimos num mirante com auxílio dos galhos de um cajueiro. Visual de tirar o fôlego!
Chegamos então na Pedra do Pilão com a bela paisagem que pode se observar estando na base dessa formação. Milhares de anos de erosão esculpiram essa rocha e a ação não para, o que nos faz perguntar até quando é seguro ficar de baixo dela!
A rocha que encima a formação me pareceu muito similar aos apêndices de jacaré que vimos nas peças de cerâmica Tapajônica arqueológica em Santarém.
Continuamos a caminhada até que os carros 4x4 nos aguardavam em um outro ponto do roteiro.
Para finalizar a expedição, por volta das 15h, fomos agraciados com um almoço típico em um rancho, já fora do Parque. Arroz, feijão gordo, peixe, galinha caipira, salada, sucos e sobremesa. Tudo divino.
E foi o último evento com o grupo todo, de 17 pessoas.
De volta a monte alegre, alguns ainda encontraram forças para uma saideira da Pizzaria Rocha. E olha que era uma segunda-feira!
De madrugada, antes das 3h00 a VAN já estava na porta do Hotel para iniciarmos o caminho inverso (Estrada – Balsa – Santarém).
Pegamos a Balsa das 5h30, exceto alguns do grupo que retornariam naquele dia para São Paulo e então pegaram a Balsa um pouco mais tarde.
Antes de embarcar num microônibus fretado, houve tempo para visita ao Mercado Municipal e ao ICMbio para retirar a autorização de entrada na FLONA, solicitada antecipadamente por email (flonatapajos.pa@icmbio.gov.br).
Passamos pela cidade de Belterra com suas casas de madeira da época em que a cidade foi criada por Ford para abrigar operários e engenheiros do seu projeto de produção de borracha para a indústria automotiva norte-americana. Belterra é co-irmã da cidade de Fordilândia, mas está ativa, e por isso melhor conservada.
Há uma passagem pouco conhecida da história do Brasil que ocorreu nessas paragens. São os soldados da borracha.
Durante a segunda guerra mundial, alguns soldados foram mandados para a Itália. Mas alguns cidadãos nordestinos foram “convidados” a irem para a Amazônia produzir borracha para os pneus dos veículos e aviões de guerra americanos.
A maioria deles morreu de doenças como malária. Os sobreviventes ficaram na Amazônia por não terem dinheiro para pagar a viagem de volta, ou porque estavam endividados com os seringalistas (donos de seringais).
Ao contrário dos Pracinhas, estes só foram reconhecidos como combatentes da 2ª Guerra Mundial em 1988.
Ao final da tarde chegamos então à comunidade Jamaraquá, na Flona e fomos recebidos carinhosamente pelo Sr. Pedrinho e D. Conceição, proprietários do restaurante e pousada Nirvana do Tapajós (93 99179 9569).
Esta comunidade recebe a maior parte dos turistas que chegam de lancha desde Alter-do-Chão e as refeições servidas são divinas.
Aproveitamos a tarde para nos aclimatar na comunidade, distribuirmo-nos nos 4 quartos disponíveis e montar redes no redário (já que não havia quarto para todos). Nessa época do ano insetos não são problema. Um pouco de repelente é suficiente para passar uma boa noite de sono. Quer dizer, tirando os roncos no redário....
Também visitamos uma loja de artesanato (peças de látex natural e biojóias) e compramos no mercadinho local algumas guloseimas para serem saboreadas na trilha de 17 km que faríamos no dia seguinte.
No deck da pousada um descanso merecido, pé da areia da praia do Rio Tapajós.
Levantamo-nos cedo no dia seguinte, acordados pelo som dos Bugios (chamados aqui de Guariba). São macacos de médio porte que fazem algazarra ao entardecer e amanhecer, num volume a dar inveja a muito pancadão.
Tomamos um bom café da manhã e saímos por volta das 7h45 em direção à comunidade vizinha de Maguarí, de onde partiria nossa expedição para ver uma grande árvore amazônica de 900 anos de idade, a Vovozona.
O passeio havia sido previamente agendado com o líder comunitário Raimundo Carí, que é também proprietário de restaurante e Redário Por do Sol (93 99177-5171 redariopordosol@gmail.com https://redariopordosolflonamaguari.com/)
Por volta das 8h00 da manhã já estávamos no centro de atendimento ao Turista de Maguari, onde encontramos os guias Orlando e João, experientes ribeirinhos com saberes da mata.
Apesar de longa, a trilha é suave e se vai parando para tirar fotos e ouvir as explicações dos guias sobre o uso das árvores ou para observar uma pequena cobra peçonhenta que estava pelo caminho e somente olhos bem treinados poderiam tê-la visto em meio às folhas.
Para atingir o platô há uma subida um pouco mais íngreme, mas há degraus escavados no solo e um corrimão.
O uso de bastão de caminhada não é essencial, mas pode ser uma boa ideia para quem não estiver treinado ou tiver algum problema de joelho, por exemplo.
Ao atingir o platô, há um mirante onde paramos para fazer uma boquinha, com as bolachas, bananas fritas e chocolate que havíamos levado. Neste Mirante há uma choupana na qual é possível agendar para passar a noite na floresta, a combinar com os guias.
A partir de então as árvores começaram a se agigantar em diâmetro, mas, principalmente, em altura. Adentramos em mata primária amazônica.
Chegamos então ao nosso objetivo. Não há palavras para descrever a Vovozona, uma senhora Samauma (Ceiba pentranda) de quase mil anos de idade. Tão majestosa que o grupo até silenciou e alguns não seguraram as lágrimas.
Após uma foto com todo o grupo ao pé da árvore, iniciamos a descida.
Paramos novamente no mirante para observar o Rio Tapajós, aproveitando que a fumaça de uma queimada de roça tradicional tinha de dissipado.
Quase chegando à base, paramos para tomar banho nas águas geladas de um igarapé muito bem-preparado, com deck, escada e fundo de areia.
A água fria nos recobrou as forças e a fome.
Saímos pela estrada principal da Reserva e por sorte estava um pouco nublado, aplacando o calor costumeiro do local.
Chegamos então, por volta das 15h no redário Por do Sol para um almoço maravilhoso, nos despedir dos guias e descansar.
Retornamos para a comunidade Jamaraquá, cerca de 2km de Maguari e ficamos de boa no deck da pousada. No fim da noite jantamos no restaurante da D. Conceição.
No dia seguinte, e último na FLONA, ficamos sem compromissos horários e resolvemos fazer um passeio de canoa a remo no Igarapé.
Foi incrível ver que para chegar até a canoa, tivemos que caminhar em solo seco, no mesmo local que em outras épocas fica vários metros abaixo da água.
Uma esponja denominada cauixi que cresce nos galhos submersos (e utilizada na época pré-colombiana para dar resistência às peças de cerâmica) nos dá ideia até que altura chega a água no inverno.
O passeio foi então limitado ao leito principal do igarapé, sem passar por entre as árvores inundadas, mas valeu à pena ver os peixes na água rasa e cristalina.
Uma novidade para mim foi ver uma remadora mulher, já que nas outras ocasiões eram sempre homens.
O banho nesse igarapé foi um dos melhores dessa viagem.
Para a despedida, acertamos então uma Piracaia. É um churrasco de peixe na praia.
O peixe foi pescado no Igarapé durante a tarde e ao entardecer caminhamos pela praia do Rio Tapajós até encontrar o Igarapé do Jamaraquá, assistindo a um fantástico pôr-do-sol.
Os ribeirinhos fizeram um buraco na areia e utilizando o breu, atearam fogo à lenha seca, enquanto o peixe era limpo à beira do Igarapé (com o cuidado de não lançar as vísceras na água para não atrair piranhas).
O arroz foi feito na hora na cozinha improvisada e parte do peixe frito.
Depois, usando lenha verde, foi criada uma grelha para assar o restante dos peixes.
A comida feita na hora, e a farofa trazida pronta foi servida em “pratos” de folha de palmeira.
O céu estrelado e a fogueira complementavam o cenário perfeito.
Na madrugada seguinte, pegamos o ônibus regular às 4h30 da manhã de volta para Santarém.
Aproveitamos o dia para visitar indígenas da etnia Wai-wai no CASAI (Casa de Apoio à Saúde Indígena) de Santarém comprando lindos artesanatos e também visitamos o Ateliê do ceramista e graduando em arqueologia Jefferson Paiva que produz réplicas de peças cerâmicas Tapajônicas e Marajoara.
Também fomos nos despedir da Andrea no seu stand no Centro de Artesanato Cristo Rei
O jantar de finaleira no restaurante Chalé, que apresenta somente pratos típicos, como vatapá, baião de dois, arroz paraense, tacacá e a deliciosa maniçoba.
Ainda sobrou espaço para sorvetes de cupuaçu e castanha do Pará, na Sorveteria Frutimel.
No sábado então, nos dirigimos ao aeroporto para retornar para São Paulo, já com saudades de todos e de tudo.
Afinal, passamos com louvor no teste de convívio.
Bora pensar na próxima viagem?
