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Clube Outdoor 18/07/2019 13:33 com 3 participantes
    Travessia da Serra Fina em Dois Dias

    Travessia da Serra Fina em Dois Dias

    Uma das travessias mais difíceis do Brasil realizada em dois dias, entre as cidades de Passa Quatro e Itamonte (Relato: Bruno Negreiros)

    Trekking Montanhismo

    Data: 06 a 07/07/2019
    Local: Serra da Mantiqueira, indo de Passa Quatro até Itamonte.
    Atividade: Caminhada de 2 dias (30 km)
    Participantes: 9 pessoas (1 novata)
    Transporte: Van de 15 lugares (Beto)
    Início: Toca do Lobo, às 4:45 do dia 06/07/2019
    Ponto Final: Pierre, às 21:00 do dia 07/06/2019.

    RELATO

    Dia 1 - 06/07/2019

    Saímos do Rio de janeiro às 21:00 do dia 5/7, conforme combinado. A viagem foi bem tranquila. Chegamos em Passa Quatro aproximadamente às 2:30, quando entramos em contato com a Natália, que nos informou que, por conta do alto fluxo de grupos indo para a travessia, a melhor estratégia seria que a gente já nos preparasse para subir rumo a Toca do Lobo.

    Descemos da van e começamos a arrumar as coisas. Nesse momento, o Beto (nosso motorista) apareceu com chocolate quente, barrinhas de cereal e alguns doces. A Natália também nos deu um pedaço de bolo delicioso. É incrível o impacto psicológico que causa no grupo ter esses pequenos diferenciais proporcionados pelos serviços de apoio contratados. Próximos eventos, Beto e Natália sempre serão prioridades. Muito Obrigado!

    Tudo pronto, subimos na Toyota do Edinho e seguimos viagem para a Toca do Lobo. Tinha chovido bastante nos dias anteriores e a estrada de terra estava muito ruim. No caminho, tivemos que esperar uma van que carregava um grupo de SP conseguir desatolar da nossa frente. O tempo de espera fez com que a nossa toyota atolasse também. Com ajuda dos paulistas, conseguimos sair dessa.

    Aproximadamente às 4:15 estávamos chegando no nosso ponto inicial da travessia. Descarregamos tudo, nos preparamos e começamos a caminhada às 4:45. Não fazia tanto frio quanto esperávamos para o horário, conseguimos caminhar com o auxílio de poucos casacos. Após um trecho de estrada, chegamos a verdadeira Toca do Lobo. Alguns pegaram água e seguimos. Alí começava pra valer, tanto o desafio físico quanto o frio. Subidas e mais subidas, com a aclividade característica da Serra Fina. Começamos a perceber alguns grupos na frente e atrás. Vimos que a montanha estaria cheia.

    Mais uma vez a estratégia de começar de madrugada se mostrou acertada. Ganhamos importantes quilômetros ainda na escuridão, o que foi muito importante no fim do primeiro dia. Os participantes também elogiaram a decisão, já que, segundo o próprio Roberto, se sofre menos sem ver o que está pela frente.

    O sol nasceu mais ou menos na altura do Quartzito, quando percebemos que uma névoa bem densa nos acompanharia pelo resto da manhã. Logo em seguida, passamos pelo Passo do Anjo, também encoberto e sem a chance de tirarmos a mais famosa foto da Serra Fina. Até tentamos mesmo com nuvens, mas concluímos que, quando parados muito tempo, o frio aumentava e a preferência geral era por andar para aquecer. Bola pra frente. Sabíamos que, em dois dias, a diversão fica sacrificada em prol do desempenho físico.

    Mais alguns metros para cima e o tempo começou a abrir sobre nós. Estávamos passando o mar de nuvens que nos acompanhou no amanhecer. Começamos a ver o monstro que teríamos que encarar: u íngreme, cheia de cordas e difícil subida até o Capim Amarelo, objetivo do dia. O plano era chegar lá até às 10:00.

    Para isso, o Negreiros começou a puxar o ritmo e extrair o melhor rendimento do grupo na subida e nas cordas. Mais alguns morros depois e paramos no ombro do Capim amarelo, onde encontramos alguns outros grupos, conversamos e pegamos algumas dicas com os guias. Saindo dalí, encaramos a mais íngreme subida, Chegamos lá no horário proposto. Primeiro grande objetivo do dia cumprido: Atingimos o Capim Amarelo aproximadamente às 9:30.

    Como mencionado anteriormente, essa era uma travessia muito técnica e sem margens para erro. Dessa forma, não paramos muito tempo. Algumas fotos e sorrisos depois, já às 10:00 seguimos a caminhada. O Cansaço já dava sinal em todos, mas o empenho sempre vencia e seguimos com um ritmo muito bom.

    Aproximadamente às 11:00, passamos por um momento triste. Já do alto de uma das montanhas seguintes, assistimos a um resgate de helicóptero que ocorreu no ombro do Capim Amarelo. Foi agoniante ver o helicóptero dando voltas para tentar pousar. O medo e a dúvida do que realmente estava acontecendo pairou sobre as nossas cabeças. Mas não podíamos perder muito tempo parados. Depois descobrimos que se tratava de uma senhora de 52 anos que teve um AVC. Algo muito triste e reflexivo. E se acontece com alguém do nosso grupo?

    Bom, às 11:30 chegamos ao maracanã, já bem cansados por conta da longa caminhada e pela noite não dormida. Como estávamos com o horário adiantado, resolvemos parar por um tempo maior, comer bem e até tirar um cochilo coletivo. 40 minutos depois e já estávamos de pé encarando a realidade do dia: ainda faltava muito pra Pedra da Mina.

    A trilha seguiu mantendo o padrão Serra Fina: subidas e descidas extremamente cansativas. A cada passo avistávamos a Pedra da Mina e sua base um pouco mais próxima. Depois de mais algumas horas de caminhada, era 16:00, no último morro antes da Mina e tivemos que tomar uma importante decisão: acampar na base ou no cume? O grupo, apesar de exausto, se juntou na decisão de acampar no cume. E lá estávamos nós, às 17:00 na base, extremamente cansados, colocando um pé na frente do outro para encarar aquela subida. Acho que foi o ponto mais delicado do dia. O grupo estava claramente com suas últimas energias. Depois do cume falso, chegamos no cume verdadeiro às 17:30, sentindo muito frio, pois o sol tinha abaixado e a temperatura caído bruscamente. Todos aceleraram para tentar encontrar um ponto vazio para montar a barraca. O pico estava cheio e esse processo foi bem difícil. Uns conseguiram lugares melhores, outros não, mas todos, antes do fim do último raio de sol, já estavam abrigados.

    A gestão de frio e comida foi feita por cada um dentro da barraca. Uns cozinharam, outros só lancharam. Fazia muito frio mesmo, as temperaturas bateram -5ºC às 21:00 da noite e muitas pessoas estavam extremamente cansadas. A estimativa foi de -9ºC na madrugada. É seguro dizer que chegamos no limite da segurança. A Dani e a Gabriele, por exemplo, estavam em situação crítica por conta da baixa temperatura e foram amparadas pelo Negreiros e Roberto. Aprendemos na dor que a Serra Fina não tem margem para erros. Porém, lá estávamos nós, chegamos na Pedra da Mina.


    Dia 2 - 02/06/2019

    A ideia era acordar bem cedo no dia 2, porém, por conta da exaustão física do dia anterior e do extremo frio que fazia, optamos por sair um pouco mais tarde, já aproveitando o calor do sol e o tempo para comer um café da manhã reforçado e tirar uma foto histórica.

    Saímos da Pedra da Mina às 9:00 rumo ao Vale do Ruah. Lá em baixo todos perceberam porque se trata de um dos locais mais frios da Mantiqueira. Era pedra de gelo por todos os lados. Percebemos também como é importante ter um guia experiente e um equipamento de orientação, já que alí dá pra se perder fácil.

    No dia anterior, tínhamos conhecido uma dupla engraçada (Alex e Faísca) que estava com o grupo de SP que atolou na nossa frente. Esse grupo estava fazendo a travessia em 4 dias, porém, eles abandonaram o grupo e resolveram fazer tudo em dois dias. Foi no Ruah que começamos a ajudar eles com mais frequência, já que, como mencionado, a orientação do segundo dia é mais complicada que a do primeiro.

    No fim do Ruah, após pegarmos água, já começamos a avistar o próximo grande desafio: o Cupim do Boi. Seguimos a caminhada com mais subidas e descidas rumo à esse pico. O grupo dava sinais claros de desgaste. O desempenho já não era o mesmo do dia anterior. Mas todos deram o máximo de sí e, às 11:30, chegamos lá, encontrando com uma galera irada do Trilhando Trekking de BH. Galera extremamente gente boa, que já éramos fãs a algum tempo. O cansaço era aparente. Até algumas discordâncias apareceram. Por conta do atraso, Negreiros exigiu muito fisicamente do grupo e alguns membros estavam dando claros sinais de esgotamento e descontentamento com o ritmo. Mas todos sabiam que não existia outra saída a não ser terminar.

    Mais um tempo em cima do Pico para recarregar as energias e seguimos para o Pico dos Três Estados. Uma longa subida que acabou de vez com o desempenho do grupo. Chegamos no pico às 13:15 arrasados. Muitos precisaram comer algo mais reforçado, até com o uso do fogareiro. Outros precisaram fazer suas necessidades (con shittube, claro) e asism foi. Nesse pico, encontramos mais uma vez a galera do Trilhando e tiramos uma foto de todos juntos. Eles seguiram e nós ficamos lá por quase 1 hora, saindo somente às 14:15 para a última pernada. Vale lembrar a presença de muitos ratos por lá. Isso é um ponto de alerta para próximos eventos.

    Na nossa frente, a última grande subida: O Alto dos Ivos. Ninguém se motivava mais com palavras fortes. Agora era cada um tirando de dentro de si o seu melhor. E assim foi, descemos e subimos mais, até alcançar o Alto dos Ivos às 17:30. Estávamos muito atrasados. Levamos muito tempo dos Três Estados até alí. Desse ponto em diante, o Alex e o Faísca seguiram sem nossa ajuda, não os vimos mais.

    Agora, por orientação do Negreiros, todos se agasalharam de forma reforçada para descer. Sua ideia era de que a pior parte física já tinha passado, agora era só manter uma boa termorregulação que tudo acabaria bem. E assim foi, descemos a noite até o Pierre. Aquela não era a última subida, ainda vieram algumas menores, mas o pior já tinha passado. Quando encontramos a trilha boa, o rendimento melhorou e chegamos ao último ponto de água às 20:15, um pouco antes do Pierre. mais uma caminhada e atingimos a estrada. A felicidade estava estampada no rosto de todos, faltava pouco.

    Finalizamos a travessia e encontramos o Beto (muito preocupado) às 21:15. Todos mortos, mas muito felizes. Afinal, tínhamos vencido uma das travessias mais difíceis do Brasil em dois dias. E assim foi, o Clube Outdoor venceu a Serra Fina. Mais uma grande conquista, quase 40 dias depois de Marins - Itaguaré. Creio que, aos poucos, estamos nos estabelecendo como um importante grupo de trekking/caminhada.

    Clube Outdoor
    Clube Outdoor

    Publicado em 18/07/2019 13:33

    Realizada de 06/07/2019 até 07/07/2019

    3 Participantes

    Henrique Protázio Bruno Negreiros Adhemar

    Visualizações

    1972

    5 Comentários
    Bruno Negreiros 18/07/2019 17:36

    Foi punk!!!!!

    Não foi fácil mais valeu super a pena! Excelente relato.

    Renan Bernardes 12/08/2019 23:14

    Parabens Pessoal, 2 dias deve ser muito puxado ! Fiz em 3 e ja teve perrengue, imagina em 2! So de ler bateu o cansaco kkkk

    Luciano Pereira 15/08/2019 16:19

    Parabéns a todos! Haverá outra travessia? Quero fazer essa travessia da Serra Fina

    Clube Outdoor 20/03/2020 19:39

    Fala, galera. Serra Fina é especial. Em breve isso tudo vai passar e a gente vai retornar!

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