Travessia Lapinha x Tabuleiro | Serra do Cipó/MG
Trekking de 3 dias pela Serra do Cipó, de Lapinha da Serra até a Cachoeira do Tabuleiro/Conceição do Mato Dentro. Relato: Bruno Negreiros
Montañismo TrekkingEvento: Lapinha x Tabuleiro
Fotos: Bruno Negreiros e Débora Thomaz Aguiar
Data: 22/04/2022 à 24/04/2022
Local: Parque Natural Municipal do Tabuleiro/Serra do Intendente.
Atividade: Caminhada 3 dias (42km).
Participantes: 15 pessoas.
Transporte: Van (Suprema Rios).
Início: Santana do Riacho - https://goo.gl/maps/1xJGZEyLjk4EHCTW6
Fim: Conceição do Mato Dentro - Portaria PNMT - https://goo.gl/maps/cVSAbyiuW4vsXjvS9
RELATO
Nos encontramos no Shopping Nova América às 18:00, por conta das interdições e do carnaval fora de época. Nosso motorista, Beto, avaliou que seria melhor trocar o local de embarque, não sendo mais o Posto Shell Rede ML próximo à Rodoviária Novo Rio. Consultamos se todos tinham disponibilidade para ir até o novo ponto de encontro e, como todos assentiram positivamente, fizemos a troca. Marcamos na entrada principal do shopping e, com todos no local, a van entrou, destinamos o pessoal até um bom ponto do estacionamento onde fizemos o embarque. Talvez poderíamos ter alguma forma de agilizar mais ainda o processo de embarque, pois o tempo limite para entrar no estacionamento do shopping estourou em 3 minutos e o Beto foi barrado na saída da guarita do estacionamento.
Fizemos uma viagem tranquila, fazendo paradas em Petrópolis, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Santana do Riacho, onde acertamos com uma padaria local para que ela abrisse mais cedo somente para o nosso grupo, por volta das 4:30. Todos comeram com calma até 5:15, quando seguimos viagem. Chegamos a Lapinha da Serra por volta das 6:00, onde descemos da van, nos arrumamos e começamos a caminhada cerca das 6:35.
Dia 1 - 22/04/2022
Adentramos a trilha às 6:35, passamos as primeiras porteiras, o rio que alimenta a Lagoa da Lapinha, uns charcos secos, inclusive onde fica um campo de futebol, e progredimos para o paredão da Serra do Cipó que se erguia à nossa frente. Logo passamos pela porteira que marca o início da travessia, onde é cobrado 25,00 (por pessoa) a entrada.
Mapa temático de Lapinha da Serra.
Paramos, pegamos água e, a partir dali, começamos uma suave subida da Serra, caminhando para norte no relevo, mirando um colo localizado à esquerda do Pico da Lapinha. Entre trilhas que saem e se encontram e o quartzito característico da região, fomos subindo por caminhos bem marcados e processos erosivos no terreno. O ritmo era cadenciado, mas bom. Não se via o grupo abrir mais do que 5 minutos. Quando isso acontecia, parávamos e agrupávamos. Fizemos isso umas duas ou três vezes até chegarmos em uma casa de apoio localizada (Fazenda Serra do Breu) no meio da subida, cerca das 8:00. O pessoal usou o banheiro, deixou limpo como estava, bebeu água e seguiu para cima, aqui vale um comentário que foi muito dito por todos, que casa mais bonita e aconchegante, o banheiro parecia até de hotel 5 estrelas, só que na verdade era 5.000 estrelas hahaha.
O caminho para o Pico da Lapinha. Foto: Débora Thomaz
Virando a leste e, depois, ao sul, encontramos a bifurcação que marca a ida até o Pico da Lapinha e o restante da travessia. Ali deixamos as mochilas e o Gabriel Ferreira tomando conta delas. Partimos então para o primeiro cume de nossa aventura. Depois de mais 20 minutos subindo em cascalho, chegamos lá em cima e nos deparamos com o belo visual de Lapinha da Serra do Alto da Serra do Cipó, caracteristicamente marcado pela cruz ali instalada. Eram 9:30 da manhã e já tínhamos percorrido cerca de 5km. Depois de muitas fotos, resolvemos descer.
O Pico da Lapinha. Foto: Débora Thomaz
Retornamos aos pontos onde estavam as mochilas, colocamos elas nas costas, acordamos o Gabriel e seguimos pelo alto da Serra, ganhando altimetria gradativamente em destino ao Pico do Breu. Um pouco antes dele, um falso cume que iludiu o pessoal, mas que mostrou a sua descida, acompanhada da subida final. Por ali fomos, meio que numa semi escalaminhada de mochilas nas costas, até chegarmos, às 11:30, no segundo cume do dia: o Pico do Breu, com seus aproximados 1.687m de altitude, o ponto mais alto Serra do Cipó, depois de 9km totais, paramos brevemente para comer um amendoim e barrinhas de cereal que nosso grande motorista Beto sempre nos dá e seguimos.
Chegando ao Pico do Breu. Foto: Bruno Negreiros.
Galera no Cume do Pico do Breu.
Dali pegamos o descidão do Breu. Com muito cuidado e paciência, fomos avançando devagar passo por passo para evitar lesões. Uma descida que exigiu MUITA atenção de todos. Gradualmente, nos guiando por caminhos que apareciam e pelo GPS, fomos perdendo altitude, transpondo cascalho e chegando mais perto do fundo do Vale onde corre o Rio Parauninha. Lá, viramos para o sul e acompanhamos o curso do rio até chegarmos na Prainha por volta das 13:00, após 12km de caminhada, local onde é proibido acampar. Paramos por ali e aproveitamos a gelada água do rio para uma parada mais longa para o almoço, neste ponto posso dizer que muitos que estavam invejaram brevemente Renata, Gabriel e Letícia, que já tinham combinado lanches, levaram pão italiano, cogumelos, abacate e parma, a essência da gourmetização, outros claro chegaram junto para somar a fazer grande banquete entre todos.
Rumo ao Tabuleiro. Foto: Bruno Negreiros.
Seguimos então por caminhos de terra batidos e bem definidos, passamos perto de onde era o Ponto de Apoio da Ana Benta (desativado nos dias da travessia), cortamos o morro pela paisagem da montanha e nos deparamos com um subidão. O pessoal perguntou: “é por ali mesmo?”. Respondemos que sim e tocamos logo para cima para não perder o embalo. Tentando manter um ritmo constante, sem muitas paradas, subimos de uma vez, parando somente lá em cima para agrupar e descansar.
Lá veio o Subidão. Foto: Bruno Negreiros.
Lá em cima, viramos para o norte, voltamos a pegar estradas de terra bem batidas, passamos pelo ponto de apoio do IEF (sem ninguém no local) e seguimos por uma boa estrada de terra em um descidão até o Ponto de Apoio do do seu Chico Laje… agora só faltavam 2km até o Seu Zé.
Depois de umas coca-colas geladas, progredimos até, perto das 17:30 chegarmos ao Seu Zé. Nos deparamos um camping bem cheio, mas felizmente com espaço ainda bom e vazio para montarmos nossas barracas e com nossas refeições registradas e garantidas. A lotação nos assustou um pouco, sobretudo por conta das filas do banheiro, mas logo nos acostumamos com o local, carregando a expectativa de que esvaziasse no dia seguinte, já que começamos nossa travessia um dia na frente do que a maioria das pessoas que vinham de Minas Gerais.
De barracas montadas, nos restava um bom banho de rio (uns nem tomaram). Garantimos nosso lugar na fila e comemos um jantar completão com arroz, macarrão, salada, abóbora, feijão e carne de porco (ovo para quem não comia carne). Uma delícia acompanhada de cervejas e refrigerantes para levantar o ânimo de todos. Depois de muitas conversas e risadas, fomos descansar. Afinal, percorremos naquele dia quase 22km em 11 horas de aventura. O descanso era merecido.
Dia 2 - 23/04/2022
Um dia bem mais tranquilo que o primeiro. Acordamos todos às 6:00 com calma e subimos às 7:00 para tomar um ótimo café da manhã com pão, frutas, queijo, café e bolo. Retornamos às barracas, montamos nossas mochilas de ataque e seguimos rumo à Parte Alta da Cachoeira do Tabuleiro, saindo cerca das 9:00. Seguimos para sudeste por cerca de 5km por sobes e desces tranquilos até a parte final, um descidão em zig zag pelo cascalho até os primeiros poços do Córrego Ribeirão do Campo, drenagem que cairá na Cachoeira do Tabuleiro.
O Córrego Ribeirão do Campo. Foto: Débora Thomaz.
Por ali, fomos seguindo o curso da água passando por poços e pequenas cachoeiras até chegarmos na parte alta da queda do córrego. Com cuidado, fomos um por um olhar a dimensão dos 273m de altura, deitando em sua virada final. Depois de um bom banho na piscina que se forma logo ali antes da queda, resolvemos retornar para um poço mais amplo um pouco antes. Por lá, aproveitamos muito mais tempo ficando algumas horas e curtindo bastante.
A virada da Cachoeira do Tabuleiro. Foto: Débora Thomaz.
Logo perto das 14:30 horas resolvemos voltar, passando por todos os belos poços da ida, uma visita rápida e longe do mirante (que possui risco de queda) e o retorno dos 5km até o camping do Seu Zé. Aqui, aquele descidão final da ida se transformou em um subidão pós cachoeira… com um pouco de preguiça, fomos subindo cadenciadamente com o grupo bem junto. Quando abria, logo parávamos a cada 1km para juntar todos novamente. Depois andamos o trecho final e retornamos ao acampamento, onde chegamos próximo das 16:00. Para nossa surpresa, o local já estava mais vazio que no dia anterior. Com menos gente, conseguimos aproveitar melhor a hospitalidade do Ponto de Apoio do Seu Zé.
E assim foi o nosso fim de tarde cercado de batatas e aipims fritos com calabresa, acompanhados de refrigerantes e cervejas. E ainda sobrou espaço para a janta completa da noite, dessa vez com frango na panela. Com todos muito satisfeitos, fomos dormir… ou tentar. Logo perto das 00:00 um outro grupo que bebia muito no Seu Zé retornou ao acampamento gritando, berrando e fazendo muito barulho. Algumas pessoas do nosso grupo reagiram e a troca de ofensas começou. Outros tentaram apaziguar, até que a coisa se acalmou. A conversa muito próxima diminuiu e ficou mais longe, apesar de ainda presente. Lentamente, depois da confusão, tudo foi se acalmando e conseguimos dormir… Por pouco isso tudo não virou uma grande briga de verdade. Um momento difícil, mas que não nos aparagá da memória o belo céu da noite.
O belo céu da noite. Foto: Débora Thomaz.
Dia 3 - 24/04/2022
O terceiro dia exigia agilidade em todas as etapas de nosso planejamento. Primeiro porque a entrada oficial da parte baixa da Cachoeira do Tabuleiro é limitada a 250 pessoas, sendo esgotada, em feriados, sempre ainda pela parte da manhã. Além disso, nossa viagem de volta ao RJ seria longa, não sendo possível nossa saída muito tarde de Conceição do Mato Dentro.
O combinado era de todos estarem prontos às 7:00, subir para tomar café e, já bem alimentados, sair às 7:30 para a parte baixa. Tudo ocorreu bem, mas precisamos de alguns minutos a mais no retorno ao acampamento, logo após o café da manhã, para ajustes finais de saída. Saímos às 8:00 e rumamos pela trilha que começa logo ao lado da cerca do acampamento. Fomos descendo em um bom ritmo, vencendo terrenos batidos e cascalhos que se desfazem do piso da trilha. Majoritariamente no sentido leste, levamos cerca de 1 hora até o belo mirante que traz uma visão panorâmica da Cachoeira do Tabuleiro. Ali paramos e tiramos muitas fotos bem legais, inclusive a do grupo.
Clube Outdoor no Mirante da Cachoeira do Tabuleiro.
Descemos mais alguns minutos e chegamos à Portaria do Parque Natural Municipal da Cachoeira do Tabuleiro, onde o Beto já adiantava os nossos formulários de entrada. Lá, guardamos as mochilas pesadas, vestimos as roupas de banho, pegamos as mochilas de ataque, escutamos as orientações dos guarda-parques, pegamos os coletes salva vidas obrigatórios de uso e saímos rumo à parte baixa da Cachoeira.
Inicialmente por um corredor bem construído em degraus de pedras e concretos, dotados de corrimãos de madeira e horizontes magníficos… fomos indo até um chuveirão desativado, quando viramos á esquerda e começamos a descida da mega escadaria que dá acesso ao leito do rio que corre lá em baixo. Umas últimas curvas no final e chegamos no canal. Por lá, um pula pedra danado seguindo as setas vermelhas pintadas das rochas… cerca de 30 minutos depois (perto de 11:20) estávamos lá no mega lago formado pela queda… SIMPLESMENTE ESPETACULAR. É proibido nadar ultrapassando metade do lago, mas caímos todos na água com coletes salva-vidas até uma pedra localizada próximo ao centro do lago. Lá, aproveitamos bastante sobre o forte sol que fazia. Até assistimos um aventureiro que saltou do alto da cachoeira de base jumping.
A Cachoeira do Tabuleiro. Foto: Bruno Negreiros.
Em meio àquele lugar magnífico e as rochas que coloriam o entorno, curtimos bastante até cerca de 12:30, quando iniciamos o tranquilo retorno à entrada do Parque. Chegamos lá cerca de 13:45… festejamos bastante, tomamos uma breve ducha, entramos na van e partimos.
Fizemos uma viagem longa e tranquila, com parada de almoço logo na saída do Parque… tudo já agendado pelo Beto… Chegamos ao Rio de Janeiro, após mais três paradas no caminho, cerca de 1:30… todos felizes e satisfeitos, já que os dias que se passaram foram incríveis e todos chegaram não tão tarde, ideal para encarar a segunda-feira de trabalho que viria pela frente.
Este foi um dos eventos cancelados em 2020, por conta da pandemia provocada pelo Covid-19. Agora, dois anos depois, tivemos sucesso absoluto, três dias ensolarados, caminhada entre as montanhas do Cipó e todos os lados e formas de cachoeiras. Como disse o próprio Ricardo Sertã: “foram os dias mais felizes da minha vida”.













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