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Cristiane Gellert 01/12/2024 15:01
    Refugio Frey

    Refugio Frey

    novembro de 2024

    Trekking Montanhismo

    Marquei minha viagem para o mês de novembro, com a esperança de um clima ameno, já sem neve, fora de temporada, evitando os tábanos (uma mosca grandona que pica e aparece no calor) e o excesso de gente (que às vezes pode incomodar mais que tábanos).

    Por fim, todos os planos que eu tinha de passar varios dias na montanha não deram certo: uma nevasca caiu em pleno fim de primavera, complicando o acesso a maior parte dos refúgios. Não sou uma pessoa experiente com neve, portanto precisei mudar meu itinerario.

    Também havia a questão logistica e financeira. Não havia vans regulares de transporte para Pampa Linda devido a baixa temporada, e o valor por algo mais exclusivo estava exorbitante. 60 mil pesos de transporte, 20 mil de ingresso, 60 mil por noites nos refugio... por fim, gastaria muito além do que poderia no momento, e ainda sob o risco de me lascar sozinha na trilha nevada.

    Após uma semana em El Bolson, fui a Bariloche e resolvi subir, pela segunda vez, ao Refugio Frey. Dentre os refúgios de Bariloche, é um dos mais acessíveis, com uma trilha de nivel médio. E sem toneladas de neve para me atrapalhar.

    Fiz a reserva da pernoite pela Internet, paguei 35 mil pesos e fiz o registro obrigatório de trekking. Lembrem-se que esses dois passos são essenciais para garantir a segurança e um lugar para dormir nesse refúgio.

    Pois bem. Acordei cedo, tomei meu desayuno, e peguei o coletivo até o Cerro Catedral. Paguei 5 mil pesos (cerca de 30 reais) para chegar lá.

    A trilha para o refúgio começa do lado esquerdo da estação de esqui. No total, são 9,5km, sendo os primeiros 8km de nivel facil/médio. É necessário cuidado em alguns trechos com as pedras soltas e o solo arenoso.

    Inicialmente, tive uma vista maravilhosa para o lago Gutiérrez, a esquerda. É bem tranquila a caminhada, com subidas e descidas leves. Durante o trajeto, estava bastante reflexiva, pensando em varias coisas importantes que aconteceram neste ano. É bem comum eu ficar assim enquanto caminho sozinha em trilhas.

    Depois de 1h30, entrei no bosque, de onde já é possível enxergar as famosas torres do Cerro Catedral. Até o refugio la Piedrita, que fica no meio do bosque, levei cerca de 2h30 para chegar. Parei pra comer algo.

    Fui xeretar o lugar e encontrei um monte de sujeira e pichação, alem de cheiro de urina e outras coisas esquisitas, dentro desse mini-abrigo. Havia uma estufa e lenha armazenados lá dentro. Não sei se alguem usa esse refugio hoje em dia, só sei que dá pena de ver como as pessoas não sabem cuidar das coisas.

    A partir desse ponto, a trilha fica mais ingreme. Tem uma placa que informa que o refúgio está a uma hora de lá. Eu subi devagar, fiz em 1h15, parando varias vezes para descansar e contemplar.

    Apesar da subida ser puxadinha, a paisagem é linda. Saí do bosque para um terreno bastante pedegroso de montanha. Tinha bastante barro e água, mas nada de tão complicado. Enquanto subia, lembrava da minha primeira vez no local (a 5 anos) - pareceu tudo tão mais dificil quando tinha menos preparo e experiência. Pensei muito também, com carinho, em minha amiga Rebeca, que havia subido comigo. Nós duas subimos xingando muuuuito naquele dia, não foi facil! Hoje em dia, é uma lembrança gostosa e divertida.

    Pouco antes de chegar no refugio, havia um pouco de neve no caminho. Eu passei por esse trecho com bastante cuidado. Aos poucos estou perdendo meu cagaço com neve e gelo... eu realmente fico tensa com isso (e no fim nem foi difícil).

    No total, foram 3h45 de caminhada. Bem melhor que a primeira vez, que fiz em cerca de 5 horas. Fiquei feliz - tenho me dedicado a treinar musculação e realmente senti muita diferença nas subidas de montanha dessa viagem (na semana anterior, em El Bolson, fiz o cume do Cerro Piltriquitron com muita tranquilidade).

    Cheguei ao refugio e me emocionei. Como é maravilhosa a sensação de caminhar por horas, e conseguir chegar ao objetivo! Ainda mais sendo um lugar absurdamente bonito! O lago parcialmente congelado, as torres do Cerro Catedral se destacando, a neve que havia entre a agua a a montanha... tudo lindo!

    No refugio, conheci gente muito legal. Geralmente, as pessoas que vão a montanha tem uma energia muito boa e estão abertas a conversar e trocar experiências. Pessoas de varias partes do mundo, se esforçando genuinamente para que uma comunicação agradável aconteça. Com essa galera, jantei, tomei vinho, tive conversas profundas e agradáveis, além de muita risada. Combinei com as meninas que conheci que, ao amanhecer, iamos la fora meditar (eu sou pessima nisso e a ideia não foi minha, mas topei, hahahaha).

    O jantar foi guizo de lentejas: um tipo de sopa de lentilhas com legumes bastante saborosa. Eu adoro! E TODOS comeram! Porém, além de ser gostosa, tem um potencial gasoso bastante acentuado, se é que vocês me entendem. Durante a noite, foi um festival de ronco e pum, que olha... ainda bem que eu não ligo muito e pude dormir muito bem, mesmo com esse festival de fogos. Ainda bem que todos dormem em sacos de dormir, assim cada um fica com seu respectivo cheirinho guardado só para si.

    Acordei as 5h30, olhei pela janela e quase choro de emoção! O céu estava totalmente limpo, e o sol nascendo começava a iluminar a montanha, trazendo um tom avermelhado às torres. Desci rapidinho e passei um bom tempo fotografando e filmando.

    As meninas também acordaram cedo, mas acho que não se animaram muito em meditar as 6h da manhã no frio. Elas não conseguiram dormir bem por causa dos ruidos peculiares, coitadas! Então tiraram algumas fotos e voltaram para o abrigo meio borocoxôs.

    Eu tirei um tempinho para me sentar em um deck que tem lá e silenciar, respirar, curtir um pouco aquele momento mágico, em estado de presença. Sentir o vento, ouvir o som da água e dos pássaros, olhar para toda aquela grandiosidade e não pensar em mais nada... isso é e foi como uma terapia para mim! Sou muito grata por esse momento inesquecível.

    Preparei meu café da manhã, e me preparei para descer. Enquanto isso, chegou um helicóptero trazendo, em várias viagens, mantimentos e outras coisas para o refúgio - como colchões por exemplo. O legal é que as coisas chegam amarradas em uma corda, penduradas do lado de fora. Agora entendo como chegam as coisas e o porquê de tudo ser caro lá em cima. Não deve ser nada barato transportar coisas assim.

    Resolvi fazer um caminho diferente na volta. Ao invés de voltar para a estação de esqui, fui pela trilha que tem início na seccional Gutierrez. É uma descida bem ingreme, com desnível de uns 900m, chegando ao nível do lago. Eu queria descer logo para ter notícias da minha gata, que estava internada por problemas pulmonares. Assim que tive sinal, recebi a notícia de que estava estável e poderia voltar para casa - que alivio!

    Esse caminho que escolhi é muito bonito também, com muito bosque e sombra. Havia muitos pássaros, entre eles o Chucao, cujo canto me fascina! Definitivamente foi uma boa escolha. Eu não escolheria essa trilha para a ida, por ser bem mais ingreme, mas para a volta vale a pena. Além de tudo, tem uma frequência maior de onibus para voltar, alem de ser mais barato (2 mil pesos).

    Ao terminar a trilha, botei os dois pés na água fria do lago Gutiérrez, pois os dedos do pé estavam doloridos pela descida. Nós que gostamos de trilha somos meio doidos, ne? A alegria que senti ao botar as patas na água foi enorme, fiquei feliz da vida... e fiquei bom tempo lá, curtindo o momento.

    Andei mais um pouco mais até o ponto, e peguei o onibus de volta para o hostel. Tomei um banho demorado e quentinho e dormi por muitas horas seguidas, aquele sono reparador, que te faz acordar outra pessoa - uma pessoa muito mais completa e feliz.

    Obs: um agradecimento especial ao amigoJeff Almeida, por me incentivar a escrever sobre minhas viagens.

    Cristiane Gellert
    Cristiane Gellert

    Publicado em 01/12/2024 15:01

    Realizada de 28/11/2024 até 29/11/2024

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    1 Comentários
    Jeff Almeida 01/12/2024 15:20

    Fotos maravilhosas e relato mostrando que, mesmo que o plano inicial não dê muito certo, ainda assim muitas, muitas aventuras podem e devem acontecer 🙂 Traga mais relatos!!! 🫂

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    Cristiane Gellert

    Cristiane Gellert

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