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Daniela Coelho 10/20/2021 17:24 with 2 participants
    Travessia Lençois – Capão pela Cachoeira do 21

    Travessia Lençois – Capão pela Cachoeira do 21

    Galera do Bushcraft Bahia se juntando para mais uma aventura!

    Mountaineering Trekking

    O objetivo inicial dessa trilha era diferente do que foi seu desfecho final. Devido a alguns motivos que eu irei explicar nos próximos parágrafos, os planos desandaram e precisamos mudar o roteiro no segundo dia de trilha.

    Já fazia algum tempo que eu queria conhecer as cachoeiras do 21 e do Palmital, entrando e saindo por Lençóis. Fazemos parte do grupo Bushcraft Bahia e em uma das conversas no grupo de whatsapp, Duda tinha sugerido um roteiro semelhante ao que eu tinha em mente, só que explorando um percurso novo. Aproveitando este gancho, eu pedi a ele o tracklog da trilha e todas as dicas necessárias, uma vez que sempre ouvi dizer que a subida da cachoeira do 21 não era trivial em virtude de uma série de dificuldades associadas. Planejávamos começar a trilha no início da manhã do dia 09/10 e passar a primeira noite no acampamento do 21. No segundo dia seguiríamos pelo Córrego Branco, Córrego Verde, passaríamos pelo mirante da Fumaça de frente e seguiríamos em direção ao Palmital, onde dormiríamos na segunda noite. No terceiro dia, voltaríamos para Lençóis subindo a Toca da Onça, descendo o Veneno e chegando ao Ribeirão do Meio por volta das 13h do dia 11/10. Almoçaríamos em Lençóis e voltaríamos pra Salvador, evitando o engarrafamento do feriado. Esse era o plano!

    Saímos de Salvador na sexta-feira, 8 de outubro, as 17:30, com destino a Itaberaba, onde fizemos o pernoite no hotel do posto Puma, que fica na própria BR-242, sendo portanto, um ponto estratégico para a continuação da viagem, uma vez que estávamos cansados da semana desgastante e precisávamos descansar antes de iniciar a trilha. Cada um pagou 50 reais com direito a café da manhã, que começava a ser servido as 6h. Estávamos eu, meu marido Ernani, Eric e Breno. A previsão era de pegar a estrada para Lençóis no dia seguinte as 6:30, onde encontraríamos com Thácio e Xandy, que vieram andando do Capão. Tudo começou a desandar a partir do atraso nessa saída de Itaberaba. Só saímos do hotel as 7:20. Como a estrada de Itaberaba para Lençóis estava cheia de buracos e haviam muitos caminhões na pista, a viagem foi muito mais lenta do que o esperado. Só chegamos em Lençóis por volta das 9:40. Ainda tivemos de resolver um contratempo que foi providenciar uma barraca para Breno, pois eu havia esquecido a que iria emprestar pra ele em Salvador. Porém, eu consegui rapidamente uma barraca emprestada com meu querido amigo Lúcio, da pousada Casa da Geléia, também guia na região da Chapada. Quando ele soube do nosso roteiro disse que éramos corajosos em virtude das dificuldades que encontraríamos devido à falta de água e por estarmos iniciando a trilha já tarde. Ele, inclusive, nos encorajou a bivacar ao invés de acampar (para evitar levar o peso da barraca), uma vez que não havia previsão de chuva e devido à existência de diversos pontos de bivaque, tanto no 21 quanto no Palmital. Isso nos fez descartar a barraca de Breno, que optou pelo bivaque. Após nos despedirmos de Lúcio, seguimos para estacionar o carro na rua defronte ao hotel Portal Lençóis e iniciamos a subida do Grisante por volta das 10:30 (esse foi o segundo erro!). Thácio e Xandy estavam aguardando a gente próximo ao topo do Grisante, em uma queda d'água onde passaram a noite.

    Foto 1: da esquerda para direita, eu, Ernani, Eric e Breno no ponto onde deixamos o carro estacionado para iniciar a subida do Grisante, ainda na cidade de Lençóis.

    A subida do Grisante foi exaustiva, pois caminhar naquela laje de pedra com o sol a pino não foi moleza. Tivemos de fazer algumas paradas no caminho para se hidratar e respirar e só alcançamos Thácio e Xandy as 12:47, mais de 2h depois de iniciarmos a trilha. Só que essa era a previsão inicial de estarmos chegando na cachoeira do Fundão. Descansamos um pouco, usufruímos do banho na pequena queda d'água e seguimos para completar a subida do Grisante.

    Foto 2: Momento em que nos encontramos durante a subida do Grisante. Da esquerda para a direita: Xandy, eu, Ernani, Eric, Thácio e Breno.

    Ao longo do caminho Breno não parava de se admirar e tirar foto de tudo que via ao redor. Ele já estava há 10 anos sem fazer trilha na Chapada.

    Foto 3: Breno tirando uma foto minha mostrando um lagarto muito comum em afloramentos rochosos em área de Caatinga, o calango-do-lajedo Tropidurus semitaeniatus.

    O calor estava intenso e eu estava particularmente exausta em virtude da pesada semana que passei trabalhando em campo no Tocantins. Em virtude disso, eu acabei atrasando muito a subida e só chegamos ao topo do Grisante as 13:14. Paramos pra descansar, tirar algumas fotos daquele visual incrível e ouvir algumas histórias interessantes contadas por Xandy, que além de ser guia, assim como Thácio, também é historiador e conhece maravilhosamente bem a história de ocupação da Chapada.

    Foto 4: momento da parada para admirar o visual do topo do Grisante.

    Iniciamos a descida do Grisante em direção ao leito do rio Ribeirão por volta das 13:35. A descida estava com a vegetação muito alta, mal dava pra enxergar a trilha, que estava muito sinuosa. Haviam algumas marcações de setas nas pedras no chão, o que facilitou o processo.

    Foto 5: Fotografia indicando o tipo de vegetação na descida do Grisante em direção ao rio Ribeirão.

    Após varar mato nessa descida interminável, chegamos ao leito do rio Ribeirão, onde fizemos uma pausa mais longa para um lanche. Cerca de 30 minutos depois, seguimos a trilha. Chegamos na entrada do cânion da cachoeira do Fundão por volta das 15:30. Como tínhamos pelo menos mais 1h e meia de trilha até o Fundão, Xandy sugeriu montarmos o acampamento nas margens do rio Ribeirão e seguir viagem no dia seguinte, buscando recuperar esse atraso do primeiro dia. Inclusive, apesar de não esperado, esse ponto de acampamento foi ótimo. Tinha até resquícios de uma fogueira, com pedras e carvão no chão, indicando que outros grupos também usavam esse local. Eu e Ernani armamos nossa barraca de dois lugares, Eric armou uma de um lugar e ainda sobrou espaço para mais uma barraca. Breno, Xandy e Thácio bivacaram em um ponto um pouquinho mais afastado.

    Foto 6: O bivaque de Xandy (de preto), Breno (enrolado numa lona) e Thácio, que já tinha se levantado.

    O rio ficava a cerca de 4 metros abaixo do acampamento. Em virtude da seca, o leito estava bem raso e haviam pedras mais lisas para se sentar confortavelmente e preparar as refeições no fogareiro. Thácio e Xandy prepararam uma macarrão ao fungi, temperado com areia (porque Thácio deixou os cogumelos cairem no chão, rs), Eric um risoto de carne, eu e Ernani comemos uma comida liofilizada de macarrão à bolonhesa da marca Mountain (que é muito boa) e Breno comeu milhões de coisas, porque ele não parou de comer 1 minuto sequer. A mochila de Breno devia estar pesando uns 20 kg só de comida. Ele é um poço sem fundo! Eu e Ernani fomos dormir por volta das 19:30, Eric foi logo em seguida e Breno, Xandy e Thácio ficaram resenhando a noite toda. Era cada gargalhada que esses meninos davam… Cada um mais figura do que o outro!

    Foto 7: Ernani no leito do rio Ribeirão, ponto onde acampamos na primeira noite.

    No dia seguinte a gente cometeu o terceiro erro, demorar pra sair do acampamento. Só iniciamos a trilha as 8:40, sendo que ainda tínhamos a defasagem do dia anterior. Seguimos por uma trilha batida que fica um pouquinho escondida pela vegetação, a direita da entrada que segue pelo leito do rio. Andar pelas trilhas da margem ao invés de pular pedra pelo leito adiantava a caminhada e essa foi uma das dicas que Duda nos deu. Ele disse que nós seríamos tentados a andar pelo leito do rio, pois o mesmo estava seco e aparentemente seria a escolha mais fácil, mas Duda chamou atenção de que sempre haveria uma trilha de um dos lados da margem, bastava procurar. No entanto, em algumas partes a trilha da margem estava mais fechada e nós acabamos optando por pular pedra pelo leito do rio mesmo. Vale ressaltar que essa entrada do cânion do Fundão é incrivelmente linda! Tem um trecho que tem uma queda d’água tão alta e tão escondida pela vegetação que não teria fotografia capaz de ilustrar a beleza daquele lugar.

    Foto 8 Eu e Ernani na entrada do cânion da cachoeira do Fundão.

    Apesar da época seca, encontramos dois pontos de brotamento de água na encosta de pedra onde pudemos abastecer nossos cantis. Nesses pontos não faltavam musgos e samambaias para embelezar o lugar! Ernani dizia pra gente tomar cuidado que na próxima curva encontraríamos com certeza um dinossauro perdido. Ernani é um brincante, já dizia mestre Peter!

    Foto 9: Minadouro de água no cânion da cachoeira do Fundão.

    Durante a caminhada, Breno com seu olho clínico de herpetólogo, encontrou uma pequena cobrinha do gênero Taeniophallus, escondida atrás de uma pedra. Ficamos uns 20 minutos para conseguir tirar boas fotos, pois era um exemplar talvez ainda não registrado para Bahia.

    Foto 10: Serpente do gênero Taeniophallus registrada no cânion da cachoeira do Fundão.

    Um ponto interessante deste trecho da trilha é a quantidade absurda de muriçocas. Como diz minha mãe, era cada “pitú de asa”! Mal conseguíamos ficar parados que centenas já pousavam em cima. Após cerca de 2h e 40 minutos de percurso, chegamos à cachoeira do Fundão, especificamente as 11:23. Ela estava quase sem água. Do poço maior havia apenas uma pequena poça com água parada. Da parede ainda havia uma pequena queda d’água que dava pra tomar um banho e abastecer o cantil. Aparentemente esse seria nosso último ponto com água corrente antes de chegar ao Palmital. Lúcio, inclusive, nos alertou sobre a necessidade de encher os cantis nesse momento. Aproveitamos pra descansar um pouco e fazer um lanche mais reforçado para começar a bendita subida do 21!

    Foto 11: Chegada à cachoeira do Fundão.

    Iniciamos a subida da parede do Fundão em direção ao 21 por volta do meio dia. A subida é bem íngrime e em alguns pontos senti a necessidade de tirar a mochila para evitar que ela pesasse contra meu corpo na hora de escalar os trechos mais altos. Esse trecho é de grande exposição. Na real, a partir desse ponto até o Córrego Branco, são alguns os trechos de exposição onde se faz necessário cuidado redobrado para evitar acidentes.

    Foto 12: Subida da cachoeira do Fundão. Breno mais abaixo, Ernani no meio e Thácio mais acima.

    Depois de superarmos a primeira parte da subida até o topo do Fundão a recompensa é muito gratificante porque a vista lá de cima é incrivelmente linda! Além disso, uma parte da parede rochosa é coberta por um musgo rosa alaranjado que é muito bonito de se ver! Paramos um pouco para fotografar e admirar a vista e logo em seguida eu, Ernani, Xandy e Thácio já prosseguimos para completar a subida até o 21. Breno e Eric ficaram mais tempo tirando foto, sendo que Xandy tinha chamado atenção para não andarmos muito afastados porque a trilha é um zig zag. Precisa de um bom rastreio para descobrir qual é o ponto de subida menos arriscado. Após subirmos um trecho, Thácio decidiu esperar por Breno e Eric para evitar que eles se perdessem, enquanto eu, Ernani e Xandy adiantamos o caminho, pois Xandy estava rastreando qual seria o melhor percurso. Quando já estávamos mais próximos ao topo, percebemos que eles estavam perdidos mais abaixo, sem achar a subida. Ernani precisou descer para guiá-los. Ou seja, esse trecho requer que todos andem bem próximos pois é muito passível que alguém que fique pra trás encontre dificuldade pra achar o caminho. Após superarmos este trecho, chegamos ao poço do 21, por volta das 13:40. Ficamos apenas uns 20 minutos no local. A cachoeira em si estava praticamente seca, mas ainda havia o poço com uma quantidade considerável de água. Pelo menos deu pro pessoal dar um mergulho.

    Foto 13: Poço da cachoeira do 21.

    Nesse ponto encontramos um casal e um rapaz que também vieram de Lençóis pra acampar no 21. Batemos um papo com eles, trocamos algumas ideias sobre o tracklog e partimos para subida. Essa parte teve momentos de maior exposição do que a subida do Fundão. Tem um trecho em que se faz necessário o uso de corda para subir com mais segurança. Havia antigamente uma corda e uma escada improvisada no local. Porém, ambas estavam completamente inutilizadas. Como Ernani sempre que faz trilha leva uma corda de aproximadamente 15 metros, nós conseguimos superar esse trecho de forma mais segura. Primeiro Ernani subiu com a ajuda de Xandy, Thácio e Breno. Lá em cima ele fez a ancoragem da corda ao redor de uma pedra usando um nó oito e um mosquetão, sem permitir que a corda passe pela parte rente ao chão e sim bordeando a pedra pelo meio. Isso permitiu que Xandy subisse com maior facilidade e usando a corda e outro mosquetão, subimos todas as mochilas. Posteriormente, cada um de nós foi subindo com maior segurança. Inclusive, na parte de cima tem uma pedra menor, onde na sua face traseira, tem uma agarra muito boa para apoiarmos uma das mãos durante a subida. Isso facilita demais a sustentação do corpo.

    Foto 14: Trecho onde havia uma corda e uma escada na subida do 21. Na foto estão Xandy (de camisa vinho), Ernani (camuflado), Thácio (azul) e Breno (verde).

    Enquanto estávamos subindo este trecho, apareceram 4 trilheiros de Feira de Santana. Eles não tinham corda e usaram a nossa para descer. Eu fiquei me perguntando como seria essa descida sem o auxílio da corda, em um ponto de exposição extrema como aquele, onde qualquer vacilo implicaria em cair num despenhadeiro. Essa galera teve sorte de encontrar a gente no exato momento da nossa subida! Enfim, após superarmos essa subida diabólica, seguimos andando num caminho estreito pela beira do paredão do 21 em direção ao Córrego Branco. Chegar ao Córrego Branco, que de fato é branco, pois as pedras tem essa coloração, foi de uma beleza ímpar! Se fazer essa trilha sem água já foi incrível, não vejo a hora de fazermos com água, apesar de saber que enfrentaríamos outros níveis de dificuldade.

    Foto 15: A beleza do Córrego Branco. Fotografia de Breno.

    Ao seguir pelo Córrego Branco é importante atenção para não continuar pelo leito do rio e perder a entrada do Córrego Verde. Porém, exatamente no ponto da bifurcação nós passamos direto porque estávamos fazendo a trilha pela margem direita ao invés de pelo leito. Passamos cerca de 300 metros da entrada e tivemos de voltar até achá-la. Não foi difícil porque a entrada é um leito de rio, mas como já estávamos com o horário apertado isso gerou maior necessidade de andarmos mais rápido. Passar pelos Córregos Branco e Verde, apesar da grande beleza, foi extremamente cansativo. As pedras eram altas e exigiam um esforço grande para ultrapassá-las. Após superar a maior parte da subida em direção a bifurcação, onde na direita seguiríamos para o Capão e na esquerda seguiríamos para o mirante da Fumaça de frente (roteiro originalmente programado), nós fizemos uma pausa para lanchar e descansar. Já eram quase 17h, as reservas de água estavam se esgotando e o cansaço só aumentava. Obviamente que seria inviável seguirmos em direção ao Palmital. Na real, desde nossa parada no poço do 21 já estávamos certos de que seguiríamos para o Capão pela Fumaça por cima. Não seríamos doidos de manter o roteiro original diante de tantos contratempos. Esse momento de parada foi um dos mais hilários da viagem. Breno abriu a mochila dele e tirou uns 10 kg de comida. Todos começaram a comer rap 10 cru com patê de atum e com cogumelo em conserva, até que Breno me tira da mochila uma gororoba que mais parecia um pedaço de carne crua. Ernani disse que era chã de dentro misturado com patinho. Só que era uma massaroca de brigadeiro com goiabada enrolado em papel filme!!! Coisas de Breno... Esses meninos começaram a ouvir Led Zeppelin e comer como se não houvesse amanhã!

    Foto 16: Parada para descanso e lanche após a subida do Córrego Verde.

    Depois de quase meia hora, retomamos a trilha, com os cantis quase vazios. Continuamos o trecho final da subida até chegarmos ao platô, onde a vegetação de campo rupestre estava bem densa. Essa parte foi um pouco complicada, porque a claridade já estava acabando e achar a trilha em direção a Fumaça naquele labirinto de arbustos foi muito trabalhoso. Xandy e Thácio foram na frente rastreando a trilha, que apresentava algumas marcações de setas brancas desenhadas na pedra. Porém, em alguns pontos as setas estavam bem apagadas, o que dificultava enxergá-las em virtude da baixa luminosidade do cair da noite.

    Foto 17: Vegetação de campo rupestre na chegada da Fumaça por cima. Fotografia de Eric.

    Por volta das 17:45 já se fazia necessário o uso das lanternas de cabeça. Apesar de Xandy ter uma boa noção da direção que deveríamos seguir, em um determinado momento Eric chamou atenção de que já havíamos passado mais de uma vez pelo mesmo ponto. Por sorte eu havia acionado o gravador de trilhos do Alpine Quest, o aplicativo de geolocalização que tenho no celular. Assim, foi fácil perceber que, de fato, estávamos voltando para o ponto de partida. Foi só uma questão de tempo até encontrarmos a trilha em direção à Fumaça por cima. Mas foi um tempo precioso… A gente chegou no poço da maternidade por volta das 19:30. Foi onde eu tomei meu último gole de água. Nesse ponto paramos pra descansar um pouco. Meus joelhos já estavam exaustos de tanto pular pedra. Eu praticamente estava me arrastando nos bastões de caminhada. Aliás, santo equipamento, se não fosse por eles eu teria terminado essa trilha bem pior! Quando decidimos retomar a caminhada, Breno dá um grito e diz que ele precisava voltar porque esqueceu a pochete com os documentos em algum lugar da trilha. Eu não sei se eu queria primeiro morrer ou matar Breno! Ele voltou correndo em direção ao poço da maternidade e em menos de 2 minutos, ele grita: “tá de boa, a pochete tá na minha cintura, é que tava virada pra trás e eu não percebi!” Breno sendo Breno… Enfim, depois desse fatídico ocorrido, seguimos a longa caminhada de descida da Fumaça, parando em alguns momentos para respirar e já zerados de água. Após cerca de 1h de caminhada eu comecei a sentir os efeitos da desidratação. A boca estava com gosto metálico, ânsia de vômito e um pouco de vertigem. Eu literalmente estava andando de forma mecânica, sem sentir minhas pernas. Quando eu pensava que ainda faltava mais de 1h de caminhada eu tinha vontade de chorar, mas aí eu ia gastar mais água do corpo e eu tava desidratada, ou seja, nem chorar eu podia. Ernani disse que teve uma hora que ele achou que eu estava delirando, porque a gente passou por uma areia fofinha e eu disse que queria deitar nela e fazer anjinho. Agora é cômico, mas na hora foi trágico. Xandy, Thácio, Eric e Breno seguiram mais a frente, enquanto eu e Ernani fomos a passos mais lentos. Quando já estávamos vendo as luzes do Capão, bateu um alívio enorme, mas a casa da Associação de Condutores de Visitantes (ACV) não chegava nunca! Thácio parou pra acompanhar a gente mais no final enquanto os outros adiantaram. Quando já estávamos nos metros finais da ACV, eu precisei parar de verdade. Thácio desceu correndo para buscar água, deixar a mochila dele e voltar pra encontrar com a gente. Nesse momento eu lembrei que tinha duas maçãs na mochila. Custei a acreditar que eu havia esquecido desse detalhe. Eu e Ernani comemos a maçã e foi impressionante como eu senti a reação positiva de ter água e açúcar entrando em meu corpo, mas eu não sentia o gosto da maçã porque minha boca só tinha gosto de metal. Em cerca de 15 minutos Thácio voltou com água salvando o restante da descida. Chegamos à ACV as 21:30, exaustos! Para fechar com chave de ouro era feriado e não haviam vagas nas pousadas do Capão. Xandy tentou ligar para alguns lugares, mas sem sucesso. Foi então que Breno ligou para um querido amigo da gente, que foi nosso colega na faculdade de Biologia, dono da pousada Lothlorien, Rafael Burguer. Por sorte Burguer tinha um quarto disponível com exatamente 4 vagas! Além de resgatar a gente na ACV, ele ainda nos levou pra comer na vila. Burguer salvou!

    Foto 18: Da esquerda pra direita, Eric, eu, Ernani, Rafael Burguer e Breno na vila do Capão no dia seguinte ao final da trilha.

    Essa foi uma trilha, de fato, cheia de perrengues. Mas também foi repleta de paisagens bonitas e muita diversão. O melhor de tudo foi que ninguém do grupo desanimou ou ficou de mau humor durante os momentos mais complicados. A energia de estar na Chapada com pessoas tão especiais prevaleceu. E mesmo diante das falhas de programação quanto aos horários, a gente entendeu que fazer trilha é isso, envolve quebras de planejamento, readequação de roteiros, momentos de maior tensão e uma grande mistura de sentimentos. O importante foi o aprendizado que gerou!

    Foto 19: Mais uma das ótimas fotografias tiradas por Eric. Essa foi na cachoeira do Fundão.

    Agradeço imensamente a Duda por ter fornecido o tracklog e as dicas, a Lúcio por ter se disponibilizado a emprestar a barraca e por também ter dado dicas preciosas, agradeço a Ernani, por ser tão companheiro, a Breno, uma das pessoas mais divertidas que conheço, e a Eric pela sua serenidade e pelas maravilhosas fotografias que registraram essa trip. Mas quero fazer um agradecimento especial a Thacinho e Xandy que são pessoas incríveis. Os dois tem uma energia tão boa e foram tão cuidadosos nessa trip que é até difícil mensurar a importância deles para que tudo desse certo no final. Thácio ainda foi levar a gente em Lençóis no dia seguinte, pois nosso carro havia ficado lá. A Chapada nunca falha!!!

    Foto 20: Thácio e seu sorriso radiante no cânion do Fundão.

    Vou deixar aqui os contatos desses 3 queridos amigos e guias na região da Chapada:

    Thácio - 71 99706-1395 @thacio_trekking_chapada (Capão)

    Xandy - 77 9 9117-3941 @xandytrekking (Capão)

    Lúcio - 75 9 9863-8207 @luciocvmoraes (Lençóis)

    Daniela Coelho
    Daniela Coelho

    Published on 10/20/2021 17:24

    Performed from 10/09/2021 to 10/11/2021

    2 Participants

    Ernani Duda Borges

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    1114

    6 Comments
    Peter Tofte 10/20/2021 18:10

    Muito bem Dani! Gostei demais do relato, senti o drama e as risadas! Belíssima aventura. Parabéns a todos que estavam presentes, excelente grupo! Sexta agora será a minha vez de fazer este roteiro junto com Duda, Doido para conhecer depois que li seu relato.

    2
    Fael Fepi 10/20/2021 19:12

    Legal! Acho que o único equívoco foi acampar no Rio Ribeirão. Mas sem o perrengue não tem graça 👏😎

    2
    Duda Borges 10/20/2021 19:33

    Minha amiga querida, feliz com seu relato e em ter participado desta aventura ainda que de longe!!! Irei fazer agora com nosso querido Peter Tofte e mais alguns amigos! Talvez Thacinho e Xandy colem tb!!! Parabéns pelo relato, bjs!!!

    2
    Rodrigo Oliveira 10/20/2021 20:34

    Muito legal o relato! Sério competidor na disputa de relatos. Perrengue faz parte, né? Mas, é bom botar um filtro aí nessas cargueiras. Por falar em bagagem, corda salvadora essa de Ernani! Infelizmente não pudemos participar... ou será que foi felizmente? ahahaha! =P

    2
    Duda Borges 10/28/2021 19:10

    Agora a corda de Naninho é minha 😂

    1
    Daniela Coelho 10/28/2021 21:05

    Iludido é pior que doido!

    Daniela Coelho

    Daniela Coelho

    Salvador

    Rox
    40

    Baiana, bióloga, aventureira, fotógrafa amadora e feliz com toda essa brincadeira!

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