A primeira escalada a gente nunca esquece
Meu primeiro contato com a escalada, propriamente dita, que aconteceu no Parque Estadual do Grajaú, no Grajaú, Rio de Janeiro - RJ
Escalada MontanhismoIntrodução:
Para começar este relato, volto aqui aos meus 12, talvez 13 anos de idade, quando, no Parque das Águas de Caxambu, Sul de Minas Gerais, instalaram, no período das férias de janeiro, uma parede de escalada. As crianças na ocasião faziam fila para subir a paredinha que foi colocada no meio do parque. Lembro inclusive que fui entrevistada pela EPTV dizendo, com toda a minha empolgação infantil, que o tal muro que tinham levado ali nas férias era 'MUITO LEGAL'. Mal sabia eu que, anos depois, a garotinha esquisita de óculos que subiu aquela parede usando uma sandalinha de plástico iria escalar de verdade.
Bem, eu confesso que nunca tive muito desse tesão pela escalada, sabe. Sempre achei que não era pra mim, até porque se tá pra nascer pessoa mais desequilibrada e atrapalhada que eu, desconheço.
O fato é que desde que comecei a praticar atividades outdoor nunca pensei de fato em aprender a escalar. Fui até onde pude caminhando, e julgava ser suficiente... Até que veio o Escalavrado, umas das belíssimas montanhas da Serra dos Órgãos, localizada no setor entre Guapimirim e Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro. Como o nome já diz, o negócio é escalavrar mesmo. Essa bichona acabou com o meu psicológico.
Ainda no início do Escalavrado, subidas verticais
Na ocasião, fui junto à três amigos num dia perfeito: sem chuva, sem muito Sol... Infelizmente fomos imprudentes por não levar corda e talvez correr um risco desnecessário. Mas vou tentar resumir o que aconteceu. Subimos os primeiros trechos verticais muito bem até. Era como se fosse uma enorme escada de madeira de pedreiro, sabe?! Daí seguimos uma trilhazinha que, atualmente, tive notícias de estar bem comprometida. E, depois chegamos à pedra propriamente dita, onde o que funciona é o sapato e a sua fé.
Lajeado de Pedra, na crista do Escalavrado, quando saí da trilha
Eu subi super bem até um trecho onde era 'ou toca pra cima ou toca pra cima'. Se eu escorregasse pra um lado, pro outro ou pra trás, eu tinha que rezar, mas rezar muito. Me enchi de coragem e dei os primeiros passos. Escorreguei e me vi deslizando para baixo e meio para a direita. Num impulso de sobrevivência, não sei como, eu corri pra cima. Venci o tal trecho e desatei a chorar.
Por uns poucos segundos na rapidez de toda a adrenalina daquele momento eu vi o filme da minha vida passando e tive a exata impressão que ia morrer. Dali não subi mais. Sentei e fiquei.
O negócio bagunçou tanto com o meu psicológico que todo o resto eu desci de bundinha à ponto de ralar minha calça deixando um rombo e ainda machucar bastante a minha pele. Isso foi em 2016.
Depois disso, nunca mais quis voltar ao Escalavrado, mesmo com corda, segurança etc.
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Sobre a experiência de escalar:
Acho que essa parte pode começar com: GANHEI UMA SAPATILHA!
Pois é, ganhei! O Bruno, meu namorado, sempre tenta me estimular a ser melhor montanhista e vivia dizendo que a escalada melhorava a postura do corpo, a forma como a gente se movimenta na montanha... E, de um súbito, me vi sendo desafiada a tentar escalar de fato. Não é que ele me deu a tal sapatilha?!
Sapatilha em mãos, qualquer roupa confortável serviria. Ele então separou todos os equipamentos necessários: capacetes, cadeirinhas, infinitos mosquetões, cordinhas, cordeletes, cordas enormes, freios... 'Vamos lá escalar'.
Entrada do Parque Estadual do Grajaú
Fomos, então, ao Parque Estadual do Grajaú, pouco depois do almoço. Esse parque fica ali aos pés do Pico do Perdido, numa área super bonitinha e bem cuidada, com vigilância... Com todos os apetrechos necessários, andamos rapidamente até um bloco de talvez uns 7 metros, não sei bem.
O Bruno subiu por trás da pedra para colocar a corda, montar tudo direitinho. E eu... Bem, eu olhei e agradeci que meu plano de saúde estava pago em dia, certinho. rs
Depois de organizar tudo, me arrumei: sapatilha nova, cadeirinha, capacete. 'Tô pronta'.
Ele fez questão de me mostrar nós, como eu deveria me amarrar, como a segurança deveria estar feita. Me garantiu algumas vezes que eu não ia morrer e aí me enchi de coragem. Subi uns 5 passos e travei: "Que que eu faço agora?"
Ele dizia: "Tem uma agarra enorme aí na sua mão direita, olha. Pega ela"
Minha resposta: "Mas é tudo pedra, onde que tá?". E eu caía na risada, de nervoso, claro. A perna mais parecia que tava numa discoteca de tanto que tremia e rebolava descontroladamente.
Mesmo assim, tirei coragem sabe-se lá de onde e subi. Aos poucos, e talvez levando muito mais tempo do que jamais foi visto, cheguei no topo daquele bloco e não acreditei. Escalei uma via de grau III, foi minha primeira via. Até então, o mais próximo de escalar, além da paredinha que mencionei lá em cima, foi a Carrasqueira na Pedra da Gávea, ou o trechinho mais pro final do Pico do Perdido... Coisas assim, que pé e mão/braço sustentam.
Fiquei feliz mesmo!
Depois desci, e fiquei na função da segurança pro Bruno. Ele subiu igual um gato super rápido, desceu... 'E aí, vai de novo?'
Pedi uns minutos porque ainda estava impactada da minha primeira tentativa, mas logo depois lá fui eu.
Preciso dizer que essa segunda vez foi torturante. Meus dedinhos do pé estavam esmagados pela sapatilha, as pernas seguiam bambas... Olhava para a pedra e via pedra, não agarras. Mas fui. Subi, parei, respirei. Subi, caí, respirei, parei, respirei e vi que não morri. E assim fui, no ódio e no orgulho... Completei a tal via mais uma vez. Lá do alto esperei o Bruno chegar para montar o rapel e a gente descer de vez. Rapel tranquilo, desci e comecei a me desmontar pois o avançado da hora já dizia que o parque ia fechar em breve. Fomos guardando tudo rápido e tomamos o caminho da roça.
No carro, ele perguntou o que eu achei, se tinha gostado... Nesse momento eu não sentia os dedinhos do pé. Nenhum deles. Mas por alguma razão eu lembrei da história do Escalavrado que falei lá em cima, do fato de eu ter recusado todos os convites que recebi para ir lá de novo... No fim das contas, falei pro Bruno que sim, eu tinha gostado. E ainda acrescentei: 'não que eu ache que estou sendo A Escaladora, até porque eu tenho plena consciência de que não fiz quase nada nessa primeira experiência. Mas acho que agora eu consigo voltar e fazer de verdade o Escalavrado, fazer bem.'
Quem sabe, né?! Até estar lá de verdade não sei como o psicológico e o 'trauma' vão reagir, mas... Sonhar ainda é de graça!
Escalou bem demaaaaaais...Hahahahaha #partiuescalavrado
Adorei o relato, Dani! ❤️
Que legal! Eu tenho vontade, mas muito medo. Quem sabe um dia né...
Kkkkk Bruno aguentou meus gritinhos
Obrigada, Fernanda! ♡♡♡
Então, Camila... Eu nunca fui muito dessa vibe de escalar. Só fazia o que sentia que eu mesma seria capaz de garantir a minha segurança. Mas até que foi uma experiência legal viu! Tendo oportunidade, dá uma chance!
Sim, ainda quero dar essa chance! Obrigada!
"Saudações a quem tem coragem..."