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Dedo de Deus - Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Escala ao cume de uma das mais emblemáticas montanhas do Brasil, localizada entre as cidades de Guapimirim e Teresópolis/RJ
ClimbEssa aventura começa muito antes de 22 de junho de 2024. Ela teve início, na verdade, com uma Dani pirralha que subia a serra e ficava encantada com o contorno da Serra dos Órgãos, e que achava tudo aquilo perfeito demais para ser verdade...
Não me lembro bem a primeira vez que estive em Teresópolis, mas sei que já fui tantas vezes que perdi as contas. Desde pequena vou à cidade... Mas foi só depois de adulta que comecei a ir por opção. De alguma forma, quando alguns finais de semana chegavam, eu sentia um chamado que me fazia subir a serra apenas para tomar café no Paraíso das Plantas, por mais que eu odeie café. Eu acordava muito cedinho no domingo, passava na feira que ainda estava sendo montada e comprava frutas diversas. Passava no posto de gasolina, colocava combustível no carro e subia, sozinha, a serra. Dirigia tranquila até o Paraíso das Plantas, estacionava e fazia questão de tomar um cafézinho com pão de queijo sentada no antigo balcão que ficava de frente para uma janela panorâmica, e ali eu ficava admirando aquela vista belíssima... Depois desse pequeno ritual, voltava ao carro e, em menos de 1 minuto, estava no Mirante do Soberbo. Pegava minhas frutas, um livro e fones de ouvido. No gramado próximo, sentava no chão e ali era o meu pouso por horas... Um tempo lendo, outro olhando para o horizonte e tendo a vista daquelas montanhas lindas.
Quando comecei a praticar esportes outdoor, jamais imaginei que eu teria condições de subir ali, na pontinha do dedo indicador dEle. Lembro que cheguei a contatar empresas e, descobrindo que se tratava de escalada, o sonho pareceu ainda mais distante.
Em 2021, o Bruno me convenceu a começar na escalada... Eu tinha apenas a sapatilha, todo restante era emprestado dele. Fizemos top rope, algumas vias bem tranquilas... Nunca pensei que eu ia gostar de escalar, na verdade, mas paguei a língua. Em 2023 eu já tinha todos os equipamentos básicos e estava em São Bento do Sapucaí fazendo o meu curso básico. Que loucura, né?!
Mas foi apenas em 2024 que tomei coragem e me dediquei mais ao esporte. E nesse ponto, começa, de fato, o relato.
RELATO:
Era fevereiro quando vi algumas pessoas publicarem fotos de escalada com um cara que parecia muito gente boa... Dia Lindo. Dia Lindo Climb.
"Zoé, você indica esse moço, esse Dia Lindo?"
"Indico sim! Ele é ótimo!"
"Ah, que bom! Eu tô querendo escalar mais, me desenvolver, acho que vai ser legal falar com ele então."
E lá foi eu chamar o "seu Dia Lindo" pra conversar. Combinamos uma escalada para nos conhecermos e essa foi a primeira vez que estive no Cantagalo: fizemos a via Paixão de Cris. No fim da via, comentei que eu queria dar de presente de aniversário ao meu namorado a escalada do Dedo de Deus, porque era um sonho dele que tinha tido ao menos 3 tentativas frustradas. Comentei que eu também gostaria de fazer, mas iria demorar bem mais para chegar no nível exigido para essa aventura, e foi aí que eu tive o meu primeiro choque:
"Menina, até essa data que você falou, se a gente escalar uma vez por mês, você consegue!"
Aquilo entrou nos meus ouvidos como se fossem palavras mágicas e na hora me empolguei. Naquele dia, na base da Paixão de Cris, começou, de fato, o meu projeto pessoal de escalar o Dedo de Deus.
Nesse mesmo dia, cheguei em casa e fiz uma surpresa para o Bruno, já mandando ele reservar a data: 22/06/2024, o dia que ele faria o Dedo, e o dia que eu também faria o Dedo.
Desse dia, até O DIA, tentei me dedicar como pude e treinei em diversos locais: Chaminé do Prego (Cantagalo), Calis (Cantagalo), Campo Escola do Morro São João (onde fiz a minha primeira guiada), Filipe Careli (Cabritos), Paredão do Zezão (Agulha Guarischi)... Fora outras vias que fiz com o Bruno.
Cada dia mais a confiança crescia diretamente proporcional à ansiedade. E eu me sentia muito preparada.
Por volta de 3 da manhã do dia 22/06/2024 eu e o Bruno saímos de casa. Fui dirigindo o meu carro até o Paraíso das Plantas, onde encontramos o seu Dia Lindo. Fizemos um rápido café da manhã e dali caminhamos por alguns metros descendo a serra pela rodovia até a entrada da trilha. Caminhamos, em uma subida íngreme, por cerca de 1 hora até a base dos cabos de aço, onde paramos para nos equipar com bouldrier e capacete; além de buscar locais para esconder bastão de caminhada e alguns suprimentos para a volta.
Seu Dia Lindo foi o primeiro a subir o cabo de aço, seguido por mim e depois o Bruno. Nesse ponto, dois conhecidos surgiram, também tentariam cume nesse dia.
Foram três trechos de cabo de aço na a rocha bastante aderente. Depois do terceiro trecho do cabo, voltamos a caminhar um pouco até uma trifurcação, onde tomamos o caminho da direita para chegar à base da via Leste com a variante Maria Cebola. Nesse ponto, também fomos encordados pois há alguns trechos mais expostos. Por volta das 7h da manhã chegamos, de fato, à base da via.
Ali vestimos a sapatilha e, novamente, seu Dia Lindo foi na frente, subindo numa leveza que me causava estranheza ao mesmo tempo que me acalmava. A primeira enfiada tinha partes vertiginosas, ainda que, de fato, não fosse tão voltada para o abismo.
Após ele eu subi, seguida do Bruno. Estávamos numa cordada em A, então bastava eu passar um determinado ponto que combinamos e o Bruno já viria em seguida, assim tentaríamos otimizar um pouco o tempo.
Após esse trecho vinha a temida Maria Cebola, que o seu Dia Lindo protegeu com móveis. Essa sim dava vertigem. E eu, que nunca me enxerguei tendo medo de altura, me vi focada no propósito da escalada não somente pelo sonho, mas também pelo cagaço rs
Depois da Maria Cebola, que de fato tenta muito nos fazer chorar, vem a primeira chaminé. E nesse ponto, preciso reiterar o quanto o seu Dia Lindo é um cara FODA! Ele passou literalmente todos os betas e dicas que tinha, para que a subida fosse feita da melhor forma possível. E assim fomos... Primeiro seu DL, depois eu e depois o Bruno.
Logo em seguida, outro trecho de chaminé, e assim seguimos, até o pedaço em que eu travei.
Chegamos num ponto que se chamava "pulo do gato" e MEU PAI DO CÉU, eu congelei. Ensaiei pular, ensaiei confiar nas fitas, mas quem disse que o corpo respondia?! Ainda assim, usei um segundo de coragem e fiz a passada. Consegui vencer o pulo e "montar na pedra" para vencer o trechinho e cheguei na próxima enfiada, que precisava subir entre duas pedras, dar uma passada ampla e subir pela fenda e.... MEUS OLHOS SE ENCHERAM D'ÁGUA. Ainda na fenda, eu pude avistar a escadinha, a tão famosa escadinha que caracteriza a chegada ao cume!
Esperei o Bruno chegar e subimos juntos! Ambos emocionados e inebriados pela grandiosidade do momento: estávamos, finalmente, realizando um sonho!
E por volta das 11h da manhã, chegamos ao cume do Dedo de Deus!
Ficamos algum tempo, mais de 1h curtindo, rindo, cantando... Felizes demais, a ponto das bochechas doerem de tantos sorrisos. E seu DL fazendo mágica kkkkkkkk simplesmente pegava o ovo cozido e... pluft. Sumiu kkkkkkkkk
E aí iniciamos a descida, cheia de rapéis vertiginosos. Inicialmente retornamos à escadinha, mas seguimos para o lado oposto ao da subida para fazer o rapel. Olhando pra baixo, MEU DEUS DO CÉU, a gente pensa que vai morrer! Mas tem que confiar na técnica, nos equipamentos, no Cara lá de cima...
São três rapéis vertiginosos. O primeiro, como mencionei, após descer a escada, seguimos pro lado oposto de onde subimos, em direção à P3 da via Teixeira. Ali os ancoramos e montamos o rapel até a P2 da Teixeira, e depois outro para a P1 e finalmente o terceiro até a base da via. Dali, seguimos caminhando por um pedacinho de trilha beirando a rocha, depois seguimos descendo por uma pequena via ferrata com cabo de aço e novamente por trilha razoavelmente íngreme até a trifurcação que fica próxima aos primeiros cabos de aço. Lembra que na subida pegamos o caminho da direita?! Nesse caso, descendo, de frente para a trifurcação, saímos no caminho da esquerda.
De lá, a rota é a mesma da subida: cabos de aço até acessar novamente a trilha que leva à rodovia.
Finalizamos tudo por volta de 15h30. Não lembro bem... Só sei que chegamos em casa, no Rio, e ainda estava claro.
Veio comigo, além das fotos, a emoção sem igual de realizar um sonho que, por muito tempo, ficou na caixa das coisas impossíveis.
Esse foi, de longe, um dos melhores dias da minha vida!
está ótima