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Danillo Amaral Delgado 31/08/2018 23:48
    Travessia Petrópolis - Teresópolis

    Travessia Petrópolis - Teresópolis

    Uma aventura de cinco dias. Uma experiência para vida.

    Trekking Montanhismo

    O fim de algo infindável. Após anos planejando uma viagem para esse lugar, bati o martelo de realizá-la como um disivor de água após conclusão da minha graduação em Ciências Biológicas na UERJ - FFP depois de longos anos para finalmente chegar a este momento.

    Defendi a monografia na sexta feira, 17/08/2018 e no domingo, 19/08/2018 às 05h da manhã segui para a sede do parque localizada no bairro de Bonfim - Petrópolis. Todos os preparativos e precauções para a viagem foram tomados um semana antes de sua realização. Checagem de todos os materiais (bastante roupa de frio, barraca, isolante térmico, fogareiro, comida e etc). O único ponto que apresentou dificuldades foi para a aquisição dos ingressos de entrada no parque. Gostaria de realizar a travessia com bastante tranquilidade, ficando acampado um dia a mais nos Castelos do Açu e um dia a mais na Pedra do Sino, porém não consegui realizar a aquisição desses ingressos no site.

    No primeiro dia, gostaria de iniciar a trilha cedo, mas devido a essa dificuldade de aquisição dos outros dois dias tive que esperar a bilheteria abrir para regularizar minha estadia no periodo que eu desejava. Iniciei a trilha por volta das 08:45h. Outra dificuldade para a travessia no sentido Petrópolis - Teresólis é com estacionamento. A sede do parque em Petrópolis ainda não está com a infra estrutura muito boa e não possui estacionamento. O que me salvou foi um dos seguranças que faz esse translado com os carros, nos dias de folga. Isso salvou meu dia e me economizou um tremendo esforço de ter que voltar a Petrópolis de ônibus apenas para pegar o carro.

    O meu objetivo para o primeiro dia era, além de chegar aos Castelos do Açu antes do pôr-do-sol, visitar a cachoeira do Véu de Noiva e a Gruta do Presidente. Já estava um pouco atrasado no meu cronograma, mas como estava numa viagem de passeio e auto reflexão, resolvi continuar a visitar os pontos que havia estipulado.

    O início da caminhada foi bem tranquilo, alcançando a cachoeira em pouco mais de uma hora. Apesar de a cachoeira estar um pouco seca devido ao período estava muito bonita. Seguindo a direita existe uma continuação da trilha que leva até o início da queda. Caso tenha tempo, vale a pena visitar. A vista é muito bonita!! Lá em cima fui visitado por um jacú. Ficou ao meu lado bebendo água e se alimentando por algum tempo enquanto eu o observava. O deixei lá e segui viagem.

    Passei pela Gruta do Presidente. Sinceramente não é um ponto que aconselho. Não vi nada demais neste lugar.

    Abasteci a água e fui em direção a Pedra do Queijo. É um bom ponto de descanso e a vista é estimulante para a longa caminhada que se encontra a frente. Prepare-se neste ponto. Ai a caminhada começa a ser mais séria. Passaremos por longos trechos onde a vegetação passa a ser basicamente toucheira de capim e arbustos de pequeno porte. Em dias quentes a sensação pode ser muito ruim, principalmente se não estiver preparado com água suficiente.

    Estava com aproximadamente um litro de água ainda e esperava abastecer no Ajax. Triste ilusão! Chegando ao Ajax, último ponto de coleta de água, a água estava um pouco salobra e como estava apenas no início da trilha preferi não arriscar. Segui e comecei a subir a Isabeloca. Não esperava que fosse passar tanto tempo em subida com o sol em cima da cabeça. A mochila que estava com aproximadamente 35kg parecia pesar o dobro. Cada passo era uma enorme vitória. Avistei pessoas no alto da subida e estava completamente determinado a chegar lá. Desistir não era uma opção.

    A primeira grande felicidade do dia foi alcançar a placa do "Graças a Deus". Faltavam apenas 1,6km para os Castelos e o ânimo foi de 0 a 100 em segundos. Ainda com muita sede avistei grandes poças de água formadas na rocha por onde caminhava. Eram recém formadas e foram elas a minha fonte de água para o restante da caminhada.

    Após alguns minutos avistei os Castelos pelo primeira vez. Ainda estavam longe mas a sensação de estar ali, frente a frente com aquele GIGANTE é indescritível. Mais alguns minutos de caminhada e alcancei o destino do primeiro dia. Finalmente estava ali. No meio daquilo tudo. O êxtase era tão grande que não consigo explicar.

    Fui até o abrigo para informar da minha chegada e logo em seguida fui procurar uma das áreas de camping para montar o acampamento. O melhor lugar que achei é do lado esquerdo dos Castelos, próximo a pedra com a corda. Esse lugar é muito sossegado, para assistir o nascer do sol basta sair da barraca e contemplá-lo.

    Montei o acampamento e fui me entremear no meio do castelo. Queria sentir toda aquela energia que emanava daquelas pedras. Passei algum tempo ali e segui para a Pedra da Cruz. O pôr-do-Sol é muito bonito lá de cima. Leve casaco! Antes do Sol terminar de se esconder atrás das montanhas, a temperatura já começa a cair significantemente. No alto desta Pedra, em seus 2232m de altitude, é o melhor lugar para conseguir sinal de internet, caso precisem.

    Gostaria de frisar neste ponto a importância de saber identificar a trilha, saber quando parar quando se sentir fora dela e, especialmente para esta trilha, ficar sempre atento aos sinais. Tótens de pedra marcam o caminho. Caso se sinta perdido ou desorientado, procure por eles. Também existem marcas de pegadas em amarelo e seta de metal pintadas em amarelo por diversos lugares ao longo da trilha. Outro ponto importante, a trilha não é marcada pela sua largura e sim pelo chão. Acompanhe as pegadas e identifique os caminhos mais pisados. É provável que esse seja o caminho correto.

    No segundo dia resolvi contemplar o entorno. Acordei atrasado, com medo de ter perdido o nascer do sol. Assim que sai da barraca ainda estava escuro, mas os tons de rosa e laranja já começavam a se moldar na paisagem, à minha direita. Neste dia gostaria de conhecer os Portais do Hércules. Nunca havia feito essa trilha, havia estudado bastante mas no final a vivência faz toda a diferença. Pedi informações aos guardas do abrigo e segui. Queria aproveitar o dia para passear por ali e conhecer um pouco do que me aguardava no dia seguinte.

    O objetivo principal eram os Portais. Deles passei direto como um tiro. Por não conhecer acabei passando direto pela entrada da trilha, seguindo o caminho que seria realizado no dia seguinte. Resolvi seguir até o elevador. Após subir o elevador, segui para a ponta da pedra à direita para almoçar. A vista do Sino, do Garrafão e adjacências começa a dar outro contorno a paisagem. Após o almoço voltei e me preparei para o próximo pôr-do-Sol. Subi mais uma vez a Pedra do Sino e mais uma vez fiquei maravilhado com o Sol se escondendo mais um dia. Imensamente agradecido por tudo que estava vivendo. Por tudo que estava contemplando. Por toda a reflexão e autoconhecimento que estava adquirindo passo após passo. E por mais que sentisse uma saudade absurda de alguém que estava tão longe. Ali me sentia incrivelmente conectado com tudo. E mesmo a quilometros de distância, de certa forma ela estava ali, comigo.

    Conheci um guia, Carlos de Santo Aleixo, que me explicou sobre o caminho para os Portais, e perguntei se poderia seguir com ele no dia seguinte até o ponto que ele me indicaria a trilha. Que homem para conhecer aquele lugar e redondezas. Imensamente grato por compartilhar parte de seus conhecimentos.

    No dia seguinte, iniciei a jornada para a parte que exigiria maior técnica de caminhada e escalaminhada, além de observâncias do caminho. Segui com Carlos e um casal que ele guiava até o Morro do Marco (1h de caminhada com bastante folga e pausas para observar o entorno e tirar fotos). Ao caminhar em direção à esquerda do morro, é possível avistar a trilha que leva aos Portais. uma linha de tótens de pedra marcam a entrada da trilha e grande parte do caminho.

    Não me sentiria completo se não visitasse esse lugar. E mesmo sendo avisado sobre o tempo e esforço que demandaria, resolvi ir. Tinha certeza que valeria a pena. Após descer o Morro do Marco, ainda seguindo a trilha da travessia, virei a direita em direção aos Portais. Escolhi um ponto para deixar o mochilão, não havia necessidade de carregar tanto peso, e coloquei em outra mochila apenas itens essenciais (comida, lanterna, água e corda). É uma caminhada predominantemente de descida, com pouquíssimos trechos de subida. Caminhando com foco, entre 30/40min até os Portais. O paredão que começa a se formar a esquerda é algo de arrepiar até os cabelos mais escondidos.

    No caminho atravessa-se um córrego, no meio de um vale, que é lindo. Um ponto ótimo para diversas fotos! Subindo a encosta após o córrego, começa a se desenhar a tão sonhada vista dos Portais. Impossível ficar pouco tempo contemplando essa vista. É de tirar o fôlego, e medo de errar, uma das mais bonitas da travessia. Arriscaria dizer que sem conhecer os Portais do Hércules, a travessia não estaria completa.

    Me âncorei para poder descer a um pedra à direita, de onde teria uma vista privilegiada do penhasco e das montanhas. A vista da serra com a luminosidade dos raios de Sol esta exuberante. Não pude ficar tanto quanto gostaria pois ainda havia o percursso do dia inteiro pela frente.

    Repousei-me por alguns instantes, sentado à beirada do abismo apenas contemplando toda a energia daquele lugar. Uma sensação indescritível de liberdade. Mais uma vez um pássaro veio me fazer companhia. Dessa vez foi um sanhaço-frade. Um azul magnífico que se confundia com o azul do céu.

    Retomei meu caminho de volta. O retorno do Hércules é puxado. O caminho é somente de subida. Uma subida quase sem fim. Em caso de dúvidas siga os tótens de pedra.

    Irei encurtar um pouco minha história para não desaminá-los a terminar a leitura. Caso queiram saber mais detalhes sobre algum ponto, fiquem a vontade para perguntar.

    A caminhada desse dia é completamente entre vales. Subidas e descidas uma após a outra. O vale da Luva tem um ponto de coleta de água e nesta época do ano esta repleto de flores de maio. Para os amantes de flores, elas complementam a paisagem com muitos pingos rosa, impossíveis de não serem percebidos.

    O tão falado Elevador, nada mais é do que uma escada de vergalhões de ferro presos na rocha. É uma subida relativamente tranquila. Para as pessoas que tem medo de altura, não olhem para baixo e não terá grandes dificuldades.

    Do Dorso da Baleia é possível tirar algumas boas fotos da Pedra do Sino, ainda distante mas não tão distante mais.

    Um pouco antes de chegar ao tão esperado Cavalinho (SEM dúvida o momento de maior tensão da travessia), há um ponto que é aconselhável utilizar corda para descer. É possível passar sem corda, sem grandes dificuldades ou riscos, contudo, para garantir a segurança, recomenda-se o uso de corda.

    O cavalinho nada mais é que uma pedra em cima de outra, com um abismo para o lado esquerdo, um paredão rochoso do lado direito e outro abismo para trás. Só por isso é considerado o divisor de águas da travessia e se torna tão comovente a passagem por ele. Altamente recomendável o uso de corda.

    Apesar de a subida até o Cavalinho ser muito íngreme, é fácil de ser superada. Passando pelo Cavalinho deve-se tomar cuidado com uma outra pedra, o Coice. Passe com cuidado para que não haja acidentes. Poucos minutos de caminhada após o Coice chegaremos às escadas da glória. Uma escada de ferro, ao final desse trecho tenebroso que nos direciona à reta final para o abrigo.

    A passagem pelo cavalinho foi de um nervosismo que não me pertence. Não sei o que acontece naquele lugar, mas nos deixa tenso. A aflição e ansiedade por passar por ali é quase mastigável. O quando finalmente domamos o cavalo, da vontade até de gritar um "Aiiiooooo Silver", como no filme.

    Após a escada é uma caminhada de 1h no máximo. A trilha é bem tranquila, e inicia-se o trecho de descida. Passaremos pela entrada da pedra do sino e em torno de 15min chegaremos ao abrigo.

    Chegando ao abrigo me identifiquei, informando minha chegada e logo fui procurar lugar para montar acampamento. O lugar que melhor me identifiquei foi o camping à esquerda do abrigo. Montei acampamento e após me estabelecer resolvi subir a pedra da baleia. Um bom ponto para usar celular quando for necessário.

    Todos que estamos no abrigo neste dia subiram o Sino para ver o pôr-do-Sol. Eu resolvi apreciá-lo da Pedra da Baleia mesmo, em cima de uma de suas pedras e fazer um pic-nic, sozinho, refletindo sobre tudo que tinha acontecido até ali. Cada pequena vitória conquistada no percurso, cada desafio vencido e todas as coisas que sou agradecido por poder passar por tudo isso.

    A caminhada deste dia foi longa e bem cansativa. Após o anoitecer não consegui ficar muito tempo em área aberta, a temperatura havia caído muito. Fui para a barraca jantar e logo fui dormir. Sem dúvida o frio é um dos desafios desta travessia. Na manhã do dia seguinte, a temperatura era de 6ºC após às 8h da manhã. Não gosto de pensar quanto não deveria estar de madrugada.

    Na manhã do meu quarto dia acordei cedo para poder subir a Pedra do Sino. Uma caminhada tranquila, num percursso de aproximadamente 30 min de subida. Neste dia a felicidade era palpável. O divino estava ali. Subi para tomar café no alto da pedra. O tempo ainda estava fechado. Muitas nuvens passando para minha direita e ventava muito. O céu alternava momentos em que estava aberto e momentos com muitas nuvens. No momento que o Sol resolveu aparecer por de trás das montanhas, as nuvens que passavam resolveram parar. Acredito que para poder observar a grandeza daquele momento, junto comigo. Estava eu, no cume da Pedra do Sino, sem mais niguém, com aquela vista aquele sentimento de algo celestial no entorno. Só para mim. Se é que o divino existe, ele pode ser presenciado ali. Acima das nuvens, numa conexão direta e sem interferência.

    Após umas 3h eu desci. Haviam 2 picos para visitar neste dia (Pico do Papudo e Pico de São Pedro) e eu ainda queria chegar próximo a Agulha do Diabo. Iniciei a caminhada para o Pico de São Pedro pois sabia da existência de uma trilha que levava até a Agulha. A trilha até o Pico de São Pedro é tranquila e rápida de ser feita. A trilha da base do São Pedro até às proximidades da Agulha só aconselho para os mais experientes. Não é uma trilha muito visitada logo não está bem marcada, tornando fácil de se perder.

    Consegui chegar próximo a Agulha, porém faltou me corda para que pudesse chegar tão próximo quanto eu gostaria. É necessário no mínimo 40m de corda. Eu estava com apenas 20m. O visual da Agulha, olhando-a ali de cima, compensou toda a caminhada! Passei algum tempo ali, almocei e tomei o caminho de volta. Visitei o Pico de São Pedro. Aproveitei para fazer rapel na pedra. Para os mais aventureiros, contornando a pedra de São Pedro pela esquerda, à uma fenda entre a pedra de São Pedro e uma outra pedra encostada nela, formando uma janela. É um visual exuberante. Vale a pena para os que gostam desse tipo de aventura.

    Voltei ao abrigo e após alguns minutos recarregando as energias, segui para o Pico do Papudo. A entrada da trilha fica aproximadamente à 20 min do abrigo. A entrada é um pouco escondida, mas como ponto de referência, fica 30m de um tronco atravessado na trilha, onde é necessário abaixar-se para passar. Se você chegou a esse tronco, volte pois a entrada da trilha do Pico do Papudo está logo atrás de você.

    Deste pico é possível ver a cidade de Teresópolis quase por inteira. A trilha até o pico é somente de subida, porém com a vegetação muito bonita. Para chegar ao topo da pedra do pico é necessário equipamento de escalada.

    Tanto o Pico do Papudo quanto o Pico de São Pedro possuem livros de registro. São fáceis de serem encontrados.

    No quinto e último dia realizei apenas a trilha para concluir a travessia. É o dia mais longo de caminhada. Para concluir o trajeto todo são 13km de caminhada até a portaria da sede do Parque Nacional da Serra dos Orgãos em Teresópolis. Apesar de ser o dia de maior caminhada é a caminhada mais tranquila. São 13km de um trajeto bem leve, com muitos zig-zags predominantemente em declive. É o melhor trecho para que possa ser visualizada a variação da biodiversidade neste gradiente altitudinal.

    Ao chegar, meu carro estava estacionado no ponto de apoio 2, conforme combinado com o guarda no início da minha subida, na sede de Petrópolis. Retirei minha chave na administração do parque e finalizei essa viagem íntima na qual pude presenciar o divino e me conhecer muito melhor!

    Uma experiência que aconselho a todos. Algumas sensações na vida são inexplicáveis. Neste lugar você vivencia algumas delas na pele.

    2 Comentários
    Janine Santana 14/09/2018 08:33

    Olá Danillo, toda vez que vou na travessia vejo algo diferente e encantador, é realmente um mar de montanha que nós deixa apaixonados. Esse trecho de descida na pedra antes de chegar no cavalinho se chama "mergulho" é recomendado uso de corda, inclusive tem gancho, mas dá pra descer com atenção e ajuda de alguém sem utiliza-lá. As escadas de pedras, são novas isso facilitou a chegada no cavalinho. Portais do Hércules ainda não fui, gostaria de saber mais detalhes da trilha, se poder ajudar agradeço. Indico agora conhecer o Escalavrado, se você curti rapel se prepare que vai ser 99%. De lá você tem a vista do Agulhas, Dedo, Nossa Senhora e Espinha de Peixe. Vale cada esforço. Parabéns pelo relato e Boas Trilhas.

    Jone Rodrigues 13/02/2019 18:30

    Demais!!!

    Danillo Amaral Delgado

    Danillo Amaral Delgado

    Rox
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