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Dante Cavalhero 13/10/2021 13:21
    Travessia Marins x Itaguaré

    Travessia Marins x Itaguaré

    A linda e técnica travessia Marins x Itaguaré feita em 3 dias.

    Trekking Montañismo Acampada

    A travessia Marins x Itaguaré possui uma distância de aproximadamente 18 km e fica entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Durante a travessia passamos pelo Pico dos Marins (2.420 m), Marinzinho (2.393 m), Pedra Redonda (2.272 m) e Pico do Itaguaré (2.308 m).

    Dicas importantes:

    • É recomendado para pessoas que já tenham alguma experiência com montanhismo e bom preparo físico;
    • Quando nós fomos havia pouquíssima água, então tenha uma boa logística com relação à hidratação. Pegamos água no primeiro dia em um ponto antes de subir o Marins e no segundo dia entre a Pedra Redonda e o Itaguaré. Há pontos tanto no Marins quanto no Itaguaré, porém ambos não estavam bons para consumo;
    • Utilizar o shit tube como uma forma de minimizar os impactos ambientais nessas montanhas.

    1º Dia – Início da Travessia e chagada ao cume do Marins (~ 6 km)

    Saímos de Itatiaia – RJ às 7h da manhã, no carro estávamos eu, Eduardo e Jerônimo.

    Seguimos a estrada até Lorena e de lá fomos para Piquete. Após muitas curvas, trechos de terra e ganho de altitude, chegamos no acampamento base do Marins. Ao chegar lá lembramos que esquecemos de pesar as mochilas, mas sem água acredito que a minha estava com uns 15 kg, provavelmente a deles estava um pouco mais pesada que a minha.

    Antes de nos equiparmos, aproveitamos para pegar um pouco de água que estava em um galão de 5 litros que trouxemos e para dividir algumas coisas entre as mochilas. A questão da escassez de água nesta travessia exigiu uma logística bem-feita.

    Eduardo, eu e Jerônimo prontos para começar a travessia

    Mochilas prontas e cantil com um pouco de água, estávamos prontos para finalmente fazer essa famosa travessia na serra da Mantiqueira. Logo no início é possível observar a vegetação ainda bem mais fechada e uma estrada de terra compactada que leva ao morro do careca.

    Começamos a subir a estrada bem ampla, onde talvez ainda passem carros. Neste trecho o ganho de altitude é bem gradual, sem muito esforço. Em certo momento chegamos no mirante onde é possível observar o Marins e tudo o que precisaríamos subir neste primeiro dia.

    Antes da placa indicando que estamos entrando em uma APA (Área de Proteção Ambiental), fizemos um pequeno desvio do percurso para pegar a água que deveria durar o primeiro e metade do segundo dia. Eu peguei 5 litros, porque sabia que isso seria o suficiente. A água no Marins, onde nós iríamos acampar neste primeiro dia está parada e tem a possibilidade de estar contaminada, sendo assim, não contamos com ela e preferimos encher os nossos cantis antes da subida mesmo. Isso torna a ascensão mais complicada pelo peso, mas é melhor estar pesado do que passando mal por ter bebido água contaminada.

    Primeiro ponto de água da travessia

    Durante o caminho eu ficava um pouco mais para trás do que os dois, porque tenho um ritmo um pouco mais lento e estou menos acostumado a levar carga. Não que isso impedia de algum modo a dinâmica do grupo, até porque aproveitava para tirar algumas fotos.

    Neste primeiro dia o ganho de altura é o maior, com cerca de 900 metros! Quando chegamos nos trechos de rocha nua fica claro que é muito fácil se perder por aqui, principalmente em um dia de muita névoa. Um bom modo de se localizar são os totens e algumas pedras como essa que acho que é um golfinho ou passarinho ou o que sua imaginação quiser ver hahaha

    Provavelmente a parte mais complicada deste primeiro dia é uma “escalada” bem curta em uma fenda, de uns 4 metros. Nada muito complexo, mas com cargueira fica mais difícil! Felizmente nos três já temos alguma experiência em escalada, o que deve ter ajudado. Caso não tenha, não se preocupe, é mais simples do que parece.

    Durante a subida encontramos um grupo de 4 pessoas descansando antes de um trecho com uma subida bem inclinada. Decidimos não descansar e seguir no mesmo ritmo. De fato, não paramos para descansar em momento algum, o que fez a subida demorar somente 3h30. Saímos da base às 10h e chegamos ao local de acampamento às 13h30.

    Local de camping do primeiro dia.

    Como era dia de semana as áreas de acampamento do Marins estavam vazias, o que em finais de semana e feriado é praticamente impossível. Aliás, infelizmente essa montanha vem sofrendo ao longo dos anos com a superlotação, que por si só já seria um problema, mas vem acompanhada de algumas condutas questionáveis e outras claramente inadequadas das pessoas que a frequentam, principalmente relacionado ao lixo e depósito de fezes humanas.

    Ponto onde possivelmente foi um "banheiro" e quem usou deixou o lixo orgânico.

    Montanhas como as da Serra da Mantiqueira possuem um solo muito raso o que torna inviável a técnica de cavar um buraco para enterrar as fezes. A melhor alternativa e mais sustentável é usar um shit tube, existem várias formas e tamanhos, sendo a de cano de PVC a mais clássica e fácil de se fazer. O respeito com o meio ambiente e com as outras pessoas que visitam as montanhas deveria ser uma regra simples de boa conduta para todos. Vamos respeitar!

    Antes de começar a trilha há uma placa indicando a necessidade de usar o shit tube.

    Acampamento montado, aproveitamos para almoçar e tirar uma soneca antes de subir para o cume do Marins para ver o pôr do sol. Deixamos as mochilas pesadas e subimos leves para o cume, que diferença absurda de rendimento sem a mochila pesada. A subida tem alguns trechos bem íngremes e podem complicar um pouco a vida, por isso é muito importante ter uma bota ou tênis de solado bem aderente.

    O Pico dos Marins ao fundo.

    Enquanto subíamos o Pico do Marins era possível observar a sequência de montnahas da travessia.

    Quando chegamos ao cume do Marins (2.420 m), já tinham pessoas acampando lá. Eram poucas pessoas e alguns lugares na parte alta são bem expostos ao vento o que deve deixar a noite de sono um pouco mais complicada, em compensação alguns poucos lugares lá eram bem abrigados do vento o que deve fazer essa experiência ser ainda mais incrível. E que vista maravilhosa lá do cume!

    Enquanto esperávamos para ver o pôr do sol buscamos o livro do cume, não ligo muito para escrever no livro e isso para mim é algo totalmente extra durante uma ascensão em montanha, mas é uma forma legal de expressar o sentimento de esforço para conseguir chegar até lá. O livro estava completamente lotado de assinaturas e desenhos, não tinha nem espaço na capa! O que mostra o quanto essa é uma montanha muito visitada.

    Antes de escurecer iniciamos nossa descida para o local onde o nosso acampamento estava montado. Foi bem rápido, acho que descemos em uns 25 min, no máximo. Já chegamos e começamos a preparar a janta enquanto ainda havia um pouco de luz! Hoje o cardápio foi arroz e frango desfiado, tudo pré-cozido para economizar gás. Depois do jantar aproveitamos para olhar as estrelas! O céu estava muito bonito e foi possível até mesmo fazer um registro da via láctea. Depois de algumas conversas e fotos fomos todos dormir.

    2º Dia – Marinzinho, Pedra Redonda e acampamento no Itaguaré (~ 7 km)

    Acordamos por volta das 7h, preparamos nosso café da manhã e começamos a arrumar nossas coisas. Às 9h já havíamos desmontado acampamento e partimos para o segundo dia, que seria o mais longo da travessia. Do ponto que acampamos era possível ver o sol nascendo atras das montanhas, é incrível como coisas simples na montanha se tornam mais linda. Ou nós que na correria do dia a dia não conseguimos tempo para prestar a devida atenção nessas coisas.

    Teoricamente esse segundo dia é o mais pesado, principalmente em perdas e ganhos de elevação. Por isso não enrolamos muito para começar a caminhada. Logo de início subimos rumo ao cume do Marinzinho (2.393 m). A inclinação não era tão forte, subíamos de forma mais gradual que comparado ao primeiro dia. Em certo ponto nos perdemos do caminho que estava marcado no tracklog e estávamos contornando o Marinzinho ao invés de subir de forma mais direcionada. Conseguimos identificar o erro e resolver de forma rápida e com um pouco de esforço para subir uma parte mais inclinada.

    Subida do Marinzinho.

    No cume foi possível ver a dimensão do Marins, encontramos o livro que não estava tão lotado, assinamos e já continuamos o caminho para a Pedra Redonda.

    Passamos por um trecho de corda, que já possuía uma corda fixada, mas sempre lembre de conferir a condição dela. Acredito que por ser uma travessia conhecida, muitas empresas de turismo já fazem esse trabalho, mesmo assim é bom dar uma olhada e se possível levar uma corda. O trecho é curto e não exige muito fisicamente, porém como no caso da escalada de fenda, a cargueira atrapalha um pouco.

    Trecho de corda da travessia.

    Esse dia da travessia é o que tem mais sobe e desce, o que faz sentido porque fomos andando pelas cristas das montanhas até o Itaguaré.

    Paramos para almoçar antes de um trecho de subida para a Pedra Redonda (2.272 m).

    A subida não foi tão complicada e em alguns minutos já estávamos na Pedra Redonda (que não é redonda) onde aproveitamos para tirar um pouco a mochila e comer algo e colocar nossa vida em perigo um pouco subindo uma parte da pedra redonda (tenho que levar mais a sério o que aprendi no curso de primeiros socorros sobre prevenção de acidentes).

    Pedra Redonda

    Nesse trecho do caminho entre a Pedra Redonda e o Itaguaré há um local para pegar água, é bem escondido, porém alguém deixou uma indicação no chão mostrando o local da bifurcação onde se encontra a água. No nosso caso estávamos seguindo um tracklog, então já sabíamos deste local. Nos abastecemos o suficiente para até o final da travessia. Importante lembrar que mesmo que pareça limpa, tanto no ponto de água do primeiro dia quanto nesse dia nós utilizamos clorin ou hidroesteril para purificar a água.

    Seguimos o caminho, nesse trecho há algumas partes em que se passa pelo meio de pedras, em algumas passagens tivemos que tirar a mochila.

    Chegamos as 16h no colo do Itaguaré, onde achamos uma boa área de camping. Montamos o acampamento já percebemos que aquela área ventava bastante e isso poderia ser um problema na hora de cozinhar. Achamos um bom lugar perto das pedras para ser a nossa cozinha.

    Área de camping do segundo dia.

    Nessa noite jantamos macarrão ao molho vermelho com calabresa. Na hora de limpar a bagunça, usamos o papel tolha ao invés de lavar as panelas. Não é alternativa mais sustentável, porém é muito melhor do que lavar o que no causaria dois problemas, gasto de água potável para esse uso e uma possível contaminação do solo.

    Aproveitamos mais uma noite de céu limpo para observar as estrelas.

    3º Dia – Pico do Itaguaré e o fim da travessia (~ 5 km)

    Acordamos às 5h para ir até o cume do Itaguaré e ver o sol nascendo, na minha opinião essa ascensão é onde há mais riscos de queda durante a travessia toda, então tem que estar bem atento(a), principalmente no “pulo do gato” e a escalaminhada para chegar ao cume com o livro. É importante levar ou ir com alguém que tenha equipamentos de segurança nessas partes da ascensão.

    O "pulo do gato".

    Demoramos uns 20 - 25 minutos para chegar até o cume que fica a 2.308 metros de altitude, o ganho altimétrico até lá foi de aproximadamente 145 metros. O vento estava muito forte nesse dia, o que tornava tudo um pouco mais complicado. Tiramos algumas fotos, assinamos o livro e começamos a descer.

    Vista do cume do Pico do Itaguaré.

    Chegando no camping tomamos café da manhã e desmontamos o acampamento, agora o que nos esperava era uma descida bem longa.

    Durante a descida passamos por uma longa e íngreme rampa de granito, solo batido com muitas e escorregadio, é importante tomar cuidado com os possíveis (prováveis) tombos. Se possível, leve bastões de caminhada porque eles vão diminuir e muito os impactos nos joelhos durante esse trecho.

    Uma das coisas que mais gosto nas travessias de montanha na Mantiqueira é a transição da vegetação conforme você ganha ou perde altitude. Nas partes altas a vegetação é bem mais arbustiva e seca, enquanto na parte baixa observava-se árvores de grande porte e umidade. É uma aula de ecologia a céu aberto.

    Terminamos a travessia em um estacionamento onde iriam nos buscar com uma cerveja gelada! Travessia finalizada com sucesso e que venham as próximas!

    Dante Cavalhero
    Dante Cavalhero

    Publicado en 13/10/2021 13:21

    Realizado desde 24/08/2021 al 26/08/2021

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    Dante Cavalhero

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    Biólogo, guia de turismo e fotógrafo amador. Me aventuro nas horas vagas e de vez em quando escrevo sobre. Seja um sucesso total ou um perrengue inesquecível.

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