Para quem não conhece, Monte Verde é bem pequena, conhecida por suas baixas temperaturas no inverno. É uma espécie de Campos do Jordão mais "rústica", embora quase tão cara quanto e igualmente abarrotada de turistas nos feriados prolongados. A trilha do Pico do Selado é uma das atrações dessa simpática cidade mineira no oeste da Mantiqueira, em uma rima bem brasileira. É relativamente fácil para quem tem um bom preparo físico, não exige técnica ou equipamentos e é bem demarcada, praticamente sem riscos quanto à navegação. É claro que essa é uma avaliação muito subjetiva, pois iniciantes podem ter alguma dificuldade...

Estive lá pela primeira vez em 2015 e logo procurei me informar sobre as trilhas locais e descobri que a do Pico do Selado, cujo cume está a 2.082m, era considerada a mais difícil, portanto, a melhor. Na verdade, a "dificuldade" é a extensão da trilha (cerca de 7km, ou 14km ida e volta). Para quem estiver interessado, segue um link sobre as trilhas de MV: http://www.guiamonteverde.com.br/trilhas/

A trilha pode ser dividida em duas etapas. A primeira, com cerca de 3,5km, é só subida e leva ao Platô, de onde é possível ver quase todo o Vale do Paraíba. O visual compensa o esforço:

No Platô, à direita, começa a trilha do Selado propriamente. Há uma pequena placa indicando o início da caminhada.

Em alguns pontos, a trilha estava bem fechada, mesmo assim não tive nenhuma dúvida em relação à navegação. Bastou seguir o trilho. Pelo caminho há diversos "mirantes", pontos ótimos para fotos e reabastecimento do tanque (água!). Se não é desafiante, com certeza faz valer a máxima de que nem sempre o destino é o melhor do "rolê", mas sim o caminho que se faz para chegar lá. Um caminho de pouco mais de 2,5km que demorei quase duas horas (!) para completar, tantas foram as paradas.

Finalmente cheguei ao final da trilha. O visual é incrível embora não muito diferente do que se vê nos pontos anteriores.

Mas faltava um porém. Havia lido na web que existe um livro no cume do Selado. Onde estava então? Procurei em vão ali no final da trilha. Nada. Já estava conformado em voltar sem assinar o bendito, quando apareceu um pessoal e logo iniciamos uma conversa. O assunto do livro surgiu e um deles disse que sim, ele existia e estava em cima de uma pedra pela qual havíamos passado, mas que seria bem difícil subir nela sem cordas. Voltei à pedra e constatei que realmente não seria nada fácil.

Contornei-a e descobri que, na verdade são duas pedras, com uma fenda que as separa. O livro fica na mais alta, evidentemente. Até é possível subir sem cordas, mas exige certas técnicas de escalada que não domino. Não quis arriscar e procurei um ponto de subida na pedra mais baixa, o que não foi difícil encontrar. Subi me agarrando em galhos e raízes e logo estava no topo da mesma, diante da fenda que as separa. Não deve ter mais do que um metro de largura, basta um bom salto. Mas é bem profunda e do outro lado não é plano. Meu medo era escorregar na "aterrisagem". Ensaiei o "pulo do gato" algumas vezes, mas faltou coragem mesmo. Se caísse, adeus mundo.

Então, de repente, no lado de lá, surge um cachorrinho. Isso mesmo, um pequeno cão preto! Pouco depois, seu dono. Era um guia de turistas que foi logo subindo a pedra, agarrando-se às pequenas saliências (as tais técnicas que não domino) e colocou a corda para seus clientes subirem. Agora era uma questão de ter a cara-de-pau de pedir para usar a corda gratuitamente, claro. Por sorte o cara foi bacana e consentiu, desde que eu esperasse seus clientes subirem e descerem (no topo cabe no máximo três pessoas por vez). Era uma turma de seis ou sete, das quais apenas quatro conseguiram ascender ao topo. Assim não demorou para chegar minha vez e em questão de segundos, finalmente, estava diante do bendito livro e a 2.082m de altitude.

Livro assinado, só restava voltar ao conforto da pousada, agora com o espírito renovado, a alma leve e o corpo devidamente ressarcido por todos os esforços feitos.