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Denis Gois 10/11/2022 20:17
    A Odisséia Paranaense - A Travessia Das Fazendas

    A Odisséia Paranaense - A Travessia Das Fazendas

    Uma travessia insana de 4 dias e 3 noites na serra do mar passando pelos cumes de Camapuã, Tucum, Cerro Verde, Itapiroca e Pico Paraná

    Trekking Montanhismo Acampamento

    SERRA DO IBITIRAQUIRE (PR) A TRAVESSIA DAS FAZENDAS

    15-19 JULHO 2022, A Odisséia Paranaense’’

    Você sabe como um dia começa, mas não sabe como ele termina, quando sai pra trabalhar na quarta feira não imaginava que voltaríamos cedo pra casa e que isso me possibilitaria estar á noite viajando pro Paraná. Tudo aconteceu muito rápido, já estava a uns dias sendo anunciada nos grupos vagas pra Serra do Ibitiraquire (Serra Verde, na língua Tupi), a travessia das fazendas Bolinha x Pico Paraná, desde então já tinha me chamado a atenção por saber que era um lugar muito foda! Tinha recém voltado do Paraná, então ainda estavam frescas na minha cabeça as memórias daquele lugar, e na quarta à tarde as vagas estavam sendo passadas no free!! Pohaa!! Ai que atiçou a vontade mesmo, era uma semana com feriado, o trampo estava tranquilo, e comentando com a minha mãe ela perguntou se não dava tempo de ir, isso daí só podia significar que o caminho estava aberto, pensei, matutei e chamei a Tamires no zap (a menina que estava organizando), conversei, tirei algumas dúvidas e estava decidido a ir, conversando com ela soube que chegando lá já teriam grupos “pré-existentes” e que cada um faria um roteiro diferente, então nosso grupo teria eu, tamires e mais uma pessoa, foi tudo combinado muito na pressa, a previsão do tempo era boa, apenas com previsão de chuva p/ a sexta, os outros dias todos estariam com tempo bom, mas eu receava que minha barraca não aguentasse uma chuva e ventos fortes, então a outra mulher que iria conosco topou levar a dela e me emprestar, então lá vamos nós! Mas era uma travessia de 4 dias e 3 noites, algo que não estou muito acostumado, teria que fazer uma logística mais elaborada e fazer com que ela coubesse na mochila. A compra do rango seria feita pela Tamires, já que eu decidi que iria era umas 18h30 e às 22h já tinha que estar no tatuapé, então só deu tempo de arrumar a mochila, confiei total nela, a sorte estava lançada…Com tudo arrumadinho parti pra pegar o trenzão, saltando no tatuapé fui comprar algo pra comer e acabei conhecendo a Kelly, uma trilheira das boas, estava indo pra Aiuroca x Baependi (MG), uma pena que não íamos pro mesmo lugar, ela super gente boa, papeávamos sobre os rolês, equipamentos, galeras, essas coisas todas, comemos e fomos pra trás do shopping esperar nossas respectivas galeras, a dela chegando, e nada da minha, que eu nem fazia idéia de quem seria, não conhecia ninguém, estava me jogando mesmo e ia ver no que ia dar, não passou muito tempo e a Tamires chegou com o pessoal e me chamou pra organizar a mochila já que eu levaria uma parte considerável do rango coletivo, ali conheci a pessoa que faria conosco a travessia, que era a Ilda, trocamos algumas palavras e logo embarcamos na van pra iniciar a jornada.

    DIA 1, 16/06 - CAMAPUÃ e TUCUM

    A viagem foi rápida, fui sentado na frente conversando com o motora, Fernando, gente boa, atento, bom motorista, após a 1°parada tentei cochilar um pouco já que logo ia completar 24h acordado e quando chegasse lá logo sairia já de caminhada, cochilei quase nada e acordei quando já estava quase chegando, a tempo de indicar pra ele a entrada da fazenda da bolinha.

    Chegamos lá por volta de 5h, a primeira coisa que fiz foi perguntar pelas roupas que havia esquecido lá, e lá estavam! Uma ótima notícia porque iria trilhar com a calça que tinha esquecido ali aliás, enquanto ia enchendo minhas garrafas (3L) a galera ia comendo alguma coisa, fazendo um café e percebi que a maioria nunca estivera ali, logo tinham poucas infos do lugar, a princípio saimos todos juntos, mas tão logo nos separamos, rapidamente vi qual seria minha sina, com 5min de trilha a tamires começou a se queixar de dores nas costas e queria desistir, ai mesmo não sabendo se ela conseguiria, tive que bater forte na tecla de que ela ia conseguir sim, e que ninguém ia arredar o pé dali sem ela, tirou a mochila e passou uma pomada que levei e melhoraram as dores…continuamos…menos de 5min depois e nova parada, dessa feita por causa da mochila (mochila essa que nos daria problemas), que estava pensa, e estava demais, toda vez que ela baixinha tinha que se abaixar ou escalaminhar, a mochila pendia pros lados, tentamos ali dar um jeito reajustando as alças, barrigueira, amarrando corda, cordão, atadura, cadarço, tudo que tinha direito, e nada parecia surtir efeito, pelo que eu vi a costura da alça estava descentralizada e talvez por isso fazendo pender, mas fato é que ela vacilou muito de ter deixado uma mochila nova, zerada em casa e ter vindo com uma curtlo 45+10l caindo aos pedaços, na real elas não tiveram bem a dimensão exata do quão exigente era esse rolê, e a Ilda carregando uma Osprey lotadíssima e bem pesada morro acima, porém quem mais sofria com isso era a própria tamires, que parava constantemente na esperança de arrumar a mochila. Nosso passo era lento, as meninas estavam sem trilhar a um tempo e com sono, não me pergunte como, bom logo percebi que elas não acompanhariam meu ritmo, eu caminhava um pouco e parava, caminhava um pouco e parava, fora as reclamações constantes de toda sorte de cagadas que a tamires fazia, era calça caindo, era a cargueira, era comida, era a capa da mochila que por não ser a dela não segurava na mochila, tava fodaa, levamos 3h06 pra chegar às plaquinhas (trecho esse que demora cerca de 1h), a trilha em si estava boa, estava seca, sol já tinha raiado há tempos, mas elas não pegaram o ritmo da trilha, as escadarias de raízes se mostravam trabalhosas, resolvi que faríamos uma parada geral pra lanchar antes da rampa do Camapuã, o último local com sombra antes da rampa de pedra, na verdade esse seria o último local com sombra decente de todo o dia. Elas chegaram e liguei o fogareiro pra tostar um pouco o pão sírio com mussarela e maionese, ali comemos e descansamos enquanto passavam grupos e mais grupos por nós, subindo e descendo, todos lanchados fomos pro sol do meio dia na rampa de pedra que nos levaria ao nosso primeiro cume, ali é trabalhoso e a todo momento se é enganado pensando que está chegando, a inclinação da rampa, aliada com seu tamanho e o sol quente na cachola fazia com que parássemos algumas vezes, o que era uma desculpa perfeita pra respirar e apreciar a vista ao redor que é maravilhosa! nos mostrando o Anhangava, o Marumbi, o Ciririca, e inúmeros outros picos ao longe, além da cidade de Curitiba bem distante, e do rio capivari no outro quadrante.

    O dia estava lindo e o céu azul, o clima bem agradável, e como eu ia naquele sistema de anda e para eu acabava ficando bem descansado enquanto elas penavam um pouquinho mais, só que eu fazia umas paradas estratégicas onde tinha um fiapo de sombra para elas descansarem também, afinal são filhas de Deus, e como nada é pra sempre, ao cabo de 6h46 de trilha, chegamos ao Camapuã (1706m), nosso 1°cume! Já tinha uma galera curtindo o cume, assim que cheguei já me joguei em umas pedras a mó de descansar um cadinho e esperar as meninas que vinham logo na rabeira, imaginei que chegar ao cume as animaria, a ilda ficou animada sim, a a tamires ficou mais contida, mas curtiu também com certeza, eu e a ilda tiramos algumas fotos, fomos assinar o livro de cume, e ali é o primeiro lugar que dá pra por as vistas no Pico Paraná (PP), uma montanha que a ilda nunca tinha posto os olhos e viu pela primeira vez. Ficamos pouco tempo lá e já fui acelerando o passo pro Tucum, já que o plano ainda era acampar no Cerro Verde, que fica após o tucum, e nos adiantaria a caminhada pro segundo dia de travessia.

    Descemos com certa facilidade o Camapuã, não usei o bastão dessa vez, rapidamente se perde altura ali e chega ao colo que une os dois picos, como a subida do tucum é entre rochas e areia fininha, requer uma atenção, eu indo na frente e as meninas logo atrás já com um ritmo melhor, ali a tamires já estava com pouca água, passamos pelo ponto d’água escondido na rocha, que eu conheci na última vez quando ali estive, fui pegar a água pra ela, e estava da mesma forma quando da última vez, parada, com pouco fluxo, mas ali é bem protegido de qualquer lixo ou dejeto, pedi licença, peguei e agradeci, a água estava limpíssima e geladinha, ela já bebeu na hora mesmo e ficou mais de boa, me senti bem também por até aquele momento estar dando conta do recado, conseguindo suprir as minhas e de certa forma as necessidades delas que estavam comigo…lentamente íamos subindo e ganhando o tucum, no caminho encontramos com alguns montanhistas, bons aliás, conversamos um pouco, e com as perguntas certas iam vindo as respostas, e tinha um casal voltando do Cerro Verde correndo! Perguntei como estava a situação por lá e a moça nos disse que era melhor não arriscar pq lá já estava lotado, visto que devem caber 4 ou 5 barracas lá. Eram 2 da tarde, e sabendo que o tempo normal pra chegar lá eram 2h, eu já calculava umas quatro pra nós, chegando assim só no final do dia e moídos, e com essa dica de ouro mudamos os planos e resolvemos acampar no tucum, foi um misto de impedimento e alívio, com nós três já querendo descansar e comer um rango decente, essa notícia acabou sendo uma injeção de ânimo pq íamos fazer a tão esperada pausa, a partir daí faltava apenas subir o tucum e montar as barracas, eu avisei que assim que elas vissem o mar de caratuvas já podiam estourar a champanhe! e pouco depois chegamos ao cume do Tucum (1720m) ao longo de 8h20 de trilha!! contando todas as paradas, o dobro de tempo da primeira vez que lá estive, mas o importante é que chegamos e chegamos todos bem, no cume que é bem grande e abaulado tinha apenas uma barraca e pudemos escolher ótimos lugares, protegidos do vento pelas caratuvas, foi realmente muito bom.

    Tucum e PP ao fundo

    Acampamento montado fomos aproveitar a montanha, a tarde estava uma delícia, sentamos pra apreciar o visual, ficamos batendo um papo e preparando, imaginando os próximos dias, mas como a hora na montanha voa, logo já estava rolando o poente, eu as chamei pra ver o pôr do sol que estava único! O céu alaranjado e com todas aquelas tonalidades magníficas de azul, amarelo, laranja e tomando aquele vento gelado pra krl…Assim que voltamos fomos preparar a janta, o cardápio era macarrão, shimeji e creme de leite, uma surpresa pra mim ter shimeji na refeição pq eu mesmo sendo distribuidor de shimeji por dois anos nunca cogitei levá-lo pra camping. O macarrão demorou muito pra ficar pronto, num ambiente aberto e com vento forte rolando isso já era meio que esperado, o fizemos numa panela grande pra dar pra todos, nisso já consumiu uma parte boa do gás, do único que eu tinha levado, mas blz pq as meninas tinham outro…Bem não tinham, nessa hora descobri que as bonitas tinham deixado na van, o que me deixou p#*!, porque é algo essencial, e pra que trazer se vai deixar na van?? Agora vamos ter que nos virar por mais 3 dias com um gás quase pela metade, já previa problemas pro sábado, pq na sexta-feira ainda daria pra usar de boas, mas sem excessos, sem muitos cafés, sem chás, usando somente pra rango, e perguntando sobre o que tínhamos de comida descobri também que a tamires tinha optado por levar 400g de shimeji e largado a calabresa na van também, poxa ai foi mancada, pq nosso estoque de comida pesada tinha ficado resumido a macarrão e duas feijoadas em lata p/ 3 pessoas, fora as besteirinhas, não dá pra ir numa travessia de 4 dias e 3 noites e tu levar mais besteira do que comida. Depois de séculos quando o macarrão ficou pronto misturamos tudo e ficou gostoso, comi e repeti, até pq sabia da importância de comer sempre e tentar comer bem, agora já de barriguinha cheia assistimos ao nascer da lua de ‘sangue’, fantástica, linda!! Surgindo no céu feito uma dama de vermelho, á semelhança de um tomatão subindo o horizonte, ficamos ali admirados com esse presente do cosmos, depois de um dia muito longo e puxado entramos na toca pra esticar o esqueleto e sonhar um pouco.

    DIA 2, 17/06 - CERRO VERDE e ITAPIROCA

    6h comecei os trabalhos, acordei já sem sono e descansado, fui dar uma voltinha no cume, tirar umas fotos e ver o nascer do sol, que saia por detrás do Ferraria que eu via ao longe, sentei numa pedra de frente para o PP e a sequência montanhosa que o rodeia, ouvindo músicas, pensando em tudo enquanto mirava um tapete de nuvens a perder de vista por todos os lados cobrindo desde o porto de Paranaguá até montanhas e picos que mal sei os nomes, buscar inspiração e forças olhando pra essa dádiva não é difícil. Voltando à barraca passei pelos nossos vizinhos, que eram pai e filho, montanhistas ali do paraná mesmo, até por isso já tinham pisado em boa parte dos picos da serra, conversamos um cadinho e eles me deram boas dicas e noções de tempo e distância pra conseguir chegar ainda hj até o Itapiroca, com essas info no bolso voltei pro acampamento e as meninas ainda estavam acordando, fui tirar algumas fotos e a ilda veio depois para assinarmos o livro de cume e registrar o momento. Depois de todos prontos partimos, um pouco tarde, 10h08, mas o que poderia ser um erro acabou sendo a peça chave pro dia terminar do melhor jeito, chegaremos lá…


    La face de Pachamama

    Passando pela área secundária de acampamento do Tucum começamos a descer sua íngreme encosta, o dia já tinha começado com fortes ventos e pela previsão seria assim o dia todo, então teríamos que ter cuidado em alguns trechos mais expostos, logo de cara se vê o primeiro lance de cordas, tu desce por uns 20m, a pedra está toda grampeada nesse trecho e a corda tem nós para que você possa fixar bem as mãos, ali tem que descer de costas não tem jeito, como se estivesse rapelando, a ilda mesmo que prefere descer de frente também teve que ceder. Já tinham nos avisado que a descida pro Cerro Verde era bem vertical, mas descer pelas cordas ainda é mais rápido e seguro do que tentar se aventurar pelas rochas, após esse primeiro lance, tem uma parte com bambuzinhos e caratuvas por onde a corda passa e um trecho curto porém um pouco mais inclinado até chegarmos a um platô bem grande e descampado onde só se ouvia o assovio das caratuvas frente ao constante vento que varria os campos, só que ali não é o fim da descida, não se enganem, lá tu vai encontrar uma placa indicando a direção do Cerro, até ali demoramos apenas cerca de 17min, as meninas indo super bem e com calma pq ali não adianta se apoquentar, depois dali foi onde o bicho pegou de vdd, tínhamos agora que passar por umas canaletas rasgando a rocha em direção ao longínquo vale, não tinham tantas cordas e o jeito foi usar o bastão de caminhada pra se apoiar, as meninas já o estavam usando desde o início da trilha ,a ilda com um bastão comum e a tamires com o sempre prático pedaço de pau, nesse tipo de descida o bastão ajuda demais já que te dá um terceiro apoio pra não rolar morro abaixo, a vista espetacular sempre com o Cerro Verde e o PP ao fundo, que é uma montanha que não cansamos de olhar, como pra descer é melhor embalado e não muito junto, eu ia na frente fazia um trecho e esperava elas, erros ali custariam caro, não tínhamos pressa, essa descida ia intercalando entre trechos com corda e outras onde a salvação era algum galho, caratuva ou seu quinto apoio (mais conhecido como bunda), até chegarmos ao fundo do vale penamos um pouquinho ainda com trechos escorregadios, com lama e pedras soltas, essa descida do tucum até o cerro verde em especial pra mim foi o trecho mais “técnico” digamois assim, pra muita gente com ctz será o mais complicado dessa travessia.

    No fundo do vale tinha um ponto d’água que ansiávamos em chegar e usaríamos para abastecer as garrafas e comer alguma coisa, chegamos nesse riozinho por volta do meio dia, enchemos nossa água, mastigamos as besteiras que tinham, como amendoim, bananas passas e alguma bolacha, o descanso ia rolando enquanto papeávamos e íamos vendo o tempo passar, quando deu quase 13h partimos, agora íamos encarar as subidas, pela frente tinha o Cerro Verde, mas nosso destino era acampar no Itapiroca, pra ficar mais próximos do PP no sábado, eram 13h e ainda tinha que rolar tudo isso, daria tempo?? Esse pedaço de trilha já é um pouco distinto dos outros, com a trilha pela mata pegamos subidas inclinadas e com escadaria de raízes, algumas fendas grandes entre as pedras, mas fora do caminho, e quando subíamos um pouco, logo saia numa parte mais aberta, só que estreita pelos bambuzinhos altos e matos ao redor, o sol estava alto e o vento ainda assim forte, mal saíamos nessas clareiras e voltávamos pra dentro da mata de pequeno porte, ali todos se enroscaram um pouco pq as coisas por fora das mochilas ajudavam nesse quesito, meu isolante como estava de lado na mochila acabou rasgando um pouquinho, agora a ilda estava um pouco pior pq a bolsa dela estava muito volumosa e pesada, e acabava sendo mais cansativo pra ela, quando já não víamos a hora de chegar, saímos mais uma vez no aberto, agora já num local mais alto que vai dar acesso ao cume do cerro verde.

    Depois de muita ralação, suor e pernada chegamos na bifurcação que levava ao Itapiroca ou ao cume do Cerro, que estava logo ali, quase palpável com as mãos, um pessoal que estava descendo perguntou o caminho pro Itapiroca e eu indiquei (foram as primeiras pessoas que encontramos naquele dia, e eram do nosso grupo, mas não sabíamos ainda), agora era nossa hora de subir, mocamos as mochilas ali no mato mesmo e partimos, em menos de 10min nós três fincamos o pé no cume do Cerro Verde (1660m), eram 14h15, foram mais ou menos 3h30 de trilha até ali, não foi mal. O vento estava fortíssimo no cume, dizem que chegaria naquele dia a 60,70km/h, assim que coloquei o boné na cabeça o vento arrancou pro infinito, até pra segurar o cel pra tirar fotos estava arriscado, subi na pedra do cume, assinei mais um livro e bati rápidas fotos, mal deu pra aproveitar, o lugar é lindo e tu fica de frente pro Ciririca e paredões de pedra imensos, além da bela vista da baía de paranaguá, em dias bem limpos se vê a Ilha do Mel, mas logo demos meia volta e analisando o cume vimos que 4,5 barracas ali já lotam o espaço. Rapidinho voltamos e pegamos as cargueiras, o vento soprava forte e o caminho a seguir era descer, eu já estava com um pouco de pressa, era pouco antes das 15h, mas pelo nosso ritmo sabia que iríamos pegar um trecho de trilha no escuro.

    Cerro Verde (1660m)

    Livro de cume no Cerro Verde

    Ainda com o tempo aberto, mas ventando muito, descemos o Cerro Verde a caminho do Itapiroca, a terceira montanha mais alta do sul do país, com seus 1805m. Esse dia foi bem marcado por fortes ventos, em alguns trechos nos desequilibramos na trilha, e foi com esse vendaval que descemos a também íngreme encosta do cerro, uma trilha fechada de bambuzinhos te agarrando por todos os lados, mochilas enroscadas e muita paciência, mas íamos do jeito que dava, em uns 40min chegamos ao fundo do vale, com algumas ‘gretas’ entre as rochas sobrepostas a séculos, e um jardim de bromélias gigantes, aqui e por toda parte a trilha é batida e fitada, geralmente de vermelho ou branco, a trilha também é bem intuitiva, sem grandes desafios de navegação, me contaram que isso se deve muito à lendária travessia Alpha Crucis, que percorre a Serra do Ibitiraquire, Farinha Seca e Marumbi. Quando a trilha fecha por diversas vezes com taquaras e vegetação na altura do tronco e cabeça, basta olhar o rastro bem pisado junto ao chão, e tome subida! Aqui se assemelha ao trecho entre o Tucum e o Cerro verde onde se entra em mata de pequeno porte e depois sai numa pequena clareira pra na sequência entrar num desses buracos de rato e se embrenhar nas taquaras de novo, ainda faltava pouco pras 16h, mas o tempo já dava mostras de que ia virar, a chuva estava prometida p/quele dia, com bastante subidas e descidas mal dava tempo pra conversar então só íamos tocando montanha acima, até que cheguei numa parte que seria um pouco mais complicadinha, uma grande pedra onde tinha que fazer uma escalaminhada, sem cordas ou grampos, fui na frente e subi, o ruim era pra subir a perna, logo tinha que jogar o peso do corpo pra frente e fazer a alavanca, a cargueira dificultava, assim que as meninas chegaram eu avisei o melhor jeito pra subir, a ilda até que tentou subir com a mochila mas flopou, ai ela passou a mochila pra mim e subiu rapidinho, a tamires fez o mesmo e acabou que subiram de boas, aquela altura ainda fiquei surpreso com o peso da cargueira que a ilda carregava, dali dava pra avistar o cume do Itapiroca ao longe, ainda tínhamos um ponto d’água pra passar antes que comecasse a última subida pro cume, quando chegamos nesse ponto encontramos uma galera do nosso grupo que veio na mesma van, um casal e um outro cara, o Tales, ficamos ali enchendo as garrafinhas com o filete de água que caia pela pedra e aproveitando pra pôr o folego em dia, fomos trocando informações e comparando roteiros, que nos mostrou que a bem da verdade fizemos ótimas escolhas até então e tínhamos subido todos os cumes pelos quais passamos, isso deu uma levantada na moral da equipe, logo eles foram embora, iriam pro Itapiroca tb, ficamos mais uns minutinhos ali pra não sair todo mundo junto, já que a tamires adorava frisar que a gente estava num ritmo mais lento, vira e mexe elas diziam estar atrapalhando a miinha trilha porque estavam muito lentas e blábláblá, mas eu explicava que esse ritmo já nem me incomodava mais, porque daquela forma eu conseguia aproveitar muito a trilha, sempre tinha tempo pra descansar e tirar fotos, então pra mim estava ótimo.

    O restante da subida que demoraria mais 2h ia ser feito em parte á noite, não tinha como fugir daquilo, eu só puxava a trilha de forma que fizéssemos o menor trecho possível sob lanternas, a bem da vdd as meninas andaram muito bem naquele dia, depois que elas na hora do almoço me disseram que nunca tinham feito uma trilha em que o tempo que se parava era quase o mesmo que se andava, acabei diminuindo as paradas e fomos no estilo devagar e sempre, a trilha ia variando entre mata fechada e mirantes abertos com vistas incríveis para as montanhas ao redor e o PP, ali já deu pra ver que o tempo ia fechar mesmo, iam passando nuvens pesadas trazendo uma leve garoa, que mal pingava na gente pq estávamos beem ocupados em tentar avançar, mas todos enroscados num fiapo de trilha tomada pelas taquaras e árvores de pequeno porte com galhos secos que mais pareciam agarras, a luz do dia já tinha praticamente ido embora, quando passamos por uns trechos com lama escura a garoa começou a ficar mais forte, caímos de novo p/a parte dos bambuzinhos (taquaras) que a gente tinha que afastar com as mãos, assim como galhos e qualquer coisa que tivesse na frente, e a trilha estava com taquaras caindo por toda ela, e isso cansava bastante, porque o movimento dos braços estava quase mais constante que o das pernas, esse foi o dia mais cansativo, e o momento de maior stress na trilha, considero o trecho mais difícil da travessia, tiveram mais perigosos e técnicos, mas esse fim de tarde, já com fome, chuva, vento e trilha fechada nos custou energia e nervos, o itapiroca mal aparecia, fechado por nuvens e pela escuridão do início de noite, mas olhar pra ele e estar chegando daquela forma foi insano! Entre todos os ingredientes dessa mistura de emoções, a felicidade foi mais um.

    Cume

    Depois desse penoso trecho e cada vez mais perto, já dentro da mata alcançamos a parte da trilha em que se passa por grandes pedras, é um trecho em que se tem que usar bastante as mãos para se apoiar e ganhar impulso sob elas, basicamente escalaminhar, aí já íamos todos os três juntos, e com lanternas ligadas, nesses momentos é melhor ir todo mundo junto, caso alguém precise de luz ou algum auxílio. Nas partes com rochas que precisavam ser escalaminhadas as meninas tiveram dificuldade, mas passaram, e com as cargueiras nas costas, a ilda mesmo não gostava muito que a ajudasse, e eu respeitava; (no dia anterior uma guria disse assim a quem ia ajudá-la, ‘’não me ajuda não, senão parece que eu não consigo’’, muitos devem pensar dessa forma); nesse momento estávamos em um mundo á parte, em transe, com o único objetivo de ir rasgando aquela trilha até chegar ao topo, chuva caindo, e a gente com o coração na ponta da chuteira, esses trechos pra mim ficaram marcados, me sentia muito bem, a trilha tava tão boa que dava até dó de terminar. Nisso já eram quase 19h quando chegamos numa parte já no alto em que se entra e sai da trilha passando por cima de grandes pedras, e não dava pra ver quase nada sem a lanterna ligada, nuvens de chuva passavam sob nossas cabeças, as luzes das cidades ao fundo se destacavam, e vivenciar aquilo tudo foi um grande privilégio, embora eu também pensasse ‘o que eu to fazendo aqui em cima com esse tempo’, enquanto a trilha nos fazia subir e descer do lugar que até pensamos ser o cume, embora sem ctz, numa dessas voltas pra dentro da trilha avistei lanternas acesas, já me animei pq naquela situação encontra alguém poderia ser um bom negócio, chegando mais perto vimos que era o casal e o tales, galera que tínhamos encontrado no ponto d’água, eles tinham chegado a pouco, com a chuva que estava caindo eles acabaram desistindo de ficar no cume, montaram acampamento ali mesmo numa pequena baixada entre as árvores, num ponto estratégico da trilha, as meninas rapidamente se arrumaram com ele pra ficar na barraca mansão (uma ntk de 5 ou 6 lugares), e eu na dança das cadeiras quase rodei pq o pessoal já tinha pego os lugares mais planos, e procurando não achei nada minimamente plano, montei a barraca numa saída lateral da trilha, uma inclinação de uns 20 graus, era o melhor pra hoje. Terminamos nosso segundo dia de trilha com mais de 9h de caminhada, a exemplo do dia anterior onde andamos por quase 10 horas.

    Montei rapidinho o fogareiro e já fui preparar o rango, que seria feijoada em lata, fiz as duas latas com um pouco de bacon, logo ficou pronta, o cheiro estava bom, e como vocês sabem o melhor tempero pra qualquer comida é a fome, coloquei minha parte no prato e chamei a tamires que levou a panela pra elas comerem na outra barraca, guardei o fogareiro e fui deitar, ou pelo menos tentar, já que a inclinação do terreno me fazia deslizar pro fundo da barraca, já tinha andado o dia todo, minhas pernas doíam e não podia nem me esticar, aquilo foi meio que me tirando do sério, e tb nem podia comer muito pq a comida estava escassa, tinha comido pouquíssimo pra conseguir dividir para os quatro, estava com fome ainda, o corpo pedia mais. Como quando fui tentar dormir era por volta de 21h, a noite seria longa, o vento balançava e uivava por entre as árvores do bosque fazendo cair gotas de chuva na barraca, um tempo perfeito pro descanso do mochileiro cansado, e sempre que eu me irritava por não conseguir dormir, eu agradecia a Deus por estar seco, acampado num lugar protegido, pq tudo conspirou pra que fosse ali, tivéssemos saído cedo do Tucum, chegaríamos cedo no cume e com ctz estaríamos debaixo de chuva, então estar ali foi uma salvação, conseguir um lugar protegido da chuva no único dia que ia chover era sinal de boa sorte. Logo o cansaço vencia e eu dava uns cochilos, até sonhava, de maneira geral foi uma noite dura em que o descanso veio em conta gotas, porém dormir inclinado é melhor que dormir molhado, de madrugada aproveitando que tinha sinal de internet, atualizei os mapas e a previsão do tempo, tracei meus planos e fiquei aliviado por saber que o sábado seria de sol, aquele seria o grande dia…

    DIA 3, 18/06 - PICO PARANÁ

    6h da manhã…Como nas noites mal-dormidas nós não vemos a hora de levantar, essa não foi diferente, embora que na hora de levantar venha o maior sono, acordei antes de todos, assim que vi a luz do dia afastando a noite, de café da manhã já não tinha quase nada, sem pão sírio, sem frios, só duas mexericas, amendoins e banana passa, sentei pelo lado de fora da barraca e tragando o paiol fiquei meditando enquanto a galera se levantava sem pressa nenhuma. Assim que levantaram e foram se ajeitando o Tales passou um cafezinho pra gente tomar, eu ia comendo uma mexerica pra acompanhar enquanto os raios de sol tomavam conta do lugar. Desmontei acampamento, arrumei a mochila, e saímos por volta de 9h45, tínhamos dormido embaixo do cume (uns 150m), então estava bem pertinho, o casal que tinha acampado conosco já tinha metido o pé e ido em direção ao PP, e nos deixaram de presente o Tales que tinha decidido ir conosco, talvez por ter as meninas ali e pq a gente estava mais devagar; quando já subindo a trilha pro cume a Tamires viu um amigo dela que estava fazendo outro circuito, ficamos papeando um pouco e ela perguntando algumas coisas pra eles sobre uma ideia fixa que ela já tinha, fixa e tola, de fazermos uma caminhada hercúlea até o final do dia, fora que já estava cogitando que o PP já era e não daria tempo de ir, ali comecei a ver que talvez seria melhor eu me descolar deles, a ideia era a seguinte, descer até a bifurcação Itapiroca x PP, lá mocar as mochilas, subir de ataque até o Pico Paraná, voltar tudo pegar as mochilas, subir o Caratuva e acampar lá em cima (lembrando que esse é o 2° mais alto da região sul, com 1860m), pra mim era inviável! Tanto pelo tempo gasto, quanto pelo ritmo que a gente tava, a ideia era tão confusa que os caras não conseguiram entender muito bem, e nem opinar, mas o que eu entendi foi que aquela tinha sido nossa última noite acampando juntos.

    Prosseguimos na trilha até sair no cume do Itapiroca (1805m), nosso 4°cume na travessia, esse que é o terceiro mais alto do sul, o dia estava de sol, a previsão era ótima e o visual dali meus amigos, era coisa de loko, em meio as caratuvas tínhamos a visão piramidal do Caratuva (1860m) o segundo mais alto do país, ao seu lado direito todo o conjunto do PP, bem exposto e de frente, em um só quadrante tínhamos os três picos mais altos do sul brasileiro, dali dá pra tirar fotos incríveis deles, e apesar de já ser 10h da manhã, um cobertor de nuvens imenso se formava por trás da serra, levando em conta que o litoral paranaense é dos lugares com maior índice pluviométrico do país, aquele tapete de nuvens são uma visão não tão rara, mas magnífica, estar nesses campos de altitude alimentam o ser e a alma... Um pouco pra baixo do cume tem as áreas de camping, um platô com chão meio fofo em algumas partes, em dias de chuva ali deve dar ruim, mas devem caber até umas 10 barracas espalhadas por ali, e bem expostas ao vento. Topamos com uns 3 caras fazendo bate-volta e pedimos algumas infos, com a tamires enchendo os caras de perguntas e eles mal entendendo, afinal eram quase 11h, e subir o PP, e o caratuva no mesmo dia nem o Kukuczka, não entendi direito o pq tanta insistência em um roteiro sem pé nem cabeça que ninguém entendia, talvez porque ela sendo uma das organizadoras do rolê, não quisesse dar o braço a torcer pra um cara que mal conhecia, perguntando a ilda e o tales sobre o que eles queriam, ficavam em cima do muro, dizendo que nunca tinham ido e não poderiam opinar, a tamires por ex, já tinha ido, mas não por aquele caminho, então não estava conseguindo fazer parâmetros lógicos de tempo, e eu sabia disso, tanto por ter estudado a região, quanto por ter me informado com os trilheiros durante a trilha, fato é que eu não ia por em risco a subida ao PP, e áquela altura eu já era autossuficiente, sabia o que estava fazendo, e se ninguém queria ouvir que se foda, então externei tranquilamente pra eles a ideia de me separar, e não as deixaria sozinhas na trilha, já que tinham agregado o tales,ai resolvemos que nas plaquinhas dividiríamos algumas coisas e seguimos na caminhada.

    A descida do Itapiroca é íngreme, cheia de pedras e estava escorregadia demais, tinha chovido a noite, tem que ter cuidado sempre, ali é melhor prezar pela segurança, e quanto a isso eu deixava as meninas tranquilas, frisando que a segurança e a continuidade do rolê são os mais importantes, algumas partes ali são bem chatinhas, com alguns trechos de corda, as raízes estão por toda parte cobrindo o chão já descendo pro vale, então pra quem tem a perninha pequena a sofrência é maior, depois de 1h chegamos as plaquinhas da bifurcação entre Itapiroca x PP, ali a trilha passa por entre o caratuva e o Itapiroca, porém a subida pro caratuva é mais pra trás na trilha e o caminho reto a se seguir leva ao PP, ali mais uma vez a tamires fez questão de alugar uma galera por mais um tempo perguntando o óbvio, talvez pra provar o ponto de vista dela como o certo, não sei, eu sei que ficamos um tempo ali e eu não era o único que estava ficando incomodado, por fim ela veio pra gente decidir o que ia rolar, o que ficou decidido então foi que elas e o tales iriam mocar as mochilas por ali mesmo, e iam subir de ataque até o PP, e na volta iam desencavar as cargueiras e voltar direto pra fazenda; de todos os planos que tentaram fazer esse foi o mais ajustado pra elas, as duas já estavam exaustas de carregar aquele peso todo nas costas e se tivessem que subir de cargueira pro PP, não sei se ia rolar, enquanto eu ia subir de cargueira mesmo, a princípio até o A1, montar acampamento, subir o pico, descer e dormir mais uma noite na montanha, voltando domingo de manhã pra fazenda. Na divisão das coisas, eu entreguei as panelas, ficando com apenas uma, entreguei as varetas das barracas, e fiquei com o restinho de macarrão, amendoim e banana passa, enquanto fazíamos a divisão apareceu um anjo que já tinha terminado sua trip e estava retornando pra fazenda, e nos ofereceu comida, a galera não quis, mas eu sim! Aí peguei um atum enlatado que ia me salvar demais, o tales pegou outro, e ele soltou uns docinhos também, peguei o torrone heheh, esse cara ajudou demais pq eu estava sem mistura pra comer com o macarrão, feita a divisão partimos, nisso já eram 11h30 da manhã.

    TRILHA PICO PARANÁ 1877m

    Partimos eu de cargueira e eles no liso, só com uma mochila pequena, achei que ali as forças iriam se equivaler, partindo dali economizamos 2h de trilha da fazenda até aquela bifurcação, na trilha foram me acompanhando por um trecho, um pedaço, a escadaria de raízes é uma constante e grandes pedras caídas e sobrepostas uma nas outras marcam esse nosso início, vez ou outra sempre tem um grampo ou corda pra auxiliar, a trilha segue subindo e descendo, comecei num ritmo mais cadenciado, depois fui aumentando normalmente, estava desde quinta (estamos num sábado), com a mochila nas costas, aquela subida seria só mais uma, um dos segredos da vida é não pôr mais dificuldade nas coisas do que as que elas já tem, a trilha estava gostosa, uma maravilha, sempre encontrando gente pelo caminho, até que pra um sábado de manhã não estava tão cheia, com o passar do tempo fui pegando gás e me distanciando da galera.

    A trilha é puxada, o batimento vai lá em cima, porém tem vários pontos d’água durante a caminhada, que não deixam a garganta secar, vira e mexe tu acaba saindo da mata mais fechada e dando de cara com a visão dos picos ao redor, o Itapiroca que outrora eu estava agora parecia longe, distante. Esses aceiros nas cristas sempre vinham acompanhados daquela lama escura, yo estava sem gps, somente baseado em tempos aproximados e visualização das montanhas, então ia mantendo um ritmo bom visando chegar logo ao A1, quando desse sobe e desce das cristas passo por umas 3 barracas, pessoal acampado proseando ao sol, o lugar tinha uns três descampados, uma pequena plaquinha de área de conservação ambiental e só…ali era o A1! olhei, analisei e não gostei kkk, devia ter espaço pra mais uma ou duas barracas, assim que passei pelo A1 a dúvida me batia na cachola…voltar ao A1 montar a barraca e me garantir? ou ir andando e subir até o A2 e me espojar por lá? Ainda não eram nem 13h, não tinha visto muita gente subindo, decidi aumentar o passo, rumar pro A2 e lá ficar, lembrei da história do Divanei subindo o Sajama e confiando que podia mais, e lá encontrando abrigo, resolvi fazer o mesmo e subir na confiança, estava decidido, seria o A2 o local da dormida, aquilo tudo dando certo finalizaria o rolê de maneira perfeita.

    Quando cheguei na base da maior via ferrata da trilha do PP, havia um congestionamento e dos grandes, o jeito era esperar né, o grupo era de umas 20 pessoas, com ‘guia’ e tudo, embora os ‘guias’ não estivessem dando o suporte necessário. As ferratas ali são auxiliadas por cordas, o que facilita muito, o paredão deve ter por volta de uns 25m, sei lá um chute, porém pelo que percebi muito do pessoal ali era inexperiente e alguns carregando cargueira pela 1°vez, em sua maioria meninas, resumindo só pra começar a subir esperei 20min, e nesse trecho tem um pouco de escalaminhada também, então tu vai subindo pela rocha, sempre auxiliado pelos grampos e pedaços de corda, com bastante atenção e calma, mas tem muita gente que tem medo de altura ou simplesmente trava, e isso que lasca tudo, então a galera me deixou passar na frente e subir logo, e claro que eu fui, a ideia era justamente aquela, passar por aquele grupo e chegar no A2 primeiro pra montar acampamento. Se aquele era o trecho mais difícil da trilha, pra mim foi fácil, passei muito bem pelas ferratas e continuei tocando pra cima, ao escalar esses grampos uma dica básica de segurança é sempre ter três membros seus apoiados antes de colocar a mão pra alcançar o próximo, como já vínhamos desde quinta subindo, descendo, passando por cordas, correntes, uma ou ou outra ferrata, o couro já tava calejado. Depois da ferrata vem um trecho de subidão constante com trilha aberta entre pedras, e ali eu acelerei pra valer pra criar uma distância do pessoal que vinha atrás, mas nessa hora o corpo sentiu o esforço, como tinha comido quase nada o dia todo, a bateria foi falhando, parei numa pedra com a sombra das árvores, sentei, tomei uma caixinha de água de coco, mastiguei um pouco de amendoim e banana passa (que era só o que eu tinha), e fiquei respirando e respirando, mas não fiquei muito tempo ali não, quando senti que a energia estava voltando, levantei e segui, o sangue ainda estava quente, era bom não esfriar, essa foi a parte de toda a travessia que eu mais senti, por estar fazendo um esforço brutal a várias horas e por alguns dias já, e ter comido pouco no dia, com calma consegui reverter a situação e voltar bem na trilha.

    Àquela altura eu já estava andando muito, a confiança estava lá em cima, motivado, obcecado por concluir aquela trilha, cerca de 35min depois das ferratas, chego a um lugar espaçoso, com lugar para várias barracas, mas apenas duas acampadas numa clareira coberta por algumas árvores, talvez o melhor lugar dali, olhei, olhei, dei uma volta e vi outros lugares bons pra se encostar também, perguntei pros acampados que estavam ali se eu estava no A2 e sim! Me confirmaram que era ali mesmo, fiquei contente e já fui escolher o lugar pra montar a barraquinha, coloquei na parte de trás, onde tinha uma certa proteção das caratuvas impedindo o vento vindo por trás, e as árvores que cobriam a clareira principal me protegiam também, o chão era de terra batida sem grama, o que em caso de chuva vira um charco, e por ali tinham uma penca de caratuvas já cortadas, aí foi simples, as peguei e coloquei uma do lado da outra formando um quadrado pra que a barraca ficasse por cima; é lógico que eu não cortaria nenhuma caratuva pra fazer isso, fiz porque já estavam lá; a previsão a noite era de cair uma garoa, coisa pouca, mas ali bem perto do PP não dá pra confiar tanto assim, estiquei bem o sobreteto da barraca e as 14h20 estava com o acampamento montado, tinha levado 2h43min da bifurcação laaa embaixo até o A2, o meu plano acabou saindo melhor do que a encomenda, dali iria fazer o ataque no PP e quando descesse ia fazer um rango e ver o que rolava, tinha levado todo o peso até ali, agora era hora de subir leve, enquanto eu montava a barraca, foi subindo a galera que eu tinha pasado nas ferratas e foi uma ótima idéia passar por eles, pq quando chegaram tomaram quase todos os lugares, nesa toada a Ilda apareceu também, tinha subido rápido, ficamos paepando um pouco enquanto a tamires e o tales não chegavam, ela já mostrava algumas preocupações com o horário porque eles teriam uma longa pernada pela frente, elas tinham mocado as mochilas lá embaixo, subiram pra fazer o ataque no PP e na volta iam voltar direto pra fazenda, o que eu achei bem sensato e a melhor opção, por que se tivessem subido pesados corriam o risco de nem chegar no PP no sábado, e descer pesados ia demorar também, em média levávamos o dobro de tempo pra fazer qualquer percurso, então essa solução mesmo sendo tudo ou nada foi a melhor pra eles, na sequência os dois chegaram e mais uma vez a equipe estava formada, era hora da cereja do bolo.

    Ás 14h30 do sabadão iluminado pelo sol e céu azul eu parti pra finalmente conquistar o Pico Paraná, em meio a caratuvas comecei a trilha, levando nos bolsos, água, amendoins, banana passa e uma capa de chuva. O visual da trilha é magnífico, com as nuvens bailando no céu a todo instante, mostrando e escondendo o PP, não havia quase ninguém subindo ou descendo, poucas pessoas iria encontrar na trilha, havia ainda alguns trechos com grampos, uns cinco, trechos curtos sem muita dificuldade, mas por conta desses trechos tinha criado uma pequena distância do pessoal e conversando com meus pensamentos me dei conta de que eu estava fazendo exatamente o que desejei, subindo o Pico Paraná sozinho, num sábado à tarde e de sol, e melhor ainda vindo de uma travessia insana, pohaa não podia estar mais feliz, tinha esperado um bom tempo por aquilo e estava fazendo da minha maneira, realmente as coisas só acontecem na nossa vida quando falamos SIM para as oportunidades, eu poderia ter ficado em casa de buenas, no conforto do lar, mas durante aquela semana eu tinha visto muito sobre guerrilhas e todo esforço físico e mental que envolve esse sacrifício, então me pus a prova numa travessia de 4 dias e 3 noites.

    Cume do PP

    Quanto mais perto do cume tu chega, por mais pedras tu passa, e são pedras pesadas, tanto que vira e mexe tem um grampinho pra te auxiliar, embora em algumas delas vc tenha que escalaminhar, e quando já dentro de uma nuvem depois de subir uma dessas rochas, me deparo com 2 urubus sentados á observar, já tinha chegado ao nível das aves kkk, e pensei o quão fácil é para elas estarem ali, nesse trecho já caminhando por cima das pedras tem que se atentar pelos caminhos da trilha, mas nada de difícil, e depois de passar por mais alguns trechos de grampos e correntes cheguei a última área de acampamento antes do cume, um lugar esplêndido com uma vista cristalina do PP, e de frente pra rocha toda ‘riscada’, não sei se de maneira natural ou não, uns riscos que pra mim lembraram letras japonesas, nesse lugar cabiam 2 ou 3 barracas, e fica a 10min do cume. Após esse trecho a trilha vai contornando as grandes rochas que formam o maciço do cume e tcharam!! Cheguei ao Pico Paraná (1877m), o ponto mais alto do sul do Brasil!! ás 15h19, 3h40 desde a bifurcação, e 57min desde o A2, meu 5°cume nessa travessia, o dia estava bem azulado e eu estava acima das nuvens, que eram muitas, chegando lá já tinha uma galera no cume legalizando e ouvindo Chama Crescente, uma banda de reggae roots Paranaense/Brasileira, estavam ouvindo Montanha Sagrada, eu não poderia ter escolhido música melhor, tanto que ela está na minha cabeça até hoje, tempos depois quando escrevo esse relato.

    Lá sentei e fiquei apreciando aquela paisagem única, pra mim a mais bonita hasta hoy, de frente para o União e o Ibitirati, que fazem parte do conjunto PP, à esquerda o Caratuva, Taipabuçu e Ferraria, o sol estava bem alto e escurecia os picos, causando aquele misto de coloração de azuis claro, escuro, e branco, as nuvens bailavam ao redor dos cumes e faziam um imenso colchão por trás deles, enquanto isso a galera que estava no cume ia ouvindo um som, se divertindo e dando risadas, o clima estava ótimo, o momento era único!. Uns 20min depois chegou a minha turma, Tamires, Ilda e Tales, demoraram mas chegaram, foram casca grossa, apesar de alguns empecilhos chegaram todos inteiros, tínhamos cumprido nossa missão como grupo, fechando a travessia e a conquista de cumes com o Pico Paraná, nosso 5°cume, foi um momento muito legal pra nós estarmos todos juntos, reunidos num lugar que víamos desde quinta-feira; se bem que quando elas chegaram o tempo fechou, fechou de nuvens e não dava pra ver quase nada, pessoal ficou meio decepcionado, mas eu insisti pra ir esperando um pouco e no finalzinho antes de ir embora a janela abriu e deu pra eles ficarem boquiabertos e tirarem fotos, fotos raras, porque juntos mal tiramos fotos. Eu ia até ficar um pouco mais, estava na dúvida se ficava ou não pra ver o pôr do sol, mas o tempo foi fechando de novo e achei melhor descer com eles por volta das 16h30, sempre é difícil ir embora desses lugares, mas tenho certeza que vou voltar, porém descer com eles foi bom pois seria nosso último trecho de caminhada juntos, iria até o A2 com eles, e de lá eles teriam a descida toda só pra eles.

    Denis no PP

    Fui indo bem de boa na rabeira do grupo, não queria imprimir meu ritmo, vez ou outra me pediam pra ir adelante, mas eu negava, queria ir curtindo o visual somente, e era dos mais lindos, aquele fim de tarde com o sol emoldurando a paisagem era algo divino, achamos até a ‘Pedra do Sapo, da Andorinha, ou algum nome que o valha’, e descendo a crista de pedras o pessoal deu uma enroscadinha, mas coisa normal, porque tinha que desescalar alguns trechos e quem tem perna pequena sofre mais, passados todos os momentos de dúvidas, superação e tomadas rápidas de decisão, veio a magnífica sensação de dever cumprido. Chegamos no A2 por volta de 18h, nos despedimos até o dia seguinte onde eu os encontraria na fazenda, desejei uma ótima decida, que fossem com Deus e com as lanternas ligadas, teriam que descer na raça, mais uma provação fudida pra aquele grupo que talvez fosse considerado o ‘mais fraco’, porém estavam longe disso, andaram quase que ininterruptamente por 17 horas, desde quando saímos do Itapiroca 10h da manhã, até as 3h da madrugada do dia seguinte, que foi quando elas chegaram na fazenda pico paraná, fazendo toda a trilha de volta de noite e debaixo de neblina, indo bem devagarzinho e ajudando um ao outro, chegaram às 22h no ponto que mocaram as cargueiras, e de lá até a fazenda foram mais cinco horas, chegando às 3h da manhã pra finalizar a travessia com sucesso, outros podem ter feito mais cumes, com menos cansaço e em menor tempo, mas encarar o que elas encararam na volta, acho que foi o maior feito da travessia, então todo meu respeito e admiração a essa nossa equipe, Tamires, ilda e Tales.

    Assim que eles se foram eu fui pra barraca, já fui arrumando minhas coisas e preparando o rango, macarrão com atum, fiz na panela menorzinha que tinha ficado comigo, montei o fogareiro fora da barraca e rapidinho a água esquentou, o macarrone também não demorou a ficar pronto, abri a lata de atum e coloquei só a metade, guardei o restante pra próxima refeição, coloquei uns sachês de sal na água do macarrão pra dar um gosto, e na fome que eu tava ficou foi muito bom, fiquei querendo repeteco kkk, de bucho cheio fui me ajeitar pra deitar já que o tempo estava fechado, fazia um pouco de cerração mas não chovia, ao longo da noite garoou bem pouquinho, nesse acampamento acertei em cheio, estava num lugar plano e fofinho, praticamente uma king size pra dormir, ainda assisti um pouco de vídeo e logo capotei. Preferi subir ‘pesado’ até o A2 pra 19h já ter ido ao PP, jantado e estar dormindo, além de passar mais uma noite na montanha e descer de dia, pra mim valeu muito a pena. Acordava ocasionalmente e logo dormia de novo, numa dessas fui ao banheiro e em uma rápida olhada pra cima vi uma cadente rasgar o céu como a muito tempo não via, e fiz meu pedido, que meus amigos pudessem descer bem e eu no dia seguinte tivesse a mesma sorte, esse foi o último ato de um dia memorável, um dia de glórias do início ao fim, poderiam ser contadas várias histórias de inspiração, transpiração, conquistas e crescimento, com certeza um dia e uma caminhada que irão me inspirar muito e que guardarei comigo.

    DIA 4, 19/06 - Descida pra fazenda

    5h da matina, domingo, o celular despertou cedo, tinha que ser assim né, afinal a descida é longa e não tive muito tempo pra ter preguiça, tão logo acordei já fui preparando o ‘café manhã’ que era um delicioso macarrão com atum, optei por cozinhar na porta da barraca, e enquanto a minha última porção de água fervia dentro da panela, eu passava uma pomada nos joelhos pra já deixá-los preparados pro que viria; bom comi rapidinho o macarrão que estava muito bom aliás e fui me trocando e guardando minhas coisas na mochila, o fato de fazer a própria comida, montar acampamento e se virar solo é um grande aprendizado, feito tudo isso tirei a cargueira da barraca pra desmontá-la, ás 7h já estava com a mochila nas costas e pronto pra descer, ao sair cumprimentei os que já estavam de pé e desci, desci ouvindo algumas músicas que gosto e me inspiram, como estava sozinho e o caminho era longo me propus a ir num ritmo bom e ver até onde eu aguentaria.

    Comecei mais de boa pra esquentar os ossos, a manhã estava fria, a trilha úmida e coberta por neblina, aquele caminho avermelhado sabe, em 25min cheguei no maior trecho de ferratas da trilha e desescalei de boas, não tinha ninguém então pude fazer com toda a calma, nessa parte tem que sujar as mãos e isso não é problema, agora partindo pra subir a crista numa pedra em especial tu tem que jogar o peso do corpo na pedra e forçar pra subir, chegando ali deu uma fatigada pelo esforço, mas continuei forte, as subidas eram nervosas, mas o embalo estava bom e a música rolando funcionava como um energético mental. Com 1h cravada passei pelo A1, o tempo ainda fechado, mas vira e mexe via as montanhas agora um pouco mais longe, até ali estava com a boca seca porque estava zerado de água e esperando passar pelo rio que fica depois do A1 pra encher minhas garrafas ,ali por aquelas bandas passei por um grupo de uns cinco caras que devem ter feito o ataque ao PP de madrugada, já que estavam com mochilas pequenas, eles iam revezar posição comigo até chegar a fazenda.

    A queda de água corrente que serve como fonte d’água fica bem pertinho do A1, quando cheguei lá já enchi minha garrafinha de 500ml que ia no bolso da calça e a de 2l de servia como um reservatório de água dentro da mochila, e eram 2kg a mais nas costas, mas na real não fazia nenhuma diferença negativa, eu pensava no lado bom que era o de estar com água limpa garantida até o final da trilha, verdade seja dita a serra do ibitiraquire é abençoada pelas águas, com todas as trilhas tendo pontos d’água, e na sua maioria água limpa, cristalina, que se mantenha sempre assim, ainda que dependa da boa educação e consciência dos trilheiros que lotam cada vez mais as trilhas de norte a sul.

    A trilha estava uma delícia, comigo rompendo barreiras e andando igual a um animal, mas completamente satisfeito, fazer o que se gosta é restaurador! Ao longo do trecho ia passando por aquele grupo, sempre quando eles estavam descansando, e quando me viam já se apressavam em continuar, aliás eu mal descansava, não me lembro de momentos de pausa, somente na hora de encher a água e quando tirava alguma foto, quando eu queria respirar mais, baixava um pouco o ritmo, mas não parava, um dos lados bons de se fazer solo é que tu imprime o ritmo que melhor lhe convir, tanto que com 1h49 de descida, cheguei até a bifurcação Itapiroca x PP, tuchei bem até ali ainda com a esperança de ter tempo de subir o Caratuva, segundo pico mais alto do sul do país, com 1860m, o pico das antenas, eu não tinha ctz ao certo quanto tempo demoraria pra subir, então vim de certo modo até esperançoso, mas essa esperança se desfez quando conversando com um casal me disseram que a subida do Caratuva levava de 2 á 3 horas, ai já me deu uma murchada, enquanto eles falavam eu já sabia que seria impossível de subir lá dessa vez, já eram 9h, e a van estaria pronta pra sair ás 13h, então eu subindo o sexto pico da travessia, voltaria pra fazenda umas 15h, e só o bagaço, bom sem chances né. O curioso de estar numa travessia de vários dias é que sempre que me perguntavam de onde estava vindo eu respondia que estava perdido ali desde quinta kkk, todos ficavam, nossa! Uau! era regozijante, depois de ser situado quanto ao caratuva fiquei na dúvida se diminuía o ritmo ou seguia em desabalada carreira serra abaixo, bom já que eu tinha passado da metade do caminho e o ritmo estava bom continuei na mesma pegada, e com 2h32 de caminhada bati nas plaquinhas que assinalam as bifurcações pro PP x Itapiroca x Taipabuçu x Ferraria, que é tido como muito difícil, tempo médio de 7h de trilha, quem sabe numa próxima, Ferraria e Ciririca tem fama de serem mais difíceis do que o próprio PP, e isso me deixa bem curioso heheh, estando ali nas plaquinhas pedi pra que tirassem uma foto minha, curto registrar esses momentos, são memórias cristalizadas em pixels, aquele grupinho que vinha rachando comigo desde lá de cima me passou mais uma vez, sempre me passavam quando eu parava pra tirar alguma foto.

    A partir dali a trilha se abre e começa a última parte pra quem desce, já numa parte sem a proteção das árvores, o Morro do Getúlio (1490m) vem logo à frente, subida fácil e gostosa com a represa do Capivari ao fundo fazendo mais bonita a vista, o dia estava abrindo e as nuvens já descortinavam a serra que eu tinha acabado de percorrer, ao longe vi um objeto quadrado em cima de uma pedra bem destacada e fiquei curioso, embora tenha achado estranho até pensei que fosse um livro de cume, porque de longe parecia, mas chegando perto vi que era uma simples pedra quadrada, enfim dei risada né hehe, curti um pouco o visu e descendo pra trilha encontrei a galera que estava me ‘fazendo companhia na trilha’ até brincamos sobre isso, que ali já tinha virado um passa repassa. Saindo do Getúlio já se encontra muita gente, quase todos sem cargueira, provavelmente fazendo bate-volta a algum pico perto, a trilha vai seguindo bem aberta e sem dificuldades, eu ia num passo rápido, faltava pouco pra chegar à fazenda, e nesse passo vinha um maluco na minha cola, nós não falamos nada mas ali já tinha virado corrida, e andar na frente sempre é mais complicado pq não tem descanso, só que não deu pra ele, aliás eu não ia dar passagem pra um só passar sendo que yo estava muito bem e puxando o ritmo, e assim fomos quase que correndo, parava eventualmente somente para dar passagem pra quem subia, e até que abaulados pela contenta batemos numa bifurcação chave, ou se vai pra fazenda pico paraná, ou se vai pra fazenda rio das pedras, ai tive que perguntar pro cara que vinha no meu rastro, como ele ia pra rio das pedras eu sabia que iria pra outra, várias pedras dispostas na bifurcação mostravam em sentido figurado o caminho á seguir, só depois de olhar as fotos que eu fui perceber isso, 5min depois já dou de cara com a bela fazenda pico paraná, chego satisfeito e feliz, com o tempo de 3h31, desde o A2, talvez numa soma total de 4h20 desde o PP, um tempo bom viu, a minha turma que veio na madruga levou 9h pra chegar, lógico que em condições bem diferentes e piores, mas em resumo gostei de como fiz a trilha, só cheguei um pouco frustado pq sabia que tinha acabado.

    A fazenda é bem bonita, mais que a da bolinha, lá tem um rio que passa pela propriedade e é de água cristalina, ótimos locais para acampar, pra fazer fogueira, churrasco, um lugar que por si só já dá pra passar o final de semana. Ao chegar lá ja fui ter com os confrades, Tales, Tamires e ilda, que estavam por sair de dentro da barraca interrompendo o merecido descanso, assim que cheguei já começamos a resenha que só foi terminar na hora de ir embora, larguei ali a mochila e fomos descendo para a sede da fazenda, construção ainda de madeira, assim como muitas, senão todas construções antigas rurais antigas daquele lugar, lá as opções são poucas, pra comer macarronada e pastel, pra beber cerveja, refri e quentão, lógico que pedi o quentão, que era feito com vinho, a justificativa foi que lá no paraná eles faziam o quentão com vinho, então não era quentão, era vinho quente ora bolas, a conversa rolava lisa, com outros colegas de van chegando e contando seus causos, e ali começamos a saber das histórias, foi ai que percebemos que apesar do ritmo lento, fomos muito bem nos nossos objetivos e praticamente não passamos perrengue, fiquei satisfeito por ter a certeza que tínhamos ido bem e que em momento algum alguém ficou desassistido ou que faltou uma mão que ajudasse, porém como tudo que é bom acaba, quando o papo ia varar a tarde, tivemos que subir na van pra voltar pra casa.

    Na volta ainda passamos um self-service pra fazer com que o dono repusesse comida e sobremesa no meio da tarde, foi incrível como entramos como selvagens no restaurante, nosso objetivo é sempre levar o dono á falência heheh, quanto ao rolê pra mim foi perfeito, uma oportunidade única que agarrei e deu super certo, fiz o melhor de mim e reuni mais experiências e conhecimentos, ter subido o PP, ficado aqueles dias todos na serra e daquela forma foi único, em momentos assim que consigo descobrir mais sobre mim, meus limites e gostos, grato a Deus pela oportunidade e que venham outras! E um grande brinde em homenagem A Montanha Sagrada! #DeUmRolê!

    Denis Gois
    Denis Gois

    Publicado em 10/11/2022 20:17

    Realizada de 15/07/2022 até 19/07/2022

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