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Com medo de onça no PICO DA ONÇA!
Na primeira parte de uma aventura pelo Sul de Minas subimos o Pico da Onça na Serra dos Poncianos para curtir seu maravilhoso visual!
Mountaineering Trekking CampingPICO DA ONÇA x SÃO THOMÉ DAS LETRAS Parte I
27/30 - NOVEMBRO - 2021 (Faz um tempinho que rolou essa trip, mas como ela é bem legal e muito especial pra mim, achei conveniente deixá-la eternizada aqui)
Essa viagem já estava ‘marcada’ a algum tempo, sempre combinando roteiros, datas e pessoas que poderiam ir, mas como sempre todos deram pra trás e fomos solo yo e Jonathas, o Chocks, que é um amigo meu de longuíssima data e de vários rolês, entre eles uma travessia da Funicular e o Pico dos Marins (que vocês podem ler aqui https://aventurebox.com/denis-gois/pico-dos-marins/report ). Ficou decidido que íamos no sábado dia 27, a data de volta não se sabia. O lugar escolhido foi o Pico da Onça, em São Francisco Xavier (SP), na Serra da Mantiqueira. Eu já tinha ido uma vez, vez essa que pegamos uma temperatura negativa de -5°C, mas agora seria diferente porque estávamos indo na primavera e estaria quente.
Tudo pronto, partimos! Bem cedo como sempre, mochila pronta e pesada nas costas, as cargueiras velhas estão ficando pequenas pra tanta coisa viu. Fomos até o terminal do Tietê onde íamos pegar um blablacar até Monteiro Lobato (SP), foi o lugar mais longe que conseguimos carona, ir até SFX por meio de transporte público ficou complicadíssimo, as prefeituras de São José dos campos e Monteiro Lobato esvaziaram as linhas de ônibus e colocaram horários impossíveis de conciliar, qualquer tentativa ia calhar em uma espera de algumas horas em algum terminal de ônibus, e pra quem trabalha tempo livre vale ouro. Pegamos uma carona super bacana, com um cara gente fina que nos levou ao som de Novos Baianos e Raul Seixas, Ótimo! Chegando em Monteiro Lobato ainda tentamos fazer com que ele esticasse até SFX mas não teve jeito, paciência. A cidade de Monteiro é um grão de milho, pacata e de ar bem interiorano, é marcada indelevelmente pela criação de seu cidadão mais famoso, se vê Emílias por toda parte, Cucas, Sacis e Viscondes também se fazem presentes. Chegamos lá por volta de 9h30, e esperávamos pegar um busão até SFX o quanto antes…mas surpresa! O próximo ônibus sairia somente às 14h40…Pra nós era inviável, atrasaria todo o rolê, resumindo não tinha blablacar, não tinha uber, não tinha busão, mas tinha táxi, e era 60$, pagamos com dor no bolso, mas pagamos, a viagem foi um pulo, afinal apenas 20km separam as duas cidades.
São Francisco Xavier, um cadinho maior que Monteiro, arrisco a dizer que vem espichando de tamanho por conta do ecoturismo da região, são muitas pousadas e estando lá percebo que muitos paulistas endinheirados estão comprando casas lá e elevando o custo de vida e estadia do lugar, acabando com a alegria dos mochileiros né, mas a cidade é uma graça, rodeada de morros e montanhas e com a tradicional pracinha com igreja e coreto, sendo um local tranquilo e sossegado para se passar alguns dias. Chegamos lá bajo fuerte sol, já fomos à padaria comer alguma coisa antes de subir. Padaria Vale Verde, muito boa em frente a praça, destaque pro biscoitão de queijo super barato e que vale quase que por um almoço, após rápido desjejum fomos já em direção a estrada dos Ferreira, estrada essa que é passagem obrigatória pro Pico da Onça, subimos a pé lógico e tudo ia bem até que por vacilo meu entramos num caminho à direita que foi parar na casinha de um caboclo nativo do lugar, fui conversar com ele e nos recomendou tomar cuidado com os javalis e onças lá em cima…Todo cuidado é pouco! Retornando à estrada certa, ela começou a ziguezaguear morro acima e nós a derreter de calor, paramos algumas vezes pra recuperar o fôlego e eu pra me aliviar da alça da mochila que estava rasgando o ombro por estar quase estourada, andar em estrada de chão debaixo de sol forte e carregando ainda todo o peso da viagem é uma prova de fogo que vai dizer se tu gosta mesmo daquilo ou se vai vender todos os equipamentos quando voltar pra casa kkk, foram 2h pra percorrer esses 5km até a fazenda Monte verde, que meio que marca o início da trilha, porque é o último local onde dá pra subir de carro, chegamos esbaforidos lá e deitamos num gramado rente a um banco de madeira pra beber bastante água e beliscar alguma coisinha, já pensando em diminuir o peso da mochila heheh, às 14h levantamos e colocamos nas costas as mochilas que mais pareciam armaduras, com previsão de mais duas ou três horas de caminhada fomos fazer o que tinha nos levado até ali.
Praça central São Francisco Xavier
The long and winding subida!
Cansou né fii?! kkk
Fazenda Monte Verde, a partir daqui o trecho é a pé!
A trilha do jorge é uma trilha larga e bem intuitiva, coberta por exuberante mata atlântica, logo no início ao fundo se ouve o barulho de água corrente, lembrando que próxima a sua entrada tem a Cachoeira Toca do Lobo, que dá pra chegar por rápida trilha, no início ainda passando por degraus de pedra, encontramos dois ‘guias voluntários’ que nos advertiram para não acampar no pico, existem placas dizendo o mesmo, mas tendo em vista que é um lugar bem visitado, inclusive por gente local, porque ao invés de proibir, não conscientizar as pessoas? Porque dá mais trabalho! Porém é um trabalho que tem raízes duradouras. Após isso seguimos na nossa caminhada, subindo, subindo e subindo, essa trilha é muito agradável, sempre coberta do sol, embora a umidade se faça sempre presente, e o suor escorra farto, tem alguns pontos d’água então se hidrate bem pra manter o corpo forte e a mente atenta, pq é sempre subida e às vezes o chão pode estar escorregadio, pular sob troncos e encarar buracos traiçoeiros requer atenção. Nesse embalo fomos ganhando altitude e parando eventualmente pra descansar e beber água, até que já bem lá em cima, ouvimos barulhos no mato e nem imaginávamos que eram cavalos selvagens pastando bem no meio da trilha, lógico que isso nos fez parar, eram cerca de 6 ou 7 cavalinhos, e surpresos assim como nós, ficaram parados esperando a gente, tentamos espantá-los, mas não saíram, o jeito foi passar pelo cantinho mesmo e torcer pra nenhum dar um coice kkk. À essa altura o bosque dos duendes já estava perto e passando pela sua entrada, a crista da serra está logo à frente, uma última subida para testar o fôlego do trilheiro, além de uma bifurcação que se toma à esquerda, já na crista da serra, (indo pra direita, irá sentido Monte verde), caminhamos entre alguns pinheirais e araucárias e logo chegamos ao alto dos 1950m do Pico da Onça, onde os jardins suspensos do amplo gramado nos aguardavam para montar a barraca, o relógio marcava 16h12, como o tempo estava bem aberto e bonito íamos ter ao menos mais uma hora e meia de sol, tínhamos concluído a subida em 2h54, acumulando cinco horas desde a cidade.
Pico da Onça (1960m)
Como tem sido de praxe nestas últimas trilhas, temos encontrado pouca gente e aqui não foi diferente, o pico estava só para nós, parecia que o tínhamos alugado, embora um pouco cansados, ao ver o visual lá de cima a energia volta ao corpo, o olhar vai longe ali, mas dá pra identificar Monte verde do lado de MG; SFXavier, e SJ dos campos do lado Paulista, e o Marins-Itaguaré bem bem ao fundo ao norte, já que o Pico da Onça está praticamente na divisa de estados, mas ainda sim em SP. Fomos assinar o livro, minha segunda vez registrando meu nome ali, e a primeira do Chocks. Tão logo o assinamos, fomos montar a barraca e ficar esperando o pôr do sol que veio multicolorido e fantástico, parecia que todas as sete cores do arco íris bailavam sobre ele, coisa de loko. A noite estava rajada de estrelas, o pouco tempo que ficamos vislumbrando elas já nos deixou zonzo heheh, logo veio o sono e eu entrei pra dormir, enquanto o Jonathas ficou fora da barraca observando o céu, só que depois ele dormiu ao relento e ficou puto pq ficou com medo das onças que o nativo da região tinha nos avisado kkk, o erro foi meu confesso, mas na verdade não botei muita fé que tivesse mesmo, a noite passou num fechar de olhos.
Por volta de 6h30 já estava de pé porque os planos de ir pra Monte Verde já estavam em andamento, desde o começo essa era minha intenção, de terminar a trilha lá nessa cidadezinha, como para o Chocks seria novidade imaginei que não se oporia, o único problema era a condução de volta pra SP, mas era aí que o perrengue estava escondido, se nada desse certo poderíamos fazer como fiz da primeira vez, que foi voltar toda a trilha e pegar o ônibus de volta em SFXavier, uma alternativa beeem mais cansativa, mas pra andar comigo tem que estar preparado pra andar dia e noite se preciso. Desjejuamos um cup noodles com tomate, salame, queijo e deixamos algumas besteiras de prontidão, demos um último visu na região, tiramos algumas fotos, uma delas com a Pedra Partida ao fundo; logo volto pra encarar a Travessia dos Poncianos, está na lista faz tempo; e fomos descendo em direção ao Bosque dos Duendes.
Rapidamente alcançamos a entrada pro bosque, rolou até uma dúvida por parte do Chocks, mas não tinha erro, era por ali mesmo, a entrada fica perto de uma placa inclusive e essa trilha tem até no google maps. Por sorte o dia estava bem ensolarado e a luz solar entrava no bosque deixando-o lindo demais, a trilha lá é bem marcada, embora haja outros carreirinhos, é difícil se perder. Ao descer mais já saindo da parte de bosque, tivemos alguns enroscos em meio a voçorocas e túneis de taquaras (bambuzinho fino), mas nada que não servisse de desculpa pra descansar um pouco em meio às sombras do bosque. Cerca de 2h depois chegamos ao final da trilha do Jorge, lugar que apesar de ser bem frequentado, se mostrava limpo. Saindo dali o mundo já é outro, chalés, casas e pousadas requintadas dão o tom do lugar, ali a grana rola solta, por meio de ruas secundárias em meia hora chegamos ao centro de M.Verde.
Bosque dos Duendes
M.Verde não estava assim tão cheia, mas tinha uma galera, que sempre nos mirava com curiosidade devido a estarmos meio empoeirados e suados, além da indisfarçável cara de pobre, mas eu tava pouco me fodendo pra eles e queria mesmo era buscar alguém que me desse a dica de ouro de onde pegar a van ali, e logo de primeira já consegui, tinha sim uma van que passava por lá no meio da tarde em direção a Camanducaia, sabendo disso ficamos mais aliviados e tranquilos, fomos então passear pelas poucas ruas da cidade, com certeza menor que o bairro de qualquer um que esteja lendo, mas feita pro turismo e pro turista com grana, Monte Verde pra mim é a versão mineira de Campos do Jordão. Até os poucos moradores da cidade que lá trabalham, moram em espécies de guetos afastados do centro. Ao passar em frente a uma das várias lojas, fomos atraídos para fazer degustações, sem compromisso entramos e fomos provando queijos dos mais diversos, vários tipos de café, e claro a deliciosa cachaça mineira, era tudo muito bom, tanto que o Chocks comprou algumas coisinhas.
Rua principal de Monte Verde
Como ainda tínhamos tempo e fome, fomos procurar um lugar para cozinhar o restante do rango que tinha na mochila, já que almoçar por lá não estava nos planos, e andando pelas ruas vimos que tinha a Trilha do Pinheiro Velho, bom fomos lá ver qual que era a desse lugar. O Pinheiro velho é realmente grande e bem diferente de qualquer um que eu já tenha visto, na verdade o maior que já vi, e ali pertinho dele fizemos um rango rapidinho regado a suco de limão pegado no pé! Lógico que o cheiro estava bom e chamou a atenção da galera, muita gente quer ser roots mas não consegue, até pq esse estilo de vida não se vende em nenhuma boutique. Logo após fomos pro local indicado pra pegar a van, local esse que era o tipo de um rancho com um barzinho, algo simples e que vendia cerveja a um preço justo, enquanto eu tomava algumas latinhas fiquei sabendo que tinham nos passado o horário errado da van e que ela passaria só no final da tarde, bom o jeito era esperar molhando a goela, e ficamos lá até cansar, quando chegou a van já embarcamos sentido rodoviária de Camanducaia, lugar esse que nos possibilitaria voltar pra cidade grande ou continuar o roteiro, que era o que eu faria…
Em Camanducaia já vi que teria dificuldades pra chegar em São Thomé das Letras (MG) ainda naquele dia; que era a continuação do meu roteiro. Tinham opções de ônibus até Extrema e de lá até Três Corações, porém para São thomé nada de nada, ali na rodoviária eu e Chocks nos separamos, ele voltava pra suas obrigações em SP e eu ia ao encontro das minhas vontades em Minas, parti para Extrema de busão, cheguei cedo antes das 17h, dali já estava acertando um blablacar até 3 corações, que era o único disponível e que seria uma mão na roda, porém como demoraria a chegar, fui dar um rolê pela cidade.
Saindo da rodoviária fui até a igreja matriz de Extrema, que fica na Praça Presidente Vargas, a principal da cidade, mas pra chegar lá meu amigo, tive que vencer uma subidona que deixa muita trilha no chinelo, depois de chegar lá subindo essa rua que é a Rua João Mendes, me lembrei de ir numa pastelaria de esquina que já tínhamos ido quando da visita ao Lopo, comi o pastel de queijo, de tanto que meus colegas falaram bem, e não vi nada de mais kkk, mas era bom. Dali do alto da cidade resolvi já ir ao encontro do blablacar, que me encontraria no portal sul, que é a entrada para quem vem de SP, daria uns 4 km, porém como eu já estava andando desde sábado, mais quatro km não seriam nada demais, demorei um pouco atravessando toda a cidade, e ainda assim cheguei bem antes do combinado, acabei ficando por lá sentado a beira do caminho atrás do portal da cidade, que tem aspecto de chalé, incrível como a vida nos coloca em situações inusitadas, nunca que imaginaria estar ali sentado esperando uma carona.
Extrema (MG)
Quando a carona chegou logo embarquei, e essa foi a carona mais ‘quieta’ que eu já peguei, o cara apesar de acostumado com o percurso dirigia em alta velocidade e à noite né, não gosto disso, ainda mais sendo uma pessoa que eu não conheço, mais à frente pegou outro passageiro em Pouso Alegre e logo estávamos em TC. Fiquei pela rodoviária, óbvio que 22h não tinha mais ônibus pra STL, só táxis a preços absurdos, o lado bom de ser pobre é poder falar na cara do maluco que “Pohaa pensa que todo mundo é rico brother, metendo a facada na cara dura!”. O primeiro busum pra STL sairia só às 5h45 do dia seguinte, à princípio eu iria dormir na rodoviária mesmo, um funcionário lá gente boa já tinha até me arrumado um cantinho mais afastado, só que eu estava com vontade de ir ao banheiro, e de dormir, dormir mesmo sem preocupações, porque assim que chegasse lá o tempo seria curto, ou seja já tinha que estar pronto pra roletar, pesando tudo isso resolvi me hospedar na pousada em frente à rodoviária, 50$ com café da manhã, chegando lá já tomei um banhão d’hora, entrei pro quarto e fui dormir. Acordei cedíssimo a tempo de forrar a barriga com o café da manhã que estava bem bom e da cozinha da pousada vi o busão chegando na rodoviária, fiz mais dois pãezinhos recheados com tudo que tinha direito e corri pra pegar a lata velha, finalmente partia pra São Thomé, depois de tantas tentativas frustradas e de taaanto tempo planejando e adiando, mas isso já é história pra outro relato, no caso o próximo, onde vamos embarcar para São Thomé das Letras, a cidade mística de pedras.
Esse Pico é bem legal, acampei 4 vezes aí, porém sempre fiz a travessia começando pelo, platô, depois selado e as outras pedras. Infelizmente hoje não é mais permitido fazer a travessia nem acampar no pico pelo que fui informado pelos seguranças da última vez que estive aí.
Muito bom tu trazer essa info, eu tinha ouvido falar nessa proibição, mas precisava mesmo de uma confirmação. Infelizmente o novo tipo de morador da região deve ter feito esse lobby para a proibição.