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Diego Morais 10/09/2021 17:23
    BIKEPACKING CHAPADA DIAMANTINA 2021

    BIKEPACKING CHAPADA DIAMANTINA 2021

    As definições de exaustão foram atualizadas com sucesso

    Bikepacking Mountain Bike Acampamento

    Passado mais de um ano da primeira experiência com bikepacking pela chapada, dessa vez surgiu a idéia de repetir a dose, porém de uma forma mais audaciosa.

    Recebi o convite a menos de duas semanas do feriado, que seria a data de partida pra essa empreitada pela serra do Sincorá.
    Formamos um grupo com 6 integrantes, grande maioria proveniente do grupo BUSHCRAFT-BA

    André, Diego (eu), Orlandinho, Primo, Eldi e Samuel

    Mirante do Vale do Pati

    Alguns preferiram organizar a bike em um estilo mais cicloturista (com bagageiro), apenas eu e André fomos realmente com as bagagens completamente amarradas na bike, fazendo jus ao nome bikepacking.
    Nada contra usar bagageiro, eu só optei pela configuração sem ele pra poder me livrar de quase 2kg e não perder agilidade da bike.
    Na minha primeira experiencia, utilizando bagageiro, o peso das bagagens ficaram desuniforme e isso impactou muito na ciclistica da bike, parecia que eu pedalava uma barra circular, sem falar que ao subir ladeira a bicicleta empinava a roda dianteira, fazendo perder aderencia com o solo.
    Consegui me organizar e comprar uma bolsa central de quadro, o frontloader foi um saco estanque Guepardo 5L preso com cinta velcro e no selim utilizei uma bolsa de tripé + fita velcro da Nomad.

    Desta forma o peso estava completamente uniforme na bike, quase não percebi diferença de agilidade ao pedalar, no YouTube explico detalhadamente o que tem em cada bolsa.

    ROTEIRO

    Pesquisamos alguns tracklogs no wikiloc para ter referência e chegamos a idéia de seguir um caminho clássico, já feito por outros ciclistas.

    1º Dia

    Partida de Lençóis via estrada antiga do garimbo
    Almoço no Roncador
    Pernoite em Igatu

    2º Dia

    Partida de Igatu via BA-142
    Almoço em Mucugê
    Pernoite em Guiné

    3º Dia
    Subida do Beco do Guiné
    Almoço no Gerais do Vieira/Mirante do Pati
    Pernoite em Águas Claras (Caeté-Açu)

    4º Dia
    Partida setindo BR-242
    Almoço e finalização em Lençóis

    O Roteiro ficou extremamente difícil e desgastante, pois seria necessário carregar a bike nas costas por bastante tempo na subida do Beco do Guiné, além de não ter água por perto no segundo pernoite, a estrada pra chegar até o beco é um tanto sem graça. Sendo assim, optamos por deixar o Guiné de lado e seguir por outra rota passando pelos gerais do rio preto. Topei na hora! pelo tracklog já dava pra ver que seria muito mais divertido.

    1º DIA (Lençóis -> Igatu)

    Cheguei em Lençóis de ônibus às 5h e encontrei com o restante do grupo que já estava lá desde o dia anterior. Arrumamos nossas bagagens praticamente juntos pra saber o que cada um tava levando e assim não ter tanta redundância de ferramentas e levar peso desnecessário.

    Tudo pronto, hora de partir.

    De Lençóis ao Roncador foi tranquilo, o trecho é 95% pedalável, sendo necessário descer da bike apenas pra transpor alguns rios e bancos de areia.


    Eu e Orlandinho optamos por almoçar no casarão, o restante do grupo preferiu cozinhar.

    A comida do casarão é sensacional, rango regional com direito a palma e godó, recomendo muito!
    A leseira pós almoço bateu forte em mim, ainda mais depois de dois pratos e uma cerveja.. por mim a gente já dormia ali mesmo.
    Depois do almoço, seguimos sentindo BA-142 que dá acesso a Andaraí e foi quando começamos a descobrir na prática o que é pedalar na chapada: ladeiras, ladeiras e mais ladeiras!

    Com muito esforço chegamos finalmente na entrada de Igatu, foi então que descobrimos que o que tá pior, pode piorar, as ladeiras de lá são impossíveis, além de uma inclinação ignorante, o calçamento é completamente irregular, o que torna o pedal muito desgastante e com um rendimento baixissimo, as rodas saltitam no solo, até pra pedalar em declive é ruim.

    Depois de quase 2h empurrando bicicleta, chegamos ao rio que fica na entrada de Igatu e organizamos nosso acampamento.

    Montei a tarp na configuração que já havia testado em casa, inicialmente tive um pouco de dificuldade mas depois de equilibrar a roda da bike, a coisa fluiu. Esse foi meu primeiro bivak, estava torcendo pra dar tudo certo e não me traumatizar.

    Após um banho revigorante, nós 4 decidimos ir na vila tomar uma cerveja, Primo já estava no terceiro sono e Orlandinho preferiu descansar.

    2º DIA (Igatu-> Toca do Gavião)

    Dormida tranquila e sem muita chuva, apenas uma garoa na parte da manhã, mesmo assim André resolveu voar o drone pra fazer esse registro

    Nosso acampamento em Igatu

    Tomamos café ao som de Orlandinho fazendo a contagem regressiva da partida:

    5 MINUTOS! 3 MINUTOS! 2 MINUTOS!

    Minha bolsa do selim rasgou e acabei atrasando um pouco, André também teve alguns problemas com a bagagem e fomos os últimos a sair.

    A saída de Igatu foi tão sofrida quanto a chegada, a situação só melhorou quando chegamos na BA-142, onde as ladeiras são ao menos pedaláveis.

    Chegamos em Mucugê pra repor as energias com um café mais elaborado e reabastecer nossa água, o sol estava a pino.

    Orlandinho e primo saíram na frente sentido Ibicoara, o restante do grupo acabou demorando um pouco e ficou pra trás. Eu fui na farmácia comprar um repelente pois minhas pernas já estavam detonadas das famosas mutucas da chapada.

    O visual é cinematográfico, impossível não se apaixonar.

    Desde a primeira vez que fui na chapada, em 2009, tive a vontade de entrar por esse vale.. finalmente a hora chegou!

    Pedalamos por 30 minutos em estrada de terra e areia fofa até chegar ao Rio Paraguaçu, o tempo não estava a nosso favor, afinal, precisariamos pedalar cerca de 25km até chegar a toca do gavião, tivemos que transpor o rio sem sequer tomar um banho. E fizemos certo, pois o trecho seguinte foi um vara mato insano, não conseguimos pedalar muito, alem do mato alto, o trecho é todo em aclive, muito sinistro, as ladeiras anteriores se tornaram fáceis perto dessas.

    Trilha? que trilha?

    Em certo momento do percurso, Orlandinho chegou a conclusão que seria muito dificil chegar na toca do gavião naquele dia, precisariamos varar mato a noite, empurrando bike, subindo ladeira e com um cansaço acumulado de 2 dias.

    Samuel e os outros, mesmo com essas condições, queriam seguir em frente, afim de tentar finalizar toda a aventura em 3 dias e ai que surgiu a idéia do grupo se separar. Eu, André e Orlandinho optamos por parar no primeiro lugar com água e montar nosso acampamento.

    Às 17h encontramos um córrego, batizado por Orlandinho como Córrego das Prateleiras e lá ficamos, a ideia da separação já não existia mais e ficamos todos por ali mesmo.

    Nosso acampamento no Gerais do Rio Preto

    Tomei um banho extremamente revigorante, era tanto cansaço e tanta lapiada nas pernas que o frio era o menor dos meus problemas naquele momento, senti que chegar até ali já tinha sido uma conquista e tanto.

    Depois de tudo organizado, fiz um arroz liofilizado e proteína de soja frita no azeite de oliva, estava divino!

    De bucho cheio, bivak montado e banho tomado, resolvi apreciar aquele céu extremamente estrelado, foi então que saiu esse registro da Via Láctea.

    Redmi Note 10 Pro / 30s / ISO 3200 / Selim como tripé

    3º DIA (Gerais do Rio Preto -> Caeté-Açu)


    Noite tranquila e sem chuva, apenas o frio apertou um pouco nas extremidades do corpo, o problema foi contornado pelas meias e luvas segunda pele que levei.

    O desjejum não foi muito rico, comi apenas um pão sírio com polenguinho e um café com leite.

    Nosso objetivo primordial era chegar ao mirante do Pati e assim seguimos. Enfrentamos mato alto por cerca de 7km até chegar a entrada do Cachoeirão e foi ai que a dificuldade mudou, não tinha mais vara mato mas os atoleiros começaram a aparecer. Não teve jeito, tivemos que empurrar a bike por mais uma distância considerável, mas por sorte o clima estava ameno.

    Tinhamos saído as 8h do acampamento e 4 horas depois chegamos ao Mirante do Pati.

    Depois de muitas fotos, suco natural, água gelada e sanduíche resolvemos partir rumo a Caeté-Açu. Agora a dificuldade eram as formações rochosas que são dispostas de forma diagonal, aumentando significativamente o risco de rasgar o pneu da bike.. a solução? descer e empurrar!

    Nesse momento o sol já estava castigando, as mutucas não davam trégua, ou empurra ou empurra, parar e descansar não era possível.

    Alguns km depois, finalmente chegamos a famosa descida do quebra-bunda, foi insano descer aquela ladeira de pedras com uma bike cheia de peso e um cansaço acumulado de 3 dias. Nesse momento eu decidi que não acompanharia o grupo até a cachoeira de Águas Claras. Cheguei a conclusão que ia ficar pelo Vale do Capão em um hostel de um amigo meu, eu precisava dormir numa cama e tomar umas cervejas, não existia outra alternativa em minha mente.

    André acabou ficando pra trás desde a saída do Mirante do Pati, aguardamos ele no final do quebra-bunda onde tem um riacho cheio de mutuca (pra variar kkk).

    Seguimos pedalando pelos Gerais do Vieira, rumo ao córrego das galinhas e descida do bomba, esse foi o trecho mais tranquilo, sem pedras, sem atoleiros, sem mutuca e praticamente plano.. o visual? sem palavras!

    Gerais do Vieira

    Assim como o quebra-bunda, descemos o bomba sem pedalar porque era humanamente impossível. Ao final da descida, paramos pra tomar Açaí e comer o delicioso pastel de palmito de jaca e em seguida fomos rumo ao vale do capão onde o restante do grupo estava lanchando, eu preferi deixar o lanche de lado e pedir um almojanta no restaurante de Dona Beli. Comida sensacional, valeu a pena esperar quase 40 minutos.

    Voltei na praça e só encontrei André lá, logo imaginei que o restante do grupo tinha partido para Águas Claras.. mas para a minha surpresa eles resolveram acampar no Capão mesmo. Fiquei no Hostel de Catatau, ele conseguiu um quarto pra mim e André por R$50, paguei sem pensar duas vezes.

    Bucho cheio e banho tomado, fomos na vila tomar umas cervejas pra finalizar a noite.

    4º DIA (Caeté-Açu -> Lençóis)

    Acordei cheio de dor, a coxa machucada de uma queda que levei no dia anterior, as pernas lapeadas dos cipós no vara mato, as picadas de mutuca, as bolhas do calcanhar que já tinham estourado e o cansaço muscular acumulado, a parte boa é que o trajeto desse dia é todo em declive, então seria o trecho menos sofrido.

    O grupo naturalmente se separou a partir daqui, eles seguiram cedo para Lençóis (via Águas Claras, enquanto eu e André acordamos um pouco mais tarde e seguimos sozinhos.

    Chegamos ao pé do Morrão ainda cedo, resolvemos ficar um bom tempo no poço de Águas Claras porque a água estava uma delícia!

    Morrão (ícone da Chapada Diamantina)

    Do Capão até a BA-242 o trecho é muito bom de pedalar, praticamente só descida, um single track que empolga até quem tá exausto, rs.

    Às 13h chegamos na rodovia e depois de uma longa descida de asfalto, às 14:30h chegamos em Lençóis e assim finalmente completamos a nossa jornada de 4 dias pelos lugares mais lindos da nossa Chapada Diamantina, espero um dia repetir a dose, porém com um pouco mais de preparo.

    Agradeço o apoio de todos do grupo, foram dias extremamentes desgastantes mas me fez perceber que sou mais forte do que penso.

    Estou documentando tudo em vídeo, pra quem quiser acompanhar, este é o link da playlist:

    https://www.youtube.com/playlist?list=PLIi_kaHS6ucA5OQPQQmqX8GkEg12cmywS

    Instagram: @dihmorais e @bikepackingbahia

    Diego Morais
    Diego Morais

    Publicado em 10/09/2021 17:23

    Realizada de 04/09/2021 até 07/09/2021

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    4 Comentários
    Duda Borges 10/09/2021 18:53

    Parabéns pela aventura irmão!!! A ideia é essa, voltar com o corpo cansado, mas o espírito renovado!!!

    Camila 10/09/2021 19:25

    Aaaaahhhhh ❤️❤️❤️ que relatoo completoooo! Senti faltar o fôlego lendo, imagineee hahaahhah

    Ciclotrekking 12/09/2021 08:48

    Irado! Parabéns pela empreitada! Deve ter sido uma experiência fantástica!

    Ernani 13/09/2021 06:56

    Parabéns Diego! Sensacional o roteiro! Tem que ter força física e mental para terminar essa travessia!

    Diego Morais

    Diego Morais

    Salvador - BA

    Rox
    108

    Seja de bike, a pé, de carro ou moto, o importante é ter uns perrengues pra contar.

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