FUNICULAR: A Machu Pichu Ferroviária Brasileira
Uma travessia histórica pela FERROVIA FUNICULAR de Paranapiacaba-SP.
Trekkingcaminho azul, subindo a funicular. FUNICULAR: A MACHU PICCHU FEROVIÁRIA DO BRASIL
D. Pedro ll governava soberano e o Brasil ainda se engalfinhava em uma guerra estúpida contra o Paraguai, quando a Ferrovia Funicular foi inaugurada em 1867. O sistema vencia um desnível de quase 800 metros entre o litoral e o planalto paulista e servia primordialmente para dar vazão ao café, produzido principalmente no interior do estado. Era um sistema movido por cabos e máquinas à vapor e no total foram construídos 16 túneis e 13 pontos, em uma obra sem precedentes na história do Brasil.
Pois bem, o Eduardo já havia passado algumas vezes pela Funicular e há muito tempo vinha insistindo para que a gente fosse com ele, mas nunca tínhamos tido oportunidade para isso. Agora havia chegado a hora. Decidimos então que o nosso caminho de volta seria pela histórica Ferrovia Funicular. Fomos descendo pelo raso Rio Mogi e logo que chegamos ao início dos containers à nossa direita, já começamos a procurar uma trilha que sai à esquerda e abandona o rio de vez. E realmente a encontramos uns 100 ou 200 metros à baixo. Tomamos a trilha e logo chegamos a uma casa, onde sai uma pequena estradinha junto a um rio. Cruzamos a ponte e em poucos minutos tropeçamos na linha de trem.
Não é a Funicular e sim a do sistema CREMALHEIRA. Cremalheira é uma peça mecânica que consiste numa barra ou trilho dentado que em conjunto com uma engrenagem a ele ajustada, converte movimento retilíneo em rotacional e vice-versa. Esse é o sistema usado hoje para subir e descer a Serra do Mar, já que a Funicular foi totalmente desativada na década de 80. Mais alguns metros à frente já estávamos estacionados na Estação Raízes da Serra, hoje abandonada e logo mais à frente à estação de manutenção que é usada pela MRS, que é a empresa que opera agora todo sistema. Tiramos umas fotos e seguimos em frente, agora caminhando por uma estrada de terra paralela aos trilhos. Passamos pela portaria sem que ninguém nos incomodasse e mais à frente, junto a uma grande Jaqueira e bem em frente a uma casa que está do outro lado da linha, onde uma mangueira enche um reservatório de água, deixamos de vez a estrada e entramos em uma singela trilha.
Passava das 18h00min quando entramos na trilha. Estávamos realmente quebrados e cada passo dado era como se nos dirigíssemos para forca. O caminho segue pela mata e alguns riachinhos são cruzados até que a trilha intercepta um rio e começa a segui-lo por dentro, onde parte de uma das pontes da ferrovia vieram parar, depois que ela desabou. O Eduardo seguiu à frente, nos guiando e o Lindolfo seguiu atrás e quando o Eduardo disse que havia perdido o caminho e teríamos que nos guiar pelo pedestal da ponte em ruínas, tendo assim que subir pelo barranco mesmo, o cara “fez beicinho” e se recusou a arredar o pé dali. O Lindolfo estava acabado, parecia não ter mais força para dar mais um passo. Ele havia sucumbido ao esforço físico e mental que o vale da morte havia nos enfiado na cara. Não, ele não iria mais a lugar algum, iria acampar ali mesmo. Bom, eu não estava melhor que ele e a possibilidade de ter que trepar em outro barranco também não me agradava, mas como o Eduardo havia nos dito que acamparíamos em um lugar abrigado, e por achar que o limite do ser humano só acaba quando ele perde a consciência, persuadi o meu primo a continuar caminhando. Miramos para a direita, na direção do pé da ponte destruída e abandonando o rio de vez, fomos seguindo naquela direção e logo subimos o barranco e tocamos o nosso alvo. Ao lado da ponte sobe uma escada de concreto que intercepta a trilha principal.
Na trilha viramos para a esquerda e caminhamos até onde ela acaba junto a uma cachoeira, onde uma água escorre por uma pedra lisa. Já era noite e fomos obrigados a acender nossas lanternas. Pegamos água, atravessamos o riacho e seguimos pela trilha novamente e tivemos que parar logo à frente porque o Eduardo resolveu cair em mais um buraco. Resgatamos o Eduardo e em mais um minuto de caminhada saímos da trilha à esquerda, junto a uma grande árvore. Chegamos a um grande hotel luxuoso, abrigado do vento, seco, limpo, com dois quartos confortáveis e com lareira. Na verdade, era mesmo um casebre abandonado junto à linha férrea, perdido no meio da floresta e foi ali naquele local ermo que a gente terminou mais um dia de caminhada, um dia para não ser esquecido.
O Lindolfo montou sua rede em dois buracos na parede e não quis saber de mais nada e eu quase ia seguindo pelo mesmo caminho, quando o Eduardo voltou de uma moita e disse que era uma pena que os mamões que ele havia encontrado estavam verdes. Opa! Mamão verde? Isso é uma iguaria meu amigo, respondi. O Eduardo então resolveu usar o óleo diesel que ele havia carregado por dois dias para fazer uma fogueira com a madeira seca que havia sido deixado ali estrategicamente. Descasquei o mamão, piquei e juntando- o com alho e cebola pus tudo para cozinhar e depois acrescentei pimenta e um molho para estrogonofe com champion. Até o Lindolfo que já estava desfalecido, ressuscitou para o jantar de gala. Eu e o Eduardo aproveitamos a fogueira para secar parte das nossas coisas e quando o fogo se extinguiu, peguei meu saco de dormir e o isolante do Eduardo e fui “morrer” em um dos cômodos do nosso castelo.
Beba! (Beba!) Pois a água viva ainda tá na fonte (Tente outra vez!) Você tem dois pés para cruzar a ponte .Nada acabou !Não! Não! Não!...........................................(.Rau Seixas)
Um clássico dos anos 80, vindo do celular do Lindolfo, nos despertava para mais um dia de caminhada e a música parece mesmo que havia sido feita para aquela ocasião. Arrumamos as mochilas e partimos, subindo pela mesma trilha que havíamos chegado na noite anterior. Por incrível que pareça a trilha estava um pouco fechada, o que indica que a Funicular não estava sendo tão usada como pensávamos, talvez a fiscalização em Paranapiacaba tenha aumentado ou talvez as pessoas estejam indo mesmo somente até uma parte da ferrovia, a parte onde as pontes estão em melhor condição para serem atravessada. Sempre pensei que a caminhada da Funicular era feita sobre os trilhos, mas vejo que me enganei.
Os dormentes praticamente não existem mais e os trilhos passam ao lado de uma trilha, o que torna o caminho muito legal para caminhar. Mas essa não é uma caminhada turística, é uma caminhada ariscada, onde pontes de quase uma centena de altura terão que ser cruzadas, e são pontes totalmente destruídas e carcomidas pelo tempo, onde um descuido pode levar a um tombo fatal no abismo. Passamos por alguns túneis, que não sei se é verdade, dizem que foi escavado a mão. São obras realmente inacreditáveis, já que foram feitas há quase 150 anos atrás, o que nos faz acreditar que muita mão de obra escrava foi usada por aqui.
E eis que de repente surge em nosso caminho a primeira ponte a ser cruzada. MAIS QUE DESGRAÇA É ISSO? Era uma ponte que mal se segurava em pé, com os dormentes que já havia se dissolvido pelo tempo. São dois pares de trilho e no início fomos caminhando com um pé em cada trilho, afastados uns 30 centímetros um do outro. Eu fui em pé, prendendo a respiração e andando o mais ereto possível para que a minha mochila não desequilibrasse e me jogasse no vazio. O Lindolfo não se fez de rogado, ajoelhou nos trilhos e foi implorando a deus que o sofrimento acabasse logo (rsrsrsrs). Até a metade da ponte, onde era possível manter os dois pés paralelos aos trilhos, eu fui bem, mas depois, quando os trilhos de transformam em apenas um eu fui obrigado a passar para o lado de fora da linha férrea ,ou seja, andar à beira do abismo. Pra piorar começou a chover bem no meio da travessia, o que deixava os trilhos escorregadios. Concentração, respiração presa, olhos fixos nos trilhos, mochila equilibrada, MAS QUE DIABOS MESMO EU ESTOU FAZENDO AQUI?
Cruzamos a ponte, cada um como pode e como se sentiu seguro, uns em pé, outros de quatro, outros de joelhos. Chegar vivo do outro lado é o troféu. Seguimos de novo pela trilha e mais um túnel aparece pela frente, talvez o maior de todos, onde tivemos que usar uma lanterna. Os túneis estão bem preservados e é possível acampar dentro de quase todos. As pontes vão se seguindo e cruzamos por cima de algumas, mas praticamente em todas é possível desviar por trilhas e foi isso que fizemos em pelo menos metade delas, porque acabava sendo mais rápido do que ficar se arrastando nas pontes em ruínas. A cada patamar que íamos cruzando, as ruínas das máquinas, caldeiras, e todo tipo de instalações nos fazia acreditar que estávamos diante de uma das mais espetaculares obras que esse país já teve. Uma verdadeira Machu Picchu ferroviária perdida e abandonada. Ás 14h30min paramos junto a uma bica para prepararmos nosso almoço.
A chuva ia e voltava e às 15h30min chegamos à ponte da Grota Funda, a maior e mais impressionante de todas, onde estão as grandes caldeiras e todo tipo de maquinário impressionante. Da grota funda para frente às pontes estão em melhores condições, onde acaba sendo um pouco menos perigoso cruza-las. Cruzadas as outras pontes e outros túneis, finalmente às 17h00min, cruzamos pela placa que indica o início da Funicular. Passamos bem quietos pela placa e logo à frente junto a umas instalações da MRS, onde tem um grande reservatório de água, entramos para a direita depois de cruzar um pequeno riacho, que fomos acompanhando e ganhando um pouco de altura até chegar a uma pequena barragem, onde aproveitamos para nos lavar e colocarmos roupas limpas. Retrocedemos um pouco depois do banho e subimos por uma trilhinha à direita, que nos levou ao quintal de uma casa sem muros e logo nos desovou em uma rua de terra, onde bastou seguir para esquerda e assim adentramos na vila inglesa de Paranapiacaba, onde cruzamos a ponte sobre os trilhos, mas não sem antes tirarmos aquela foto clássica com a réplica do Big Bem. E foi assim que naquela noite fria de segunda-feira, com uma vila totalmente vazia, que abandonamos as bordas do planalto e voltamos para Rio Grande da Serra e depois cada um seguiu seu caminho e foi curar suas feridas em casa.
blz? qdo sera o proximo trekking?
Opa ! Sempre nas trilhas e travessias Zaney, rsrsrsrsrsrsr
me da um toque po…. quero acompanhar vcs
Fala Zaney, será sempre um prazer !
A funicular é talvez a única trilha que eu não faria uma segunda vez. Fui para conhecer e marcar da minha lista mental do que fazer na vida antes de morrer kkkk. Mas realmente o perigo é real, e ela há muito tempo virou lugar de gente sem noção que nem sabe onde enfiou o pé. Aquelas pontes ali um dia vão cair de vez e olha, provavelmente com alguém em cima. Agora, quando vi que vocês subiram ela voltando do vale da morte... Soltei um pqp dos grandes kkkk
Só fiz uma vez, CLARO que me assustei por ser a primeira vez numas pontes podres, mas na segunda ponte eu JÁ estava a vontade. Fui pela história, pela AVENTURA da primeira vez, ainda mais tendo cruzado o Vale da Morte quanto não existia caminho NENHUM.