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Divanei Goes de Paula 16/11/2015 20:12
    TREKKING NA PONTA DO ESPIÁ - Ubatuba - SP

    TREKKING NA PONTA DO ESPIÁ - Ubatuba - SP

    Trilha de um dia pelas praias da Ponta do Espiá, um paraíso selvagem para quem quer fugir do caus .

    Hiking

    Trilha na Ponta do Espia – Ubatuba-SP

    Não há como negar, o litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro está entre os lugares mais bonitos do mundo. Alguns poderão citar praias maravilhosas no nordeste e com certeza disso eu não posso discordar, mas sem nenhum bairrismo, nada se compara a este pedaço que pode sim ser chamado de paraíso. Caminho há décadas pelas praias desertas e nunca me canso de enaltecer tanta beleza. São Sebastião, Ilha Bela, Ubatuba, Parati, Angra, cada um destes municípios escondem praias selvagens e intocadas, onde a Mata Atlântica lambe o mar, cachoeiras despencam de montanhas, dezenas de córregos de águas cristalinas correm em direção ao litoral, fauna e flora exuberantes. E tudo isso com acesso por várias trilhas que podem levar horas e até dias para serem percorridas. Mas não tem jeito, quem for para lá como turista preguiçoso, pouco verá de toda esta beleza, porque para conhecer tudo isso, terá que usar o melhor meio de transporte que a natureza já consegui criar, AS PERNAS .

    Trilhas famosas e espetaculares podemos contar em dezenas: Volta da Ilha Grande,Ponta da Joatinga, Camburi a Trindade, Corisco, Saco das Bananas, Sete Praias, Corcovado, Águas Claras, Ribeirão do Itu, Praia Brava, Praia do Bonete,Volta da Ilha Bela,Trilha das Sete Fontes, etc...

    Finalmente, até que enfim, a meteorologia previa para o feriado de finados, três lindos dias de sol, coisa que não havia acontecido em praticamente todos os feriados na região sudeste, este ano. Como no feriado passado eu havia viajado sozinho, não teve jeito, tive que acompanhar a família até a praia. Juntamos tudo que podíamos no velho carro, incluindo aí, mulher, criança, cunhado, sobrinha, amigo do trabalho, comida, colchão, frango, farofa, caixa de isopor, bola , papagaio e cachorro (opss, esqueci, não tenho papagaio e nem cachorro) . Rumamos todos para Ubatuba, onde havíamos alugado um casebre em Itaguá.

    Não tem jeito, aventureiro em Ubatuba não consegue sossegar o facho. Pra todo lado que se olha haverá sempre uma paisagem espetacular convidando-o para uma nova aventura e estando perto do centro, meus olhos já se voltaram logo para a única península que eu ainda não conhecia por aquelas bandas, a Ponta do Espia. Eu já havia até procurado informações sobre as trilhas que existiam por lá ,mas nem o Sr Google conseguiu responder as minhas perguntas. As informações são muito escassas, sabia apenas que a trilha partia da praia da Enseada e mais nada. Mesmo assim, deixamos a “famiada” se divertindo na praia, arrumamos as pequenas mochilas com alguns lanches, um cantil, e outros equipamentos básicos e seguimos para tentar encontrar esta tal trilha.

    Passamos pelo balão e adentramos na Praia Grande de Ubatuba. Havia nesta praia, um milhão de pessoas. Era tanta gente, que para entrar no mar era preciso formar fila. Na areia jacarés do papo amarelo, torravam-se ao sol. Dos quiosques, ouvia-se calipysus, dejavus e bondes do tigrão. A frase para resumir o que vimos seria esta : A VISÃO DO INFERNO. Bom, antes que o próprio “rabudo” viesse nos dar as boas vindas pessoalmente, tratamos logo de passar batidos por esta praia, e também pela Praia das Toninhas. Depois a estrada sobe até um mirante, curva-se para a esquerda e é na próxima estradinha a esquerda que deixamos a Rio-Santos e seguimos por alguns minutos até que ela acaba bem no meio da Praia da Enseada.

    A Praia da Enseada é uma praia de águas calmas e transparentes e acho que aqui é um bom local para deixar toda a família, caso eles não queiram seguir pela trilha . Como esta é uma trilha com desnível muito baixo, não vejo problema algum em levar as crianças acima de sete anos, mas agora se você teve a infeliz ideia de viajar com a sogra, sugiro que a deixe na Praia Grande mesmo,porque la a “veia” se sentirá em casa.

    Estando na praia, seguimos para a esquerda e depois de passarmos por algumas belas casas, encontramos a tal trilha. No começo ela é larga e se confunde com o quintal das próprias casas que domina parte da encosta, às vezes ela vira mesmo o quintal das casas e ganha até calçamento. Passa por uma pequena prainha com um ótimo local para mergulho e chega até uma porteira preta com algumas placas de boas vindas do tipo: CUIDADO CÃO BRAVO, PROPRIEDADE PARTICULA DO FULANO DE TAL, CAIA FORA, SE MANDA. Como sabíamos que esta trilha é de uso público, ignoramos estas tais placas, abrimos a porteira e seguimos enfrente. Na verdade a minha vontade era de arrombar estas porteiras a pontapés, fico indignado com as coisas que acontecem neste país, alguns indivíduos acham se no direito de se apropriarem das coisas de uso público com se sua fosse, o pior é que o poder público, no caso a Prefeitura de Ubatuba acaba se omitindo. Por falar nisso, outra placa também chama atenção, a de proibição para acampar, também não vejo porque respeitá-la, já que o estado não teve nenhum critério para proibir estas tais construções, não será uma inocente barraquinha, usada com os critérios de mínimo impacto ambiental, que fará algum mal para estes locais.

    Passamos então pela tal porteira e cruzamos um corredor com muro de pedra dos dois lados, até sairmos em outra porteira. Depois passamos por uma casa amarela, à direita, e chegamos a um pequeno portinho artificial. Se não me engano, é aqui que a trilha se bifurca. Nós pegamos a da direita seguindo pela encosta, mas a da esquerda também poderia ser usada, pois vai dar no mesmo local, ou seja, as duas trilha vão se cruzar mais a frente junto a uma bica d”água e daí serão uma só trilha. Daqui pra frente a trilha não tem mais que um metro de largura e segue por dentro da mata, ganhando altura levemente. É um caminhar gostoso e desimpedindo, onde vários riachinhos serão cruzados. De vez enquando, lagartos cruzam o nosso caminho, alguns pássaros pulam entre as árvores, outros barulhos são ouvidos e imaginamos ser esquilos e outros pequenos animais assustados com nossa silenciosa presença . Ás vezes localizamos sinais de trilhas a nossa direita, muito provavelmente vão dar em algum recanto de pesca ou mesmo em pequenas outras praias, mas nós não investigamos. Como não conhecíamos o local, preferimos tentar encontrar mesmo a trilha principal que ia nos levar até a PRAIA DE FORA. Não demorou muito e a encontramos. È uma trilha bem batida que desce a direita da trilha que vínhamos seguindo.

    Pegando então a trilha da direita, iniciamos a íngreme descida até a praia. Alguém colocou pedaços de corda para ajudar na descida, mas não vejo nenhuma dificuldade e como a corda está muito podre, dispensamos esta tal ajuda e descemos segurando pelas raízes e galhos até a entrada da praia.

    A chegada à praia é simplesmente espetacular. São 999.995 pessoas a menos que na Praia Grande, ou seja, não mais que cinco surfistas estão no mar. A praia é selvagem , nenhuma casa, nenhum quiosque, nenhum barco, não tem axé, não tem funk, nem sertanojo. No canto esquerdo um córrego de água doce. Em toda a extensão da praia, enormes árvores faz a alegria dos que gostam de sombra e água fresca. A praia não é muito grande, o que a torna mais aconchegante ainda. Ha algum lixo por aqui, mas por incrível que pareça a maior culpa é mesmo da maré que acaba trazendo-o de outra parte. Foi esta mesma maré que há décadas atrás trouxe para cá, latas de maconha arremessada por traficantes que para fugir da polícia tiveram que dispensá-las ao mar.

    Aproveitando a sombra das grandes árvores fizemos uma pausa para um lanche. Enquanto comia, fui acometido por uma grande alegria por estar ali naquele lugar maravilhoso. Aquilo era outro mundo, enquanto a menos de uma hora daqui, milhares e milhares de pessoas se acotovelavam para conseguir um lugar ao sol, tínhamos uma praia só para nós. Sinto-me um privilegiado!!! Pena não ter trazido minha barraca, se não ficaria por aqui mesmo até o fim do feriado.

    Bom, mas a trilha não acaba aqui na Praia de Fora. Abandonamos este pequeno paraíso e voltamos para trilha principal. Interceptando a trilha, nosso caminho segue agora para a direita, e em alguns minutos passa por uma árvore caída e desce a um pequeno córrego e volta a subir. Esta trilha me parece ser raramente usada, pois está muito fechada e por vezes somos obrigados a nos rastejar e passar por baixo de arbustos e samambaias. Ela é bem nítida, não há com se perder e não demora muito estamos no topo, e as grandes árvores dão lugar a vegetação rasteira e a visão fica totalmente desimpedida. Daqui a visão é de encher os olhos, baias e enseadas se descortinam a nossa frente, ilhas são avistadas, é um mundo de água sem fim. Descemos mais alguns metros na trilha e logo avistamos o nosso próximo objetivo. Os nomes das praias eu não consegui descobrir com exatidão. Ouvi falar em Praia do Tapiá, Praia de Itapecerica e Praia do Godói, mas realmente não sei qual seria uma ou qual seria outra. Mas isso pouco importa, do mirante de onde estamos, parecer ser uma praia só. Uma linda e deserta praia, de areias limpas, de matas verdejantes e águas transparentes, cheio de silêncio e paz, sem nenhuma alma viva. Sem demora começamos a descida até lá. A trilha entra de novo na mata e vai descendo suavemente e só paramos para fotografar uma espetacular orquídea a beira do caminho. A trilha segue um pouco fechada e antes mesmo que ela acabe, nós a abandonamos e descemos até a última praia.

    Praia realmente muito limpa, água aqui não parece ser problema. Aproveitamos o calor de 35 graus para um belo e refrescante mergulho. O mar aqui é muito bravo e se o sujeito não sabe nadar é melhor mesmo ficar fazendo castelinhos na areia. Cruzamos a praia pela areia e tentamos descer até a próxima, mas não conseguimos , então subimos pela mata até sair na trilha principal e voltamos mais alguns metros e achamos uma apagada trilhinha de conexão e descemos. É uma pequena praia de não mais de 15 metros, talvez desapareça na maré alta. Seguimos para a outra praia pelas pedras mesmo, e em menos de 5 minutos já estávamos de novo na areia. Aqui o mar é um pouco mais calmo e por isso aproveitamos para dar mais um mergulho. Depois fizemos mais uma pausa para outro lanche. Sentado na areia desta praia, lembrei-me das histórias que havia lido sobre a saga dos fugitivos da Ilha Anchieta, que ao escaparem nadavam em direção a esta ponta. Olhando para este monte de pedras que são constantemente açoitados pelas ondas, sinto calafrios só de pensar no sofrimento que seria esta travessia a nado. Bom, nós felizmente estamos á pé, e é a pé mesmo que voltamos para a trilha e pegamos o caminho de volta para praia da Enseada.

    Seguimos agora em ritmo acelerado, parando de vez enquanto apenas para fotografar algumas plantas e tomar um belo gole de água gelada, direto da fonte. De volta à praia da Enseada, tomamos outro banho nas piscinas naturais junto às grandes pedras e encerramos esta curta, mais espetacular caminhada.

    Saímos desta trilha renovados e prontos para encarar a barbárie (opss, civilização) . Certos de termos desbravados mais um recanto perdido e esquecido deste fascinante litoral, um lugar especial e fascinante que fica a menos de 10 km do inferno, um recanto de paz, tranqüilidade.

    Divanei Goes de Paula - novembro/2009

    Divanei Goes de Paula

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    Quase 30 anos me dedicando às grandes trilhas e travessias pelo Brasil e por alguns países da América do Sul .

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