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Edson Maia 09/01/2017 23:00
    Cicloturismo Chuy x Colonia del Sacramento - Uruguay

    Cicloturismo Chuy x Colonia del Sacramento - Uruguay

    Pequena viagem de duas semanas pelos principais picos do fantástico litoral uruguaio.

    Cicloviagem Acampamento Hiking

    Prelúdio

    Desde que fiz a minha primeira viagem solo de bike pelo Uruguay, lá no carnaval de 2015, acabei ficando com uma idéia fixa na cabeça e um sentimento forte que era necessário voltar para mergulhar mais fundo e conhecer mais daquele lugar que arrebatou por completo meu coração aventureiro.

    Comecei a planejar a trip logo depois que voltei da travessia da Serra Fina, em meados de agosto de 2016. Já tinha um roteiro mais ou menos montado na cabeça que seria ir da cidade de Chuy que fica junto da sua irmã brasileira Chuí (irmãs siamesas, diga-se de passagem...rsss), e tomando sempre o caminho mais próximo do litoral, passando por Montevidéu terminando o pedal em Colonia del Sacramento, de onde voltaria para Porto Alegre de ônibus.

    No primeiro momento, pensei em fazer a trip solo como na vez anterior, mas pensando daqui e dali, achei melhor convocar o pessoal da trupe de indiadas que participo, e de imediato, apareceram mais três pessoas interessadas. Fiquei mais animado ainda, sabia que seria muito mais divertido tendo a participação de alguns amigos do nosso pequeno grupo de hiperatividades. Porém, com o passar do tempo e a aproximação da data limite para fechar a trip, tivemos duas baixas no grupo, restando apenas eu e meu brother de perrengues, indiadas e afins, mr. Ricardo Tavares.

    Sem muito mistério ou complicação, organizamos os equipamentos de camping, as bikes, e combinamos nosso encontro no dia 2 de dezembro na rodoviária de Porto Alegre, onde pegamos o ônibus às 23 horas para o Chuí.

    A viagem Porto Alegre x Chuí tem uma duração de cerca de 8 horas, onde, pegando o horário noturno, dá para ir dormindo tranquilamente, pois o ônibus praticamente não pára e o caminho é quase que uma reta sem fim, fator este que favorece o sono das crianças.

    O nômade conserva um segredo de felicidade que o cidadão perdeu, e por este segredo sacrifica a comodidade e a segurança. Múltiplos são os êxitos, os álibis e as sensações da viagem, mas um só é o profundo e verdadeiro motivo interior que a determina: perseguir o segredo daquela remota felicidade.

    Domenico De Masi

    Primeiro dia: Chuy x Punta Del Diablo

    Chegamos bem cedinho, por volta das 7:30 da manhã, horário de Brasília, com tempo chuvoso. Logo começamos a organizar as bikes que estavam desmontadas e embaladas nos mala bikes. Foi neste momento que percebi um pequeno problema na minha bike: o cubo da roda dianteira estava com uma folga no eixo que exigia um pequeno aperto, porém não tínhamos a chave 17 para fazer o ajuste e poder dar início a nossa viajem. A solução era aguardar o comércio abrir e ir numa oficina de bicicletas para resolver a questão. Como no Uruguay não tem horário de verão e era sábado, resolvemos procurar uma padaria para tomar um café , comer alguma coisa para enganar a torcida e matar o tempo. Além disto, precisávamos também, fazer cambio de moeda e comprar alguma coisa de comida para os dois primeiros dias. Pergunta aqui, ali e logo encontramos uma oficina de bicicleta e uma casa de cambio praticamente na frente uma da outra. Resolvidas todas as questões, era hora de tocar para a Aduana Uruguaia e fazer os procedimentos para dar entrada oficialmente no Uruguay.

    Agora sim! A Ruta 9 pela frente.

    Começamos o pedal por volta das 11h30min, com céu nublado, sem vento e temperatura amena, ou seja, uma maravilha para começar a brincadeira e poder ir se acostumando com o peso na bike. O ritmo inicial era o famoso passinho do calango sonolento, 15 km/h, que por sinal acabou se tornando o padrão nesta trip.

    Não tínhamos um destino certo para este dia, a idéia era rodar algo por volta de 40 ou 50 kms no máximo e encontrar um camping. A primeira opção era o parque do Forte Santa Teresa que eu já conhecia, ou, se estivéssemos dispostos, tocar um pouco mais adiante, até Punta Del Diablo.

    Quando cheguei na frente da entrada principal do parque, me deparei com a entrada para a Laguna Negra, que ao contrário do Forte, eu não conhecia ainda. Fiquei ali aguardando o Ricardo que vinha um pouco atrás para decidir para qual lugar seguiríamos. Rapidamente decidimos tocar para a Laguna Negra, um desvio de 4 kms para fora da Ruta 9, pegando uma estrada de terra em boas condições.

    Chegando lá, por volta das 14:30, de cara encontrei um quiosque fechado bem na beira dágua e não pensei duas vezes, parei a bike e tratei logo de montar a cozinha e começar a “operação fome zero”. Ficamos por ali mais uma hora e pouco, dando aquela tradicional “jiboiada” com um nababesco café passado na hora. Só então, depois do ritual do café e com os neurônios funcionando adequadamente, tomamos a decisão do que fazer, se acampar ali mesmo, ir para o Forte ou tocar mais uns 15 kms até Punta Del Diablo. Optamos por seguir até Punta Del Diablo.

    A Laguna Negra é linda. Além disto, perfeita para um acampamento selvagem, mas a escolha já tinha sido feita. Juntamos as tralhas, as forças e voltamos ao pedal. Tínhamos 4 kms de terra com uma boa subidinha até alcançar o asfalto da Ruta 9 e então tocar até Punta Del Diablo.

    Chegamos por volta das 18:30 e fomos até a beira da praia para dar uma conferida no visual e atento também para localizar um camping para nosso pouso. Como era baixa temporada, somente um camping estava aberto. Tocamos para lá com a tarde indo embora e a noitinha chegando mansa. Ao chegar no ótimo Camping La Viuda, tratamos de montar nosso circo, tomar um bom banho e jantar com um céu estrelado que nos dava as boas vindas para as nossas noites no Uruguay.

    Resumo:

    Distância percorrida: 60 kms

    Custo camping: 200 pesos

    Segundo e terceiro dia: Punta Del Diablo x Valizas & Cabo Polônio

    Acordamos junto com o sol e lentamente, após o café da manhã, desmontamos o acampamento e por volta das 8 horas iniciamos nosso percurso do dia pela Ruta 9. A manhã estava linda e até umas 10 horas a temperatura seguia amena. Seguimos num ritmo bem tranqüilo e conversando durante o pedal. Na medida que o sol subiu, a temperatura começou a complicar um pouco as coisas e ao chegar em Castillos, já passando do meio-dia, resolvemos dar uma parada de uma hora na sombra, fazer um lanche e ficar atirado na relva curtindo o calorão já na Ruta 16.

    Depois de mais de uma hora curtindo o ócio criativo na relva, resolvemos seguir viagem mesmo com o sol tocando o terror... Apesar da tempetura alta, eu em especial, estava muito empolgado pois sabia que já estava bem perto da mítica Ruta 10, que é um pequeno paraíso para quem curte cicloturismo, tanto pelo visual como pela tranqüilidade devido ao baixo movimento de veículos em baixa temporada. Rodamos um pouco menos de uma hora e demos outra parada num gramado estratégico debaixo de algumas árvores para hidratar e esfriar a cabeça pois não estava fácil. Neste momento, enquanto jogávamos conversa fora, avistei uma bike carregada vindo no sentido contrário. Tratava-se de um argentino, gente finíssima, que estava subindo para o Brasil e que pretendia dar a volta ao mundo pedalando. Não demorou muito e quando olhei para o outro lado, outra bike, essa seguia no mesmo sentido que o nosso, e ao se aproximar, parou e desceu o paulista Martins, que estava dando um giro até o Cabo Polônio. Aquela parada rendeu uma reunião muito divertida entre quatro malucos de quatro lugares diferentes, mas com a mesma patologia em comum: a ciclo indiada... Mais uma hora parado. Comendo laranjas, que nosso Hermano nos ofereceu, e bebendo água. A paradinha foi muito divertida e útil pois o sol não queria dar moleza para nós, e também por outro lado, já estávamos bem perto do nosso destino do dia, ou seja, não havia necessidade de torrar o lombo na estrada.

    Após uma despedida longa e cheia de honrarias entre um grupo tão distinto e seleto de gente perturbada, tocamos em frente e logo entramos na Ruta 10. Pedalando mais uns quarenta minutos chegamos em nosso destino. O Martins nos acompanhou até o centrinho de Valizas e de lá tocou para o Cabo Polônio. Fomos logo para o Camping Lucky Valizas, que eu já conhecia de outros carnavais e virei fã pois tem uma atmosfera roots e é bem estruturado, sem contar a recepção simpática de sempre da Luciana e sua equipe. Recomendo.

    Acampamento devidamente montado e de banho tomado, fui logo comprar algo gelado para beber com a janta, onde conversando com o Ricardo, ficou decidido que ficaríamos um dia mais em Valizas, pois eu queria muito fazer a caminhada pelas dunas até o Cabo Polônio e também pelo fato do Ricardo estar precisando descansar um pouco mais. Juntamos o útil ao agradável.

    “(...) Un faro quieto nada sería
    guía, mientras no deje de girar
    no es la luz lo que importa en verdad
    son los 12 segundos de oscuridad.”

    Jorge Drexler

    O grande dia! Acordei junto com o sol e após um bom café, peguei a mochilinha de ataque, coloquei água e alguma coisa para beliscar, o chapéu na cabeça e toquei direto para a Barra de Valizas para pegar um bote e cruzar para o outro lado e começar a caminhada de cerca de 9 kms até a vila do Farol do Cabo Polônio. Cheguei antes das 8 horas na barra, a praia estava deserta e nenhum boteiro. Fiquei por ali, curtindo o visual e fazendo algumas fotos até que apareceu um barquinho e no leme o simpaticíssimo Sr. Nelson que antes mesmo de montar sua tenda se prontificou em me levar para o outro lado da barra. A travessia é bem curta, acho que uma distância de 150m no máximo, mas como o canal é profundo, só tem diuas maneiras: ou atravessa de bote, ou nadando.

    O céu estava completamente azul e ventava fraco, na minha frente 9 kms de dunas e praias desertas. Um ambiente minimalista e completamente selvagem. Algumas dunas chegam a ter quase 40 metros de altura. É um visual alucinante. A caminhada inicia com uma subida para o topo das dunas e de lá, basta seguir o caminho que achar melhor seguindo sempre para o sul. Depois de uma hora e pouco, já andando pela orla, avistei o imponente farol no horizonte e na medida em que me aproximava, podia identificar as casas da vila do Cabo Polônio, que fica dentro do Parque Nacional do Cabo Polônio. A vila é rústica, não existe rede elétrica, nem cercas separando as casas, nada de automóveis, para chegar lá, só de 4x4, cavalo ou na pernada. Um lugar apaixonante que conquistou meu coração.

    Fui direto até a colônia de lobos-marinhos e no farol, mas para minha tristeza, a visitação ao farol estava fechada, apenas no período da tarde seria possivel a visita e como eu não estava com planos de ficar tanto tempo alí, pois ainda tinha a volta toda pelo mesmo caminho, desisti de esperar. Mas deixe estar, é apenas mais um motivo para querer voltar em breve para aquele pequeno e rústico paraíso. não é mesmo?

    Depois de circular na vila, conhecer um pouco das casas, hostels e pequenos restaurantes, apontei meu nariz para a praia e segui meu rumo, agora para o norte, voltando para Valizas com o sol já alto e forte. A volta foi bem cansativa, deu para fazer umas bolhas nos pés, mas nada de mais. Fui direto para o camping onde tratei de almoçar e ficar o resto do dia de bobeira e descansando.

    Resumo:

    Distância percorrida de bike: 58 kms

    Distância percorrida caminhando: 19 kms

    Custo da diária camping: 250 pesos

    Custo do barqueiro, ida e volta: 200 pesos

    Quarto dia: Valizas x La Paloma x Laguna de Rocha

    Decididos em tentar sofrer menos com o sol, vento contra e calor, despertamos bastante cedo, ainda no escuro, sendo que o Ricardo, uma hora antes de mim. Ele queria arrancar ainda no escuro e aproveitar o máximo de tempo sem sol e sem o vento contrário que vinha nos fazendo companhia desde Punta Del Diablo. Como eu estava um pouco melhor condicionado, levantei um pouco depois, e tentaria alcançar o Ricardo pelo caminho.

    Alcancei o Ricardo quase na entrada para La Paloma, como o sol já estava nervoso e o vento tinha sugado muito da nossa energia, resolvemos parar num dos muitos pontos de ônibus da Ruta 10 que são cobertos e possuem bancos... que maravilha! É praticamente um Oasis para um ciclo viajante cansado.

    Depois de hidratados e um pouco aliviado, tocamos o trecho que faltava até La Paloma. Chegando lá, “ na capa da gaita”, tratamos de procurar com urgência um lugar para comer e beber algo gelado. Encontramos uma padaria que servia alguns lanches e de cara fizemos nosso pedido acompanhado de duas cervejas de litro Patrícia... Aquilo foi quase um nirvana! Kkkk... depois fomos comprar um chip de celular para mantermos contato com o povo no Brasil.

    Mais um role pela cidade, dois litros de sorvete, para ajudar na hidratação enquanto o sol não dava uma baixada. Logo em seguida, tocamos para a Laguna de Rocha, um pedal de mais 15 kms. Chegando lá, pretendíamos fazer a travessia de barco antes do cair da noite, e assim, poder arrancar cedinho no dia seguinte.

    Ao chegar na vila de pescadores da Laguna Negra, fomos direto perguntar onde morava o Sr. Pepe, que é um dos pescadores locais e que também faz o serviços de travessias da barra especialmente para ciclo viajantes. Chegamos na casa do Sr. Pepe que é praticamente uma das últimas, antes da barra e bati palmas e logo ele apareceu. Enquanto conversávamos, ele recebeu uma ligação, um grupo de ciclistas argentinos, porém do outro lado da barra, que precisava cruzar. Tivemos muita sorte, pois bastaria mais uma meia-hora para perder a travessia ainda naquele dia, pois a tarde já estava caindo e até o barco voltar com os argentinos, já não teria mais sol. Sem perder tempo, carregamos as bikes para o barco e cruzamos a barra. Do outro lado, um grupo de 6 ciclistas esperavam para fazer o caminho oposto. Quando desembarcamos, foi uma rápida festa de uns 5 minutos entre nós e o grupo argentino. Mas como a tarde já estava indo embora, precisamos todos seguir nossos rumos.

    Montamos as bikes e com o sol se pondo no horizonte, tratamos de pedalar rapidamente para sair logo da área de preservação do parque, onde é proibido acampar. Rodamos 5 kms aproximadamente, e já fora do parque, localizamos um trecho de praia deserto, que tinha uma estradinha de uns 700m até a beira do mar, tocamos para lá e já no escuro montamos acampamento na areia da praia, com um lindo visual, céu estrelado e ao norte no horizonte, o brilho do farol de La Paloma. Jantamos e caímos dentro das barracas. Adormeci com os sons das ondas que para mim, são como música de ninar.

    Resumo:

    Distância percorrida: 81 kms

    Custo do barco: 200 pesos por pessoa

    "Quando alinhamos o nosso coração com o tempo do mundo, a pressa desaparece e uma mágica acontece. Ao fazermos o que gostamos, seguindo a nossa vocação, as batidas do coração se harmonizam com o ritmo de todas as coisas, e por isso acontece algo inusitado: a vida passa a dar certo."

    O Homem Livre -
    Danilo Perrotti

    Quinto Dia: Acampamento selvagem em Rocha x Punta Del Este

    Durante a noite o vento parou, e o único som era o das ondas. Fez um pouco de frio na madrugada e creio eu, essa soma de circunstancias fez desta noite, a melhor de todas até então. Acordei com o horizonte clareando, antes do sol aparecer na linha do mar. Um espetáculo na porta da minha barraca, que diga-se de passagem, foi montada estrategicamente prevendo esse show logo cedo. “Só com a praia bem deserta é que o sol pode nascer”, já cantava Raul Seixas... Maravilha!

    Mas o tempo passa, o tempo voa e era necessário partir. Feito ritual do café e desmonte do circo, embarcamos para mais um dia de pedal. A temperatura estava agradável, começamos a pedalar pouco antes das 7 horas da manhã, aproveitando as condições favoráveis.

    Neste trecho, a Ruta 10 não tem asfalto, é terra, porém em ótimas condições, momento perfeito para meus pneus 1.95 mostrarem todas as suas virtudes e justificarem o motivo de não usar pneus slick(coisa de guri de apto...kkk). Depois de duas horas de pedal suave nos 25 kms de poeirão, com o sol já promovendo aquele bronzeado napolitano, característico em ciclistas, chegamos na novíssima e bela Ponte Circular da Laguna Garzon. Logo que cruzamos a ponte, fomos direto para um Pequeno paradouro, tratar de comer algo, tomar muita coca cola gelada e descansar.

    Depois desta parada de cerca de 45 minutos, resolvemos dos separar e nos reencontrar em Punta Del Este pois o Ricardo estava sentindo muito o efeito do calor e achou melhor pegar o ônibus que arranca dali onde estávamos. Meti o pé, ou melhor, as rodas novamente na Ruta 10, agora já com asfalto novamente e novamente o vento contra mostrava as suas armas...kkk... Neste momento lembrei-me da história do meu ídolo maior: “Qualquer um de nós ficaria chateado, desmotivado, mas não este homem! Não Joseph Climber!”, e com essa mesma determinação e entusiasmo, fui tocando contra o vento e derretendo com o sol de quase meio dia. Depois de quase 3 horas, com algumas paradas para tomar água, sempre nos pequenos Oasis das paradas de ônibus, finalmente cheguei no Camping San Rafael, em Punta Del Este. Rapidamente montei minha barraca, coloquei todas as tralhas para dentro e tratei de ir buscar o Ricardo que não tinha a localização exata do camping e estava me aguardando em um ponto de ônibus.

    Resumo:

    Distância percorrida: 58 kms

    Sexto e sétimo dias: Punta Del Este x Piriápolis

    Desta vez, ao contrário da minha última trip no Ururguay, tínhamos o tempo ao nosso favor, e como a idéia era curtir, resolvemos ficar por dois dias em Punta Del Este. Aproveitar para dar uns roles ostentação de bike no meio de todo o glamour e sofisticação da praia mais charmosa das terras do Hermano Mujica. Kkkk E foi exatamente isso que eu fiz no sexto dia. Enquanto o Ricardo ficou aproveitando o camping, peguei a magrela e fui direto dar um giro até o Puerto de Punta Del Este.

    Seguindo sempre pelas Ramblas das praias Brava, El Emir e Playa de Los Ingleses. É um passeio com um visual completamente diferente do que a viagem apresentava até então. Para quem gosta de barcos, e tem fetiches malucos por veleiros, como é o meu caso, o Puerto é um espetáculo de deixar qualquer criança alucinada. Dá vontade de bater de porta em porta, pedindo emprego embarcado em uma daquelas maravilhas e sair pelo mundo navegando ao sabor dos ventos... Mutley acorda! Você está sonhado de novo! kkk

    Na volta do passeio, fui tratar de fazer um almoço, já tarde. Depois já de barriguinha cheia, fiquei de papo com o Ricardo e foi nesta hora que chegou mais uma dupla de ciclistas no camping, Gutembergue e Chile, paulistas que estavam na estrada desde Rio Grande e tinham como destino final a cidade de Montevidéu. Ficamos em altos papos e risadas até anoitecer, e depois de um jantar regado a algumas cervejas Patricias de litro, fomos dormir pois no dia seguinte era estrada novamente.

    Mais uma vez o plano era sair bem cedo, sendo que o Ricardo saiu na escuridão, tocando por Maldonado para pegar a Ruta Interbalnearea, enquanto eu saí cerca de duas horas mais tarde, com a intenção de seguir pela orla de Punta Del Este, passando pela Playa Brava e Playa Mansa, sempre o mais próximo do mar, ainda que fosse o caminho mais longo, acreditava que o visual iria retribuir esse esforço extra. E assim foi.

    Depois de sair de Punta, já na Interbalearea, observando no GPS, encontrei uma rota bem próxima ao mar e ao chegar no entroncamento com essa estrada, perguntei para um senhor que estava ali parado se a estrada era boa e tranqüila e a resposta positiva me fez tocar para lá direto, saindo da rodovia e seu movimento intenso. Bingo! Logo estava numa estradinha de terra, quase deserta e bem na orla do mar, cheia de subidinhas e decidas gostosas de fazer e com um visual que surpreendia em cada curva. Várias praias com um visual roots típico uruguaio. Fui tocando sem pressa, escutando um som e fazendo algumas fotos. Acho que de tão distraído com o caminho e acostumando com o sol e o vento contrário, quando percebi, já estava em Piriápolis e fui logo procurar o camping Piriapolis , onde o Ricardo já estava com o seu circo armado. Bebi um pouco de água e tratei de armar a minha tenda, largar minhas tralhas para dentro e só então almoçar e descansar. Acho que duas horas depois, apareceram os nossos camaradas paulistas e novamente fechamos uma roda divertida de papo, causos e risadas... Onde quer que junte um grupo de malucos desta natureza, é risada certa e diversão garantida ou seu dinheiro de volta.

    Resumo:

    Distância percorrida: 54 kms

    Custo da diária camping: 250 pesos

    Oitavo Dia: Piriápolis x Parque Del Plata

    Sábado, dia 10, céu azul e tempo bom. Acordei bem disposto e ao mesmo tempo sem muita pressa de sair. O destino do dia não estava muito longe, cerca de 50 kms apenas. Como nos dias anteriores, Ricardo e eu, escolhemos estratégias diferentes de chegar ao próximo destino. Optei pelo caminho mais longo, caçando sempre que possível a orla do mar. Mais uma vez o pedal era cheio de surpresas e a cada curva uma paisagem para contemplar. Segui desta maneira por aproximadamente 15 kms, e logo em seguida, fui obrigado a voltar para a bastante movimentada Ruta Interbalnearea, mas que ainda assim, oferece um belo acostamento que dá muita tranqüilidade e segurança para quem está pedalando. Fui tocando devagar e nenhuma pressa, dando uma paradinha aqui, outra ali, para beber água, beliscar alguma coisa e pensar na vida, nessa coisa da existência humana e tals...kkkk Geralmente enquanto pedalo, ou fico cantando um mantra (repetindo uma música mentalmente), ou filosofando sobre as coisas da minha vida, ou ainda, conversando com Deus.

    Passando do meio-dia, avistei a ponte que antecede a entrada do Parque Del Plata, faltava localizar o camping que para minha surpresa, estava praticamente no pé da ponte, e ao cruzar, já consegui ver o Ricardo com sua Mini Pack discreta já montada. Saí da ruta e fui direto para o local onde o circo estava armado, bem embaixo da sombra de uma bela árvore. Montei meu acampamento, almocei e, como de praxe, dei aquela “jiboiada” forte.

    Como estava muito quente, não fizemos outra coisa que não fosse ficar naquela sombra na beira do belo Arroyo Solís Chico até o cair da noite. Falando em noite, essa foi a pior noite para mim, pois o camping fica bem próximo da Ruta Interbalnearia, e devido ao barulho do movimento de carros, não tive um bom sono.

    Resumo:

    Distância Percorrida: 49 kms

    Custo da diária do camping: 250 pesos

    Nono dia: Parque Playa Del Plata x Montevidéu

    Como não tinha jeito de dormir bem com o barulho dos carros na Ruta Interbalnearia, acabei levantando bem cedo, antes do sol, e depois de rever o briefing da missão do dia, junto com o Ricardo, que saiu antes de mim, seguindo pela Interbalneária. Desmontei meu acamps e também coloquei o camelo na estrada, só que seguindo pelo caminho da orla. Era 6:30 da manhã de domingo, e olhando no mapa do GPS achei uma avenida na orla e para lá segui. Nada de vento contra, temperatura agradável, uma benção para quem tinha tido a pior noite de todas.

    Fui pedalando tranquilamente, apreciando o visual da praia até que num dado momento acaba o balneário, e todos os caminhos apontam para a Ruta Interbalnearia que é muito movimentada mas como se tratava de um domingo cedo da manhã, estava bem tranqüila. Neste trecho da Interbalnearia, passei por duas placas que proibiam o tráfego de bicicletas, mas como o GPS não mostrava outra alternativa, toquei por ali mesmo, cerca de 9 kms sem problemas. Acredito que num dia de semana e num horário de rush, pode acontecer de sofrer alguma abordagem policial, pois já se trata de uma via expressa. Assim que cruzei a ponte sobre o Arroyo Pando, o GPS já me dava algumas alternativas e sem pensar muito, saí da Interbalearia e caí novamente na direção da orla.

    Depois de alguns minutos de pedal, localizei o início da Rambla Costanera, uma avenida de 15 kms, já nas cercanias de Montevidéu. Na medida em que avançava rumo ao centro, já começava aparecer pessoas correndo, passeando com seus cachorros, tomando mate e muitos ciclistas... Era o sinal de que já estava dentro da metrópole. Fui curtindo o visual dominical, sempre pela orla e vendo no horizonte na minha frente, os grandes prédios do centro, onde fica a localização do hostel que combinei encontrar com o Ricardo. Literalmente entrei em Montevidéu pelo cartão postal. Uma praia terminava e começava outra, pessoas na areia tomando mate, jogando bola e sentadas em cadeiras, curtindo um típico domingo de praia e sol. Não poderia ter escolhido dia melhor para chegar!

    Seguindo em frente, parei no monumento que tem o nome de Montevidéu em letras gigantes, fiz aquela foto momento turista e tratei de localizar a rota para o Planet Hostel, que fica próximo dalí. Chegando lá, pouco depois das 10 horas da manhã, encontrei o Ricardo que me aguardava e já tinha reservado um quarto para nós. Depois que quase dez dias dormindo no chão, não seria ruim dormir numa cama. Levamos as tralhas e as bikes para dentro do hostel e fomos descansar um pouco para depois dar um passeio e comer algo.

    Já com as baterias recarregadas, pegamos algumas informações no hostel sobre onde comer e a localização da rodoviária, onde pretendíamos passar para ver como estava a questão das passagens de volta para o Brasil. Depois de fazer um lanche, fomos ver as passagens e ao chegar no guichê da TTL, para ver valores e saber como estava o movimento, fomos alertados pelo atendente que em função das festas de final de ano, poderíamos ter problemas se resolvêssemos comprar a passagem na hora. Diante desta informação, fizemos uma rápida reunião de cúpula onde mudamos um pouco o nosso plano de vôo. Resolvemos tocar de ônibus até Colonia Del Sacramento, pois o tempo já estava se esgotando e o caminho até lá não era dos mais atrativos, indo de ônibus, ganharíamos mais dois dias para curtir lá naquela que é a cidade mais antiga do Uruguay.

    Tudo acertado, passagens para Colonia Del Sacramente e Porto Alegre compradas, demos mais uma volta pelo belo centro de Montevidéu e retornamos para o hostel para descansar e se preparar para no dia seguinte pegar o “buzão” para Colonia.

    Resumo:

    Distância percorrida: 57 kms

    Custo do quarto por pessoa: 20 trumps

    “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

    Mar Sem Fim - Amyr Klink

    Três dias em Colonia

    Segunda-feira, depois dez dias de estrada e mais de 400 kms com muito calor e vento contrário, ainda que eu estivesse no meu íntimo com uma sensação de frustração por ter que pegar o ônibus para Colonia, meu lado pragmático dizia que essa era a decisão correta. Ficar mais dois ou três dias apenas no asfalto com vento contra, chegar em Colonia e já ter que voltar não parecia nem de longe algo divertido e, além disto, eu também não estava tentando nenhum desafio.

    Montamos as bikes e a carga, nos despedimos da Andrea, a simpática recepcionista colombiana e também ciclista que fez com que nos sentíssemos em casa e tocamos para o O Terminal Três Cruces. Embarcamos às 11 horas. Depois de pouco mais de 3 horas de viagem, Colonia Del Sacramento! Uhu!!! Coloquei a rota para o camping Los Nogales no GPS e seguimos direto para lá.

    Depois de montar o acampamento, de comer algo e descansar, peguei a bike sem carga e fui dar um giro até o centro histórico, fazer um reconhecimento. Fiquei de boca aberta com a beleza rústica e o astral da cidade. Foi amor à primeira vista! Mas quando estava no meio do role, veio um temporal de verão e tive que sair correndo... consegui chegar até o shopping, onde me abriguei do grosso da rápida tempestade. Aproveitei para pegar umas cervejas para o jantar e voltei para o camping.

    No dia seguinte, saímos de manhã para dar outra volta. Rodamos pelo centro histórico e depois seguimos pedalando pela Rambla de Las Americas, sempre pela bela orla de praia, onde tem um lindo calçadão com muita área verde, praia e tudo mais... Retornamos ao centro, almoçamos e tocamos de volta para o camping para dar um tempo e depois, como combinado, no fim de tarde, fazer nosso último passeio até o Puerto de Yates para curtir o pôr do sol, pois no dia seguinte deveríamos voltar para Montevidéu e tomar o ônibus de retorno para as terras brasilis.

    Último dia. Um rápido café e logo na seqüência começamos a guardar as coisas e seguir para a rodoviária, embarcando para Montevideu de onde viajaríamos durante a noite toda para Porto Alegre.

    Ao chegar em Porto Alegre, acompanhei o Ricardo até o hotel onde ele aguardaria o seu voo para Curitiba. Depois de uma rápida despedida do amigo, voltei pedalando para em casa.

    Foram dias incríveis que deixaram uma certeza: em breve voltaremos!

    Resumo:

    Custos de camping: 260 pesos por dia

    Ônibus Colonia x Montevideu: 700 pesos (ida e volta)

    Observações, dicas e truques:

    - O gasto médio diário com alimentação, ficou na casa dos 300 pesos, sendo que em mais de 80% das vezes, fizemos nossas refeições nos acampamentos.

    - Poderíamos ter feito pelo menos dois acampamentos selvagens: em Playa Del Plata e na Laguna Negra.

    - Trocar moeda não é problema, em quase todos os lugares é aceito dólar e Real, é preciso apenas estar atento ao câmbio para não sair perdendo. No nosso caso, compramos pesos no Chuy.

    - O transporte das bicicletas nos ônibus no Ururguay é bastante tranqüilo, apenas no Brasil para evitar dor de cabeça, fizemos uso dos malabikes.

    - Para chegar em Montevidéu de boa, é recomendável escolher um domingo para não passar perrengue na via expressa.

    - Os motoristas uruguaios são extremamente cuidadosos e cordiais, e quanto as estradas, tanto de asfalto como de terra, estão sempre em ótimas condições. O Uruguay é um paraíso para ciclo turismo.

    Dúvidas, reclamações ou sugestões?

    Entre em contato com nosso SAC, através dos comentários. ;)

    Mais uma Indiada com o selo de qualidade Suricatos Hiperativos.

    "Nossa zona de conforto é selvagem"

    Edson Maia
    Edson Maia

    Publicado em 09/01/2017 23:00

    Realizada de 03/12/2016 até 15/12/2016

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    24 Comentários
    Edson Maia 09/05/2018 08:28

    Olá Alexandre! Essa é uma trip muito bacana. Tenho certeza que vc vai curtir muito. Quanto ao GPS, uso um Etrex 20, com o mapa rodoviário da região do cone sul que vc pode baixar aqui: http://www.proyectomapear.com.ar Qualquer outra questão, manda aí, que tento ajudar. Sucesso no planejamento da tua trip!

    Alexandre Silvano 24/05/2018 11:49

    Edson... está quase tudo pronto !!! Valiosas suas dicas !! Muito Obrigado !!

    Fernando 12/12/2018 15:30

    poderia me mandar por email todo teu roteiro detalhado. quero fazer ele agora em janeiro e curti os lugares por onde passou. top demais.... banhoetosaagromix@gmail.com

    Fernando 12/12/2018 15:31

    ou se puder passar as dicas pelo watts te agradeço. 51 999627586.

    Lucas Bampi 01/02/2019 15:29

    Irado o relato e as dicas, vão ser muito úteis para minha viagem que estou planejando para Abril. Pessoas como vocês ajudam muito nessas viagens ahahah Tenho uma dúvida sobre o que seria melhor para minha trip. Em relação ao vento, é melhor começar em Montevidéu e ir para Chuí ou o contrário, sair de Chuí e chegar em Montevidéu?

    Olá Edson, eu sou de São Paulo e queria saber qual meio de locomoção vc aconselha até chegar no Chuí RS

    Edson Maia 09/09/2019 15:45

    Olá Leonardo, se tu pretende levar uma bike, recomendo ir de ônibus pela https://www.ttl.com.br. tem linha ligando Sp ao UY. Veja no site os horários e opções.

    Edson Maia 09/09/2019 15:47

    Lucas e Fernando, me perdoem. Só agora que fui ver os comentários de vocês.

    Edson Maia

    Edson Maia

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