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Elas Outdoor Sp 05/07/2020 12:20
    Cachoeira da Fumaça • 340m • Vale Do Capão

    Cachoeira da Fumaça • 340m • Vale Do Capão

    Por @cristianemeloguimaraes para Elas Outdoor SP • Chapada Diamantina • Palmeiras • BA

    Acampamento Cachoeira Hiking

    Por @Claudia Bento para o @ElasOutoorSP #ElasOutdoorSP

    O Pico Lênin – 7.134 m, localizado na Cordilheira do Panir está na fronteira entre o Quirguisitão e o Tadjiquistão, na Ásia Central e faz parte do roteiro dos Leopardos das Neves, montanhas acima de 7 mil metros que ficam dentro do antigo território da União Soviética (que se dissolveu em 1991), constituído pelo Communism Peak (7.495 m), Peak Korzhenevskaya (7.105 m ),Peak Pobeda (7.439 m) e Khan Tengri (7.010 m). Nosso roteiro foi via Turquia (Istambul) – Bishkek – Osh.

    - O cronograma da escalada foi o seguinte:

    01/08 – Chegada ao campo base - 3500 m

    02/08 – Caminhadas ao redor para aclimatação

    03/08 – Subida ao Pik Petrovskogo – aclimatação

    04/08 – Campo Base ao Campo 1 – (base avançado) - 12 km de trilha – 4200 m

    05/08 – Subida ao Glaciar para aclimatação

    06/08 – Campo 1 ao Campo 2 – 5300 m

    07/08 – Campo 2 ao Campo 3 – 6100 m

    08/08 – Volta ao Campo 1 (base avançado)

    09/08 – Descanso e aguardo de janela

    10/08 – Descanso e aguardo de janela

    11/08 – Subida ao Campo 2

    12/08 – Subida ao Campo 3

    13/08 – Cume Pico Lênin 7134 m

    14/08 – Descida Campo 1 (base avançado)

    15/08 – Descida Campo Base – Volta -Osh

    O Pico Lenin é encantador e singular, umas das montanhas mais lindas que já escalei, porém a força da natureza rivaliza com tal beleza: defrontamo-nos com nevascas, avalanches, ventos fortes e temperaturas abaixo de -35º.

    Nossa expedição foi constituída por sete brasileiros; entretanto, um amigo nosso, o Vini, fez parte de outro grupo.

    A minha ideia e de minha parceira Paulinha era fazer o Lênin de forma totalmente independente como fizemos Aconcágua, contudo, como o Quirguistão sofre com agitações políticas, para evitarmos riscos humanos além dos naturais, optamos por contratar a agência AK-SAI Travel, algo que facilitou toda a logística de vistos, além da chegada à montanha e das reservas no hotel em Bishkek e Osh.

    Viajamos para Istambul , de lá para Bishkek e depois Osh, e de Osh, o transfer – incluído no pacote – nos levou ao campo base do Lênin, acessível pela via automotiva.

    Logo que chegamos à montanha houve uma avalanche: na subida para o Campo 2, nossos amigos do Brasil começaram a nos enviar vídeos, preocupados com nossa integridade. Nesse sentido, é curioso como a agência local deu pouca atenção ao assunto, já que é algo comum na região.

    Enfim, passada a avalanche, fizemos o trekking para o Campo 1 e em seguida veio a primeira escalada. A subida para o campo 2 é perigosa, possui muitas gretas, mas sua singularidade está em um estranho fenômeno que produz bolsões super aquecidos; os guias locais chamam o local de “frigideira”. A variação térmica produz, de tempos em tempos, avalanches como a que presenciamos, de maneira que o próprio acampamento já havia sido mudado de lugar.

    No pacote contratado, tínhamos direito às barracas já montadas, o que, não vou mentir, facilitava muito dada às condições hostis. Além disso, incluía ainda a alimentação completa; no Campo 1, entretanto, havia uma lojinha que dava liberdade para a escolha de alimentação (incluindo também utensílios de cozinha e gás).

    Ainda assim, eu sofri um pouco, diante das minhas restrições vegetarianas, não restavam muitas opções.

    Cada um era responsável por carregar sua alimentação, roupas e equipamentos, porém havia opção de contratar carregador. Como já estou acostumado, optei por carregar eu mesma, já que existia a vantagem de não ser necessário levar a barraca.

    Como em outras montanhas, cada um deveria também coletar e derreter seu gelo para cozinhar e beber. O suporte ainda se dava por conta de guias que, na realidade, funcionavam mais como líderes do que guias propriamente ditos. No frio da escalada, cada participante era responsável por si, o que tornava possível realizar a sua subida no próprio tempo: todo o grupo, de 30 pessoas inicialmente, era acompanhado por 2 guias. A limitação ficava pelo encordoamento no percurso ao Campo 2, de resto, havia muita liberdade. Possivelmente, esse formato aberto de expedição somado aos perigos da subida para o Campo 2 fizeram com que um dos integrantes de nossa expedição desistisse logo no Campo 1 e, infelizmente, outro teve problemas com a altitude e pressão na subida para o Campo 2 e precisou retornar , os demais seguiram para o Campo 2, para fazer o ciclo de aclimatação.

    A subida ao Campo 2 era bem dura, íngreme e com muitas gretas; acredito que seja a parte mais perigosa da montanha, perigo intensificado pelo já referido calor extremo, algo compensado apenas pelo visual fantasioso do glaciar cristalino que parecia formar os alinhavos de um padrão de renda.

    Chegando no Campo 2, mais duas baixas: dois de nossos amigos acharam muito perigoso e que não valia a pena continuar devido aos riscos. Refletindo sobre a avalanche recente, imaginei que seria muito improvável nos depararmos com outra em seguida. Decidi continuar.

    Paulinha e eu subimos para o Campo 3 para terminar o ciclo de aclimatação, os demais desceram. Na descida do campo 3 para o campo 2, encontrei o Vini, que estava firme na outra expedição também.

    Descemos para o base avançado (campo 1), após a subida ao campo 3 e finalização do processo de aclimatação para aguardar a melhor janela para o cume. Naquele ano a janela foi a melhor das piores: o clima não estava bom, as temperaturas, muito baixas e os ventos, quase todos os dias, passavam de 100 km por hora.

    Enquanto aguardávamos a nossa janela, um grupo coreano se perdeu no glaciar próximo ao Campo 4. O grupo foi resgatado, mas não sem sequelas: diversos membros foram amputados e, um desses casos, foi particularmente impressionante para mim, o de moça que voltou com um vazio no centro do rosto, onde antes se poderia encontrar seu nariz. Apesar de meu desejo de chegar ao cume, fiquei apavorada.

    Depois de três dias de espera, recebemos então uma previsão de -30º e ventos a 15 /20 km por hora, seria a melhor janela, decidimos seguir. Paulinha, porém, no início da subida para o Campo 2, achou que deveria voltar , que não estava bem o suficiente para tentar o cume, o que me abalou muito. Minha parceira e amiga, havíamos chegado ao cume do Aconcagua juntas, a partir do incentivo mútuo. Confesso que perdi o rumo. Não havia tempo para pensar, era madrugada, fazia frio. Era descer ou me encordar no grupo dos russos. O único pensamento mais ou menos lúcido, era o de prosseguir.

    Seguimos ao Campo 2. Dormimos no campo 2 e no dia seguinte seguimos ao campo 3. O frio ardia. Derreti água para o jantar e para o dia seguinte, que seria a nossa tentativa de cume. Comi e tentei dormir. Impossível. Nevava violentamente. Os russos incansavelmente faziam trabalhar suas pás para mover a neve das barracas; meu saco de dormir congelou. 1h30 da manhã. Impossível tentar o cume. O farfalhar dos russos fora da barraca me acordou do transe; iria com eles.

    Dada a desistência ampla, formou-se um grupo novo com 25 pessoas: 3 mulheres, eu brasileira, 1 polonesa, 1 turca e 22 homens, 2 americanos, 1 japonês, 1 polonês e o restante de russos.

    O casal de turcos desistiu, os americanos e o japonês também, o restante prosseguiu.

    Logo no início, uma tensão desesperadora: descuidei de minhas orelhas e acabei congelando-as. No desespero de tirar a mochila das costas em busca do aquecedor, suas alças também congelaram. Acabei ficando trás, junto com o grupo que desistiu. Havia dois guias no dia do cume um que abria a expedição e outro que fechava o grupo. O último então me deu o ultimato: ou você alcança os outros ou desce. Apesar das orelhas congeladas, que futuramente ficaram cobertas por bolhas, decidi continuar.

    Chegar ao fim compensaria o acidente. Andei o mais rápido que pude até conseguir alcançar um russo e a polonesa, que foram meus companheiros de escalada até o cume.

    O dia do ataque ao cume é puxado, saímos do Campo 3 ao invés do 4, o desnível não é tão grande, mas o trecho da escalada é enorme são 7 km de crista; não é tão íngreme, com exceção de um trecho conhecido como “Knife” – Faca - que chega a 50º de inclinação. Apesar de não ser exatamente um paredão, havia uma corda fixa e usamos o jumar por segurança.

    A minha maior dificuldade foi o vento forte, o frio e a neve fofa.

    Quando via uma parte plana, ficava feliz; felicidade efêmera, já que predominava a neve espessa na altura dos joelhos. Tinha a sensação de estar em areia movediça.

    A montanha em sua abertura infinita me fazia desconsiderar a neve, o frio, a dor. Ali, choveram estrelas cadentes; não fiz nenhum pedido, o que mais desejava estava se realizando. Saímos às duas horas do acampamento e chegamos às 13h no cume, quase o horário limite colocado pelos lideres da expedição. Do nosso grupo éramos os últimos, porém havia outros na montanha ainda.

    Estava extasiada. Não acreditei quando cheguei ao cume. Eu, e o russo, ex soldado siberiano. O busto de Lênin enterrado na neve dava ao lugar uma aura surrealista. Como era possível que aquele busto de bronze maciço tivesse sido carregado até li. Trabalho de comunistas de verdade: o cume parecia um altar ao comunismo, ao esforço da cultura em triunfar sobre a natureza. Mais incrível, portanto, era ter compartilhado esta experiência com um povo tão diferente. Um russo de um outro grupo me pegou no colo, efusivamente não acreditava que eu havia chegado ali.



    Começamos a descida que foi bem mais difícil que a subida. A minha companheira polonesa estava exausta e começou a cair a todo momento, tentamos ajudá-la mas em um determinado momento o guia que fechava a expedição ordenou que descêssemos. Não sabíamos o que poderia acontecer com ela.

    Prossegui com Serguei, o siberiano. Para mim a descida sempre é pior que a subida. Como o tempo fechava e abria, estava tomando o máximo de cuidado para ter um contato visual com as pessoas que caminhavam na minha frente e não perder a trilha, devido a neve, às vezes não se via as marcas de grampões no chão.

    Andamos sem parar ate o Campo 4, de lá já enxergava as barracas no Campo 3 , estava com dor de barriga e naquele momento por me sentir segura, fiz o pior erro possível: pedi ao Serguei para continuar sozinho, que iria no banheiro.



    Acabei congelando meus dedos ao tirar as luvas, fiquei desesperada, tive dificuldades de colocar a cadeirinha de volta e segurar as piquetas e quando me dei conta estava sozinha no glaciar. Não entendi como o Serguei tinha andado tão rápido, as pessoas visíveis eram formiguinhas à vista. Com muita dificuldade continue caminhando e avistei um dos guias de nosso grupo vindo em minha direção. Ele vinha para ajudar o guia que estava para trás com a polonesa e acabou me ajudando também. Caminhou comigo por um tempo, ajudou-me com a cadeirinha e as luvas. Tive grandes dificuldades neste final para chegar à barraca.

    Lá chegando, precisei de ajuda para, tirar os equipamentos e descongelar meus dedos no fogareiro.

    Mas o pior ainda estava por vir: com toda esta confusão achei que Serguei já estava em sua barraca, porém só no outro dia fiquei sabendo que ele acabou seguindo para o outro lado e caiu em uma greta. Ninguém da expedição percebeu que ele não retornou à barraca. O russo passou a noite no glaciar: sobreviveu porque fez um buraco com a piqueta e utilizou de abrigo, resistente e acostumado ao frio. No lugar dele com certeza teria morrido. Nunca mais o vi, mas recebi a noticia que com ele ficou tudo bem. A polonesa não teve tanta sorte, não sei como ela chegou à barraca e no dia seguinte não caminhamos juntas, mas no outro dia já no base avançado (Campo 1), encontramo-nos na barraca do médico da expedição e ela havia sofrido congelamento de 3º grau em três dedos de cada mão, teria de amputar os seis dedos.



    Esta montanha me deixou muito impressionada, tive um misto das melhores e piores experiências da minha vida. Naquele momento pensei que continuaria escalando, mas que deveria voltar a fazer coisas mais simples com menos riscos, ao menos, até possuir mais experiência. Mas como montanhista tem memória curta no próximo ano já estaria no Manaslu.

    A expedição do Vini optou por não tentar o cume devido ao mau tempo

    Eu fui a única brasileira que fez o cume naquele ano e me tornei a primeira mulher brasileira a escalar o Lenin.

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    Publicado em 05/07/2020 12:20

    Realizada em 05/07/2020

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