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Elas Outdoor Sp 05/31/2020 00:50
    Pico do Frade - Via Bananal

    Pico do Frade - Via Bananal

    Trilha feita em 2 dias, via Bananal com o grupo de amigos Calo no pé!

    Trekking Camping

    Experiências ao subir o Pico da Neblina – Yaripo, a montanha mais alta do Brasil


    Em dezembro fui convidada por meu querido amigo Magno da Roraima Adventure para
    participar de uma expedição experimental para o Pico da Neblina. Apesar de estar
    passando por um momento delicado – há seis meses não fazia trilhas longas, devido ao
    falecimento de meu sócio –, agi no impulso e aceitei. A proposta era irrecusável: o pico,
    há anos, fechado sem acesso à visitação, abria-se em oportunidade muito especial.


    O Projeto se chama Yaripo “Montanha dos Ventos”, nome pelo qual a montanha é
    conhecida pelos yanomamis, guardiões do local.


    Saindo de São Paulo, o primeiro destino é Manaus, depois São Gabriel da Cachoeira;
    até São Gabriel da Cachoeira existe a opção de voo da MAP (somente 2x por semana)
    ou lancha rápida (Tanaka, Lady Luiza). Fui de avião e voltei com a lancha, nem tão
    rápida assim, em suas longas 24 horas de viagem.


    De São Gabriel da Cachoeira são 4 horas de jipe até o igarapé Ya-mirim; neste local
    embarcarmos nas canoas chamadas de “voadeiras” em direção ao Rio Ya-Grande,
    descendo até o rio Cauaburis, e então subimos o Cauaburis até a foz do Igarapé
    Maturaca, entrando na Comunidade indígena de Maturaca. Este percurso deveria ser de
    aproximadamente 7 horas, porém como o rio estava bem baixo levamos cerca de 14,
    distribuídas em dois dias, entremeados por um acampamento na selva.


    No belíssimo caminho, é possível ver vários pássaros: garças, mutuns, tucanos, araras,
    jacutingas desfilam entre as margens do rio em toda a exuberância da Floreta
    Amazônica. O verde só é interrompido, quando se passa por alguns vilarejos
    ribeirinhos. Porém, a voadeira não é nada confortável e, diante de um período de seca, o
    sol estava extremamente forte e nos castigou durante todo o percurso.


    Na chegada fomos recebidos pelas autoridades yanomami, com sua pintura corporal,
    ornamentos bélicos e votos de boas-vindas em sua própria língua.
    Para mim, ter a oportunidade de convivência com o povo yanomami foi única. Subir o
    pico da Neblina não se resumiu a mais uma trilha para constar no currículo, mas, ao
    contrário, a estar próxima a um dos povos mais antigos do planeta e poder experimentar
    sua cultura, escutar suas histórias. Ponto alto foi a chance de presenciar uma de suas
    cerimônias espirituais, na qual se fez uso do “paricá”, parecido com a ayahuasca, mais
    famoso no Sudeste. Foi como estar imersa em outro mundo por uma breve
    temporalidade.


    O parque foi reaberto com o intuito de trazer renda à comunidade, então nesta
    expedição os indígenas são nossos guias e cozinheiros, assessorados pelas operadoras
    credenciadas, de modo que não é possível fazer esta travessia de forma autônoma.

    Fizemos o trekking em oito dias. A trilha é mais fácil do que imaginei, apesar de não ser
    tão íngreme, o aclive se acentua progressivamente; próximo ao cume existem passagens
    por cordas, correntes e via ferrata. Há ainda um difícil trecho de brejo no caminho do
    aclive.
    A caminhada lembra muito a Mata Atlântica, de maneira que se assemelha também às
    montanhas do Paraná (Pico do Paraná, Marumbi e outros), mas um pouco mais úmida.
    A diferença flagrante fica por conta das árvores altíssimas e imponentes; senti-me
    caminhando em um cenário de conto de fábulas; posso garantir que todos os mundos
    encantados dos contos realmente existem e se eu ainda não os conheci é porque ainda
    não viajei o suficiente.


    Devido à umidade excessiva e ao calor intenso do início, existe um desconforto
    considerável. Fiquei molhada todos os dias do trekking, começamos com uma sensação
    térmica de uns 36 graus, mas próximo ao cume a temperatura chega à casa dos 10 graus.
    Afora as intempéries climáticas, há a companhia constante de enxames de mosquitos;
    para piorar, havia surto de malária na aldeia. De resto, as dificuldades são as
    costumeiras das travessias em território nacional, como a Transmantiqueira, exigindo o
    mesmo cuidado e preparo com o condicionamento físico.


    Acredito que nós mulheres, apesar de termos menos força física, temos facilidade de
    nos adaptar à diversidade e ao desconforto, já estamos habituadas a isto, então não tive
    grandes problemas. Entretanto, quase todos participantes, inclusive os indígenas,
    sentiram algum tipo de problema nesta expedição, como por exemplo, disenteria ou
    desidratação. Fui poupada e não senti absolutamente nada.


    O nosso cronograma foi o este:

    1º dia de trilha – Saímos de Maturacá e subimos o rio Cauaburis por aproximadamente
    6 horas (este tempo foi maior que o previsto devido à baixa no nível das águas do rio).
    Chegamos ao igarapé Irokae, onde se inicia a trilha a 150 m de altitude. Estava previsto
    para dormimos no acampamento Irokae, mas acampamos no Inga, andamos somente 2
    horas, a trilha é fácil, apesar de muito quente. Em todos os acampamentos dormimos em
    rede. A estrutura é montada pelos indígenas, com agilidade hipnótica ao armarem as
    tendas com cipós.


    2º dia de trilha – Acampamento Ingá a Bebedouro Novo – São 8 horas de caminhada
    aproximadamente, cerca de 17 km. Chegamos a 860 m de altitude. Este é dos dias mais
    difíceis, devido ao calor extremo, cheguei desidratada, mesmo com a ingestão de 4 litros
    de água. Nosso guia oficial Edivaldo ficou mal e teve de ser substituído por Renê, ao
    menos até nosso retorno para Bebedouro Novo. Neste acampamento existe um
    maravilhoso banho de cachoeira e o lindo visual do Rio Cuiabixi.


    3º dia – Acampamento Bebedouro Novo ao Acampamento Laje – à 1619 m de altitude,
    a temperatura é bem mais agradável. Foram 5,5 km de caminhada, neste trecho
    encontramos com porcos do mato. Respeitosamente, o guia sugeriu que esperássemos
    até que o bando se espalhasse, pois pode se tornar agressivo. Foram os únicos animais
    que cruzaram nossos caminhos, além dos pássaros sempre presentes, e uma singela
    cobra. Os animais se escondem diante da presença humana.


    4º dia – Acampamento Laje até o Acampamento Areal – base do Cume – 2022 m de
    altitude, 4,4 km, andamos por 5 horas, a trilha é bastante alagada o que dificulta sairmos
    do lugar, mas junto à área de pântano existe uma infinidades de flores. Fiquei tão
    maravilhada com aquele jardim pantanoso que acabei gostando da experiência de
    afundar nas poças. A mata já fica bem mais baixa, acompanhando o movimento da
    altitude.


    5º dia (sexta-feira 14/02/2020) – Cume do Yaripo – Pico da Neblina – altitude 2.994m.
    O dia mais esperado da expedição, inicia-se com uma área alagada, depois vias ferratas,
    cordas, correntes e o último trecho é composto por uma escalaminhada. É claro, que
    para nossa sorte, quando chegamos, o cume estava completamente nublado, justificando
    seu nome em português. Mas acho que prefiro, Yaripo – montanha dos ventos. O cume
    fez a felicidade de todos, inclusive de nossos guias yanomamis.


    6º dia – Acampamento Areal até o Acampamento Bebedouro Novo – Fomos
    recepcionados por nosso guia Edvaldo e a noite no jantar eles nos presentearam com
    várias historias e fecharam com cantos yanomamis. Estar na selva, no meio da floresta,
    dormindo em redes e embalados por um canto dos guardiões da floresta é uma
    experiência rara. Sou muito grata por poder vivenciar este momento. São experiências
    como essa que me motivam a viajar cada vez mais. Não quero acumular nada além de
    lembranças que guardarei para sempre em minha memória.


    7º dia – Acampamento Bebedouro Novo ao Acampamento Inga.


    8º dia Acampamento Inga à Comunidade de Maturacá
    Posso dizer foi que esta expedição muito especial, desde a minha chegada, de onde
    visualizei um enorme tapete verde de tonalidades diferentes, à minha estadia em São
    Gabriel e todas as pessoas maravilhosas que lá conheci. Ressalto com especial carinho
    minha interação com os yanomamis, ter podido participar do Projeto Yaripo e chegar ao
    cume da montanha mais alta do Brasil.

    Desejo todo o sucesso ao povo Yanomami neste projeto de reabertura do parque e que
    tenhamos algo para partilhar com eles, assim como partilharam tanto conosco. Em
    tempos como esses, é o caso de reafirmar que sua cultura faz parte do Brasil, sendo uma
    das nossas maiores riquezas; vale muito mais que qualquer pedra preciosa ou ouro que a
    floresta possa nos dar.

    por Claudia Bento @claudiabento • ElasOutdoorSP

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    Published on 05/31/2020 00:50

    Performed from 03/14/2020 to 03/15/2020

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    813

    1 Comments
    Ana Retore 05/31/2020 10:06

    Muito legal! Parabéns pelo relato e pela aventura, já estou seguindo vocês 🤘🏻

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