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Everton Leite 12/03/2023 19:59 con 1 participante
    Via 15 de Novembro - Agulhinha da Gávea

    Via 15 de Novembro - Agulhinha da Gávea

    Escalada na via 15 de Novembro (2° IIIsup E2 D1), localizada na Agulhinha da Gávea

    Montañismo Escalada

    Na aula da Agulhinha da Gávea durante o Curso Básico tive a oportunidade de fazer talvez a via mais bonita de toda a montanha, a Olimpo. Apesar disso, a experiência não havia sido das melhores, tanto pelo dia chuvoso que foi quanto pela característica da via de possuir diversos diedros e oposições em toda sua extensão, que toca no meu ponto fraco. Por esses motivos, desde então queria voltar lá em condições mais favoráveis e fazer uma das vias mais acessíveis, como a Jorge de Castro e a 15 de Novembro. Além disso, a Luíza havia perdido essa aula, e seria um bom momento para ela conhecer o lugar.

    Já sabia onde ficava a base da Olimpo, e sabia também que a 15 de Novembro ficava perto dali e que compartilhava a mesma trilha de aproximação, o que tornaria o acesso à base bem mais fácil. Esse foi, sem dúvida, o principal fator para escolher ela sobre a Jorge de Castro. Além disso, ela permite o uso de friends e nuts opcionais em diversos pontos, algo que muito me agradou já que meus móveis estavam aguardando ansiosos por uma chance de sentir o gosto da pedra. E por serem opcionais eu não ficaria preocupado em estar protegendo a via de forma errada, já que nunca havia utilizado eles pra valer.

    Apesar de pensar que só conseguiria visitar a Agulhinha no inverno por conta das chuvas, surgiu essa janela de 5 ou 6 dias de tempo seco, o que foi uma surpresa ótima para uma semana em que eu estava procurando uma via que não fosse exigente para os pés, já que a queda da Coringa ainda estava cobrando suas parcelas. A preocupação era apenas com o sol, mas era algo que estávamos dispostos a encarar e que no fim das contas acabou nem dando as caras.

    Conseguimos estar na porta do parque às 7:50, 10 minutos antes da abertura do portão, e fomos as primeiras pessoas do dia a subir após a abertura. Como já sabia da concorrência que a 15 de Novembro possui, ser os primeiros a entrar nela seria crucial para terminarmos o quanto antes e evitar o calor. Preocupação que se pagou, já que 15 minutos depois de chegarmos na base surgiu uma cordada de 3, que teria nos atrasado completamente se fossem antes de nós. Apesar de ter uma boa noção de onde seria a base, nunca havia estado lá, e o crux do dia foi justamente encontrar o local correto. Depois de investigar dois possíveis locais, localizar alguns grampos e tentar comparar com o croqui, acabei escolhendo o lugar errado, é claro. Por sorte, o guia da cordada que chegou depois de nós sabia qual era a base verdadeira e salvou a nossa pele. A essa altura já estávamos devidamente equipados, então partimos rumo ao ponto correto para adiantar a escalada e evitar o trânsito.

    O visual do primeiro grampo da via

    A via se inicia em uma grande rampa de 1° grau com um grampo bem no seu fim, onde começa de fato a escalada. Ela segue sempre acentuadamente para a esquerda até a P2. Optamos por subir logo até esse grampo e sair dele para poupar tempo. Havíamos decidido também que eu começaria guiando a primeira enfiada e revezaríamos os esticões até o fim. Dessa forma eu guiaria o crux e a chaminé. De cara já fui logo colocando os friends 2 e .4 na parede, uma vez que a primeira enfiada possui diversas fendas e reentrâncias que permitem essa colocação. Realmente não eram necessários, mas foi uma oportunidade única de praticar em um ambiente seguro e controlado. Os grampos dessa enfiada eram curiosos, alguns sendo de um modelo mais antigo, com o olhal em formato de anel soldado no tarugo, e outros extremamente grossos e superdimensionados, mas todos em bom estado.

    Nesse começo já deu pra sentir o estilo da escalada da Agulhinha, que envolve não só pedra como também uma mistura com a vegetação, algo bem natural e orgânico mesmo. E cactos, muitos cactos, além de outras plantas espinhentas que a todo momento te lembram de ter cuidado com onde colocar as mãos. Juntamente com o outro guia cheguei na P1, que como todas as paradas da via possuía um bom e confortável platô capaz de acomodar várias pessoas ao mesmo tempo. Como eu subi primeiro, a responsabilidade de zelar pelo bom manejo das cordas e evitar que elas se embolassem era do segundo guia, que além de tudo estava subindo com duas cordas por se tratar de uma cordada de 3. Mas segundo a Luíza, as cordas estavam uma bagunça e ela precisou se desembaraçar algumas vezes até chegar na parada. Tentamos ser os mais ágeis possíveis para deixar a outra cordada pra trás, e tão logo ela se ancorou montei a seg e ela seguiu para guiar a trilha que é a segunda enfiada. Fomos rápidos o suficiente e consegui sair antes do outro guia, o que separaria de vez as nossas cordadas.

    Vendo qual nut ficava melhor no lance do Tião

    Chegando na P2, de cara já se vê o lance do Tião, o crux de IIIsup da via. É uma série de pequenas fendas de cerca de uns 5 ou 6 metros onde é possível melhorar a proteção com quantos friends e nuts houverem disponíveis no rack. Como queria experimentar, não poupei equipamento e usei os friends .5, .75 e 1, além de um stopper 8 meio duvidoso. Acho que mais do que proteger o lance, as proteções extras trouxeram conforto mental, necessário já que o lance não é bobo apesar de fácil. A parte mais difícil foi sair do trecho das fendas e vencer uma espécie de barriga. Por sorte consegui costurar antes e estava mais tranquilo. Foi tentador ter roubado e me puxado pra cima pela costura, mas resisti à tentação e consegui fazer o lance em livre, coisa que tenho me forçado mentalmente a fazer, já que nem sempre vai ser possível roubar e é bom me acostumar com esse tipo de pressão momentânea. Essa enfiada é composta basicamente desse único lance e logo acima já se encontra a P3, que prepara a via para mudar de direção e seguir uma longa diagonal para a direita. A Luíza subiu e já se preparou para guiar o próximo esticão, mas não sem antes aproveitarmos o ponto e tirarmos algumas fotos com as nuvens baixas ao fundo.

    A leveza de quem acabou de passar pelo crux

    Essa quarta enfiada é uma diagonal de 2° grau de 45 metros, que apesar de fácil dá um barato por conta da exposição e da verticalidade, tanto para quem guia quanto pra quem vem depois. No trecho inicial é preciso colar o corpo na pedra para não ser jogado pra fora. Logo me juntei à Luíza na confortável parada em árvore da P4 e dali segui para passar pela Chaminé da Unha. Antes de chegar nela, ainda há uma passada de 3° grau para ganhar altura e subir em alguns blocos, que resolvi proteger com uma fita entre as pedras e costurar para evitar qualquer infortúnio. Não sabia o que esperar dessa chaminé, mas pelo tamanho do bloco imaginava ser um trecho de pelo menos uns 6 metros escalando nesse estilo. Acabou que, apesar de precisar jogar a mochila entre as pernas por conta da largura estreita, é mais uma escalada normal do que uma chaminé de fato, começando com alguns blocos de pedra que já te dão um certo ganho de altura e terminando num trecho de 2 ou 3 metros onde é possível usar as agarras da face da unha para vencer o lance. É um pouco sofrido, não há como negar, mas foi bem mais simples do que eu havia antecipado. Ainda tive que pensar um pouco e patinei em alguns momentos, já a Luíza passou de maneira bem mais limpa do que eu. Esse ponto, no topo da unha, tem uma vista privilegiada da floresta e boa parte do maciço da Tijuca, do Cristo aos picos. Daria pra ver também a Pedra Bonita se não fossem as nuvens baixas, mas nada a reclamar, já que estavam adicionando um charme extra na paisagem, que apesar de cinza pelo dia estar nublado, trazia uma atmosfera de isolamento de montanha todo especial.

    O topo da Chaminé da Unha visto da P4

    No topo da chaminé

    Ainda restavam poucos metros até o começo da trilha para o cume, com apenas o lance do upa entre nós e o fim da via. Deu pra entender perfeitamente o motivo desse lance ter esse nome, já que é um pé bem alto onde é preciso dar um galeio, confiar no pé e ir de uma vez só.

    Com isso, fechamos a via em 3 horas, que pareceram ser bem menos do que foram, como sempre acontece. Dali até o cume foram 5 minutos e depois mais 20 minutos até o estacionamento. Demos uma passada na rampa de voo livre e aproveitei para investigar o começo da trilha para a Lionel Terray, que espero visitar daqui a não muito tempo.

    Everton Leite
    Everton Leite

    Publicado en 12/03/2023 19:59

    Realizada en 11/03/2023

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    Luiza Bastos Ribeiro

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