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Fabio Almeida 30/06/2017 12:03
    Pedal, Remo e Caminhada por Bariloche

    Pedal, Remo e Caminhada por Bariloche

    Um pouco do que dá para fazer no norte da Patagônia durante os meses mais quentes.

    Canoagem Mountain Bike Hiking

    No fim do ano passado realizei um sonho há muito sonhado: pedalar na região de Bariloche, na Argentina. Se ainda não foi a cicloviagem pelos lagos andinos, conseguimos, eu e a Letícia, fazer vários passeios pela cidade. Seja de bike, de caiaque ou por trilha. Nos dias que passamos por lá pudemos confirmar a beleza da região, que está na ponta norte da Patagônia e é marcada pelos Andes a leste e por uma região árida a oeste. Abaixo, um pequeno relato de nossas aventuras por lá.


    Dia 1

    Muito cansados da viagem, acordamos bem tarde no primeiro dia. Montei as bikes e fomos da Estancia del Carmen ao supermercado, no Centro da cidade. Não é um trajeto curto: foram 20 quilômetros só de ida. Passamos pela Secretaria de Turismo e pegamos vários panfletos, incluindo sobre a “Semana de Turismo de la Aventura”. Compras feitas (incluindo cuia e erva de chimarrão), matamos um litro de suco de laranja e saímos daquele centro agitado.

    Dia 2

    Acordamos decididos a tomar sol e, talvez, entrar na água do Lago Gutierrez, que ficava próximo ao nosso hotel. Com o clima muito seco, a região tem grande variação térmica. O dia começa com 6 graus e atinge sua maior temperatura, perto dos 30 graus, por volta das 17h. Como saímos do hotel às 11h, ainda estava frio. Pra passar o tempo, fomos dar uma volta pelo lago.

    Sem querer, descobrimos uma das sedes do parque nacional Nahuel Huapi. Na casa do guardaparque conseguimos informações e mapas sobre passeios. Nos apresentaram três trilhas para caminhada, com duração de 15 minutos , 2h ou 5 horas. Também nos apresentaram uma trilha de bike, que começava na parte alta e tinha sete quilômetros de extensão.

    Naquele primeiro dia fizemos a pequena caminhada de 15 min, até a Cachoeira dos Duendes. Bacana, mas é uma pena que os fumantes não respeitam a proibição exposta nas placas. Na volta, o calor ainda não tinha chegado e decidimos deixar o banho para outro dia.

    De volta ao hotel, acertei um passeio de caiaque para o dia seguinte. O roteiro, com pouco mais de duas horas, percorreria uma distância de seis quilômetros. Como a operadora Cuadrante Sur integrava a semana de turismo de aventura, iríamos os dois pelo preço de um.

    Dia 3

    Após uma rápida instrução, embarcamos em um caiaque duplo nas tranquilas águas do lago. Muito atencioso, o guia Pablo nos deu várias informações ao longo da remada. Nos contou a história do Francisco “Perito” Moreno, que no final do século XIX foi contratado pela Argentina para fazer levantamentos que ajudassem a resolver um impasse territorial com o Chile. Resolvida a questão, ele recebeu, como pagamento, 580 quilômetros quadrados de terras na região. No mesmo momento, doou grande parte de volta ao governo, com as condições de que fosse transformada em parque e que este fosse aberto ao público. Nascia em 1905 o parque Nahuel Huapi, o primeiro da Argentina. O nome de Moreno também é recordado de várias formas na Argentina: Glaciar Perito Moreno, a localidade Perito Moreno e o Parque Nacional Perito Moreno; dentro da região da Patagônia na maioria das localidades existe uma rua que leva seu nome, inclusive em Bariloche.

    Remamos 3km por belíssimas águas azuis e paramos em uma praia de nudismo. Bem vestidos, tomamos chás e batemos bons papos. Empolgado pelo chá preto, mergulhei nas águas de 12 graus. Gelado na medida para renovar as energias para a volta. Durante o retorno, Pablo nos deu dicas de tudo: de garrafas térmicas para matear nas aventuras a restaurantes para comer carne em Bariloche. Também recomendou bastante o camping do parque. Muito limpo e organizado, com respeito à lei do silêncio após as 22h.

    Após a remada, fomos ao centro novamente, sacar pesos e passear. O transito já estava bem mais agitado, com várias “finas educativas”, principalmente por parte dos motoristas da Autobusses Bariloche. Deu pra xingar em vários idiomas. No centro, caminhamos bastante pela Calle Mitre, principal rua de comércio, que está em reforma para se transformar em uma rua compartilhada, com calçadas e via no mesmo nível. Por falta de luz, voltamos ao hotel sem conseguir sacar dinheiro. Chegamos às 21h, ainda com luz natural.

    Dia 4

    Fomos experimentar um dos restaurantes indicados pelo Pablo. Escolhemos o Ojo de Bife, um corte semelhante ao nosso Contrafilé, mas muito mais macio. Deliciosa mesmo! Como é comum na região, a carne vem sem nenhum acompanhamento. Pedimos batatas fritas e salada completa. Saiu meio caro (620 pesos / R$ 130), mas valeu a pena. Depois sentamos na grama da praça principal, para fazer alguma digestão.

    Dia 5

    Para variar, decidimos fazer a trilha de duas horas do parque. Saímos um tanto cedo, por volta das 10h, e fomos pedalando até a entrada. Deixamos as bikes trancadas em frente ao guardaparque e seguimos para o “sendero”. A trilha começa com muita subida e grandes moscas incomodando, mas depois fica bem bacana. Os cenários se abrem e a vegetação é parecida com a do nosso cerrado.

    Descemos até a Playa Muñoz e fizemos o piquenique. Pouco tempo depois começaram a chegar os adolescentes e as crianças das diversas excursões que estão sempre no parque. O material de divulgação diz que são 10km de ida e volta, mas marcamos 12km no GPS.

    Dia 6

    De volta a ativa, fomos conhecer a trilha de mountain bike do parque. A subida é muito suave, apesar de longa. São sete quilômetros de estrada de terra com quase nehum movimento. A vista é bela e o clima estava agradável. No alto, a base da estação de esqui do Cerro Catedral. No fim de novembro não passava de uma cidade fantasma. Comércio, restaurantes, hotéis e residências: tudo fechado. Tiramos algumas fotos e partimos logo em direção à trilha.

    Ela começa ao lado de um dos enormes estacionamentos, ainda fora da área do parque. E este é o seu pior trecho. Pedalamos por em rios geladíssimos e por lamaçais. Pensei seriamente em sugerir à Lê que voltasse pela estrada, mas ela, apesar insegura, continuava a enfrentar tudo aquilo.

    Logo chegamos à placa que marcava o início do trecho do parque. Ela indicava que seriam sete quilômetros de diversão, com nível avançado. Mostrava também que deveríamos, obrigatoriamente, usar capacete. Mas eles tinham ficado no Brasil, então fomos sem mesmo, tomando cuidado adicional.


    Ela já começa com descidas de terra em zig-zag. Curvas bem feitas, com laterais altas, botaram um sorriso no rosto. De longe, só ouvia a Lê se divertindo também: “Melhor que montanha russa”, disse ao me alcançar.

    Um pequeno trecho com variações de subida e descida e chegamos ao alto de um morro de onde víamos o Lago Gutierrez, abaixo, e os picos nevados atrás. Aí veio a parte mais desafiadora, com alguns degraus de pedra e trechos bem travados. Com mais cuidado, mas sempre montado, segui me divertindo muito.

    Com menos pedras, mas grande inclinação, veio a parte final da descida, onde deixei rolar de vez. Aguardei a Lê, feliz da vida, em uma pequena praia, que tinha uma árvore enorme tombada. Uma bela escultura da natureza. Após algumas fotos, seguimos para o fim da trilha, com um pequeno deslocamento até a sede do parque.

    Chegamos ao hotel imundos de lama, mas realizados.

    Dia 8

    O dia era de realizar um desejo da Lê: conhecer o lado de lá. Explicando: pelo caminho que vai ao centro, sempre virávamos à direita ao chegar ao lago Nahuel Huapi. Desta vez, seguimos à esquerda. Sem objetivo definido, sabíamos apenas que lá havia um lugar chamado Llau Llau. Fomos pedalando pelo sobe e desce da costa do lago, curtindo o visual diferente e o transito mais tranquilo. Começamos também a usar o acostamento, de terra ou asfalto, para nos proteger dos Autobusses Bariloche nas subidas mais longas.

    Lá pelas tantas, decidimos chegar a “algo” (uma praça ou comunidade) para comermos o lanche e voltarmos. Pouco depois, visualizamos o imponente hotel Llau Llau. Subimos até ele e descemos de volta, um pouco decepcionados por não poder chegar muito perto. Logo em frente há um porto de onde saem grandes barcos que fazem passeios pelo lago. Não são programas baratos, com o mais barato custando 780 pesos por pessoa. Fizemos ali nosso lanche, pensando se voltaríamos pelo mesmo caminho ou seguiríamos em frente, contornando a ponta e reencontrando o caminho original um pouco mais abaixo. Apesar desta volta acrescentar nove quilômetros, tivemos a feliz ideia de percorre-la.

    Logo no começo, a estrada se estreita e o transito cai ainda mais. Entramos nos domínios de um parque municipal e a vegetação, que já era bela, se torna ainda mais intensa. Fomos curtindo a vista cada vez mais, com mirantes que nos davam belas vistas dos lagos e picos nevados. Subidas e descidas se alternavam, mas não dávamos bola, tudo estava muito bom.

    Até que, ao concluir uma subida eu paro para esperar a Lê e percebo que estou em frente à cervejaria Patagonia. Com a chegada dela, bastou nos olharmos para decidirmos conhecer. Um papo com o porteiro e entramos pedalando, achando que era apenas uma unidade industrial aberta à visitação. No entanto, tratava-se do mais belo bar/restaurante que já estivemos.

    Ótima música, decoração rústica, mas aconchegante, e a paisagem mais bela de todo o trajeto. Lagos, ilhas de floresta e picos nevados ao fundo. Após um bom tempo embasbacados decidimos que teríamos que beber uma, ao menos. Seria um pecado sair de lá sem isso, ainda que tivéssemos uma boa pedalada de volta. Tentei experimentar a Porter, que há tempos me desperta curiosidade por ilustrar a minha camisa preferida de pedal, mas estava em falta. Fui “obrigado” a seguir a Lê e pedir uma Wiess. Como já estava tarde, pedimos sanduíches de cordeiro, com ovo e bacon. Pra fechar, batatas rústicas. Se isso não é o paraíso, chegou bem perto.

    Fomos voltando sem pressa, vivendo cada uma das subidas e descidas do retorno, que tinha mais de 30 km. O dia seguia belo, mas o cansaço foi batendo. Ao chegar ao mercado, a Lê tocou direto. Fiz as compras e me encontrei com ela no meio da subida. Fomos conversando e pouco depois chegamos à estância. Sem demora, fomos para a piscina. Exausto, dormi às 20h, com o dia ainda claro.

    Dia 10

    Fomos em busca de um caminho não convencional, que tracei no GPSies. Uma rota de ripio pouco utilizada, que sai do acesso principal ao Cerro Catedral e leva até o Circuito Chico, contornando o lago Moreno Este. O caminho começa com um problema comum a cidades brasileiras: é utilizado para descarte de lixo. Muita coisa que poderia até ser reciclada, como plástico e papel, é jogada na beirada das estradas, juntamente com TVs de tubo e outros eletrodomésticos. Mas logo esta má impressão passa e conseguimos curtir uma estrada com pouquíssimos morros, quase nenhum movimento e belas paisagens.

    Uma antiga ponte passa sobre rio que abastece o lago Moreno Este com água azul e gelada vinda da neve. Logo alcançamos as encostas do lago, parando para ver um pouco de suas belas paisagens.

    Tocamos até o Circuito Chico, onde uma lanchonete instalada ao lado de um rio cheio de corredeiras oferece lanches e bebidas a preços justos. Na volta, paramos para conhecer a Colonia Suiza. Fundada em 1899, abrigou imigrantes europeus e hoje ainda é referência em comida típica da Suiça. Fomos “obrigados” a comer novamente: salsicha, chucrute, strüdel e chope Ipa.

    Aproveitando o dia longo, subimos novamente o Cerro Catedral. Eu desci pela trilha do parque Nahuel Huapi e a Lê pela estrada de terra. Ainda um pouco bobo pelo chope, tomei um tombo besta em uma poça de lama e percebi que deveria maneirar na velocidade.

    Encontrando a Lê, subimos de volta à estância e fechamos 60 km, com 1.300 metros de subida acumulada.

    Com este passeio um tanto quanto puxado para quem, como a Lê, estava há mais de seis meses sem pedalar, encerramos as aventuras por Bariloche. A viagem foi além de nossas expectativas, com diversas opções de pedaladas e outros esportes. Vale muito a pena visitar a região, em especial fora da alta temporada de inverno, quando não há muito o que se aventurar além da neve e os fias ficam muito curtos. Tudo isso só reforçou a vontade de percorrer a região em uma viagem como a feita por um grupo de amigos em 2012, o Circuito dos Lagos Andinos.

    (Muito) Mais fotos no Flickr.

    Fabio Almeida
    Fabio Almeida

    Publicado em 30/06/2017 12:03

    Realizada de 20/11/2016 até 05/12/2016

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    5 Comentários
    Ana Retore 30/06/2017 17:49

    Caraca! Só fotão!

    Renan Cavichi 01/07/2017 11:00

    Demais Fabio! Bem-vindo! Estamos indo pra lá daqui duas semanas :)

    Renan Cavichi 01/07/2017 11:00

    Mas já deu vontade de voltar com tempo quente vendo as fotos! rsrs

    Fabio Almeida 06/07/2017 17:01

    Obrigado, Ana!

    Fabio Almeida 06/07/2017 17:02

    Que massa, Renan! Com a neve os programas são outros, mas tb deve ser bem divertido.

    Fabio Almeida

    Fabio Almeida

    Florianópolis - SC

    Rox
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    Jornalista e cicloturista, não obrigatoriamente nesta ordem.

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