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Felipe Romano 29/06/2022 16:30
    Escalada: Erupção e Era do Gelo, Andradas/MG

    Escalada: Erupção e Era do Gelo, Andradas/MG

    Relato de escalada das duas vias tradicionais na Pedra do Elefante em Andradas/MG.

    Escalada Montanhismo

    Há alguns anos ensaio escalar a lendária via Face Leste do Pico Maior. Mais precisamente, 2020 seria o ano, se não fosse a pandemia. 2021 foi um ano atípico, ainda com a pandemia, mas com um projeto pessoal que durou mais de uma gestação (no caso, minha parede de escalada caseira). Chegamos em 2022 então, e com a parceria do Fernando, também de Americana, realizamos alguns treinos visando o objetivo maior. Fizemos algumas escaladas em móvel na Pedra do Pântano em fevereiro, um treino de chaminé e trilha em Atibaia em abril e, desta vez, em 14/5/22, o treino seria uma prévia da Face Leste. Aproximação semelhante em questão de peso, desnível e distância, e uma escalada de 320 metros divididos em 11 cordadas (A Face Leste se divide em 16 cordadas somando 670m).

    Apesar do comprimento total da escalada no dia ser bem inferior, consideramos também a dificuldade geral, e quantidade de cordadas, que se aproxima mais. Além de não começarmos tão cedo quanto iremos começar a Face Leste, e ter que rapelar 160m entre uma via e outra, que não será necessário no Pico Maior. Ainda, para este dia planejamos utilizar exatamente o mesmo equipamento (mochila, roupas, etc.), com exceção da quantidade de proteções móveis e costuras, que será menor na Leste.

    Com o planejamento pronto, saímos de Americana na sexta-feira às 19h30, e chegamos as 21h30 no abrigo Bramido do Elefante do Juliano. Local excelente para pernoitar, limpo, organizado e com uma vista única das principais pedras para escalada da região. Após um pouco de cerveja e conversa fomos dormir às 23h, e acordamos às 6h. O frio da noite foi bom para o descanso. Às 7h15 paramos o carro antes da porteira que marca o início da trilha da Pedra do Elefante, e iniciamos a caminhada.

    Após 50 minutos, estávamos na base da via Erupção. Vinte minutos para respirar e se preparar e estávamos prontos. Em 2019, como parte da preparação para escalarmos outra via dos Três Picos, a CERJ do Capacete, fizemos a Erupção. Daquela vez o Fernando guiou a primeira cordada e fomos revezando. Então nada mais natural do que invertemos. Iniciei a primeira guiada às 9h20. Para clipar a primeira chapa tem que subir numa laca meio suspeita, e há opção de usar ajuda de uma árvore (eu usei). Logo passei esse trecho e fui me habituando com a leve exposição até as chapas seguintes. No fim da via não há mais chapas, mas uma fenda onde encaixei dois ou três bons friends. Fernando logo subiu e emendou a segunda cordada, esta praticamente toda em móvel, com exceção de uma chapa solitária no lance mais vertical e liso. O tempo estava ótimo! Nublado e temperatura amena.

    Foto tirada na primeira parada

    Foto tirada da primeira parada

    Na terceira cordada a saída é o crux técnico da via. Praticamente sem pés e com mãos medianas, esse lance fica bem na borda da “orelha do elefante”, então é extremamente aéreo, embora muito protegido, já que a chapa fica logo no meio do lance, ao alcance de quem está na parada. Da outra vez o Fernando roubou na costura, e eu também. Dessa vez quis tentar fazer o lance em livre. Ganhei altura, estava bem, usei os pés de oposição em aderência, fiz força, estava já com o lance praticamente ganho com um pé alcançado um platôzinho, mas do nada o outro escorregou. Tudo bem, roubei na costura, ganhei o platô e segui tocando. O resto dessa cordada (e das outras) é extremamente protegido, e o grau é bem tranquilo, na faixa do quarto, no máximo um quinto grau fácil. Então a cada duas chapas eu e o Fernando pulávamos uma, para dar um treino a mais pro psicológico. Assim tocamos rapidamente até o cume, onde chegamos às 11h, totalizando 2h40 de via em 6 enfiadas (as duas últimas eu emendei pois era um costão fácil e curto).

    Após 20 minutos de descanso e “almoço” começamos a procurar a base para o rapel pela via Era do Gelo (a qual faríamos na sequência). Após andar um bocado pelo costão exposto, só encontramos a parada da Nimbus, que está mais distante, e não achávamos de jeito nenhum última parada da Era do Gelo. Resolvi rapelar da parada da Erupção, e descer na diagonal par a esquerda, no sentido da Era do Gelo. Após uns 15 metros encontrei a parada, bem escondida mesmo. Dali descemos 6 lances de rapel rapidamente em sincronia, em aproximadamente uma hora. Mais uns 15 minutos no chão e estávamos prontos pra encarar esta via, que tem aproximadamente 160 metros, em graduação 4º V E2.

    Foto da base da Era do gelo

    Iniciei a via guiando. Muita gente faz a primeira cordada da via Vulcano, que é bem mais protegida e acaba dando no mesmo platô da Era do gelo, porém, para experimentar o psicológico, e pelo fato de nunca ter guiado esta cordada, fui pela via original. Talvez pouca gente entre nesta enfiada pois a primeira, e única, chapa da via está a uns 10m do chão, e praticamente não há proteção possível antes dela. Eu ainda coloquei um micro-friend bem suspeito pouco antes da chapa, mas depois subi a fenda para a esquerda e coloquei dois bons friends até ganhar o platô. Fernando subiu rapidamente e emendou a segunda cordada, que já começa com o crux em regletes, trecho mais interessante da via (além do esticão da 3ª enfiada). Apesar de ter desviado da via, e entrado na “Homem Elefante”, alertei o Fernando, que fez uma certa travessia exposta e voltou para a via original. O sol começava a esquentar a rocha, então subi logo para não nos deixar prejudicar muito.

    A terceira cordada tem um esticão considerável, algo entre 10 e 15 metros, numa graduação não tão óbvia assim, já que ela segue toda em aderência, com poucas agarras. Sem pensar muito fui tocando tranquilamente, satisfeito com minha calma. Na sequência Fernando subiu e emendou guiando a quarta cordada. Agora a sapatilha já começava a apertar, principalmente no calcanhar, e o calor crescente piorava a situação, mas nada que preocupasse a conclusão da via. Subi de segundo, emendei a quinta cordada, um lance bem prazeroso entre agarras pequenas, grandes, e aderências, e estiquei o restante da via, chegando no cume por volta das 15h. Dali encaixei um friend pequeno em uma grande laca e dei segurança para o Fernando. No total levamos 2h20 do chão ao cume, nada mal, considerando que era a segunda via tradicional do dia. Somando ambas, foram praticamente 5 horas em 10 cordadas.

    Após meia hora no cume, estávamos prontos para a descida, dessa vez pela trilha por trás da pedra. Ambos tínhamos descido este caminho em ocasiões distintas, mas não lembrávamos exatamente por onde começava. Fomos à esmo, por meio da baixa relva seca, e logo encontramos a trilha. Após diversos zigue-zagues entramos em mata mais fechada, passamos pela conhecida cachoeira, um pasto, e finalmente de volta a trilha principal da Pedra do Elefante. Pouco mais de 17h estávamos no carro. Uma curta parada para se alimentar no posto de Andradas e as 19h30 chegamos em Americana, satisfeitos por um longo e produtivo dia de escalada.

    Felipe Romano
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    Publicado em 29/06/2022 16:30

    Realizada em 14/05/2022

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