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Fernanda Degow 12/04/2019 08:31
    Acampamento base do Everest

    Acampamento base do Everest

    Relato da expedição ao EBC mãe e filha de 12 anos.

    Alta Montanha Trekking Montanhismo

    Dia 27 de março de 2019 o horário de decolagem estava estimado para as 12:15 de Dubai para Kathmandu pela flydubai.O voo atrasou um pouco para decolar pois o tempo em Dubai não estava muito bom, havia chovido e o céu estava encoberto devido a tempestade de areia, bem comum nesta época do Ano.

    No mesmo dia pela manhã já recebi uma mensagem de Keshab da agência que iria estar me esperando no desembarque.

    Estou com duas malas grandes pesando 20 kg cada, sendo que uma delas com apenas material escolar para as crianças da escola que iremos visitar.

    Parece que Victoria está super tranquila, eu porém não consigo me acalmar, e desde ontem que estou nervosa. Na verdade toda viagem que faço para a montanha fico um pouco nervosa mas hoje parece que dobrou minha ansiedade. Até porque já fiz este trekking a 4 anos atrás. Todos do meu grupo tiveram problemascom altitude, eu tive muita dor de cabeça e náuseas a 5 mil metros de altitude e por essa razão sei que não é fácil para o corpo se acostumar a altitude e para algumas pessoas é mais fácil, outras mais difícil e para algumas mais difícil ainda pois nunca se acostumam.

    Ao chegar em Kathmandu antes da imigração fiz o cadastro dos nossos dados e paguei o visto pelo período de 30 dias. Optei pelo de 30 dias que custou US$40. As opções são 15,30 e 90 custando US$25,40,100. No aeroporto, Keshab, o dono da agência, já me aguardava com uma placa escrita nossos nomes.

    Depois de 4 anos eu estava de volta a Kathmandu, cidade encantadora, com seus imponentes templos e mosteiros, suas ruas agitadas onde um povo simples, humilde, disputam lugar com os carros que não param de buzinar.

    Em Kathmandu ficamos no hotel Dom Himalaya em Thamel. Achei o hotel agradável, localização e preço bom. Ao lado do hotel fomos jantar no restaurante Blueberry. Super agradável, com pratos bem variados e música boa.

    No dia seguinte fizemos um tour pela cidade. Visitamos alguns pontos turísticos que são indispensáveis e valem super a pena conhecer. O primeiro foi o crematório, depois fomos ao templo Boudhnath Stupa, Swayambhunath (monkey templo) e a noite fomos jantar no restaurante Mytho.

    Dia 29/03 fomos para o aeroporto. O voo para Lukla atrasou 3 horas. Um pouco chato esperar mas estes voos domésticos são bem complicados. Ao chegar paramos para um chá e logo em seguida iniciamos o trekking para Phakding. Neste primeiro dia caminhamos por apenas 2 horas e 30 minutos e quase 8km de distância. O lodge tinha banheiro privado e chuveiro e os quartos eram confortáveis. A Vic teve um pouco de dor de cabeça mas assim que chegamos tomarmos 1 litro de masala tea jantamos bem e nos hidratamos bastante com água
    2° dia de Phakding para Namche Bazaar. O dia foi longo e caminhamos por 12 km. Ao todo foram 7:30 porém com muitas paradas para almoço, check in nos parques e para um pequeno descanso para um lanchinho e água
    A Vic vai muito rápido. Preciso sempre ficar dizendo para ir mais devagar.

    Chegando em Namche tomamos um chá, no quarto tomamos um banho e uma pausa de 15 min para já irmos para a sala onde servem o jantar. Os quartos são bem frios mas as salas de jantar são aquecidas. Comemos macarrão, bebemos chá, falamos sobre o dia e combinamos o dia seguinte a programação com o guia. As 18:30 já estávamos deitadas descansando. A Victoria novamente teve um pouquinho de dor de cabeça. Dei eletrolítico, 1 comprimido de ibuprofeno, bastante água e descanso. Namche já está a 3440 mts, por isso é necessário se hidratar bem para evitar os efeitos do mal de altitude.
    3° dia aclimatação em Namche. Acordamos as 6:45 e as 7:30 tomamos café da manhã. Neste dia subimos até o Everest view que fica a 3880 mts. Um hotel de luxo nas montanhas e uma diária custa 250 dólares. Para o lugar realmente é um contraste. Mas vale muito a pena a subida até lá, mesmo que só por alguns minutos pois a vista é espetacular. Tomamos um café e tiramos muitas fotos do monte Everest. O dia estava lindo e tivemos sorte de contemplar as lindas montanhas no céu bem azul. Voltamos para o hotel após 3 horas e fomos visitar uma escola local. Levamos alguns lápis, canetinhas, etc e alguns chocolates que fizeram a alegria das crianças. Foi emocionante poder ajudar de alguma forma. Sempre tive vontade de fazer algo social e aproveitei que a Victoria estava comigo para mostrar para ela o contraste da vida que temos com a daquelas crianças da montanha. Algumas amigas ajudaram na compra dos produtos escolares, a bolsa pesava 24 kg e apesar de achar tão pouco, a logística para levar 24kg para uma altitude de 3400 mts não é fácil mas valeu a pena todo o esforço.

    Fomos no dia seguinte para Tengboche 3860 mts, foram 5 horas caminhada e onde fica o monastério. Chegamos tão cansadas que fomos direto para a pousada. Encontramos um grupo de brasileiros que também estava indo para o acampamento base do Everest. Um grupo de amigos que sempre faziam viagens e aventuras juntos, sendo a maioria de São Paulo.
    Falando um pouquinho desta caminhada, a primeira parte saindo de Namche é fácil pois não tem nenhuma subida íngreme e pelo contrário, com algumas descidas no trajeto, porém a última parte é bem íngreme. Foram mais de 2 horas só de subida, por isso que chegamos exaustas no hotel. Nem conseguimos visitar o monastério, que vale super a pena gastar uns minutos lá.
    Partimos para Dingboche no dia seguinte às 8:30, que fica a 4410 mts. Foram mais ou menos 5 horas de caminhada e fizemos uma parada para almoço. No dia seguinte fizemos uma caminhada leve de aclimatação. A vista para o Ama Dablam foi a melhor que tivemos, tiramos belas fotos. A tarde fomos para uma cafeteria e tomei um capuccino com bolo.
    Neste dia a subida para Lobuche, 4940 mts foi bem dura. Levamos uma média de 6 horas mas com muita subida. As caminhadas em média eram de 10 a 12 km por dia em torno de 5 a 7 horas.
    Dia 5 de abril de 2019 saímos de Lobuche às 8:30 da manhã para Gorakshep. A caminhada foi bastante exaustiva. Ganhando altitude o corpo vai ficando mais cansado e ficamos mais ofegante de ido a falta de oxigênio. Chegamos em Gorakshep, almoçamos, deixamos nossas bagagens no quarto e partimos para o acampamento base. Foram mais de 3 horas ida e volta para chegarmos até o nosso objetivo. Tivemos que dar o último de nossas forças para chegar e finalmente conseguimos. É muita emoção estar tão próximo das barracas que de longe parecem tão pequeninas. Sem falar da visão da parede de gelo Khumbu. Tiramos várias fotos e voltamos.


    A noite foi muito difícil pois o lodge estava a 5160 mts e devido a altitude e cansaço não passamos bem à noite. Eu tive desidratação novamente mas como já sabia dos sintomas comecei a beber água e tomei umas cápsulas que tinha comprado nos USA para emergência para hidratar. Pela manhã estava com uma forte dor de cabeça porém após tomar um remédio e um gole de Coca Cola passou. Sim, Coca Cola rsrs. Foi a primeira coisa que vi e não è que melhorou. Acho que devido ao açúcar e cafeína.
    O meu nível de oxigênio estava naquela hora um pouco mais que 70%
    Quando Victoria acordou, reclamou que não estava bem. Não tinha dormido direito e estava com dor de cabeça. O oxigênio dela estava 60% e fiquei um pouco preocupada pois o rostinho dela aparentava bem cabisbaixo. Fomos para o café e ela não comeu quase nada. Dei um remédio para dor de cabeça e fui conversar com o guia. Falei que Victoria não estava muito bem. Ele sugeriu descer de cavalo mas ela não quis de jeito nenhum.
    Tinha uns brasileiros que iam pegar um helicóptero e queria ver a possibilidade de dividirmos e ir com eles. Ao chegar no outro lodge que eles estavam, fui conversar sobre esta possibilidade mas o tempo estava muito ruim e o helicóptero não poderia pousar onde estávamos. Voltei para a nossa pousada e a Vicky estava dormindo, medi o oxigênio novamente e tinha melhorado um pouquinho. Conversei com ela. Disse que a opção do helicóptero não teria como pegar devido ao mal tempo. Se ficássemos mais uma noite lá ela só iria piorar. Aí decidimos descer.
    Na descida pegamos muita neve, porém assim que começamos a descer a Victoria retomou todas as energias e adorou poder brincar com a neve. Estava nevando bastante e tivemos que nos proteger com roupas de gore Tex a prova d’água. Ela não se importou, pelo contrário, ao descer o oxigênio começou a voltar e melhorar a respiração. Estávamos descendo super rápidos, na verdade, ela mais rápida que eu. Fizemos uma parada para o almoço as 11:00 e continuamos para o nosso destino. Pheriche que fica a 4200 mts.
    Ficamos em uma pousada super aconchegante. A sala de jantar era bem quentinha e o cheirinho dos quartos e da sala lembrava a essências da Índia. A noite em todas as pousadas eles ligavam um aquecedor a lenha e deixava o cômodo bem quentinho.
    Comemos hambúrguer de frango, pão de alho e eu tomei chá de limão misturado com um chá que levei para gripe. Eu fiquei bem gripada nos últimos dias. Apesar de me proteger, o frio é intenso e tem muitos casos inclusive de pneumonia. Todas as paradas eu tomava chá de limão com gengibre e mel. Os Nepaleses chamam de Khumbu cough que parece ser bem típico e normal na região dos Himalaias.
    De Pheriche para Namche foram 8 horas de caminhada entre neve e chuva, frio e calor. A maior parte descida mas ainda com algumas partes íngremes de subida. Chegamos em Namche e fomos direto trocar as roupas molhadas e tomar um banho. Tivemos um jantar delicioso na pousada. Carne e purê de batata. O dono da pousada vai para os Alpes toda temporada de verão trabalhar como cozinheiro e aprendeu várias receitas com os italianos. Apesar da comida ser bem saborosa na montanha, ficamos um pouco restritos a macarrão, fried rice (um arroz que misturam legumes, ovo etc, pizza ou comida nepalesa.
    O último dia seriam 7 horas de caminhada até Lukla porém entre as descidas e subidas de Namche a Lukla fizemos muitas brincadeiras de adedanha, conversamos sobre animais e se tornou super tranquila e acabou que fizemos em 8 horas. No finalzinho não via a hora de chegar. Eu sou uma apaixonada pelas montanhas mas no final como damos valor o aconchego da nossa casa.
    Valeu muito a pena todos esses dias com ela e mais ainda ver como ela é forte em vencer e superar todos os desafios.
    Nós vimos tanta coisa durante esses dias. Pessoas obesas, velhas, magras e até com uma prótese em uma perna. Tudo isso para atingir um sonho de ir ao Everest basecamp. Ver a alegria e determinação das pessoas subindo, ver o olhar do povo da montanha subindo e descendo com peso nas costas, ver as crianças brincando na chuva e ajudando nos afazeres são imagens que serão guardadas para sempre.


    Fernanda Degow
    Fernanda Degow

    Publicado em 12/04/2019 08:31

    Realizada de 29/03/2019 até 09/04/2019

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    10 Comentários
    Fernanda Degow 12/04/2019 13:42

    O texto está meio grande mas foi com bastante detalhe do que fizemos.

    Fabio Fliess 12/04/2019 14:03

    Olá Fernanda! Adorei o relato e as fotos! Achei incrível sua filha te acompanhar nessas aventuras!!! Parabéns.

    Paula @mochilaosabatico 13/04/2019 20:09

    Muito legal!!

    Fernanda Degow 14/04/2019 00:43

    Obrigada

    Hélio Fenrich 17/04/2019 06:15

    Oi Fernanda! parabéns a você e a Vic pelo trekking, é uma história muito motivadora. Parabéns também pelo gesto na escola, pequenos gesto assim pode fazer um grande diferença na vida outras pessoas.

    Fernanda Degow 17/04/2019 09:33

    Obrigada

    Wilson Iwazawa 02/05/2019 14:23

    Oi Fernanda! Ótimo relato e parabéns para você e sua filha! Uma curiosidade: como media o oxigênio de vocês?

    Fernanda Degow 29/05/2019 06:43

    Oi Wilson Iwazawa, no último lodge o meu estava 78 e logo subiu para 82%. O guia estava com 86% porém o da Vi ctoria chegou a 60%. Neste caso é recomendado usar oxigênio suplementar mas acabei esquecendo na hora. Só pensava em descer. Foi voltando devagarinho e subindo mas o ideal é descer mesmo se tiver condições.

    Fernanda Degow

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