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Fernanda 06/08/2019 18:40
    Caminho de Santiago de Compostela - Dia 03 Puente a Los Arco

    Caminho de Santiago de Compostela - Dia 03 Puente a Los Arco

    07 de Maio de 2019 - Puente la Reina a Los Arcos

    Cicloviagem

    Dia 07 de Maio de 2019 . ♥ Dia 3 de pedal

    Acordei com a movimentação no albergue, afinal os peregrinos acordam muito cedo para iniciar a caminhada do dia e tínhamos um grupo bem grande de jovens ciclistas enérgicos também hospedados lá, que já estavam se ajeitando para sair. Minha noite foi bem estranha e acredito ter tido febre, pois intercalei a sensação de calafrio do início da noite com suor extremo na madrugada e ao amanhecer, com o sono muito agitado.

    Levantei e fui direto tomar café da manhã, sem me preocupar em colocar a roupa de ciclismo para iniciarmos nossa peregrinação. Estava bem amuada e quando Wilson sentou na minha frente para tomarmos o “desayuno”, desabei a chorar…um choro sentido, com soluço, um choro de cansaço desses primeiros dias intensos. Falei que tinha tido uma noite febril e que eu não queria continuar pedalando hoje, pensando em seguir aquele trecho de ônibus.

    Vamos lá para as evidências que a febre me deixou desnorteada: 1. eu na Europa, numa baita oportunidade de conhecer lugares e pessoas, ia deixar isso de lado pra andar de…ônibus? 2. ONDE tinha ônibus naquela cidade que aceitasse transportar bikes? Não tinha, obviamente! No fundo, eu já tinha acordado melhor, mas eu estava com medo de dar trabalho durante o pedal, estava com um cansaço acumulado desses dias intensos e comecei a me boicotar. Quem não é assim? E quando a gente começa com o “mimimi”, não precisamos de alguém pra nos chacoalhar ? Pois é, mas o caminho do amor se tornou evidente mais uma vez. ♥ Achei que ia tomar um “esporro” pra parar de frescura, mas o Wilson, com toda a serenidade e paciência do mundo, segurou nas minhas mãos e disse olhando nos meus olhos que estávamos lá por amor…primeiro pelo amor que temos um pelo outro e depois pelo amor que temos pelo ciclismo, que nos fez ir tão distante. Disse também que se eu quisesse ir de ônibus, tudo bem, que ele estaria comigo qualquer que fosse a minha decisão. “Estamos aqui juntos e vamos seguir assim…” Chorei mais do que antes, respirei, levantei e em 10 minutos já estava pronta para seguirmos o dia pedalando.

    O Albergue Santiago Apostol foi a nossa primeira experiência de dormir em quarto coletivo, pois antes de iniciar o caminho estávamos em quarto privativo em albergue ou hostels. Assim, vale relatar um pouco a experiência: ficamos num quarto com 2 beliches que não tinha portas, mas duas entradas ao lado das camas. Quando chegamos no albergue pudemos escolher o nosso “quarto”, sendo a maioria para 4 pessoas e muitos deles já ocupados parcialmente, então logo encontramos um para que ficássemos nós 3 juntos – sim, a viagem começou sendo eu e Wilson, mas o Chico virou parte do grupo! ♥ O valor por pessoa em quarto coletivo é €12. Os banheiros são separados em masculino e feminino. Tínhamos a disposição máquina de lavar roupa (€3,50) e secar (€3), mas só usamos a de lavar, pois estava muito vento e sol (até as 21h) e em menos de 1h as roupas estavam completamente secas. Ah, levamos nossos pregadores de roupa, pois muitos albergues não tem. O albergue conta com um restaurante que oferece menu do peregrino no jantar a partir das 19h (€10) e desayuno (€3,50) a partir das 6h. Fiquei um pouco decepcionada com o menu do jantar e muito decepcionada com o café da manhã, que foi um pão, um potinho individual de manteiga e geléia e um café com leite. A partir desse dia, passamos a comprar nosso café da manhã nos mercados, pois com €3,50 conseguíamos ter um café da manhã mais completo. O wi fi funcionava praticamente apenas na área do restaurante. O albergue oferece roupa de cama e coberta, mas também usamos nossos sacos de dormir. ♥ O horário de saída era até as 8h30 e o Wilson ainda estava se arrumando, quando eu e o Chico, na área do restaurante, fomos convidados a esperar do lado de fora. *risos* Descobrimos que os albergues são bem rígidos no horário de saída e nós nada preocupados em iniciar o pedal cedo.

    Bora lá para o caminho, mas antes um pequeno passeio para conhecer a cidade. ♥

    Puente la Reina é um município da comunidade autônoma de Navarra com 2.807 habitantes (dado de 2016). Logo ao chegar a cidade, nos deparamos com a Puente Románico, que foi construída em meados do século IX, sobre o Rio Arga e tornou-se um símbolo do Caminho de Santiago de Compostela. Impossível observar a ponte e não se encantar com a forma e reflexo formando círculos perfeitos no Rio Arga.

    Após pedalar cerca de 5k chegamos em Mañero, pequeno pueblo com umas 3 ruas e paramos no bal El Cantero para tomar um chocolate quente para reforçar o café da manhã.

    Sentamos em frente ao bar e em poucos minutos se aproximou um grupo de 3 peregrinas brasileiras (1 de São Paulo e 2 do Sul – ah, não me lembro os nomes. Não anotei na hora e a noite quando escrevia meu diário do caminho, já não me lembrava dos nomes), que parou ao nosso lado para conversar. Mais alguns minutos e surgiu uma peregrina belga muito animada com um livro de curso de italiano nas mãos. Ouvindo a gente conversar, a belga queria saber se tinha algum italiano entre nós, pois ela estava aproveitando os 30 dias que teria de caminhada até Santiago de Compostela para aprender italiano e queria treinar conversação. ♥ Nessa hora o Chico se arrependeu de não saber falar italiano, pois a belga deixou nosso amigo pernambucano encantado.

    Pelo caminho, nos deparamos a cada 2k, 5k, 7k com um novo pueblo para nos deslumbrar com sua arquitetura e história. Cirauqui seria próximo pueblo que passaríamos e estava há uns 2k a frente. Nesse trecho vimos várias plantações de uvas, que foi uma paisagem bem constante por todo o nosso dia.

    Paramos para carimbar nossa credencial e um “hi” surge para nós. ♥ Era a nossa companheira de quarto no albergue em Puente la Reina, a Nanda da Holanda (na foto abaixo acenando para nós).

    Muitos peregrinos pelo caminho, além de muitas paisagens e espaços encantadores. Numa pausa do caminho encontramos um canto para descanso de peregrino com livros a disposição para troca. ♥

    Mais 7k adiante chegamos em Lorca, com aquela pausa para reabastecer as garrafas de água e carimbar nossa credencial de peregrino em La Bodega del Camino.

    O caminho seguiu paralelo a “carretera” e, como a quantidade de peregrinos era muito grande, decidimos ir para o asfalto. É possível ver nas fotos abaixo que pedalávamos paralelamente ao caminho, conseguindo observar os peregrinos ao nosso lado, mas no asfalto não incomodávamos eles na caminhada.

    Muitos trechos do caminho passam pelas carreteras/rodovias, então elas tem identificação e sinalização para que o peregrino saiba que está no caminho correto. São placas na beira da rodovia com o símbolo do caminho (vieira estilizada amarela), o escrito “Camino de Santiago” e o símbolo da União Européia (círculo de estrelas).

    Em Estella fizemos uma pausa para o Wilson conhecer a Iglesia de San Miguel e para comermos um lanche, afinal estávamos na metade do caminho deste dia.

    Sempre parando para fotos e apreciar o caminho, muitas pessoas cruzavam por nós e nesse trecho em especial passou por mim – no sentido contrário, bem devagar – um carro com uma garotinha no banco traseiro que deveria ter por volta de 7 anos e, ao me ver, colocou a cabeça para fora e gritou :”BUEN CAMINO!” Meu olho encheu de lágrima! ♥ Não pude deixar de pensar nas minhas sobrinhas e bateu uma saudade grandona. Também refleti sobre como as crianças, dessas cidades ao longo do caminho, são educadas sobre a presença dos peregrinos no seu dia a dia. O respeito com o ciclista é enorme desde o primeiro dia em que começamos a pedalar – seja pela carretera ou pelas ruas das cidades. Bem diferente do que ocorre aqui no Brasil, onde a maioria das vezes que algum motorista grita para mim da janela do carro é para xingar e falar que eu estou atrapalhando o trânsito ou que eu não deveria estar lá.

    Além das setas amarelas, encontrar uma vieira no chão ou pelos muros das casas, nos fazia ter certeza de que estávamos seguindo pelo caminho certo. Encontramos os ciclistas alemães do albergue, que estavam fazendo o caminho inteiro pela carretera, mas nesse ponto haviam desviado para o caminho de terra porque queriam chegar a Bodega Irache e logo vocês entenderão o motivo.

    Eis que encontramos um oasis no meio do caminho: a Bodega Irache ! *risos* Lembra das longas paisagens de plantações de uvas pelo caminho? Viram vinho!!! ♥ A Bodega Irache é uma das adegas/vinícolas mais antigas de Navarra e disponibiliza uma fonte de vinho e água para os peregrinos. Na placa ao lado da fonte: “Peregrino! Se quieres llegar a Santiago com fuerza e vitalidad de este gran vino echa un trago ey brinda por la felicidad”. Seguimos o conselho da placa e degustamos um gole do vinho para ter força, vitalidade para o restante da jornada e um brinde pelas alegrias do caminho.

    Em Azqueta encontramos aquele grupo de uns 20 jovens ciclistas que pernoitaram no mesmo albergue que a gente em Puente la Reina, junto com o carro de apoio que os acompanhava. Wilson viu uma sinalização para subir no mirante da cidade…alguma dúvida que fomos até lá? *risos*

    E cada um terá a vista da montanha que subir! E que vista…

    Enquanto os meninos carimbavam nossa credencial, em um bar em Azqueta, eu vi um casal sentado num banquinho ao lado da placa na saída da cidade e me aproximei para fotografar, mas o senhor me viu e puxou conversa. *risos* Curiosidade: as placas brancas com escrito o nome da cidade em preto, significa que você está chegando na cidade. Quando tem uma faixa vermelha em cima do nome da cidade, significa que você está saindo da cidade.

    Voltando ao casal sentando no banquinho…conversa vai, conversa vem, a senhora me contou que eles são do Texas e vieram comemorar o aniversário de 75 anos do marido no Caminho de Santiago. ♥ Nesse dia eles fizeram um trecho inicial de 5k caminhando com suas grandes mochilas e continuariam de ônibus até Los Arcos. Isso me fez ter certeza que o caminho está lá para todos e cada um sabe a melhor maneira de percorrê-lo, de acordo com suas limitações físicas, disponibilidade de dias, motivações etc.

    Para sair de Azqueta, acabamos seguindo o casal de bicicleta, fora da rota dos peregrinos e decidimos permanecer na carretera até Los Arcos.

    Chegamos em Los Arcos e fomos ao Albergue Casa Alberdi, que havíamos reservado por telefone. Não havia ninguém para nos atender, então sentamos e esperamos…aos poucos outros peregrinos chegavam e aguardavam conosco. Após uns 10 minutos a hospitaleira voltou e quando fomos pagar os €10 por pessoa (valor que estava no site do albergue, nos sites de albergues do caminho, aplicativos etc), ela falou que não era esse valor, que o custo por pessoa era €15. Caramba. Mostramos o site e ela falou que não era esse valor, que o site não tinha nenhuma relação com o albergue. Ficamos com aquela cara de : esse não era o combinado…

    Tentamos buscar hospedagem em outro lugar, ligando para todos os albergues da cidade, mas já estavam todos lotados. Muito contrariados com essa “supervalorização” da acomodação, pagamos o valor que a hospitaleira estipulou e seguimos para o nosso quarto com 3 beliches e uma cama, ou seja, 7 pessoas. O albergue tem 2 banheiros e 2 chuveiros – o que achei super pouco para a quantidade de pessoas hospedadas lá – que ficam na parte externa da casa, tipo um quintal. Imagine só levantar de madrugada, com garoa e frio para ir ao banheiro. Não foi nada legal…bem, já perceberam que não recomendo, né?

    No nosso quarto, além de nós três, estavam hospedados dois jovens holandeses, um senhor texano e um português.

    Uma parada na Paroquia Santa Maria de Los Arcos e logo a frente paramos na Cafeteria Buen Camino para jantar um menu do peregrino por €11. Depois de um ou dois copos de vinho, eu estava pedindo pro rapaz da cafeteria me ensinar a falar em espanhol como elogiar quando uma comida esta muito boa. Ah, eu queria elogiar o chef! ♥ “Muy bueno!”, “me gusta mucho!” … o Wilson rindo, com a certeza que em mais 10 minutos e uns copos de vinho eu estaria falando até japonês.

    Voltamos para o albergue e antes de dormir ainda tivemos uma conversa super agradável com o Rubens – peregrino português que compartilhava o quarto conosco – sobre política, o caminho e muitas outras coisas…a conversa fluiu super bacana.

    Que bom que deixei de lado o mimimi da manhã, com o pensamento de ir de ônibus, e segui pedalando nesse dia … quantas descobertas e experiências no caminho! ♥

    E as flores do dia coloriram nosso caminho:

    3º dia de pedal em números: 43k pedalados, 800m de altimetria acumulada, 9 cidades/pueblos visitados (Puente la Reina, Mañeru, Cirauqui, Lorca, Villatuerta, Estella, Azqueta, Urbiola, Los Arcos) e 1 Comunidade Autônoma – Navarra.

    (texto originalmente publicado no blog: www.nadafragil.wordpress.com)

    Fernanda
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    Publicado em 06/08/2019 18:40

    Realizada em 25/07/2019

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    2 Comentários
    Samanta Silva 16/08/2021 15:08

    Incrível! Acompanhando o pedal! 😍

    1
    Blog Outdoor 19/08/2021 15:10

    🤘🏼🤘🏼🤘🏼

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    www.nadafragil.wordpress.com


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