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Laguna 69 - Huaraz
Terceira caminhada de aclimatação, como preparação para o Circuito Huayhuash.
HikingDepois de um merecido descanso, acordamos bem cedo para a nossa terceira e última caminhada de aclimatação, na Laguna 69. Seguimos o princípio muito difundido de subir cada vez mais alto e dormir baixo, então nesse dia chegaríamos acima dos 4600m de altitude, bem próximo de muitos pasos que enfrentaríamos em Huayhuash. Mais uma vez faríamos a trilha de forma autônoma, pois o caminho é MUITO bem marcado.
Como essa trilha fica bem distante, combinamos com o Scheler que a van nos pegaria no hotel as 5h da matina e dessa vez o nosso motorista (Victor) não se atrasou. A primeira metade da viagem rendeu bem, pois a estrada era asfaltada até Yungay, mas por volta das 6h30 começou a longa subida por estrada de terra.
Um pouco de história: Yungay (ou Nueva Yungay) é uma cidade relativamente nova e nasceu a partir de uma tragédia. No último dia de maio de 1970, ocorreu um terremoto fortíssimo (de escala 7.9) que sacudiu todo o vale. Uma enorme placa de gelo e rocha se desprendeu do nevado Huascarán (a montanha mais alta do Peru) e caiu sobre lagunas glaciares, gerando uma onda de água, lama e pedras que varreu a cidade de Santo Domingo de Yungay. Apenas cerca de 300 habitantes da cidade, sobreviveram. A antiga cidade foi considerada área intangível e “Campo Santo” e poucos meses depois da tragédia, a nova Yungay começou a ser construída a cerca de 1km da cidade sepultada.
Fizemos uma rápida parada para comprar os tickets de 10 soles na portaria do Parque Nacional Huascarán e as 8h em ponto chegamos nas lagunas Llanganuco. Eu já havia passado por ali em 2010, quando regressava do trekking de Santa Cruz, e já sabia da beleza do lugar. Mas o restante do pessoal ficou boquiaberto com a cor da Laguna Chinancocha (ou laguna feminina, em quéchua). Do outro lado, olhando bem para cima, podíamos ver um dos cumes do Huandoy.
Ficamos alguns minutos fotografando e seguimos viagem. Passamos por um pequeno “braço” da laguna, que o motorista comentou que seria uma laguna “bebê” e pouco depois chegamos na Laguna Orconcocha (laguna masculina, em quéchua). Embora bonita, não conseguia rivalizar com sua vizinha.
O motorista conversou com um guarda parques e conseguiu nos deixar bem próximo do início da trilha. As 8h30 estávamos com as nossas mochilas arrumadas e começamos a caminhar. Depois de cruzar uma ponte sobre um rio bastante caudaloso, chegamos em uma bifurcação. A esquerda estava a subida para o Base Camp do Pisco e a nossa trilha seguia pela direita.
O primeiro trecho é bastante bonito e vai subindo de forma tranquila e gradativa. Estava me sentindo muito bem e aparentemente o restante do grupo também. O Jeff estava bem forte e caminhava mais na frente. Depois de cruzar um rio, esperei pela Letícia, Giovani e Natalia. Quando eles chegaram, conversamos um pouco e eu voltei a subir, seguido da Letícia. Alguns metros acima desse ponto, encontrei com o Jeff que descansava e continuei subindo. A partir daí a trilha ficaria bem mais inclinada e também apareceriam os trechos em zigzag, tão famosos nessa trilha.
Um pouco mais acima, esperei pelos demais. O Jeff me encontrou e disse que a Natália não estava se sentindo bem (alguma coisa que havia comido) e ele entregou ao Giovani um gel de carboidrato para ver se a Natalia se sentiria mais forte. Continuamos a subida, de forma lenta e controlada.
Já estávamos relativamente perto de uma pequena laguna que fica a cerca de 4450m de altitude, quando avistamos o Giovani subindo bem rápido, mas sozinho. Ele nos encontrou e disse que a Natália estava voltando devagar e nos esperaria no começo da trilha. Ele e Jeff “tocaram pra cima” e eu segui com a Letícia. Um pouco mais acima, ela comentou que estava com um desconforto na perna! Continuamos até a pequena laguna, onde a Letícia resolveu parar, descansar e começar a descer.
Nos despedimos com um beijo e forcei um pouco meu ritmo para encontrar com meus dois amigos. Consegui alcança-los na metade do último trecho de zigzags e de lá seguimos juntos até a laguna, onde chegamos por volta das 12h45. Embora já tivesse lido inúmeros relatos mencionando a cor incrível da água dessa laguna, fiquei embasbacado quando pude presenciar a beleza. É realmente surreal...
Fiz um lanche, tirei algumas fotos e cerca de 20/25 minutos depois já estávamos descendo. Cada um desenvolveu um ritmo diferente nessa descida: o Giovani, preocupado com a Natalia, desceu muito rápido. Jeff desceu bem rápido também e eu resolvi descer sem correria, tirando fotos e poupando um pouco meus joelhos.
As 15h cheguei na van e encontrei com todo mundo. O Giovani me deu a notícia de que a Natalia não estava bem, vomitando muito. Entramos rapidamente na van e tocamos (em alta velocidade) para Huaraz onde o motorista nos levou direto para a clínica San Pablo. A Natalia ficou um par de horas no soro e depois foi liberada para voltar ao hostel.
Enquanto ela estava na clínica, fomos até o hostel tomar um banho e voltamos para o centro da cidade para jantar no Trivio. Tivemos a companhia da amiga e fotógrafa Cristiane Gellert que tinha acabado de chegar em Huaraz. Um pouco mais tarde o Giovani chegou para jantar e nos disse que a Natália estava bem melhor, e eles iriam conosco para Huayhuash.
Depois dessa boa notícia, terminamos nosso jantar, nos despedimos da Cristiane e voltamos para o hostel para terminar de arrumar as mochilas para o grande objetivo da viagem: concluir o Circuito Huayhuash em 10 dias e subir o Diablo Mudo.
