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Travessia do Rancho Caído... no verão

    Relato de nossa travessia do Rancho Caído, no Parque de Itatiaia, durante a época de chuvas, em fevereiro de 2021, nos dias 13 e 14.

    Preparação

    Antes de viajarmos, planejamos atentamente nossa travessia. Primeiro, organizamos um Notion com todas as informações de que precisávamos (se quiser saber mais, você pode acessá-lo aqui): conseguimos um mapa físico da travessia, que imprimimos e levamos conosco; reservamos um camping para o início e para o fim, em que poderíamos deixar o carro (Cabanas de Maromba, com excelente atendimento da Rosely); elaboramos uma tabela de custos; e também uma lista de equipamentos e alimentação. Nossa principal preocupação era o fato de estarmos fazendo a travessia fora da temporada, em fevereiro, época de chuvas. Portanto, preocupamo-nos em manter nossos equipamentos secos, sobretudo sacos de dormir e roupas.

    Verônica e eu (Igor) saímos do Rio (capital) de carro e Rafael Beraldo saiu de Campinas, de ônibus, tendo ido primeiro para São Paulo e de lá para Resende. Na sexta-feira, dia 12 de fevereiro de 2020, nos encontramos na rodoviária de Resende, que fica ao lado de um Graal da Dutra e dali fomos juntos até o vilarejo de Maromba. Lá chegados e depois de uma boa conversa com a Rosely, ela perguntou se nós deixaríamos a barraca montada no Camping. Como dissemos que a montaríamos e na manhã seguinte a demontaríamos, levando-a conosco, ela se compadeceu e nos ofertou um dos chalés para passarmos a noite pelo mesmo preço do camping. Foi uma maravilha! Nessa conversa ficamos sabendo que um seu primo havia feito a travessia do Rancho Caído dias antes, o que nos deixou mais tranquilos quanto à possibilidade de realizá-la fora da temporada.

    À noite organizarmos nossas mochilas e, no dia seguinte, acordamos às 4h da manhã e tomamos café. Marquinhos, nosso resgate, já estava no estacionamento nos esperando. Por volta de 5h30 saímos em seu Palio antigo em direção à entrada da Parte Alta do Parque Nacional do Itatiaia. Essa jornada foi mais longa do que esperávamos, sendo que a estrada mais próxima do parque era muito ruim e esburacada. Como compensação, porém, demos de cara com um tamanduá-mirim que tentava atravessar o asfalto. Felizmente, assustado com o barulho do carro, ele retornou para o capim alto na beira da estrada.

    Primeiro dia

    Ao chegarmos na entrada do Parque, uma neblina baixa cobria tudo, mas já havia por lá uma enorme fila de carros e pessoas fazendo o registro para diversas jornadas distintas: escaladores, um grupo grande de corredores de montanha (trail runners) e pessoas que fariam outras travessias, como a Ruy Braga, mas, pelo que sondamos, ninguém tentado a fazer a do Rancho Caído.

    Início da jornada, no Posto do Marcão

    Após todos os trâmites burocráticos, partimos do Posto do Marcão em direção ao Abrigo Rebouças pela estrada. Dali, após irmos ao banheiro, nos empolgamos para começar a trilha. Quando chegamos para atravessar a represa, descobrimos que o volume de águas estava maior do que o que havíamos visto em todos os relatos de travessia. Após batermos cabeça tentando achar um outro caminho, decidimos tirar nossas botas e atravessar assim mesmo. No meio do caminho, quando Rafael e eu já estávamos do outro lado e Verônica no meio do caminho, um grupo de alpinistas mostrou que era possível atravessar descendo por uma pedra à direita e caminhado pelas pedras até onde estávamos.

    O primeiro desafio: atravessar a represa, descendo pela escadinha

    Primeiro desafio cumprido, partimos. Nem demos dois passos e já caímos num local semialagado cheio de bambuzinhos altos, que nos cobriam com facilidade. Inocentes que estávamos das condições da travessia, ficamos um tempo tentanto atravessar sem nos molharmos e sem perder a trilha. Fato é que poucos minutos depois estávamos do outro lado, com trilha bem marcada e seguindo a passos firmes.

    A partir desse momento a travessia foi bem tranquila. A trilha estava bem marcada e todas as bifurcações sinalizadas. Quando chegamos à bifurcação que apontava em direção ao Agulhas Negras, tentamos seguir por ali a fim de termos ao menos um vislumbre da famosa montanha. Doce ilusão. A neblina cobria tudo e logo percebemos que deveríamos voltar. Voltamos e seguimos a trilha à esquerda, numa subida bem íngreme que nos levou até a bifurcação, também à direita, que nos levaria à Pedra do Altar. Para lá fomos. Durante a subida, o frio e a névoa apertaram e quando chegamos ao cume um vento cortante nos acossava. O termômetro maracava 9 graus Celsius e, como já era meio-dia e trinta, decidimos almoçar.

    Vista do cume da Pedra do Altar: neblina e ventania

    Preparamos um miojo rápido com bacon, brócolis e cenoura, tentando proteger os fogareiros do vento (nessa hora um paravento fez falta) e, após tirar algumas fotos embaçadas pela névoa, descemos. O almoço nos deu ânimo para continuar a jornada e, melhor ainda, a névoa começou a ser dissipada pelo vento e tivemos alguns vislumbres da vista que estávamos perdendo. Mas sem pensar muito nisso, partimos pela trilha, contornando a Pedra do Altar, que nos levaria até a cachoeira do Aiuruoca.

    Nesse trecho encontramos uns três grupos distintos de pessoas, algumas que estavam fazendo o circuito 5 lagos ou que voltavam da cachoeira. Uma moça nos disse que os rios estavam muito cheios e que o grupo dela havia decidido não atravessar. Um grupo seguinte, já encontrado nos planos semialagados próximos da cachoeira nos disse que os rios estavam altos mas que era possível atravessar sem problemas. Avançamos então mais animados, porém receosos.

    Quando chegamos ao primeiro rio, descobrimos que ele seria facilmente transposto. Tiramos nossas botas, dobramos as calças e avançamos com água pelas canelas. O único desafio foi a água gelada. Dali partimos descalços mesmo até a cachoeira, que era bem próxima. Alguns minutos depois Verônica já estava de bíquini desfrutando (segundo os critérios dela) um banho congelante no poço bem acima da queda d'água. Rafael e eu decidimos não nos arriscar. Mas, nesse momento, o tempo abriu de vez e praticamente toda a neblina sumiu. Com isso, pudemos ter uma vista maravilhosa das montanhas em redor.

    Chegando à Cachoeira do Aiuruoca

    Depois desse breve descanso, vestimos nossas botas e partimos mais uma vez. A trilha continuava muito bem marcada e, após passarmos por um vale lindo, subimos em direção à formação rochosa conhecida como Ovos da Galinha, que, sabe-se lá por que, Beraldo cismou de confundir com Ovos da Pata. Logo na saída desse trecho havia uma porção de laje e terras alagadas em que a trilha não estava muito clara, mas o GPS e um totem em um canto nos indicou o caminho. Partimos com confiança e, após uma boa subida, conseguimos apreciar a beleza do vale que havíamos cruzado há pouco.

    Trilhas alagadas rumo aos Ovos da Galinha

    Nesse momento percebemos que havia uma longa descida pela frente e que uma nuvem escura se aproximava pela nossa esquerda. Tiramos umas fotos nossas e da paisagem em torno e começamos a ficar preocupados com o nosso trajeto até o Rancho Caído.

    O início do sofrimento: rumo à nascente do Rio Preto

    Uma chuva fina começou a cair e o dia começou a ficar escuro. Nosso objetivo era chegar o quanto antes à nascente do Rio Preto, mas ela demorou mais do que esperávamos. E, quando chegou, nos deixou bem tensos. Era uma área bem caudalosa. Do outro lado a trilha estava clara, marcada com uma estaca vermelha, mas não víamos passagem. Depois de alguma pesquisa, percebemos, em meio ao capim alto, uma passagem. No momento, ela nos pareceu bem perigosa. E dois de nós escorregamos e passamos algum perrengue. Eu, inclusive, cortei meu dedo indicador no capim. Após a passagem, no entanto, o trecho nem parecia tão difícil. Ele apenas estava oculto pelo mato alto. Daí a dificuldade.

    Avançamos! Contornamos um pequeno morro, que estava à nossa esquerda, caminhando por uma trilha cercada de um mato alto e passamos literalmente enxugando a vegetação. Em minutos estávamos encharcados, nossas calças ensopadas e nossas botas molhadas, sobretudo porque a trilha era úmida e cheia de poças. Um vale florido se espraiava à nossa direita, terminando em montes distantes, meio cobertos pela neblina.

    Apesar disso, avançamos bem rápido por esse trecho e, após uma subida leve, nos deparamos com uma trilha que cruzava com a nossa, da direita para a esquerda, tendo uma área aberta à nossa esquerda. Demarcada com uma estaca vermelha como muitas outras que vimos ao longo da trilha, provavelmente era uma outra área de camping que desconhecíamos. Ponderamos brevemente se deveríamos acampar ali, mas como a travessia que fazíamos só permitia acampar no Rancho Caído, e como meus companheiros disseram que gostariam de fazer os trajetos "by the book", continuamos nosso trajeto, bem preocupados com a escuridão que avançava rápido.

    Ainda em busca da nascente do Rio Preto

    Pouco depois daquela área, começamos uma descida íngreme, que iniciava passando por baixo de uma área de mata mais fechada, de arbustos altos e bambus. Nessa descida escorregadia, já cansados e com fome, fomos ficando ansiosos pela chegada e cada escorregadela nos deixava mais apreensivos e psicologicamente abalados e estressados. Eu cheguei até a pensar ter ouvido vozes no fundo do vale, tamanho era meu desejo de me sentir seguro e de algum modo amparado. Quando chegamos ao fundo do vale, coberto de capim alto e não encontramos o Rancho Caído, ficamos arrasados. Conferimos no GPS e estávamos muito próximos. Tiramos alguma energia que sobrava sabe-se lá de onde e avançamos pela trilha úmida. E foi nesse momento, já de noite, que nos deparamos com um grande e fundo fluxo d'água, cuja profundidade medimos com um bastão de caminhada (Azteq Actos).

    Esse momento foi desolador. A chuva tinha apertado, o ambiente em torno era todo hostil, sem qualquer lugar para acampar, não havia local para atravessar o riacho e pular parecia impossível. E nenhum sinal de que teríamos uma área digna de um camping do outro lado, apesar de o GPS dizer que sim. Depois de um tempo de ponderação, eu decidi pular. Tirei minha mochila, me preparei e saltei no ar. Por incrível que pareça, consegui me agarrar na pedra do outro lado sem me molhar. Os companheiros então me jogaram suas mochilas e, depois de um tempo de ponderação, Beraldo decidiu pular. Posicionei-me em um ponto em que poderia ajudá-lo se ele escorregasse. Ele pulou e escorregou. Agarrei-o pelo braço e ele estava do lado de cá. Só faltava Verônica, que estava muito nervosa e não parecia querer pular. Ela sugeriu tirar a roupa e atravessar pela água. Insistimos para ela pular. Ela pulou... E afundou até a cintura no riacho. Agarramo-la pelos braços e puxamo-la para a margem. Ficamos todos arrasados psicologicamente, ela sobretudo.

    Enquanto vestíamos nossas mochilas, ela colocou a sua nas costas e saiu na frente, em disparada, certamente emputecida com todo aquele estresse. Beraldo conferiu o GPS e rumamos, confiantes de que a tecnologia estaria correta e de que na verdade o Rancho Caído não tinha ficado para trás e estávamos irremediavelmente perdidos. Minutos depois, chegamos numa área aberta, com altas pedras e uma areia fina no chão. Eu sugeri que acampássemos ali, fosse o Rancho Caído ou não. Começamos a procurar um lugar e, na penumbra, vislumbramos a placa. Chegamos perto e lá estava escrito: Rancho Caído, 2310 metros. Foi um alívio inigualável.

    Investigamos o lugar, vimos uma área bem coberta e ali montamos a barraca (NTK Cherokee GT 3/4, levada por Verônica e por mim), na qual que cabiam tranquilamente nós três e as bolsas. Despimo-nos dos equipamentos molhados, nos secamos, vestimos as roupas secas e preparamos nosso jantar: feijão com batata-baroa (ou Mandioquinha, como dizem os paulistas), bacon, fungi (que hidratamos na hora) e cenoura (que levamos pré-cozida). Tudo isso acompanhado de um saboroso chá de hibisco que Beraldo havia levado. De barriga cheia e psicologicamente mais estáveis, abrimos nossos sacos de dormir (Deuter Orbit 0 C; NTK micron X-lite; e um Coleman velho e sem especficações), deitamos e fomos dormir.

    Esse foi o final do primeiro dia.

    Segundo dia

    No segundo dia, apesar de Rafael Beraldo ter acordado cedo, Verônica e eu continuamos dormindo, mas, para nossa surpresa, quando finalmente levantamos, o céu estava de um azul profundo, sem nuvens e com um sol maravilhoso a secar nossas roupas e equipamentos, que nosso companheiro havia colocado sobre as pedras. Como sabíamos que o segundo dia não demandava uma caminhada longa, decidimos deixar as coisas secando ao sol e tomamos um café da manhã tranquilo, apreciando a paisagem e a beleza do Rancho Caído, um lugar de fato escolhido a dedo para área de acampamento, pois é um local limpo e seco em meio àquele mar de vales úmidos e alagadiços, cheios de bambuzinhos e campis altos, típicos dos campos de altitude. Além disso, a apenas alguns passos do camping corre um riacho limpo e claro, onde se pode abastecer de água para cozinhar e beber.

    Depois de um longo café da manhã em que batemos muito papo e pegamos bastante sol (a ponto de nos queimarmos, como perceberíamos depois), arrumamos nossas mochilas, com tudo já seco e partimos em direção à Vila de Maromba. Era por volta das 11h15 da manhã.

    Indo embora do Rancho Caído

    A trilha era bem clara e limpa, mas ainda bem úmida e com áreas alagadas e escorregadias. Por ela contornamos o morro (à nossa esquerda) em cujos flancos situa-se o rancho caído e descemos um longo caminho à direita, ao fundo do qual atravessamos um pequeno riacho sobre troncos de madeira previamente ali deixados. Seguimos então uma grande subida, contornando o flanco de um morro à nossa direita. Durante essa subida, vimos ao longe, bem atrás, uma alta montanha de rocha nua, feita do mesmo material que o Pico das Agulhas Negras.

    As vistas que deixamos para trás, sem ver

    Ao fim dessa subida, qual não foi a nossa surpresa ao nos depararmos com uma vista espetacular das montanhas à nossa frente, cobertas de mata verde fechada, uma visão bem distinta dos campos de altitude que tivemos durante todo o dia anterior. Várias serras assomavam ao longe, semicobertas de nuvens, e um profundo vale estava à nossa frente. Nesse ponto o celular do Beraldo começou a apitar loucamente e ele aproveitou que tinha sinal para ligar para sua mãe. Após esse breve momento de amor filial, resolvemos encarar a descida. Sabíamos que ela seria grande, mas não tanto.

    A partir daqui, só descida

    Por um longo tempo fomos flanqueando a montanha morro abaixo. A trilha era clara e bem delimitada, mas bastante escorregadia e o sol estava bem quente. Mesmo passando protetor solar algumas vezes, ao final ainda estávamos com a pele tostada em vários pontos: braços, nucas e a careca seminua do Rafael. Apesar da descida intensa, chegamos ao seu final e entramos em uma mata fechada, bem distinta dos campos de altitude que deixamos para trás, e que nos protegeu integralmente do sol. A trilha nesse início estava limpa e fácil. Avançamos rápido até um riacho pedregoso, onde decidimos fazer um lanche (mas não almoçar).

    Depois desse breve descanso, avançamos ainda mais na mata fechada até que a trilha saía numa área de capim alto. Mantendo a floresta à nossa direita, descemos rápido e adentramos novamente na mata. Esse primeiro trecho estava bom e fácil, mas depois de uma descida até o fundo de um vale, começamos a subir, e a trilha parecia bem descuidada. Em vários pontos havia árvores caídas no meio da trilha e unhas de gato nos arranhando, ainda mais Verônica, que havia decidido fazer o segundo dia de bermuda. Apesar disso, avançamos com velocidade e ainda conseguimos fotografar, em momentos diferentes, dois enormes sapos.

    O caminho pela mata foi ficando cada vez mais fechado, mas o GPS nos indicava que estávamos bem na trilha, que aos poucos virou apenas um trecho por onde a água escorria. Fomos descendo por ali até encontrarmos um pequeno riacho ao lado do qual havia uns troncos meios apodrecidos. Pegamos dois deles e jogamos sobre a água, garantindo a nossa travessia e, esperamos, a de futuros aventureiros também. Logo em seguida, saímos em uma área de mata mais aberta, como de uma floresta que se recupera após ser desmatada e, minutos depois, vislumbramos a estrada.

    A chegada

    À direita da saída da trilha há uma casa com aparência de abandonada. Um guarda do parque estava ali. Informamos que vínhamos do Rancho Caído. Ele pediu nossos ingressos. Avisamos que havíamos deixado na entrada da Parte Alta. Ele perguntou quem havia se registrado como líder do grupo e então nos liberou.

    Os companheiros de jornada

    Descemos a estrada com calma e logo começamos a ouvir o barulho de pessoas e música alta. Havíamos chegado à Cachoeira do Escorrega, que estava lotada. Colocamos nossas máscaras no rosto e passamos o mais rápido possível para não nos aglomerarmos. Alguns minutos depois, que pareceram eternos e talvez os mais difíceis da travessia toda para a Verônica, pelo menos, estávamos na Vila de Maromba. Sentamos no Morrison RockBar e, ao som da melhor playlist da região, pedimos uma cerveja e um farto almoço. Tudo a um preço muito convidativo.

    E assim terminou a nossa Travessia do Rancho Caído.

    (Texto por Igor Costa. Revisão de Verônica Reis. Fotos por Rafael Beraldo e Verônica Reis.)

    P.S. O R. Beraldo postou a sua visão, mais poética, elegante e curta, no seu perfil. Vale conferir.

    1 Comentários
    Rafael 22/02/2021 12:08

    Realmente, o trecho final do primeiro dia foi desalentador! Esse talvez seja o maior perigo de fazer a travessia no verão: a dificuldade psicológica de se cruzar as águas carregando tanto peso, ainda mais para novatos como a gente. Queria saber o nome daquela montanha da foto, que você comparou às Agulhas Negras (e que eu, como uma miragem, achei se tratar das próprias). Ótimo registro, Igor! Que venham os próximos!

    Igor de Oliveira Costa

    Igor de Oliveira Costa

    Rox
    93
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    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

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