Este post não é uma relato da Volta à Ilha Grande, mas alguns comentários sobre as autorizações necessárias e trajetos para completar a volta à Ilha completamente dentro da lei, cumprindo todas as exigências necessárias.
Achamos necessário fazer esse post porque muitas informações não estavam claras quando começamos a planejar a viagem e foi bastante difícil juntá-las todas. Com isso, esperamos estar ajudando aqueles que pretendem fazer essa travessia.
Sobre as autorizações necessárias:
- Em primeiro lugar, o caminhante precisa saber que não é permitido camping selvagem em nenhuma área da Ilha Grande, de modo que qualquer acampamento fora dos campings estruturados e registrados é proibido.
- Em segundo lugar, é preciso saber que a permanência na Praia do Aventureiro só é permitida mediante autorização do INEA (Instituto Estadual do Ambiente), que fornece uma pulseira para aqueles que desejam ficar.
- Em terceiro lugar, a passagem pelo Parque Estadual da Ilha, incluindo a Reserva Biológica da Praia do Sul (as ditas "praias proibidas") só é autorizada pelo INEA mediante contrapartida dos caminhantes na coleta de lixo na Praia do Sul (para quem faz o sentido Aventureiro x Parnaioca) ou na Praia do Leste (para quem faz o sentido Parnaioca x Aventureiro).
- Por fim, é terminantemente proibida a divulgação de imagens das áreas protegidas.
Como conseguir as autorizações:
1. Pulseira de Acesso à Praia do Aventureiro: a fim de permanecer na Praia do Aventureiro, o caminhante precisa pedir uma autorização para a TurisAngra, empresa vinculada à Prefeitura de Angra dos Reis, que fornece uma pulseira, como essas de balada, que deve ser usada durante toda a permanência na Praia. A entrega das pulseiras é feita individualmente (você não pode pegar para seu colega atrasado) mediante um cadastro em que se informam os dias de permanência na praia e outros dados pessoais.
Pulseira de Acesso e Permanência na Praia do Aventureiro, fornecida pela TurisAngra em números limitados.
Informação importante: o número de pessoas no Aventureiro é limitado, mas você pode pegar a pulseira com antecedência. Nós, por exemplo, pegamos a pulseira no dia 26/12 (segunda-feira), mas passamos os dias 31/12 e 01/01 no Aventureiro (sábado e domingo). A pulseira é retirada na Estação Santa Luzia (de onde saem os Flex Boats. Não é a mesma estação de onde saem as barcas) e é preciso ficar em uma fila (no nosso caso, mesmo na alta temporada, foi bem raṕido, coisa de 10 minutos apenas).
Não deixe de pegar sua pulseira. Nos dias em que passamos no Aventureiro, havia muitas pessoas sem ela no pulso, mas havia também uma fiscal do INEA "caçando" infratores pela orla.
Outro aspecto importante é a limitação dos campings. Se possível, reserve um camping antes de ir para o Aventureiro. Soubemos que alguns campings fazem uma espécie de overbooking, colocando mais barracas do que o INEA permite. Quando as pessoas chegam de barco, os fiscais colocam uma etiqueta nas barracas. Se a sua barraca estiver sem etiqueta, isso pode gerar problemas. Garanta, portanto, que você fez a reserva antes, de modo que o problema seja do camping (caso ele se tenha superlotado) e não seu.
2. Passagem pela Reserva Biológica: as ditas "praias proibidas" (Praia do Sul e Praia do Leste), bem como as lagoas do Sul e do Leste são áreas de proteção ambiental e não podem ser acessadas sem autorização do INEA e sem uma contrapartida por parte dos caminhantes. O pedido precisa ser feito no e-mail o Parque Estadual da Ilha Grande (secretaria.peig@gmail.com). Conforme informado no e-mail resposta que recebemos, esse tipo de área de proteção não permite visitação. Logo, os membros do INEA avaliam caso a caso e exigem, como contrapartida, a coleta de lixo nas praias da reserva. Veja um trecho do e-mail:
Como contrapartida, exigimos o recolhimento de resíduos, trazidos por correntes e marés e que encalham nas praias do Sul e do Leste, devendo cada participante levar pelo menos 01 saco de lixo com capacidade para 200 litros, a ser adquirido pelo autorizado. Os sacos do lixo recolhidos devem ser deixados sempre na amendoeira (que fica na praia do sul) próxima ao Ilhote, que divide as praias do Sul e Leste, tanto se o trajeto for da Parnaioca para o Aventureiro (coleta na Praia do Leste), quanto se o trajeto for do Aventureiro para a Parnaioca (coleta na Praia do Sul).
Ainda segundo o e-mail recebido:
A autorização emitida pelo INEA se restringe tão somente à travessia, não sendo permitido adentrar na parte de vegetação e nas lagunas, bem como permanecer na Reserva Biológica com finalidade de lazer.
Em outras palavras, para passar oficialmente pela área, você deve fazer esse trabalho de coleta de lixo enquanto caminha, não podendo mergulhar no mar, adentrar a vegetação ou visitar as lagoas.
Lixo recolhido na Praia do Sul: um frasco de cola escolar cuja data de validade é de 1999.
O parceiro Rafael Beraldo com seu saco de lixo e a cabeça de uma boneca que, sabe-se lá Deus como, foi parar ali.
Além da contrapartida em coleta, foi-nos pedido documentação básica de identificação e comprovante de vacinação contra a febre amarela. Logo, fique esperto para manter a carteirinha de vacinação em dia.
Um adendo importante: encontramos alguns caminhantes que não tinham autorização (ou sequer sabiam que era preciso tê-la) e que objetivavam passar - e no final realmente passaram - pela reserva biológica. A maioria dessas pessoas fez o trajeto de madrugada ou muito cedo pela manhã, antes de o sol nascer de fato, a fim de evitar a fiscalização - algumas inclusive postaram a "estratégia" nas suas redes sociais, indicando que é prática corriqueira. Se quiser fazer isso, vá por sua conta e risco, mas nós não compactuamos com esse tipo de prática. Há algumas outras pessoas que entram na reserva sem qualquer preocupação: enquanto atravessávamos a Praia do Sul, recolhendo lixo, por exemplo, duas moças também a atravessavam tranquilamente, vestidas de biquini e sem qualquer saco de lixo. Foram até o rio que desce das lagoas e entraram na água após a Ilhota do Leste. Se foram autuadas pelo INEA ou não, não sabemos, mas torcemos muito para que tenham sido quando voltaram, já que a alegria delas naquelas praias desertas condiz com condutas ilegais.
3. Sem camping selvagem no Caxadaço: outra questão importante ao realizar a travessia é a elaboração de um trajeto que permita curtir as praias (ou seja, sem enormes quilometragens por dia) e ao mesmo tempo ficar em campings oficiais, já que camping selvagem não é permitido. Isso é um problema sobretudo no trecho que vai de Parnaioca a Abraão, passando por Dois Rios, Caxadaço, Lopes Mendes e Palmas. O trajeto "oficial" da travessia sugere exatamente o caminho acima: Parnaioca x Dois Rios (10 Km) x Caxadaço (3 Km) x Lopes Mendes (3 Km) x Palmas (3,5 Km), num trajeto de aproximadamente 20 km até o próximo camping, na Praia de Palmas. Apesar de não ser nada muito difícil para quem tem experiência em trilha, é realmente um trajeto que impede de curtir as inúmeras praias no meio do caminho, sobretudo Caxadaço e Lopes Mendes ou até mesmo Santo Antônio.
O que as pessoas fazem, portanto, é "burlar o sistema", fazendo Parnaioca x Dois Rios x Caxadaço (13 km) e acampam em duas pequenas áreas de camping na mata, mas bem próximo da praia. É uma área de camping selvagem - proibida, portanto - que fica bem "escondida". Contudo, é óbvio que o pessoal do INEA sabe que ela existe e a qualquer momento você pode ser surpreendido por uma batida por lá, sobretudo em alta temporada. Mais uma vez, contudo, conhecemos algumas pessoas que fizeram esse acampamento.
Nós não fizemos isso, porém. Como queríamos curtir as praias, saímos cedo de Parnaioca e já pelas 9h estávamos em Dois Rios, onde ficamos curtindo a praia até um bom período da tarde. Daí pegamos a estrada para Abraão (7,6 Km), de modo que fizemos cerca de 18km nesse dia. No dia seguinte, fizemos Abraão x Caxadaço (10 Km) x Lopes Mendes voltando (3 Km) x Saco de Palmas (1 km), onde pegamos um barco de volta para o Abraão. Saindo cedo, isso permite passar boa parte do dia fazendo snorkel em Caxadaço e mergulhando em Lopes Mendes.
Assim ficou o nosso trajeto final, começando no Abraão (trecho azul escuro) e terminando no Caxadaço e Lopes Mendes (trecho vermelho).
Consideramos que essa foi uma decisão sábia. Primeiro, porque a trilha entre Caxadaço e Lopes Mendes tem alguns trechos mais fechados, que seriam bem chatos de passar com mochila cargueira. Ao irmos leves, o trajeto foi bem mais fácil. Segundo, que a estadia em Abraão, com mais estrutura depois de vários dias de barraca, dá aquela recarregada na energia.
Por fim, acho que o ideial seria ter alguma autorização para camping no Caxadaço. É uma rota oficial e me parece ingênuo achar que as pessoas não vão acampar lá, mesmo sabendo que o INEA tem pouca estrutura para fiscalização.
Oi Igor Muito obrigada pelo post, informativo e detalhado! Você se importaria de trocarmos e-mail e você compartilhar comigo o que foi que você escreveu para o INEA pra conseguir esse feito? Obrigada pela atenção, Ariana