Agulha do Diabo.

Essa aventura foi gerada no meu coração há muitos anos, uma sementinha foi lançada de forma despretenciosa pelo meu pai Alfredo Marques, montanhista que já é falecido há 33 anos. Ele nos contava suas aventuras pelas montanhas, e ele dizia que a Agulha do Diabo era linda e que foi a escalada mais difícil que ele havia feito.

Todas essas memórias foram guardadas em meu coração, não tenho fotos para recordar, há 40 anos não havia quase registros em fotos.

Entao vamos para a aventura?

Ela começou quando no dia 10 de Junho eu fui escalar a Agulha do Diabo e quando cheguei no Cavalinho da Agulha eu tentei entrar na fenda duas vezes para minhocar e não consegui seguir. Foi a coisa mais difícil que fiz na vida, desistir de homenagear meu pai, desistir de um sonho de menina. Fiquei muito frustrada, decepcionada, e saí de lá decidida a nunca mais pisar lá.

Os dias se passaram, meus amigos e familiares com todo carinho me incentivaram a voltar para fazer a homenagem, eu chorei muitos dias, sofri de verdade.

Minha tentativa frustrada de passar pelo cavalinho.

Tudo isso mudou quando recebi uma mensagem de um anjo ela dizia: "Vamos voltar lá!" Essa mensagem virou uma chave e uma chama se acendeu no meu coração, eu vou voltar.

Foram dias de muita ansiedade, horas me imaginando no cume, outras me imaginando ficando no cavalinho novamente.

Mas o anjo porque esse menino não é um guia ele é um anjo conversou muito comigo e disse: "Tenho 101% de certeza que você vai chegar no cume" o nome dessa pessoa incrível é Ariel Silva, guia do Rio de Janeiro.

Chegou o grande dia!

7h na portaria do Parnaso seguimos para a aventura mais especial da minha vida, eu ia encerrar o ciclo de montanhas em homenagem ao meu pai e por todo meu histórico de medo de altura era um dia muito especial.

Iniciamos essa longa trilha que começa na barragem do Parque.

Mesma trilha para a Pedra do Sino até um determinado trecho e depois desce sentido mirante do inferno para então chagarmos no Vale da Geladeira.
A pior parte da trilha havia chegado, pedras soltas, vários obstáculos, limo nas pedras, pedras molhadas. A hora da verdade estava chegando. Subimos o vale da geladeira até a base da escalada, levamos 3h45 da Barragem até a base.

fizemos um lanche, nos equipamos e partimos, Kmon Juju! Chegou a hora.

O primeiro lance é um pouco escorregadio, fui seguindo as orientações do Ariel, entalando no cantinho e consegui fazer bem.

Chegou a segunda enfiada que para mim é a parte mais técnica da via, o trecho mais difícil.

Uma chaminé na lateral direita, eu consegui fazer bem, aliás tudo nesse dia estava sendo perfeito, descontraído.

O medo estava quieto, ri durante a chaminé, brinquei para tirar o móvel já quase no final da segunda enfiada.

Prosseguimos...

Passamos por uma diagonal feita com o corpo bem coladinho na parede com o abismo aos nossos pés. Veio um trechinho com uma pequena trilha aí vem uma caverna escura, mas tranquila de fazer.

Mais um obstáculo, uma pequena chaminé que tem uma vista linda, mas Agulha o emocional tem que estar 100% tudo muito exposto.

E fomos seguindo, tem uma chaminé maior que não tenho registro, uma parede que faz com estribo, lance mto exposto que me deu bastante frio na barriga.

Chegou ele, temido cavalinho!

Olhei e comecei a querer chorar e pensar que não conseguiria. O guia disse: "Se você não conseguir passar do jeito que combinamos, você vai passar de outro jeito, aqui não vai ter chance para desistência hein."

Guia sensacional, parceiro, amigo, te joga para cima o tempo todo.

E eu passei pagando barra, com os pés na parede e ele dando segurança de cima.

Pessoal eu passei, passei no lugar que parei da outra vez e posso dizer a vocês foi a parte mais fácil.

Esse dia estava começando a se tornar o dia mais feliz da minha vida depois do nascimento dos meus filhos.

E veio ela que as imagens amedrontam por ter os dois lados abertos, a chaminé da unha.

Essa chaminé começa bem estreita, cubículo mesmo, mas é um trecho curto e ela logo começa a ficar confortável.

Confesso que pedi a Deus que acalmasse um pouco o vento para eu não sentir tanto medo. Fui progredindo, trocando mãos e pés, no caminho brincava "bebê, tô com medo" o guia é jovem, por isso bebê, rs. Descontrair de toda forma para fluir com descontração. Chegou o final da unha, ufaaa!

Ancorei no final da unha para então fazer o cabo de aço para o tão sonhado cume.

Pensem em um lugar incrível, lindo, diferenciado!

Fui para o cabo e Deus cuidou de mim, me protegeu de sentir medo, não é fácil, mas também não é difícil, tem que fazer força, bastante força e no trecho mais íngrime ele está com um grampo solto da pedra, então mais força tem de se fazer, minha corda agarrou no grampo, por incrível que pareça quem me conhece sabe do medo, eu estava calma, pedi ao Ariel para dar um pouco de corda, passei pelo grampo e parei uns 10 segundos para tomar fôlego e não é que cheguei!?

As coisas acontecem no tempo de Deus, da forma que Ele quer, um dia lindo de Sol e eu e o Ariel conseguimos realizar meu grande sonho. Consegui homenagear o maior montanhista da minha vida, meu pai.

Cheguei chorando demais, inclusive estou escrevendo com lágrimas nos olhos. Foi muito especial, ainda tá sendo especial tudo que vivi neste grande dia.

Eu agradeço a Deus porque Ele me dá saúde e disposição para praticar o montanhismo. Agradeço aos meus amigos que tanto torceram por essa conquista, meus filhos que me admiram, me incentivam e são luz na minha vida, amo vocês e ao grande responsável por essa linda conquista, Ariel Silva. Jamais esquecerei tudo que você fez por mim, por toda torcida, pelo presente lindo, seu guiamento foi incrível! Deus te abençoe grandemente.

Encerro esse relato com o coração com o coração cheio de felicidade e gratidão porque Deus me abençoa de tantas formas mesmo sem eu merecer.

Quero dizer que quem acredita consegue, seus sonhos valem muito não importa o tamanho deles, ele é seu, batalhe e conquiste. Um dia me disseram que eu não conseguiria ir ao Escalavrado porque tenho medo de altura, eu cheguei na Agulha do Diabo a que está entre as 15 escaladas mais desejadas do mundo, mas eu só cheguei porque eu acreditei que podia. Acredite em si mesmo!

Bate e volta em 12 horas de muita felicidade!

Um abraço para quem chegar até aqui.

Uma eterna sonhadora!