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Jonas 06/12/2021 14:08
    Trilha dos Tropeiros e Pico do Rinoceronte

    Trilha dos Tropeiros e Pico do Rinoceronte

    Subimos a Trilha dos Tropeiros, trajeto que liga o litoral de Santa Catarina aos Campos de Cima da Serra, acampando no Pico do Rinoceronte.

    Trekking Acampada Cañón

    Já vou começar dizendo que essa aventura não deu certo, pelo menos o planejamento original. Nossa ideia era fazer uma travessia, iniciando com a Trilha dos Tropeiros e depois fazendo um trekking pela parte de cima dos cânions até a Fazenda Vale das Trutas, totalizando 4 dias de caminhada e aproximadamente 80km percorridos.

    Meu irmão, Jucimar, e eu. Início da Trilha dos Tropeiros.

    O primeiro problema que encontramos foi em relação a logística dessa travessia. Queríamos deixar o carro na Fazenda Vale das Trutas, ponto final da travessia. Porém, ao entrar em contato com a fazenda para saber sobre serviços de translado ao ponto inicial, a pessoa indicada pela fazenda cobrava um valor fora do nosso orçamento. Assim, resolvemos ir para o início da travessia com o carro e, quando chegássemos ao final, iríamos tentar arrumar uma carona e/ou pegar ônibus para voltar ao carro.

    Saímos de Porto Alegre por volta das 4h da madrugada, rumo à cidade de Siderópolis - SC. Tomamos a BR-101 e em aproximadamente 4h estávamos no Abrigo de Montanha São Pedro (oficialmente o ponto inicial da Trilha dos Tropeiros), onde iríamos deixar nosso carro. O Júnior (biólogo responsável pelo abrigo), nos recebeu no local e perguntou sobre nosso plano. Ofereceu algumas dicas e ainda disse que, em último caso, ele poderia nos ajudar na nossa viagem de volta ao carro. Depois disso, iniciamos a subida da Trilha dos Tropeiros por volta da 9h20min da manhã.

    Torre da Igreja Inundada na barragem do Rio São Bento, Siderópolis.

    O início da trilha, desde o abrigo, é por estrada de chão. Depois de pouco mais de 500m entramos mata a dentro, na trilha propriamente dita. A trilha não é demarcada, mas é bem visível, sem bifurcações e fácil de ser seguida. Já nos primeiros metros encontramos a primeira travessia do Rio da Serra. Até tentamos procurar um lugar para passar onde não iríamos molhar os pés, mas logo desistimos (ainda bem, pois seriam várias travessias, impossível manter os pés secos nessa trilha).

    Uma das várias travessias do Rio da Serra.

    Eu havia visto alguns videos no Youtube dessa trilha, mas confesso que ela me surpreendeu. Eu esperava uma trilha mais fechada, daquelas em que o mato fica batendo na nossa cara o tempo todo. O que encontrei foi algo totalmente diferente, uma trilha bastante "trilhada", e muito bem mantida. A cada par de passos encontramos trechos dignos de uma parada e algumas fotos.

    Outra coisa que nos surpreendeu foi o perfil de elevação dessa trilha. A Trilha dos Tropeiros liga a parte de baixo dos cânions de Santa Catarina aos Campos de Cima da Serra, são aproximadamente 10km de extensão, com um ganho de elevação de mais de 1000 metros. Entretanto, durante a maior parte da trilha há pouco ganho de altitude, ficando para os últimos quilômetros a maior parte dessa elevação. Fato este que tornou essa subida bastante cansativa. A parte engraçada é que, até começar a subida mesmo, conferimos constantemente o GPS para saber se estávamos no caminho certo!

    Após os 1000m de altitude contamos com a companhia da cerração, e quando chegamos ao fim dessa trilha, no Mirante da Trilha dos Tropeiros, a visibilidade era quase nula! Levamos cerca de 4h para subir a Trilha dos Tropeiros. Descansamos um pouco, fizemos um lanche e seguimos para o destino final, onde iríamos acampar na primeira noite: o Pico do Rinoceronte.

    Araucárias e cerração. Combinação frequente na parte de cima dos cânions.

    O Pico do Rinoceronte é uma formação rochosa que, como o nome diz, lembra o formato da cabeça de um rinoceronte. Para chegar até este local são mais 2h de caminhada pelos campos de cima da serra, atravessando córregos e banhados. Já estávamos bastante cansados de subir a Trilha dos Tropeiros, e talvez por isso essa última parte da caminhada foi igualmente penosa. O nevoeiro espesso também não contribui. Não tínhamos noção do quanto havíamos caminhado, do quanto faltava, se iríamos encontrar um morro na nossa frente ou não.

    Claro, estávamos navegando pelas trilhas salvas no celular, mas uma coisa é olharmos no celular o terreno, outra coisa é vermos o terreno com nossos olhos. Aliás, pela falta de visibilidade e por nunca termos estado ali, a navegação utilizando GPS era a única forma de conseguirmos chegar até o Pico do Rinoceronte. Ter essa parte da trilha salva no celular foi fundamental para chegarmos no destino. Sem isso, estaríamos completamente perdidos.

    De qualquer forma, depois de algumas horas, chegamos no Pico do Rinoceronte. Visibilidade zero, nenhuma novidade ali. E tenho que dizer, estar envolto nesse nevoeiro foi um experiência, no mínimo, peculiar. Não se tem noção de onde você está, o que tem ao seu redor. Chegar tão próximo à borda dos canions e não ver nada, não conseguir enxergar quão alto é. Não sabíamos como estava o clima. Iria chover logo? O céu estava limpo? Não ter nenhuma noção disso trouxe uma sensação de estranheza. Sem muito o que ver e fazer, montamos acampamento, jantamos antes mesmo de escurecer e fomos dormir logo em seguida.

    Nossas barracas, com "vista" para o Pico do Rinoceronte

    Por volta da meia noite meio irmão espiou para fora da barraca e me reportou: a cerração havia baixado. Pela primeira vez conseguimos ver a região a nossa volta: o Pico do Rinoceronte, toda a extensão dos canions e onde estávamos acampando. O céu estava parcialmente coberto, mas conseguimos ver as estrelas por alguns instantes. A cerração, que antes bloqueava nossa visão, havia baixado e agora cobria como um tapete a parte de baixo dos canions. Enfim aquela sensação de estranheza havia sumido, fazendo valer a pena sair de dentro do saco de dormir à essa hora. Contemplamos a paisagem noturna, tiramos algumas fotos e voltamos a dormir.

    O Pico do Rinoceronte, com nossas barracas à direita. Vista surreal.

    No dia seguinte acordamos cedo para ver o nascer do sol. O céu estava praticamente todo encoberto por nuvens, exceto uma pequena faixa no horizonte, suficiente para o sol, timidamente, dar as caras. Tiramos mais algumas fotos, mas logo as nuvens encobriram o sol e tomaram conta do espetáculo.

    Tímido nascer do sol. Mas um nascer do sol mesmo assim.

    Mas voltando aos motivos pelo qual essa aventura não deu certo. Já mencionei sobre a logística complicada - iríamos chegar ao final da travessia, cansados, e teríamos que voltar ao início dela para buscar o carro. Entre caronas e ônibus, estimamos que levaríamos, no mínimo, um meio dia para isso. O segundo problema que tivemos foi a previsão do tempo: não era das melhores. Não pela cerração e por não ver nada, isso faz parte e estávamos preparados para isso. Mas pela chuva. Acordamos com muito vento (o que é normal também) e com o tempo fechado, ameaçando chover a qualquer momento. A previsão para os próximos dias também não era das melhores. Chuva praticamente o tempo todo.

    A chuva, a cerração e o Pico do Rinoceronte.

    Por fim, o último motivo que nos levou a abortar a missão foi o cansaço. Foram aproximadamente 15km de trilha até chegar ao Pico do Rinoceronte, com mais de 1000m de ganho de elevação. Isso por si só já é um esforço considerável, ainda mais com a mochila pesada, com mantimentos para 4 dias. Mas o nosso cansaço era algo desproporcional ao esforço. Analisando a situação após retornar para casa, chegamos a conclusão de que estávamos desidratados. Acredito que levamos apenas 2L de água cada um (isso em si não é um probema pois haviam vários pontos para pegar água, tínhamos filtro e clorin também), mas pelo clima mais frio, acabamos não sentindo sede e essa foi toda a água que utilizamos para subir a Trilha dos Tropeiros, fazer a janta e café da manhã no dia seguinte. Resultado: cansaço excessivo causado pela desidratação.

    Considerando todos esses motivos, resolvemos desistir da travessia. Descemos a Trilha dos Tropeiros, pegamos nosso carro e fomos para casa. Embora fracassamos em realizar a travessia, a viagem valeu a pena. Subir a Trilha dos Tropeiros e acampar no Pico do Rinoceronte já é uma verdadeira aventura. Além disso, os ensinamentos dessa aventura foram valiosos. Prestar atenção na hidratação é essencial para concluirmos qualquer aventura e evitarmos sérios problemas. Estar preparado para a trilha em condições não ideais, como a falta de visibilidade pelo nevoeiro, também se mostrou essencial para chegarmos ao destino final da trilha. A princípio ficamos #chateados por desistirmos, mas acredito que tomamos a decisão certa. Especialmente porque quando voltávamos de carro pelo litoral, vimos a nuvens carregadas que estavam sobre os canions, foi assustador pensar estar no meio daquilo.

    Além disso, e o mais importante, não concluir essa travessia é mais um motivo para voltarmos a essa região incrível no futuro.

    Jonas
    Jonas

    Publicado en 06/12/2021 14:08

    Realizado desde 05/10/2021 al 06/10/2021

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    3 Comentarios
    Paula @mochilaosabatico 07/12/2021 23:00

    Essa região é linda demais! Terão que voltar. 😉

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    Jonas 08/12/2021 06:40

    Com certeza, Paula!

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    Bruno Negreiros 08/12/2021 20:47

    Que fotos!!!

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    Jonas

    Jonas

    Porto Alegre - RS - BR

    Rox
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    Formado em Matemática. Iniciando nessa vida de aventureiro.

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