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Rodolfo Damasceno 16/10/2016 21:10
    Chapada Diamantina - 8 a 18 de Setembro de 2016

    Chapada Diamantina - 8 a 18 de Setembro de 2016

    Travessia dos Vales do Capão e Pati, Trekking de Lençóis até Andaraí.

    Chapada Diamantina

    Hoje vou falar da minha viagem de férias a um dos lugares mais bonitos do Brasil, e olha que tem lugar bonito para se visitar no Brasil, a Chapada Diamantina, vou tentar ser o mais descritivo possível, a ideia é passar a quem ainda irá, dicas, sugestões, talvez ajudar um pouco, com a experiência que tive, e olha que foram muitas, erros e acertos, mas se fosse definir com uma palavra a viagem, só poderia dizer que foi ótima, deixou vontade de voltar, porque foram poucos dias pra tanta coisa pra se ver.

    Tem dois modos de se visitar a Chapada, o primeiro como turista, fazendo os transfers até as cidades próximas aos atrativos, e baseando nelas, fazer bate volta nos mesmos. Ou no modo aventura, atravessando o Vale do Capão e o Vale do Pati caminhando, que foi o que fiz, claro que também fui a alguns dos pontos turísticos, mas a ideia principal, o foco, foi a travessia dos vales.

    Fomos um grupo de 5 amigos, de avião do Rio a Salvador e de Ônibus de Salvador para Lençóis. Tem quem alugue carro em Salvador, e siga até Lençóis, se for no modo turista é ótima opção, mas se for no modo aventureiro não rola, vai jogar dinheiro fora. Tem locadora em Lençóis, mas se não reservar com antecedência não consegue carro lá na hora. Tem um voo que te leva do Rio ao aeroporto de Lençóis, mas por ser restrito, pouca oferta, ou seja, preço alto, não compensa, salvo alguma grande promoção. Dica, se for de ônibus de Salvador a Lençóis já compre a passagem com antecedência pela Web, na hora lá corre o risco de não ter vaga nos ônibus noturnos, vai ter que esperar o dia seguinte em Salvador, ou só ter vaga no mais caro, que foi o que nos aconteceu.

    A oferta de pouso em Lençóis e bem grande, é dito que a cidade é o Portal da Chapada, então, é turística por natureza, se não reservou nada, quando chega na rodoviária, por volta de 5 da manhã, tem alguns agenciadores e donos de campings e pousadas esperando e oferecendo vaga, dá para escolher. Ficamos na Pousada e Camping Primavera, bem perto da Rodoviária e do Centro, modesta, limpa, para quem é mochileiro e está acostumado com barraca está excelente.

    Como disse anteriormente Lençóis e uma cidade turística por natureza, tem de tudo, inclusive loja de esportes de aventura caso tenha esquecido algo. Banco, caixa eletrônico, comercio farto e diversificado. A noite tem a rua das pedras, com farta oferta de bares e restaurantes com culinária de todo tipo que puder imaginar.

    Lençóis

    Dia 1. Devido ao cansaço da viagem optamos por fazer trilha em Lençóis mesmo, fomos a duas cachoeiras a Cachoeirinha e a Cachoeira Primavera, as duas estavam com pouca água, mas não deixam de ser bonitas.

    Cachoeirinha

    Cachoeira Primavera

    Dia 2. Turismo. Agendamos com um guia local que nos levou de carro a dois dos principais pontos turísticos da Chapada, o Poço Azul e o Morro do Pai Inácio. Da para fazer esses Roteiros de Carro alugado também, mas o custo só compensa se forem 5 pessoas para dividir aluguel e combustível.

    O que falar da sensação de flutuar no Poço Azul, é algo surreal, agua transparente, cores incríveis, não dá para deixar de visitar. Difícil descrever a sensação, só mesmo indo ver de perto.

    Poço Azul

    De lá seguimos para o Morro do Pai Inácio, uma dica, no meio do caminho fica o Poço do Diabo, nosso guia podia ter parado e nos levado lá, e na beira da estrada, mas não falou, só soubemos depois, então, se for ao Pai Inácio, peça com certeza para parar no Poço do Diabo. A Trilha do Pai Inácio é simples e fácil, acho que não chega a ser uma Urca (para quem conhece o Rio), só que o visual e simplesmente fantástico, tem-se a visão total dos vales que circundam as mesas e montanhas, e lindo demais. E para quem vai fazer a travessia já dá para visualizar e focar o caminho que vai seguir. Vá no final do dia para ver o pôr do sol, não conseguimos, nosso guia não podia ficar, meio apressado. Escolha bem quem vai te levar ou vá sozinho, não tem errada.

    Vista do cume do Morro do Pai Inácio.

    Dia 3. Dia de começar o Trekking, de pôr a mochila nas costas e seguir vale adentro. De Lençóis até o ponto de entrada na trilha se vai de ônibus ou de taxi, a entrada e perto do Morro do Pai Inácio. Se for de ônibus fique ligado, tem que pegar o que vai para Palmeiras e pedir para saltar próximo ao Posto de Gasolina no Pai Inácio, daí se entra na trilha. A trilha é um pouco confusa no início devido ao mato e algumas bifurcações, porem logo após a travessia de um pequeno riacho ela se torna clara e muito definida, não tem como errar.

    Fomos em setembro, mas mesmo nessa época o sol da chapada é inclemente, muito quente, e sem cobertura vegetal, a trilha e totalmente exposta. Não há problema algum com água, e farta, então não é preciso se preocupar em levar muita na mochila, e olha que nessa época, segundo as estatísticas, é o segundo mês mais seco da chapada.

    Após mais ou menos 5 horas de caminhada chegamos as Aguas Claras, um local conhecido pelos Rios, cachoeiras e poços, foi onde fizemos nosso primeiro pernoite. Tem agua em abundância, bom para tomar banho, cozinhar e boa área para montar a base, seja do lado direito ou do esquerdo do Rio. Agora uma atenção especial a este lugar deve ser dada as cobras, avistamos algumas, tanto próximo ao acampamento quanto na beira do Rio, não deu para identificar as espécies, mas em todo caso, melhor ficar ligado.

    Aguas Claras

    Camping nas Aguas Claras

    Dia 4. Segundo dia de caminhada, desta vez até o Vale do Capão, a Vila de Caeté-Açu, são mais 5 horas de caminhada mais ou menos, até dá para fazer direto de Lençóis a Caeté, fica a critério, a trilha e simples, marcada, não tem como errar. Chegamos em Caeté por volta das 13 horas, montamos base no Camping do Gorgulho, é no meio do caminho entro o Centro da Vila e a entrada da trilha da Cachoeira da Fumaça. Muito bem estruturado. Neste dia não fizemos mais nada, o que no final das contas foi um erro, não sabíamos, mas depois, me foi falado que o pôr do sol mais bonito é na Cachoeira do Riachinho, podíamos ter aproveitado a tarde livre. Caeté é uma vila bem simples, não tem banco, posto de gasolina, mas pousadas e restaurantes tem à vontade, para escolher, de todos os tipos. O povo e hospitaleiro e recebe muito bem. Não tem a fama de Lençóis, e pelo que pude ouvir, o povo prefere que fique assim, porque a fama geralmente vem acompanhada de muitos dos males da civilização. Uma coisa que reparei comparando Lençóis a Caeté, os passeios aos pontos turísticos são mais baratos saindo de Caeté. Se não for caminhando ou de carro, para chegar a Caeté tem transporte saindo de Palmeiras, cidade próxima a Lençóis.

    Dia 5. Dia de turista. Na parte da manhã fomos a Cachoeira do Riachinho, muito bonita, para chegar ou pega-se uma moto taxi, baratinho, ou se caminha 2km a pé em uma estrada de barro, comendo poeira o tempo todo e com o sol na lata. Vale o esforço, mas a caminhada não tem nenhum atrativo, vá de condução e pegue o pôr do sol, é o que todo mundo faz.

    Cachoeira do Riachinho

    Na parte da tarde fomos a Cachoeira da Fumaça, apesar da pouca água, que é uma característica da época não há como não se admirar pela grandiosidade da paisagem, é impressionante. É bom atentar para os seguintes fatos, a trilha é simples e bem marcada, montanhista acostumado a trilhas não tem como errar. Tem horário para subir, os voluntários do Parque só deixam subir a trilha até as 13 horas. No final da trilha próximo do mirante da cascata tem que atravessar um Rio, se estiver com tempo ruim ou ameaçando chuva não atravesse, ouvimos vários casos de pessoas que ficaram presas do outro lado do Rio, esperando a agua baixar para poder voltar, e de gente que tentou e a agua levou. Quando chega a época das chuvas costumam colocar uma corda de apoio para a travessia, mas não havia quando fui.

    Cachoeira da Fumaça

    Dia 6. Dia de pôr a mochila nas costas e colocar o pé na trilha. Saindo de Caeté pegamos a trilha entramos no Vale do Capão e seguimos para o Pati. De Caeté até a entrada da trilha segue-se por uma estrada de barro acho que uns 3 ou 4 km, não medi, não tem atrativo algum, então acho melhor combinar um transporte local que te leve até a entrada da trilha, economiza energia, porque o que vem a seguir e pesado.

    A trilha e bem marcada, para quem tem alguma experiência, mas não aconselho a entrar nela sem um guia ou no mínimo mapa e GPS. É uma caminhada sensacional, trekking de montanha por cenários que, sei lá, não é muito fácil de descrever, você se sente pequeno diante da grandiosidade da natureza. A trilha é exposta, o sol forte, mas não falta agua, é abundante. Logo no começo uma subida íngreme, pesada, depois de uns 2km, acho, de subida, atinge-se o platô, um visual de tirar o folego. Neste ponto cometemos um equívoco, em dado momento a trilha se abre numa bifurcação. A trilha pelo lado direito é o caminho mais comumente trilhado, você passa pela Camping de Dona Raquel, pernoita, e baseado lá vai ao Morro do Castelo e ao Cachoeirão. A Trilha da esquerda, faz um by-pass nestes pontos e te leva direto ao Camping Prefeitura. Como não tínhamos certeza de qual lado seguir e o GPS mostrava que as duas trilhas se encontravam a frente, optamos pela esquerda.

    Foram aproximadamente 9 horas de Trekking, se fossemos pelo lado direito faríamos isso em dois dias, em um deles visitando o Morro do Castelo e o Cachoeirão, então para quem vai à primeira vez, opte pela trilha do lado direito. Um fato, nesta caminhada atravessamos vários rios, sendo assim creio que em época de chuva deve ser difícil seguir por este caminho. Há vários pontos em que se pode montar um camping, selvagem, em caso de emergência, porém o parque proíbe, então só em casos extremos. Segundo os locais informaram, as cabeças d’agua são famosas e corriqueiras, então, nunca, na beira dos Rios.

    Camping Prefeitura

    Chegamos no Camping Prefeitura as 17:30 mais ou menos. É bem estruturado, para o local, fogão a lenha, chuveiro, luz elétrica, o Zé Preto, responsável tem uma venda, dá para reabastecer se precisar de algo, agora os preços são preços de mercadorias que chegam ao local em lombo de burro, então, não é barato. Se não quiser montar barraca tem quartos coletivos. Neste dia só restou comer e dormir.

    Camping Prefeitura

    Dia 7. Neste dia íamos partir cedo, o objetivo, camping de Seu Joia, para no dia seguinte chegar a Andaraí. Porém o Zé Preto, responsável do Camping, nos disse que subindo por uma trilha atrás da casa, daria para chegar ao Cachoeirão por cima. Resolvemos tentar, e na boa, foi o maior tiro na água. A trilha é pesada, sobe por pedras e raízes, até ultrapassar o paredão e chegar ao topo da pedra, aí e que não deu certo, olhando pelo GPS, e eu não tinha este tracklog, dá para ver que o Cachoeirão fica do seu lado direito, mas a trilha, inclusive com muitas marcações, vai para o lado esquerdo, seguimos até um ponto onde vimos que não chegaríamos ao objetivo e atrasaríamos o próximo, então resolvemos descer. O Zé Preto jura que tem uma trilha seguindo pelo lado direito, mas nós 4, todos experientes de trilha não encontramos, sendo assim, foi um desperdício de energia.

    Descemos e seguimos caminho. A trilha e bem marcada, passamos por outras casas de apoio como a de Dona Linda, fica entre a Prefeitura e seu Joia. Se estiver cansado e quiser parar, é um excelente ponto.

    Camping de Dona Linda

    O preço do camping na região é digamos, tabelado, todos cobram 20,00, e 40,00 se quiser dormir em quarto coletivo, mas pro quarto, se estiverem vazios, rola uma negociação, no camping de Seu Jóia eu não estava a fim de montar barraca, falei que pagava 30,00 pela cama e foi aceito pela esposa dele, ele não estava no local, tinha saído com tropa de burros para Andarai.

    Chegamos também por volta de 17:30, tudo muito limpo, organizado, gostei muito do local e das pessoas. Luz Elétrica, Fogão de Lenha. Vendinha.

    Camping de Seu Jóia

    Dia 8. Dia da caminhada final até Andaraí. Quando do camping, você olha para o paredão a sua frente e entende que tem que atravessar aquela Muralha, depois de tantos dias, você pensa se realmente vai conseguir, mas aí nesse ponto, a questão não e se vai, é ter que. Comparando com outras trilhas é como a Ladeira da Misericórdia, na travessia da Serra Negra, eu achei pior, bem pior, não sei, talvez já pelo cansaço de tantos dias de caminhada. Depois que chega ao topo da muralha, ai é basicamente descida e trilha marcada, mas ta pensando que é fácil, não, o piso da trilha é todo de pedras soltas, seixos de rio, escorrega, vira o pé, o tempo todo, cansa demais.

    Travessia da Muralha, Camping do Seu Joía ao fundo

    Chegamos a Andaraí, final da travessia por volta de 13 hs, missão cumprida, travessia realizada. No final da trilha, antes de entrar na cidade, há uma ruina de um muro de pedra ali as pessoas deixam os cajados que carregam na travessia, havia alguns lá.

    Final da Travessia – Andaraí

    Andaraí é uma cidade em que não se notabiliza como polo turístico, quase não vi agencias vendendo passeios e pacotes, em Lençóis tem uma cada esquina, porém quase todo morador tem como segunda profissão o guiamento na chapada, então não é difícil conseguir quem lhe mostre os melhores lugares da região. Casario antigo, da época áurea da mineração, todas muito bem conservadas, quase não se vê casas modernas. Tem todos os serviços que se pode esperar de uma cidade moderna. Inclusive o que reparei é o grande número de escolas, as praças limpas e conservadas. Segundo os moradores se trata de uma cidade extremamente funcional, e uma coisa rara, gostam muito do prefeito, está no segundo mandato e se dependesse da população ficava mais um. Pelo pouco que vi da cidade o Sr. Alcaide trabalha direito. Quem passa por lá não deve deixar de provar o prato típico da região, o Godó, um prato de banana verde com carne seca, muito saboroso.

    Não tínhamos mais tempo, agora era só dormir, descansar, conseguimos uma pousada a excelente preço do lado da Rodoviária. Uma dica chegando lá, se for seguir para Salvador de Ônibus, compre a passagem antecipadamente, são poucos horários e como são poucos se deixar para a hora da saída, pode não conseguir.

    O dia seguinte foi viajando para Salvador e depois de Volta ao Rio. O que fica da viagem, a Chapada é um lugar sensacional, não é possível conhecer tudo numa viagem só, quer dizer, a não ser que tenha tempo e recursos ilimitados, o que não é meu caso e o da maioria. Viajar pra Chapada exige planejamento, dá pra ir sem planos, da, mas o custo benefício vai ser bem menor. Com um bom plano você conhece mais, aproveita mais e gasta menos. Vou voltar, talvez de carro, não sei ainda de que modo, mais vou voltar. Tem muita coisa pra se ver, pra se conhecer.

    Foi uma viagem que entre erros e acertos posso dizer, foi excelente, um saldo amplamente positivo. Voltarei.

    RAD

    Rodolfo Damasceno
    Rodolfo Damasceno

    Publicado em 16/10/2016 21:10

    Realizada de 08/09/2016 até 18/09/2016

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    9 Comentários
    Rodolfo Damasceno 16/10/2016 21:20

    Acho que la podemos voltar várias vezes e mesmo assim sempre teremos novas experiências. E Olha que foi so a minha primeira vez rs

    Viviane Rosa 16/10/2016 22:51

    Sensacional o seu relato. Dá pra viajar em cada palavra. Está na minha lista de lugares incríveis para desbravar.

    Lula Ribeiro & Lucineth 14/08/2017 12:22

    Lençóis lugar encantador, espero em breve está por ai. primeira vez que fui ai mim apaixonei. parada obrigatória. seu relato é 10 show

    Rodolfo Damasceno 04/09/2017 15:12

    Obrigado Lula.

    Leandro Moda 10/12/2018 14:58

    Obrigado pelo relato! Informações importantes!

    Rodolfo Damasceno 15/12/2018 09:38

    Obrigando Leandro

    Santos Valdo 16/08/2019 09:16

    Que top Rodolfo, a vontade de fazer tudo isso é absurda, obrigado pelo relato.

    Rodolfo Damasceno 21/08/2019 11:23

    Obrigado Santos Valdo

    Rodolfo Damasceno

    Rodolfo Damasceno

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