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Rogério Lupiao 13/08/2018 22:29
    BRASIL - ESTADOS UNIDOS (motocicleta)

    BRASIL - ESTADOS UNIDOS (motocicleta)

    BRASIL - ESTADOS UNIDOS DE MOTOCICLETA

    Moto Aventura Cicloviagem Motociclismo

    Em 30 de abril de 1994, eu partia para minha maior aventura até então. Saindo de São Paulo, sozinho e a bordo de uma motocicleta Yamaha XT 600 TÈNÈRÈ, segui rumo aos Estados Unidos.

    Mesmo sem muita certeza de conseguir meu objetivo, me preparei para seguir até onde conseguisse.

    Vale lembrar que em 1994 não existia internet,celular, GPS e todas as outras facilidades que hoje tornam uma aventura desse porte um pouco menos desafiadora.

    O objetivo inicial era apenas chegar aos Estados Unidos, mas como 1994 era ano de copa do mundo e ela seria realizada por lá, eu tinha mais um incentivo.

    Sem a internet, ficava muito difícil ter informações a respeito de roteiros, documentação necessária e todas as outras dicas que facilitariam meu desafio.

    Foram muitos meses tentando levantar custos e roteiro, sem muito sucesso, mas uma pequena desavença no trabalho deu o impulso que faltava a minha idéia de cair pelo mundo em uma motocicleta.

    A única coisa que ainda me segurava era a falta do visto americano, mas após meu pequeno problema no trabalho, amanheci na segunda feira no consulado onde fui agraciado com a autorização para entrar no país (lembrando que nessa época não havia agendamento como hoje, o atendimento s edava por ordem de chegada).

    Com a autorização de entrada em mãos, segui direto para o escritório, onde pedi minha demissão e comecei a maratona dos vistos dos países que eu iria passar. Consegui alguns e outros resolvi tirar durante o caminho.

    Comprei algumas peças sobressalentes, um mapa, fiz algumas modificações na moto e na sexta feira da mesma semana pela manhã já estava na estrada rumo a UBerlândia-MG, minha primeira parada.
    Toda a burocracia da minha demissão foi feita pelo meu irmão Ronaldo pois naquela época ainda guardávamos alguma semelhança (favor esse que foi devidamente retribuido anos depois quando ele foi morar nos Estados Unidos).​A saída de casa foi tranquila e logo estava sozinho na estrada sem a mínima idéia da aventura que acabara de começar.​Um das grandes dificuldades que imaginava encontrar, era a travessia entre Porto Velho - RO e Manaus - AM. As informações eram desencontradas e a opção foi a travessia em balsa.

    Foram quase 5 dias de balsa até Manaus e mais 3 dias na cidade aguardando a liberação da estrada até Boa Vista - RR, que se encontrava interditada por causa das chuvas.

    A estrada não foi liberada e resolvi seguir viagem assim mesmo.

    Com a ajuda dos soldados do exército, que fazem a manutenção da estrada, consegui vencer o trecho de interdição, mas não consegui passar pelo imenso atoleiro que havia dentro da reserva indígena dos Waimiri Atroari, que havia "engolido" 1 caminhão e um ônibus, interditando totalmente a passagem.
    Uma madrugada inteira se passou antes que conseguissemos seguir viagem.

    Em Boa Vista, foram 22 horas de sono para recuperar as forças e encarar a primeira etapa da maior dificuldade que tive na viagem, a burocracia.

    O Detran impunha várias dificuldades para me fornecer o documento de quitação de dívidas no Brasil (nem sei se isso ainda é necessário hoje), pedaço de papel que o Consulado Venezuelano exigia para me conceder a autorização de entrada nesse importante país.

    Resolvida a "burrocracia", entrei na Venezuela pela segunda vez na minha vida e ria sozinho com os centavos de dólar que gastava para encher o tanque da moto.​O roteiro inicial que imaginava, foi respeitado até Caracas, mas pelas informações que recebi no caminho, optei por entrar na Colômbia pela cordilheira na cidade de Cúcuta.

    Debaixo de muita chuva, que desde Porto Velho no Brasil me acompanhava todos os dias, cheguei a Bucaramanga onde passei minha primeira noite no país.

    Cartagena, foi minha próxima parada, pois seria de lá que eu tentaria pegar um barco para o Panamá.

    Entre a Colômbia e o Panamá, existe um trecho que é disputado pelos dois paises e que oficialmente não é cuidado por nenhum deles, além de ser uma reserva florestal que dificilmente poderia ser atravessada por estradas.


    Muitas tentativas no porto não deram em nada e como os dias iam se passando, as informações do perigo de embarcar em uma roubada, me fizeram optar pelo transporte aéreo.

    Despachei a moto e lá fui eu para um vôo de pouco mais de uma hora.

    A moto demorou 2 dias para chegar e me deixou bastante apreensivo em relação a condição em que chegaria.​O roubo dos adesivos e uma manopla quebrada foram os maiores danos do percurso e já no terceiro dia seguia rumo a Costa Rica, atravessando a ponte Panamericana que atravessa o famoso Canal do Panamá.

    As fronteiras se seguiam, e horas eram perdidas na burocracia de cada uma delas, mas a grande dificuldade era fugir das "taxas" que eram literalmente inventadas pelas várias repartições que eu tinha que passar.

    Um problema que todos os dias eu enfrentava, era conseguir um lugar para dormir onde pudesse entrar com a moto, pois não arriscava deixá la do lado de fora, nem sempre era fácil, mas disso eu não abria mão.​A campeã absoluta foi a Nicaragua, que me comeu mais de 4 horas e cerca de 81 dólares (lembrando que isso foi em 1994, portanto era uma fortuna na época).​Depois vieram Honduras, El Salvador, Guatemala e finalmente México.​Entrar no México para mim, seria entrar no primeiro mundo, pelo menos essa era a imagem que eu tinha do país, mas o espanto foi grande quando percebi que nem de longe aquilo poderia ser considerado como tal.


    Com exceção das estradas que eram novas e em perfeito estado, todo o resto me lembrou o interior do nordeste Brasileiro.

    As estradas novas e recém privatizadas tinham pedágios absurdamente caros, mas em todas elas havia uma opção para quem como eu não pudesse pagar. Estradas secundárias e de mão dupla foram a opção para atravessar o país até o norte.

    Nesse ano, a província de Chipas ao sul do México, havia iniciado uma pequena guerra civil contra o governo central e tentava a separação do resto do país. Todo o trecho estava muito controlado e por duas vezes tivemos que seguir em comboio, escoltados pelo exército.

    A travessia do país foi tranquilo até o norte quando entrei no Deserto de Sonora com temperaturas de 48 graus.

    A infeliz idéia de percorrer um trecho da estrada de camiseta, me fez ter bolhas de queimaduras nos braços poucos quilômetros depois.

    Na cidade de Mexicali, passei minha última noite no México, atravessando a fronteira para os Estados Unidos pela manhã do 54º dia de viagem.

    Segui rumo a San Francisco onde me hospedei na casa de amigos (família Pasquini) por uma semana e pude assistir 2 jogos do Brasil na copa
    Brasil X Rússia
    Brasil X Camarões​Parti rumo a costa leste, mas voltei de Salt Lake City, quando o Brasil foi para a final, mas infelizmente e por total e absoluta falta de verba, assisti e comemorei a vitória do lado de fora do estádio em Pasadena.



    Por algumas semanas fui recebido por uma amiga carioca em Salt Lake, onde tirei minha carteira de motorista. A carteira não era exigida normalmente, mas como eu tinha muita estrada pela frente dentro dos Estados Unidos, resolvi providenciar o documento.

    Atravessei todo o centro do país até as Cataratas do Niágara, já na divisa com o Canadá.

    Uma passada por Nova Iorque e comecei minha descida rumo a Flórida, não sem antes visitar a capital Washington.​A programação era chegar em St. Petesburg - Flórida, para visitar o amigo Ivan Alves de Almeida, que já estava por lá a alguns anos e me abrigou pelos 4 meses seguintes.

    Uma problema na corrente da moto me fez pedir sua ajuda a pouco mais de 90 Kms antes da chegada em sua casa, estragando a surpresa.

    Por quase 4 meses fiquei por lá, consertei minha moto, visitamos os parques da Disney e acabei por arrumar um emprego no mesmo restaurante que meu amigo Ivan trabalhava.

    O trabalho era puxado, mas bastante divertido e fez com que recuperasse 8 dos 13 quilos perdidos até então.

    Dentro dos planos iniciais, minha viagem estava no fim, já que da Flórida eu embarcaria a moto em um navio e retornaria de avião para casa, mas o preço desse despacho me fez alterar os planos e por fim resolvi que voltaria por terra novamente.

    No começo de novembro iniciei meu retorno.



    Novamente encarei a América Centra, mas dessa vez não era mais uma novidade e foi bem mais duro do que imaginei.​Minha última parada antes de casa foi novamente na casa do amigo Fábio Guedes em Uberlândia-MG.Foram 51 dias de volta e a chegada de surpresa no dia 31 de dezembro durante a festa de fim de ano, foi como eu imaginei....

    Apesar da grande aventura, foi muito bom estar em casa de novo.

    Eu conto melhor essa história em um pequeno relato que fiz em forma de livro, que longe de ser uma obra literária, serve bem para sanar a curiosidade do dia a dia dessa longa travessia.​

    https://clubedeautores.com.br/livro/um-sonho-em-duas-rodas

    Rogério Lupiao
    Rogério Lupiao

    Publicado em 13/08/2018 22:29

    Realizada de 30/04/1994 até 30/04/1995

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    4 Comentários
    Maressa de Proenca 06/09/2018 01:30

    Uauuu 👏🏻👏🏻👏🏻

    1
    Gustavo Paterlini 22/07/2019 12:16

    Fantástico Rogério! Grande aventura... vou acompanhar seu perfil!

    1
    Pedro Braga 10/08/2023 20:12

    MEU DEUS DO CÉU!! Que viagem !!! Muito bom!!! Meus parabéns!!

    1
    Joice Albanez 06/12/2024 14:56

    Rogério, me lembro da camiseta que vc fez com o nome do pessoal do restaurante - o meu estava lá! Vc ainda tem contato com o Ivan? 

    Rogério Lupiao

    Rogério Lupiao

    Santos-SP

    Rox
    147

    Engenheiro mecânico, Engenheiro Segurança do Trabalho, bacharel em Direito lupiao@kokimbos.com.br

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