O alarme toca, me desperta, são cinco da manhã. O coração palpita, a garganta seca, a ansiedade aumenta... Finalmente chegou o dia da tão sonhada e almejada escalada.

A cinco anos atrás, desde quando a avistei pela primeira vez, finalmente sinto que é chegada a hora. Levanto-me e corro para a janela, vejo o céu branco, aparentemente nublado e uma tristeza repentina me vem à cabeça: "Não será hoje?". Como se não tivesse acreditando torno a olhar, e simplesmente num passe de mágica vejo estrelas. Percebo que o céu na verdade esta límpido e minha esperança volta logo.

Me visto, pego a mochila, saio de casa feliz e confiante. No carro, o sempre e bom reggae, pra me deixar em paz e tranqüilo. No caminho, tenho uma visão alaranjada de toda serra dos órgãos, é o sol dando o ar da graça e aumentando ainda mais as minhas esperanças: "Tem que ser hoje!".

Estou na entrada do parque, meus amigos chegam aos poucos, todos confiantes no sucesso da empreitada. Pegamos nossas mochilas, cordas e mosquetões e iniciamos a longa caminhada. A ansiedade é tão grande que nem consigo caminhar devagar, minhas pernas parecem pedir pra correr: "Tenho que chegar logo na base!". A cada passada, o coração bate mais forte, a ansiedade aumenta, os lugares por onde passo nem são percebidos, talvez por já serem tão conhecidos, ou porque o objetivo do dia é outro. A única coisa que percebo é que o dia esta lindo e que o clima fez sua parte: "Só depende da gente!".

Já se passaram três horas de caminhada, olho pra cima e finalmente tenho a tão esperada visão, daquela que seria o alvo. Olho pra baixo, vejo um grande vale e a trilha que vai levando pro mesmo. Meu sangue esfria, a barriga congela, percebo que foi daí que tiraram o nome do setor, chamado "Geladeira"... E então, tudo passa a ser novo, desconhecido, virgem. Percebo e gravo cada detalhe, como se quisesse guardar cada momento. A câmera ficou em casa, tudo será registrado pelos olhos e guardados na memória...

Uma hora após tantas subidas e descidas íngremes, finalmente chego na base da agulha, olho pra cima e vejo a montanha indefesa que nos aguarda. Encorajado pelo meu parceiro, pego a ponta da corda, equipo-me e toco a escalada pra cima. Mesmo desconfiado e receoso, concentração e respeito são essenciais neste momento.

Alguns minutos depois e me vejo de frente para o tão famoso "Cavalinho". Com um certo receio, embrenho-me no lance... No meio da passada penso em desistir, mas novamente com o incentivo do meu parceiro, sigo e frente e consigo passar esta barreira. Saindo do lance, entro numa enorme fenda, porém muito apertada que mal me cabe de lado. Olho pra cima e vejo a saída. Percebo que me encontro no espaço entre a "Unha" e a Agulha.

Talvez, por ironia do destino, me vejo tendo que superar um dos maiores obstáculos pra mim, já que "chaminé" não é o meu forte... Dentro da fenda, meus pensamentos vão de confiança à medo em questões de segundos, e vice-versa. Mesmo assim, tomo aquela que mais tarde seria a decisão correta! Começo a escalar e me concentrar somente no meu maior objetivo, conseguindo chegar à ponta da "Unha" e vibro por ter vencido mais uma etapa.

Agora, só o que me separa da conquista são alguns metros. Subo com todo cuidado do mundo, segurando no cabo de aço como se a minha vida dependesse somente daquilo. Com atenção encaro os últimos lances e finalmente chego ao cume! Respiro fundo, contemplo a paisagem durante alguns segundos, me emociono. Agora, somos apenas eu e rocha. A Agulha que é do Diabo, naquele momento era minha: "Agulha, te conquistei!".

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