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Marcelo Guimaraes 06/03/2020 09:25
    Crise Renal a 5000m - Condoriri.

    Crise Renal a 5000m - Condoriri.

    A crise renal não avisa, simplesmente chega. Na montanha, é bem pior.

    Alta Montaña Escalada Trekking

    O planejamento das montanhas estava em curso, tudo seguindo 100%, com a aclimatação acontecendo da melhor forma possivel. Era uma viagem de 20 dias, montado em parceria com a Choquito Andes Expedition (para expedições, entre em contato comigo), com aclimatação no Chacaltaya (5400m), Mururata (5871m), Pequeño Alpamayo (5370m) e por fim, o vulcão Parinacota (6347m).

    Após o êxito no Mururata, tivemos 1 dia off para repousar antes da viagem ao vale do Condoriri, onde passaríamos 4 dias fazendo algumas trilhas, e uma experiência em um gelo mais duro do que o Mururata. A Cordilheira Real, por estar mais próximo da floresta amazônica, recebe uma maior umidade, consequentemente, o clima e mais instável e o gelo é diferente do que as montanhas da Cordilheira Ocidental e das montanhas do Atacama.

    De La Paz até o ponto de início da caminhada para o Condoriri, são aproximadamente 100km.

    Quando chegamos e aprontamos os equipamentos nas mulas, comecei a sentir um desconforto na região posterior do corpo. Ja havia tido algumas crises antes dessa, e resolvi fazer uma super hidratação com chá de coca e água. Ingeri rapidamente uns 3 litros de líquido na pré-caminhada, na esperança de expelir o cálculo. Consegui fazer o trekking de 2h ate o lago Chiarkota (4500m). Chegando lá, uma expedição da Alemanha tinha um médico. Me fez uma consulta rápida e me deu um medicamento que tinha similaridade com o Deocil, que vende no Brasil. Recomendou a ingestão de mais e mais chá de coca e atividade para movimentar e expelir a pedra.

    Estrada de acesso ao Parque Nacional Condoriri.

    Chegada ao lago Chiarkota. Mesmo com dor, a paisagem me encantava e conseguia até esquecer a gravidade da situação.

    O majestoso Cabeza del Condor (kunturiri), com seus 5648m. Escalada técnica, somente indicado para quem tem experiência em iceclimbing. Ala Derecha e Ala Isquierda completam o maciço.

    Um zoom no topo da montanha.

    Ao anoitecer as coisas pioraram. Comecei com febre e um mal estar terrivel. Abortei imediatamente a subida. Foi uma noite ruim, bem gelada e longa... ao amanhecer, encontrei novamente o médico alemão, e perguntei se uma caminhada sob efeitos do remédio e a alta ingestão de liquidos poderia me ajudar. Ele disse que sim, mas que se nada ocorresse ate as 12h, era para eu voltar pra cidade e resolver com cuidados medicos a situação.

    Trekking para tentar expelir o cálculo renal. Pico Aguja Negra em destaque.

    Expedição a caminho do Pico Tarija (5350m)

    Na tentativa de amenizar as dores, fiz um trekking ate a geleira Tarija, aos 4800m.

    Infelizmente, as dores continuaram e a realidade de ir para o hospital ou voltar ao Brasil começaram a se concretizar.

    Na base da Geleira Tarija, com Pico Tarija a direita e o Pico Wyoming a esquerda.

    Resolvi voltar para o Brasil, sendo que ainda havia a trilha de volta pro veiculo (2h), mais a viagem pra La Paz e tentar trocar a passagem aérea, que somente tem pra São Paulo direto. E ainda havia a viagem para o Rio de Janeiro...

    Paisagens clássicas com Lhamas.

    No retorno, sob efeito de remédios e anti-enjôo, passamos por uma região chamada Tuni, muito bonita e pouco explorada pelos montanhistas. Fica entre o Condoriri e o Huayna Potosi.

    Imponente Huayna Potosi (6088m) em sua face oeste.

    Lago Tuni. Condoriri a esquerda e Huayna Potosi a direita.

    Muitas dores, mas ainda consegui tirar algumas fotos. So quem ja teve crises renais por cálculo, sabem o que eu estava sofrendo nesse momento...

    Consegui trocar a passagem para o dia seguinte, deu tudo certo. Infelizmente, o vulcão Parinacota ficou para uma proxima oportunidade.

    Fica o alerta:

    Sempre que uma viagem de montanha internacional esta programada, visitem todos os medicos possiveis. Nao fiquem so no cardiologista, mas observem se os rins estão sem pedras!!!

    O causador do problema.

    Traga seu lixo das montanhas!!!

    Marcelo Guimaraes
    Marcelo Guimaraes

    Publicado en 06/03/2020 09:25

    Realizado desde 14/06/2017 al 15/06/2017

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    2 Comentarios
    Priscila Matias 07/03/2020 10:46

    Tive uma crise na vesicula em minha primeira travessia de montanha. Na epoca eu nem sabia que estava com uma pedra na vesicula, sofria com mal estar chato quando comia mas achava que era problema de estomago. Foi muito tenso, nao sabia se no outro dia teria condição de voltar a caminhar, os guias estavam preocupados. Pior que nao tinha rota de fuga, teriamos que voltar todo o caminho que fizemos (eu, com muito sacrifício). Graças a um verdadeiro milagre divino, no outro dia amanheci 100%, e pudemos concluir a travessia. Fui consultar um médico quando cheguei em casa e um mês depois estava entrando na faca, cirurgia pra retirada da pedra. Lembrei desses momentos de perrengue quando li seu relato.

    Marcelo Guimaraes 07/03/2020 10:48

    Que bom que deu tudo certo com vc!! No meu caso, essa crise foi a décima vez que aconteceu comigo, entao eu ja estava "craque" de sintomas...

    Marcelo Guimaraes

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