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Marcelo Lemos 16/10/2021 10:48
    Parque Nacional de Sete Cidades (PI)

    Parque Nacional de Sete Cidades (PI)

    Um dia dentro de um promissor sítio arqueológico.

    Trekking

    Se você se interessa por sítios arqueológicos e formações geológicas diferenciadas, então seja bem-vindo(a) ao Parque Nacional de Sete Cidades, localizado no Piauí! Sua área está distribuída entre os municípios de Piracuruca e Brasileira.

    Idealizei um roteiro em 2018 correspondente a um circuito que envolveu o litoral e interior dos estados do Ceará e Piauí (e uma pontinha do Maranhão). No litoral, correspondeu em parte ao circuito conhecido como “Rota das Emoções”, este circuito indo desde os Lençóis Maranhenses até Jericoacoara. Só fiz a parte deste roteiro, entre Parnaíba (PI) até Jericoacoara (CE). Em compensação, acrescentei roteiros no interior, o próprio parna de Sete Cidades e o parna de Ubajara, no Ceará. Cada etapa merece um relato a parte.

    Infelizmente, devido à grande distância, não consegui incluir no roteiro arqueológico o famoso Parque Nacional da Serra da Capivara, o que acrescentaria mais de mil e quatrocentos quilômetros rodoviários dentro do Piauí (ida e volta). A área deste parque é bem maior, exige mais tempo para visitá-lo por ter sido mais estudado cientificamente, principalmente graças ao trabalho de Niède Guidon, nossa maior autoridade no campo da arqueologia. Fica para uma próxima...

    Voltando a Sete Cidades, observei por informações prévias que seria possível visitá-lo em um dia. Saí de Ubajara e fui direto para o local no dia 2 de fevereiro.

    Cruzando a divisa dos estados pela primeira vez.

    Eu havia encontrado na internet uma recomendação de uma guia com telefone de contato. Assim, entrei em contato antecipadamente com a Gildeane e ela me passou todas as informações necessárias. Mas não se preocupe se você não conseguir guia antecipadamente. Na entrada do parque há vários guias aguardando turistas para fazerem saídas em horários determinados. Só é possível a visita acompanhado de guia. Também é possível percorrê-lo a pé integralmente ou de carro, a fim de dinamizar o deslocamento entre as cidades do complexo. Como eu estava acompanhado de meus filhos, ainda pequenos, optei por entrar com o carro. A promessa de um dia escaldante também me motivou nesta escolha. De carro, você conhece o roteiro sugerido em meio dia. Caminhando, vai precisar de um dia inteiro, talvez dois, dependendo do ritmo. Leve lanche, boné, protetor solar e muita água. Depois do almoço, o calor é intenso. No interior não havia nenhuma estrutura de apoio, somente na entrada. Local para almoço, somente na estrada de acesso e precisamos sair para almoçar no meio da visita. Quanto à hospedagem, só havia um hotel próximo, que tentei contato antecipadamente e não consegui. Ao final do dia, nos hospedamos na cidade de Pedro II. Na época, não se pagava entrada no parque. Apenas o serviço do guia.

    A visita não foi feita em uma ordem sequencial numérica das cidades, como cada complexo rochoso é conhecido. Por isso, a partir dos pontos notáveis fotografados, horário do arquivo e informações da internet, retracei o roteiro aqui descrito. Desconheço o critério utilizado para ordenar a numeração das cidades.

    Gildeane já nos aguardava com seu guarda-sol na entrada do parque e iniciamos nosso trajeto pela Sexta Cidade, em que o destaque foi para a Pedra do ________ . Veja a foto adiante e complete a lacuna com sua percepção.

    E aí? Vai arriscar o palpite?

    Se você respondeu “elefante” está com uma boa percepção (se não acertou, culpe o fotógrafo, que não conseguiu transmitir a imagem). Por estarmos em um sítio arqueológico, e com um pouco de boa vontade, poderia ser um mamute também (talvez haja um fossilizado ali e as rochas tomaram seu corpo como molde!). A formação deve alcançar quase 10 metros de altura e uns 20 metros de comprimento.

    No final do relato deixarei um link em que o interessado poderá acessar descrições geológicas mais específicas para cada um dos monumentos.

    Passamos para a Segunda Cidade, que demanda mais tempo em função da maior diversidade de atrativos. A primeira atração nesta cidade foi o belo Arco do Triunfo. O local é cercado de imponentes paredões com mais de 30 metros de altura.

    O Arco do Triunfo - este foi feito pelas mãos da natureza!

    Muralhas intransponíveis marcam algumas passagens na Segunda Cidade.

    Depois foi a vez de visualizarmos inscrições rupestres datadas de 6.000 anos. Sem dúvida, a mais enigmática é a mão dos seis dedos. O silêncio do local ajuda em uma viagem no tempo na tentativa de encontrar respostas. Quem fez a pintura? Qual o motivo? A foto dispensa maiores comentários.

    As tinturas usadas eram extraídas de cascas de árvores.

    Mais adiante, avistamos um belo pássaro amarelo e uma cutia e seguimos por uma subida que nos levou à Biblioteca, talvez a formação rochosa com nome particular mais extensa avistada no parque. Segundo a descrição, lembra vários livros e papéis empilhados. Para mim, lembrou também uma gigantesca serpente quando vista de longe. O local é uma boa parada para lanche e descanso, pois há locais abrigos do sol.

    Sem revelar muita timidez, esta cutia fez charme para a foto!

    A Biblioteca. Meus filhos se encantaram com a grandeza da formação.

    Ainda subimos mais e alcançamos o ponto mais elevado do parque, o Mirante, a 82 metros de altura e de onde se tem uma incrível visão das cidades de pedra do parque, envoltas por uma vegetação rala.

    No ponto culminante do parque. O silêncio do cenário traz muitas perguntas à mente e proporciona uma viagem no tempo.

    Após descermos, fomos para a Terceira Cidade, que contém o maior número de monumentos geológicos do parque e que provoca na imaginação uma assimilação com formas conhecidas. Destaque para os Três Reis Magos.

    A Terceira Cidade é repleta de pináculos rochosos.

    O calor começava a apertar. Gildeane não era boba e estava usando sempre seu guarda-sol. A manhã já se aproximava do fim. Seguimos para a Primeira Cidade e, neste complexo, fizemos uma pausa no Olho d'Água dos Milagres, uma piscina natural em que meus filhos não dispensaram um mergulho para afastar o calor. Ainda atravessamos o Mapa do Piauí e seguimos de carro até avistarmos os Canhões. De fato, a visita nesta cidade foi rápida, pois o calor estava apertando. Era hora de fazermos uma pausa para sair dos limites do parque e almoçar.

    O Mapa do Piauí, uma estreita passagem pela muralha rochosa.

    Um dos vários canhões da Primeira Cidade. Nossos ancestrais estavam preparados para a guerra!

    Na volta do almoço, fomos para a Quinta Cidade, com destaque para a Pedra das Inscrições na Furna do Índio. Como o nome sugere, há várias inscrições rupestres e mais uma vez, uma volta ao passado. Muito antes de Cabral chegar ao Brasil, nossos antepassados já se comunicavam da forma deles e deixavam sua história gravada para a posteridade. Gildeane me disse que o parque ainda precisava de muito investimento em pesquisa, pois deve haver muito material oculto esperando por ser revelado. Foram poucas escavações arqueológicas, se comparadas à Serra da Capivara.

    Na Quinta Cidade, nossos ancestrais deixaram mensagens de seus hábitos de vida e interações com animais. O que você vê? Borboleta, centopeia, calango, além de mais mãos? Mas há quem associe o átomo e as fitas do cromossomo, o que dá asas à imaginação!

    Adiante, passamos pela Pedra do Camelo e depois avistamos um conjunto rochoso em que se destaca a Pedra do Rei.

    Detalhe da estrutura morfológica da Pedra do Camelo, muito semelhante à Pedra do Elefante na Sexta Cidade.

    A Pedra do Rei (aproximadamente de perfil e de costas). Mas a estrutra da esquerda também lembra alguém de costas...

    Para finalizar o circuito, fomos para a Quarta Cidade, onde se destacam os mapas do Ceará e do Brasil.

    Meu filho atravessando o mapa do Ceará!

    Mais uma travessia, desta vez a do mapa do Brasil. Deve haver uma posição em que o mapa fique mais característico.

    Não é permitida a visitação da Sétima Cidade, exceto com autorização, pois no local há uma reserva ecológica para preservação da fauna, flora e de monumentos ricos em inscrições rupestres. Espero que o parque receba investimentos e estrutura capaz de estudar melhor todo o potencial paisagístico e científico, além de poder proporcionar mais informações e acessos ao visitante.

    De qualquer forma, a visita foi muito proveitosa, principalmente por se ter revelado um ambiente diferenciado quanto à história natural.

    Como eu havia escrito, no final do dia, pernoitei na cidade de Pedro II, conhecida por abrigar as maiores minas de opala do mundo. Somente a Austrália rivaliza com o Brasil nesta gema e a região em que eu estava é a responsável por colocar o Brasil em posição de destaque. O comércio ao turista gira todo em torno deste tema. No fim da tarde, ainda estive no silencioso Mirante do Gritador, de onde, a 720 metros de altitude, foi possível ter uma vista impressionante de uma planície verde lá embaixo. Ao fundo, nuvens pesadas descarregavam a chuva, constituindo-se em um espetáculo grandioso.

    A visão do Mirante do Gritador, na cidade de Pedro II. No horizonte, a chuva era intensa.

    Segue uma boa referência bibliográfica para se entender melhor aspectos geológicos do parque e da região do seu entorno. Entretanto, acredito que boa parte do projeto intencionado no documento não tenha evoluido.

    https://rigeo.cprm.gov.br/bitstream/doc/14606/1/rli_geoparque_cidades_barros_2011.pdf

    Lembrando que o Plano de Manejo do parque no site do ICMBio também é sempre uma boa fonte de informação.

    Marcelo Lemos
    Marcelo Lemos

    Publicado en 16/10/2021 10:48

    Realizada en 02/02/2018

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    6 Comentarios
    Fabio Fliess 16/10/2021 10:59

    Lugar espetacular... Tá naquela lista infindável de lugares pra visitar... Parabéns amigaço.

    Marcelo Lemos 16/10/2021 11:02

    Valeu amigaço. Pois é. Não faltam lugares. Tenho muita vontade de voltar lá e incluir a Serra da Capivara.

    Aline de Castro Santos 16/10/2021 19:24

    Que belíssimo lugar! Aqui pelas fotos, ficamos alguns minutos tentando entender o formato das pedras, e as pinturas rupestres. Imagino quem visita o local ! Mto show!

    Marcelo Lemos 16/10/2021 19:57

    Olá Aline, obrigado pelo comentário. Realmente, algumas formações são impressionantes. O silêncio do local também ajuda na viagem!!!

    Sofia Beviláqua 24/10/2021 22:39

    Uau...belo relato! Impressionante essas formações rochosas.. Quanto às pinturas, me parece que Watson e Crick tiveram em quem se inspirar na "criação" do modelo de dupla hélice do DNA 🤣.

    Marcelo Lemos 24/10/2021 23:57

    Kkkkk é mesmo. Nossa, eu tinha estes nomes na cabeça, mas nem me lembrava que eles estavam nos meus livros de Biologia e associados ao conhecimento do DNA. Obrigado pelo comentário, Sofia. O lugar é bem interessante mesmo.

    Marcelo Lemos

    Marcelo Lemos

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