AventureBox
Marcelo Lemos 26/10/2023 00:02 con 1 participante
    Viva São João!

    Viva São João!

    Em meio às nuvens, uma dramática visão da Agulha do Diabo com direito à fogueira solar!

    Montañismo Hiking

    Ao longo de 2023 eu tinha algumas montanhas candidatas à inédita visitação: Pico do Eco e Mamute, acessíveis por Petrópolis, e o São João, localizado em Guapimirim e acessível pela entrada principal do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO) em Teresópolis. Todas as montanhas são pertencentes ao PARNASO.

    Aproveitei a proximidade com o segundo aniversário da escalada na Agulha do Diabo, em 28 de setembro, para optar pelo São João, vizinho à Agulha e com praticamente a mesma altitude. Esperava de alguma forma relembrar os passos daquela escalada (e cujo relato está aqui no AventureBox).

    O São João, mais à direita, e a vizinha Agulha do Diabo. Foto tirada dos Portais de Hércules em 03/07/2021. Ainda são vistos em primeiro plano o Garrafão e no canto superior esquerdo o São Pedro.

    Não. Isto não é o relato de uma festa junina, com direito a balões e fogueira! Se assim fosse, eu teria saído preso do PARNASO e estaria escrevendo este relato na cadeia!

    Para compor a quadrilha, chamei os amigos Fábio Fliess e Marcelo Borges (ambos integrantes do AventureBox) para a empreitada, mas o Fábio infelizmente não pôde participar. A data definida foi o dia 30 de setembro de 2023 – ou seja, uma festa setembrina! O tempo não prometia estar totalmente aberto, mas pela indicação da cobertura das nuvens, elas estariam em baixas altitudes. É característico haver formação do tapete de nuvens no mês de setembro e eu apostava nisto como indicativo de bom tempo no cume.

    Eu e meu xará saímos de Petrópolis às seis da manhã e uma hora e quinze minutos depois estávamos entrando na portaria do PARNASO em Teresópolis. Trâmites para o acesso cumpridos, seguimos de carro até o estacionamento e às oito da manhã iniciamos a subida pelo acesso à Pedra do Sino.

    Subida da serra de Teresópolis com tempo ainda aberto. Do primeiro para último plano são vistos o Escalavrado, Dedo de Nossa Senhora, Santo Antônio, São João e o São Pedro, este último, no limite esquerdo da foto.

    O tempo passou a nublado e a vegetação estava úmida. Aparentemente, havia chovido na véspera. A umidade do ar estava elevada. Não estava frio apesar da brisa que soprava e o ato de caminhar mantinha o corpo aquecido. Na pressa em sair de casa para não atrasar a carona do meu xará, havia esquecido meu agasalho!

    A primavera era muito bem simbolizada na floresta.

    Antes da chegada ao antigo abrigo 3, tomamos o desvio que leva a alguns pontos notáveis no parque, como Mirante do Inferno, Agulha do Diabo e o São João, obviamente. Ainda que nublado, era possível observar o céu em alguns pontos e a camada de nuvens não parecia ser espessa.

    Outra característica marcante durante o mês de setembro no PARNASO. As amarílis estão floridas.

    Seguimos por algumas bifurcações até que alcançamos a chamada “geladeira”, um local em que é possível acampar, principalmente para quem vai escalar a Agulha. Como o nome sugere, a cobertura florestal em um vale e a presença de vários blocos de rocha “aconselham” que sejam levados bons agasalhos. Felizmente, eu não iria acampar ali. O local também conta com água gelada oriunda de um riacho que, após comparação entre cartas topográficas e a visão de satélite, se trata de uma das nascentes do Rio Paquequer (eu estava na dúvida com o Rio Soberbo, pois o local está próximo à fronteira da bacia hidrográfica de ambos os rios e há muitas subidas e descidas no entorno).

    O caminho úmido, descidas e subidas íngremes exigiam cuidado na movimentação até que pouco depois de onze da manhã tomamos um breve desvio do caminho para, em cinco minutos, chegarmos ao Mirante do Inferno. Ali ficamos por cerca de quinze minutos. A Agulha do Diabo ora ficava encoberta pelas nuvens, ora total ou parcialmente visível.

    Com ares sombrios, a Agulha do Diabo vista do Mirante do Inferno !

    É fato que as nuvens impedem visões distantes. Conheço algumas pessoas que não caminham se tiver previsão de tempo de céu encoberto. Mas as nuvens conferem outra perspectiva ao ambiente e, quando se sabe tirar proveito, a caminhada ganha novos pontos de atenção como a fauna e a flora, em que ambas se tornam mais notáveis pelo deslocamento de nossa visão para o que está mais próximo. Particularmente, passei a gostar da cobertura ao longo do tempo, além de aliviar o calor, como seria nesta época se estivesse aberto.

    Retomamos a caminhada e passamos pela última bifurcação, sendo que à direita seguia-se para a Agulha do Diabo através de um profundo vale até a elevação e chegada a sua base. Tomamos o caminho da esquerda e, em pouco minutos, chegamos ao primeiro desafio: uma rampa com inclinação de cerca de 70° e desnível de uns cinco metros. Levei a ponta da corda realizando alguns movimentos acrobáticos. Quase finalizando a subida, tirei a mochila e a joguei no platô que marcava o fim do lance e ajustei meu corpo para realizar um movimento idêntico ao feito em uma chaminé e cheguei ao fim do lance.

    Na última bifurcação. Dois anos atrás, eu havia passado no local retornando da escalada por volta de nove da noite. Ainda me lembro da silhueta desta imagem à noite.

    Meu xará passou brincando no lance. Seguimos em diagonal pela encosta até que a encaramos frontalmente. Estávamos quase no limite da altitude do tapete de nuvens. Se ele estivesse cerca de cem metros mais baixo, ficaria espetacular. A vegetação tornou-se mais rala e arbustiva. Agora havia uma rampa rochosa para nos encaminharmos ao cume. Ainda houve um lance um tanto exposto. Vencido este trecho, seguimos mais alguns metros até alcançarmos um ponto para a última decisão. Ou escalaríamos um lance de um grande bloco rochoso que levaria até o ponto culminante do São João ou contornaríamos este bloco que nos levaria até o limite do precipício bem a frente da Agulha do Diabo (e que para muitos simboliza o cume).

    Como a base da escalada do bloco estava cheia de arbustos, o que iria atrapalhar a saída do lance e considerando que o contorno do bloco levaria a uma visão mais dramática, optamos pelo contorno do bloco. O lance de escalada também seria mais exigente.

    Feito o contorno pela direita, foi só subir o último lance contando com raízes de árvores para segurar e, enfim, finalizamos ao meio-dia e meia a subida de uma montanha inédita para ambos, pela qual trocamos um forte cumprimento e demos um viva a São João! A altitude era cerca de 2.040 metros.

    Fim da subida. As nuvens ora encobriam, ora descobriam o cenário. A Chaminé da Unha na Agulha está à esquerda do pináculo rochoso, possui pouco mais de um metro de largura e estimo 20 metros de altura. No seu topo há um cabo de aço para se vencer os metros finais até o cume.

    O São João é pouco visitado. Talvez o ponto mais acessado daquele setor seja o Mirante do Inferno. Mas a visão da Agulha no São João tem a mesma dramaticidade e com o acréscimo de ser possível ver a Chaminé da Unha na Agulha. Fiquei ali imaginando minha luta no Cavalinho e na Chaminé da Unha naquele 28 de setembro de 2021. Ainda guardo bem na lembrança o susto que a ansiedade em se alcançar o cabo de aço no final da chaminé provocou: uma queda, mas felizmente segurada pelo guia. A chegada ao cume foi um momento inesquecível.

    Também conseguíamos ver o Garrafão, São Pedro, Papudo e o próprio Mirante do Inferno mais abaixo e um trecho da Travessia Petrópolis-Teresópolis. Por um breve momento, avistei o Açu, mais distante e, por isso, mais sujeito à cobertura das nuvens, que se mantinham em altitude próxima a nossa. Do outro lado, era possível avistar a Pedra da Cruz e a Verruga do Frade. Por um momento, esta última flutuava sobre as nuvens.

    A Verruga do Frade flutuando no mar de nuvens.

    Com o sol descoberto, o calor era abrasador. Parecia que havia uma fogueira de fato ali. Além de ter esquecido agasalho (felizmente não estava frio, com pouco vento), não achei meu protetor solar ao arrumar minhas coisas. Eu estava assando!

    Eu (à esquerda) e meu xará.

    Aproveitamos para fazer boas fotos e lanchar. Permanecemos no local por cerca de uma hora quando decidimos iniciar a descida. Momentos antes de descer o trecho mais íngreme, olhei para uns blocos de pedra e deu aquele estalo: o livro de cume! Será que era ali? Falei para o xará sobre o livro. Removi algumas rochas e lá estava ele! Quase nos esquecíamos de deixar nosso registro. Confirmando a baixa visitação ao lugar, estávamos no último dia de setembro e só houve mais uma visita ao local naquele mês. Não havia registro em agosto e só dois em julho (considerando que todos que lá estiveram sabiam da existência do livro, obviamente). O fato também foi comentado por um guia que encontramos durante a subida e com quem conversamos por alguns minutos.

    Cumprido o protocolo, iniciamos de fato a descida, sendo que descemos em rapel nos dois lances mais críticos na subida. Quando cheguei de volta à “geladeira”, bebi vários litros d’água devido ao calor. Realmente, fez jus ao nome. Parece que a água havia sido retirada de uma geladeira. Passei a andar muito melhor, o que me leva a crer que eu estava desidratado.

    A floresta úmida estava exuberante.

    Terminamos na represa do PARNASO com a chegada da noite, imersos novamente na camada de nuvens e satisfeitos por mais uma missão cumprida. Meu agradecimento ao amigo Marcelo Borges por mais esta.

    Pelo calor, umidade e tempo instável, o Mamute e o Pico do Eco ficarão para 2024, razão pela qual escrevi a primeira frase deste relato no passado, ainda que estando no ano de 2023. Chega de ficar queimado como constatei ao chegar em casa!

    E lembrem-se: comemorem (e visitem o) São João, mas nunca soltem balões. Denunciem. O PARNASO sofre demais com balões. Fogueiras também não são permitidas.

    Marcelo Lemos
    Marcelo Lemos

    Publicado en 26/10/2023 00:02

    Realizada en 30/09/2023

    1 Participante

    Marcelo Borges

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    4 Comentarios
    Fabio Fliess 29/10/2023 17:09

    Excelente relato amigaço. Parabéns pra vcs! Pena que não deu pra participar. Bora agitar as metas pra 2024. Abração.

    1
    Marcelo Lemos 29/10/2023 18:07

    Obrigado, amigaço. Quero voltar lá quando estiver mais frio. Vamos combinar. Melhor falar de 2024 mesmo, porque este final de ano está muito instável.

    1
    Fabio Fliess 29/10/2023 18:58

    Fechado amigaço! Que venha 2024...

    1
    Marcelo Lemos 29/10/2023 19:29

    🙌🏼 abs.

    Marcelo Lemos

    Marcelo Lemos

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