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Maressa de Proenca 31/08/2018 13:50
    Ausangate Trek -  Montanha Sagrada

    Ausangate Trek - Montanha Sagrada

    Nevado Ausangate é uma montanha da Cordillera Vilcanota (ao sul de Cusco, Peru). Ergue-se como o pico mais alto da região, com 6.384m.

    Alta Montanha Trekking Montanhismo

    Um vale de um silêncio incompreensível com flores selvagens está à sua direita... à sua esquerda um lago azul-turquesa te hipnotiza, pelo caminho é possível ver pequenas criaturas do altiplano andino sobrevivendo ao frio intenso. Você está sem fôlego. Dá um passo e para. O que eu estou fazendo aqui? Os ventos sopram violentamente, como se quisessem impedir que qualquer humano permaneça por muito tempo nesse lugar surreal. À sua frente, um pico sagrado coberto de neve, parece rasgar o céu. A natureza é deus aqui.

    A forma de chegar até esse canto secreto do planeta Terra é o Ausangate Trek. Uma trilha que percorre caminhos cheios de história e crenças.


    O nevado Ausangate - uma montanha sagrada

    Para o povo andino o Ausangate é uma Apu, uma montanha sagrada, por ser a mais alta montanha da região é considerada também a montanha mais sagrada de todas as Apus.

    É do denso gelo do Ausangate que os rios das aldeias abaixo se abastecem. A água pura e fresca é considerada um presente do divino. Por sua localização remota, é um trekking pouco comum. Não há muitos turistas e as aldeias permanecem fiéis às tradições ancestrais do povo quechua.

    Muitas das trilhas nos arredores do Ausangate foram usadas pelos quechuas como um Caminho de Peregrinação. Eles saiam nessa jornada em busca de fazer perguntas para a Apu e receberem as bençãos da montanha.

    Como chegar?

    O Nevado Ausangate está há 150km ao sul de Cusco. O acesso pode ser feito por vans fretadas ou por ônibus que saem de Cusco para a cidade Urcos, de Urcos para Ocangate e de Ocangate para Tinki, cada passagem custa em média 18,00 reais. O caminho é alucinante. Curvas e precipícios, sua cara de medo vai fazer os passageiros locais se divertirem. O trajeto é muito engraçado, música andina tocando em volume altíssimo, crianças correndo dentro do ônibus, uma senhora te oferece uma manga... Em algumas curvas você não tem certeza se o ônibus está ou não com todas as rodas no chão.

    Ao descer em Tinki é o momento para organizar os equipamentos, lá também é possível alugar barraca, saco de dormir, etc. A cidade é praticamente uma única avenida, com mercados e barracas de frutas. Compre alimentos aqui.

    Relato

    No caminho até Pacchanta é possível ver o termo “Apu” escrito por toda parte, como sinais de proteção e respeito. Várias vicuñas pastam com seus enfeites nas orelhas.

    Pacchanta é um povoado muito pequeno formado por cerca de 30 pessoas incríveis que vivem de forma muito simples, os homens cultivam batatas e cuidam dos animais, as mulheres cuidam da alimentação e das crianças, as crianças brincam livres, pulando descalças em todo canto. Com as bochechas rosinhas de frio, elas mostram qual sua chinchilla preferida, fazem carinho e depois a comem no jantar. É incrível.

    No meio do povoado há grandes tanques de água termal natural. A água é quentíssima e tem um cheiro forte de minerais.

    Cheguei a noite em Pachanta e fui para o tanque, no começo você acha que vai ser escaldado, mas o frio externo te faz entrar rapidamente.

    E foi ali, flutuando no tanque de água quente, que vi o céu mais bonito da minha vida. O Willkamayu (Via Láctea, em quéchua) estava como há 20cm do meu nariz, parecia uma fotografia. Um silêncio montonhoso e profundo cercava todo o povoado. Eu lembro da paz de estar sem-perguntas atingir meu coração. Os quechuas acreditam que o Ausangate é um portal de acesso para a Via-Láctea, dizem que seres de outros planetas usam essa portal para acessar a terra. Eu ainda não sei se acredito. rs

    Levantei na manhã seguinte as 5h para começar o trekking. O trekking levou 5 dias, iniciamos a caminhada a 4.150m e o ponto máximo atingindo foi de 5.200m de altitude. Antes de iniciar o trekking, os quechuas mais velhos e espiritualizados orientam a pedir a autorização do Apu para começar. Eles realmente lidam com a montanha como uma entidade e isso é muito bonito de ver. Você une quatro folhas de coca e as assopra na direção dos quatro ventos. Em seguida você as queima e aprecia o aroma enquanto pede para o Apu te proteger e te trazer para casa. A caminhada é considerada moderada-difícil por conta da altitude estar sempre acima dos 4.000m. São 35km de extensão total, por caminhos que misturam vales com horizontes infinitos, resquícios de construções incas, lagos místicos de azul-turquesa, flores e vegetação selvagens… é possível ver pequenos animais se escondendo nas rachaduras das rochas e também vimos um Condor sobrevoando o pico de uma das montanhas.

    O último dia do trekking é um retorno até Pacchanta, a caminhada na descida se torna mais tranquila e ao olhar para trás você percebe que também se tornou outra pessoa. Por reconhecer e testemunhar o quanto as montanhas e o Ausangate são sagrados, a sua existência, talvez, também seja um pouco mais sagrada.

    Maressa de Proenca
    Maressa de Proenca

    Publicado em 31/08/2018 13:50

    Realizada de 04/10/2015 até 15/10/2015

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    21 Comentários
    Drefahllucas 15/10/2018 00:58

    Uau que fotos lindas parabéns

    César Zamparo 11/11/2018 23:34

    mto top! o lugar é maravilhoso, porém tive uma péssima experiência com os nativos de lá: fiz a trilha sozinho, sendo que era o meu último circuito (Colca Canion - Vulcão Misti - Salkantay - Ausangate) e eu ja estava meio sem grana. Como fiz o circuito sem guias, ao chegar em áreas de acampamento, ou mesmo em vezes que tentei acampar em locais isolados, eu sempre era surpreendido por "moradores" que tentavam me extorquir cobrando 2, 5 ou 10x mais do que cobravam de pessoas que haviam passado por ali semanas antes. Não tinha escolha: ou pagava ou vc tinha que sair da "propriedade" do cara andando quilometro e quilometros no escuro.

    Sabrina Marques 13/02/2019 18:58

    Adorei o relato! Lindas as fotos Maressa!

    Diego Taques 27/08/2019 17:20

    Wow sensacional o relato

    Marcelo A Ferreira 16/10/2019 09:30

    Uma pergunta: em relação ao checklist, vi que menciona alguns equipamentos para temperaturas negativas. Você lembra mais ou menos a média de preços dos alugueis dos equipamentos por lá?

    Paulo Lima 22/11/2019 16:19

    Oi to lendo o seu relato... só uma pequena correção... Vicunha é selvagem, não pastam com enfeites na orelha, talvez está se referindo as alpacas.

    Paulo Lima 22/11/2019 16:28

    mas viajei nas fotos e relato. Como achar guias para estes trekkings fora do circuito padrão badalado?

    Muito legal o teu relato, Maressa! O Ausangate é uma montanha que quero muito conhecer de perto!

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