![Travessia Araçá x Maciambu [Inédita/Conquista]](https://aventurebox.ninja/thumbor/UmSSmHz4VH0KubbEkjEIKdMKTkE=/360x280/center/middle/filters:no_upscale()/abcdn.aventurebox.com/production/uf/667b3b75a41d3/adventure/682739dc5e845/68274b6680b98-2.jpg)
Travessia Araçá x Maciambu [Inédita/Conquista]
Travessia inédita e com conquista de cumes inéditos na serra do cambirela, entre a Guarda do Cubatão e a Vargem do Braço.
Montañismo TrekkingTravessia Pico Araçá x Pico Maciambu Oeste (SC)
📍 Localização: Serra do Cambirela, Palhoça/SC
🥾 Distância: Aproximadamente 30 km (cerca de 1800 metros de desnível positivo)
⏱️ Duração: Dois dias (cerca de 35 horas totais de atividade)
📈 Dificuldade: Só para experientes.
🎒 Modalidade: Vara-mato, cachoeirismo e trilha (quando existe).
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🌄 Introdução
Essa foi uma travessia que eu vinha idealizando há tempos — um percurso selvagem ligando o Pico Araçá ao Pico Maciambu Oeste, cruzando seis cumes, vales isolados e campos de altitude com vistas surreais do litoral sul catarinense. Com meu parceiro de aventura Shederiano, realizamos não só a travessia inédita, como também a conquista de três cumes inéditos: o Pico Itaraçá, o Pico Arandú e o Pico Aririú.
A travessia se dá dentro da imponente Serra do Cambirela, um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica em Santa Catarina — e também um dos mais inóspitos e menos explorados.
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💪 Motivação e Planejamento
Em 2021 observando o mapa da região e entendendo quão maravilhosa ela era, fiz um desenho de uma rota de travessia da Serra do Cambirela. Aquilo ficou na minha mente, mas nunca fiz a tentativa. Em 2024 com o anúncio da travessia dos maciambus (oeste e leste) na premiação do mosquetão de ouro da CBME, voltou a me acender a chama para fazer a travessia também. No entanto, ao ver o traçado que o grupo do mosquetão de ouro havia feito, vi que houve passagem por uma propriedade privada ao fim da travessia para chegar na comunidade do maciambu. Fiz contato com o proprietário, porém o mesmo me negou a passagem.
Com essa dificuldade, sabia que para completar a travessia precisaria ter outra rota. Foi então que voltei ao meu plano e ao traço que havia desenhado lá em 2021, o qual estendia a travessia mais a nordeste e passava por outros cumes importantes da região, com descida da serra na guarda do cubatão. Decidido a realizar o feito, comecei a planejar a subida ao Pico Araçá, o qual já queria subir a muito tempo também e que conquistei em 01 de agosto de 2024 com meu amigo Shederiano. Inclusive, o relato da conquistado Pico Araçá pode ser lido no link a seguir: Relato da conquista do Pico Araçá aqui.
Depois da conquista do Pico Araçá, fizemos o reconhecimento do outro lado da serra indo de ataque até o Pico Maciambu Leste via Vargem do Braço (bate e volta). Até o Pico Maciambu Oeste eu já havia ido, então nesse ataque o desconhecido seria apenas entre o Maciambu Oeste e o Leste. O relato desse ataque ao Maciambu Leste pode ser lido aqui.
Feito isso, o único trecho da travessia que ainda não conhecíamos era entre o Pico Araçá e o Pico Maciambu Leste, que conheceríamos somente no dia da travessia. Eu e meu amigo Shederiano pensamos em fazer a travessia inteira de ataque, assim como havíamos feito para chegar no Araçá e no Maciambu Leste, porém, depois de ponderar um pouco, decidimos ir preparados para pernoitar. Além disso, decidimos começar pelo lado mais difícil, que era o Pico Araçá. Decisões tomadas, partimos para a travessia.
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🏞️ A Travessia
Começamos a jornada pela trilha da Cachoeira do Araçá, na Guarda do Cubatão, às 3:47 da manhã. Chegamos na cachoeira às 4:56 da manhã e continuamos subindo a partir da trilha do araçá. Às 6:32 chegamos no final da trilha que se dá em um afluente, onde iniciamos a progressão por cachoeirismo, encarando um verdadeiro labirinto de rochas gigantes, fendas estreitas e escaladas molhadas.
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Fim da trilha. Foto do leito que seguimos.
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Uma das cachoeiras que escalamos rumo ao Pico Araçá.
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Passado esse desafio, acessamos os campos de altitude, e tivemos a visão de toda a rampa do Pico Araçá. Que visão magnífica, que rampa imponente. Na vez anterior que subimos o Pico Araçá não conseguimos ter uma boa visão decorrente do tempo fechado, mas dessa vez o tempo estava completamente limpo.
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Rampa do Araçá.
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Para subir a rampa do Araçá a caminhada foi puxada. Não se compara a varar-mato, mas ainda assim exige um bom condicionamento.
Enfim chegamos no primeiro cume do dia às 11:04: O Pico Araçá (1174m) — já conhecido por nós, batizado em homenagem à trilha e cachoeira homônimas. Do cume se tem uma visão privileviada da ilha de Floripa, maciço do Cambirela, maciço do Yami, Pico do Tabuleiro, Pico Yapoã, toda a Serra do Cambirela e de todo o litoral, com destaque para a praia da Pinheira, baixada do Maciambu, Guarda do Embaú, Garopapa e maciço do Siriú. Vejas as fotos a seguir:
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Visão do maciço do Cambirela, Yami e Ilha de Floripa.
Litoral.
Visão do Pico Itaraçá na esquerda e de toda a serra do Cambirela ao centro.
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Em frente ao Pico Araçá, ao sul, há uma formação rochosa singular. Eu e o Shederiano conversamos sobre ir até lá e decidímos fazê-lo. Fizemos a conquista desse subcume e o batizamos de Pico Itaraçá (1146m). O nome vem do tupi-guarani: “ita” (pedra) + “araçá”.
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Foto no cume do Pico Araçá com visão para o Pico Itaraçá ao fundo.
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Foto do Litoral no cume do Pico Itaraçá.
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Na sequência voltamos ao Pico Araçá e partimos em direção ao terceiro cume da travessia. Entre ele e o pico Araçá havia um vale grande com vegetação densa. Foi um vara-mato pesado até conseguir chegar no cume. Alcançamos o cume às 13:54 e batizamos de Pico Arandú (1140m). O nome foi escolhido pelo significado em tupi-guarani: sabedoria, entendimento, ouvir o tempo — bem adequado ao silêncio e isolamento da região. Algumas fotos a seguir:
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Foto no cume do Pico Arandú com visão para o Pico Araçá, Yami e Cambirela, respectivamente.
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Foto no Pico Arandú com visão para Pico Aririú, Maciambu Leste e Oeste.
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Fizemos a longa descida do Pico Arandú em direção a base do próximo cume que queríamos chegar. A travessia poderia ser feita de forma mais fácil e rápida sem passar nesse quarto cume, mas tratava-se de um cume muito imponente e importante e não queríamos deixá-lo de fora do roteiro. Logo na base desse quarto cume o tempo começou a fechar e fomos perdendo a visibilidade.
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Parte do trecho entre o Pico Arandú e Aririú.
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Foto tirada durante a subida ao Pico Aririú com visão para o Pico Arandú (extrema esquerda), Araçá (centro) e Itaraçá (direita).
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O mal tempo não nos conteve e continuamos nossa jornada. Alcançamos o quarto cume às 16:56, sob neblina e vento forte. Batizamos ele de Pico Aririú (1207m). Mais um nome tupi-guarani bem comum em nossa região. Do bairro Aririú e Alto Aririú (que ficam bem na frente do pico, ao norte/nordente), a visão para o Pico Aririú é espetacular e justifica o nome.
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Pedra que marca o ponto mais alto do Pico Aririú.
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No cume do Aririú, o tempo deu uma limpada rápida e aproveitei para tirar essa foto.
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Após conquistar o Pico Aririú, com visibilidade comprometida, decidimos pernoitar um pouco mais abaixo para ficar menos exposto ao vento. A madrugada trouxe chuvas e rajadas de vento fortes, porém estávamos com uma barraca boa e isso não foi um problema.
No segundo dia, seguimos com tempo ainda fechado. Iniciamos nossa caminhada às 7:06. Descemos do Pico Aririú por dentro de um rio — um trecho tenso e técnico, com rochas escorregadias, passagens estreitas e muita adrenalina. Depois de vencer mais um labirinto de pedras, voltamos aos campos abertos.
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Chegada nos campos após descer do Pico Aririú.
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Chegando nos campos, após descer do Pico Aririú, já estavamos em terras conhecidas e de fácil avanço. Seguimos para o imponente Pico Maciambu Leste (1284m) — o ponto mais alto de Palhoça — pela sua face norte.
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Trecho na face norte do Maciambu Leste com visão para o litoral.
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Chegamos ao cume do Pico Maciambu Leste às 9:57 com tempo completamente fechado. Porém já estávamos com sensação de dever cumprido. Dali em diante já havia trilha consolidada até chegar na Vargem do Braço.
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Cume do Pico Maciambu Leste.
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O trecho entre o Pico Maciambu Leste e Maciambu Oeste tem um obstáculo considerável que é o canion entre o cume do Maciambu Oeste e os campos ao leste. É um canion profundo, porém como os outros grupos já haviam aberto uma trilha, foi fácil de passar sem precisar varar-mato. Atingimos o sexto e último cume às 11:17: o Pico Maciambu Oeste (1302m), o gigante de Santo Amaro da Imperatriz e de toda a Grande Florianópolis.
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Cume do Pico Maciambu Oeste.
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Depois disso era só descida até chegar na Vargem do Braço. Levamos cerca de 5 horas para descer, marcando o encerramento de uma das travessias mais incríveis que já fizemos.
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⛺ Considerações
Fizemos a travessia em dois dias, em estilo selvagem, sem apoio externo e sem trilhas marcadas entre o final da trilha do Araçá e o Pico Maciambu Leste. Há água em abundância no caminho.
O uso de GPS offline é obrigatório — e mesmo assim, ele pode falhar em regiões fechadas como cânions e vales. Navegação por mapa e bússola pode ser essencial em certos trechos.
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📌 Dicas
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Esteja preparado para variação extrema de clima: sol, cerração, ventos e chuvas intensas podem ocorrer no mesmo dia.
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Vá com alguém experiente ou que conheça a região.
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Não subestime os trechos de vara-mato ou os labirintos de rochas — são lentos, técnicos e exigem muita atenção.
🌟 Conclusão
Essa travessia foi um verdadeiro teste de resistência física, navegação e conexão com a natureza. Cada cume conquistado trouxe um novo panorama, uma nova história e a certeza de que há muitos roteiros possíveis e estusiasmantes que ainda não foram realizados em nosso estado. Uma aventura que exige respeito, preparo e espírito de equipe. Para quem busca algo além do convencional, esse é o caminho.
Nossa jornada épica 🤜🤛
Foi show demais 🤜🏽🤛🏽
Aeee Montanhismo é sobre isso, percorrer a sua própria rota traçada e bem planejada ao objetivo.