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Expedição Rio das Velhas, Minas Gerais

    Expedição feita começando no Ribeirão da Mata, em Vespasiano e finalizando em Lagoa Santa, próximo a MG-10.

    Luiz Fernando
    12/05/2020 21:26

    Querid@s, espero que estejam tod@s bem nesse período difícil.

    Venho compartilhar com vocês uma expedição feita em 2 canoas e 4 caiaques, realizada no mês de Abril. Sei que este relato caberia como aventura, porém, acredito que irá além, por compartilhar algumas informações, as reflexões e sentimentos que tive ao longo de um rio de grande importância hidrográfica para o estado de Minas Gerais, e talvez para o país, visto que faz parte de uma sub-bacia hidrográfica do nosso tão querido Rio São Francisco, velho Chico.

    Tentarei relatar de maneira sucinta a expedição e finalizo o texto com informações sobre o rio e sobre as reflexões tidas. Sou um estudante, da área ambiental, estudo Engenharia Ambiental e Sanitária, no Cefet em BH, e surpreendi da situação que o rio, que apesar de que há bons kilometros da capital, se encontra. Agradeço a tod@s pela atenção, e de antemão, tenham uma boa leitura e reflexão!

    Relato da expedição Rio das Velhas, Minas Gerais.

    Recebi o convite do meu amigo Ricardo Salomão, para participar da expedição junto com Felipe Braga, Carlão, Felipe Viana, Manu, Anderson (grande Kenken) e o gigante Antares, fiel escudeiro do Ricardo. Começamos a expedição no Ribeirão da Mata, em Vespasiano, cidade que fica na região metropolitana da capital mineira, Belo Horizonte.

    Fizemos o trajeto mostrado pelo mapa abaixo, os 60 kilomêtros que navegamos durante os 2 dias da expedição. Sendo primeiro ponto amarelo (mais próximo a Vespasiano) o início da jornada, o ponto a jusante sendo a foz do Ribeirão da Mata ao encontrar com o Rio das Velhas, e o último ponto, na região superior, o local onde arpoamos pela última vez. Tivemos que levar bastante água para consumo, alimentos e a materiais de camping, visto que iriamos pernoitar na margem. Este trecho, por onde havia passado Guimarães Rosa, e o Manuel Nardi (que motivou o inicio do projeto Manuelzão), em breve estaríamos nós, nos aventurando e descobrindo como se encontrava após tanto período desses encontros.

    Particularmente, eu não tinha grande experiência com o remo, porém, meu condicionamento físico facilitou o aprendizado com a prática e desenvolvi a aventura no caiaque sem grandes problemas. Encontramos todos as 6 horas da manhã e as 7 horas, entramos na água.

    Logo no início, com menos de 20 minutos que estavamos descendo o rio, tivemos o primeiro obstáculo, uma árvore estava caida sob o rio, deixando apenas uma estreita passagem ao lado. Com receio e por falta de experiência, optei por não ser o primeiro a passá-la e aguardei que as canoas, que eram maiores, passasem antes de mim. Nisso, o Felipe Braga, tentando ajudar as canoas, acabou agarrando entre o meio do leito e o tronco, com dificuldade de remar rio acima ou para as margens. Consegui encontrar um local na margem para segurar e me manter firme, enquanto o grande Carlão preparava o resgate do Felipe. Já me preparei para uma aventura de emoções e momentos de grande atenção. Enfim, ocorreu o resgate e deu tudo certo, superamos o primeiro obstáculo sem ninguém virar.

    Outro momento de receio, foi a primeira vez que passamos por uma corredeira. Previamente, já havia sido instruído pelos companheiros sobre como proceder nesses momentos, e como encontrá-las antes para me preparar. Quando, na descida do rio, há mancha branca, pontual, o motivo é a presença de pedra e nesse caso, o segredo é desviar; Já a corredeira é essas manchas em maior quantidade e formando ondinhas, e que de fato, intuitivamente, dá para perceber que há uma maior velocidade superficial das águas, portanto, o segredo é entrar nela com o caiaque de frente, fazendo com que as ondas batam longitudinalmente, e não nas laterais, o que faz virar. Abracei a fé todos os conselhos e encarei a corredeira dessa forma. Também deu tudo certo, e apesar de que com um frio na barriga, tive outras oportunidades ao longo da jornada de treinar e lembrar das dicas.

    E em algumas poucas horas, chegamos ao ponto de confluência do ribeirão com o rio, e tive uma sensação de pequeninisse nesse momento. Já estava achando o máximo remar no ribeirão, em seu leito de alguns metros. Ao chegar na imensidão do Rio das Velhas, percebi que estava me acostumando com pouco, um ribeirão não é um rio, um rio é um rio. Algumas dezenas de metros de margem a margem, cabia alguns ribeirões por lá. Tanta água, tanta riqueza. Mas, apesar da distância de Belo Horizonte, eram claros os sinais de insalubridade, irei abordar isso de maneira separada no próximo tópico.

    Fizemos algumas paradas nas margens, para alongamento e algumas refeições. Além dos ajustes de mochila e para os momentos de correr, comer grama e ir ao banheiro, do querido Antares. A proposta era a seguinte, descer o rio até uma determinada hora do dia, próximo às 16h30, 17h. E após esse horário, já buscar um local para passar a noite, armar o acampamento e descansarmos.

    Com o passar do dia, o corpo acabou sentindo tanto movimento. Esportes de remos são exaustivos! Trabalham muito a região superior do corpo, requer força, resistência e muitas vezes, intensidade nos movimentos. E aliado a isso tudo, tivemos a companhia de um céu aberto e o nosso querido sol, com muito calor. Apesar de que, a ausência dele iria complicar mais a situação.

    Tudo ocorreu da melhor forma na expedição. Após muitos meandros, algumas corredeiras corredeiras e paisagens bonitas, já tinha dominado o remo, tirado fotos e refletido bastante. E com o passar da tarde, a gente conseguiu um rendimento muito bom e já haviamos percorrido 2/3 da jornada, ou seja, o restante para o próximo dia seria breve e chegariamos dentro do planejado. Chegando próximo ao horário estabelecido, buscamos o local do abrigo. Tivemos dificuldade para encontrar um local de margem boa para posicionar os nossos possantes e que também possibilitava armação do camping. Não queriamos correr o risco de ter que estar na água com a chegada da penumbra, então, achamos um local que conseguimos deixar os barcos com segurança, e havia um espaço próximo, bom para passarmos a noite.

    Com a ajuda do Antares, logo nos situamos que estávamos em uma área de recente plantio de milho, e que aparentemente, por causa da coluna de vento de borda do rio, a plantação estava abaixada. Logo acima, caminhando um pouco, encontramos uma caixa d'água e uma torneira, que acreditamos que fosse próximo a um paiol (construção utilizada em roças, local para guardar ferramentas e de apoio). Conseguimos lavar o corpo, e nos limparmos. A sensação de limpeza desse momento foi incrível, ainda mais aliada ao alívio, por já ter aceitado que iria dormir sujo, com areia e um pouco de lama. A sensação de umidade estava me incomodando, com meia e bota molhadas. Com certeza, esse banho foi crucial para o descanso. Preparamos as refeições em fogareiro, nos hidratamos e após alimentarmos, não resisti muito e me rendi à barraca. Precisava descansar o meu corpo para aguentar o outro dia sem nenhum problema.

    No outro dia, despertei cedo e fui verificar se os barcos estavam lá ainda (a margem escolhida não era o ideal, e caso o rio subisse, correriamos o risco de perdermos nossos veículos). E logo que sai da barraca, me deparei em uma neblina, que tinha tomado conta do rio e do nosso acampamento. Já estava aceitando que o fim da jornada estava chegando, muito grato pela experiência, me mantive motivado a finalizar com bastante energia.

    Tomamos um breve café da manhã, desmontamos todo o acampamento, preparamos tudo na mochila e lá vamos nós outra vez para dentro do rio. Eram quase 8 horas da manhã e estavamos prontos, de remo em punho para finalizar essa expedição que tivemos a oportunidade de registrar. Ali, nessa linha final, consegui alinhar vários pensamentos, mentalizei todas paisagens e vistas que dariam belíssimas telas, e percebi o tanto que o homem (sim, nós, de tamanha sapiência) é capaz de impactar um nicho de maneira significativa e prejudicar assim, outros irmãos de espécie e tantas outras espécies por tantos kilometros de distância.

    As 11 horas, estávamos finalizando a expedição. Após esse período de exposição a diversos fatores, estávamos ali, expostos ao ultimo desafio que coroou a aventura. Tivemos dificuldade em achar o ponto que sairiamos da água. Acabamos passando pelo ponto, e tivemos que subir rio acima, em um local de intensa corredeira. A sensação de conquista alcançada, ficou um pouco mais distante e precisamos de utilizar o restante da força para conseguir remar contra a maré. E sim, é forte, mas assim como todas adversidades da vida, quando colocamos a força de vontade acima das preocupações, no fim dá certo.

    E ali em Lagoa Santa, se encerrava uma jornada tão querida, em um restaurante à beira do rio e da estrada para a Serra do Cipó. Almoçamos uma incrivel refeição, ao som de um bom rock n' roll e fomos resgatados pela equipe de apoio.

    Enfim, uma expedição em um rio e que nosso maior limitante era água para consumo, inclusive para a limpeza, ingestão e banho.

    Manifesto: A morte do Velhas

    Foi inevitável durante o relato não citar algumas questões. Mas este espaço será utilizado com o foco de manifesto ambiental para a forma como lidamos com o nosso planeta. Escrevo isso tudo em meio a uma pandemia, um problema epidemiológico a nível global. E que, acredito que para muitos, assim como para mim, tem sido muito difícil a situação de isolamento social. Nesse momento, mais do que nunca, o sentimento de empatia e pensar no completo, é necessário.

    Vivemos de uma maneira tão acelerada. Assim como as corredeiras do rio. As coisas passam por nós, século da informação que pouco se mantém na mente e logo, já é atropelada por outra. Assim como a invenção dos últimos tempos, que é a busca interminável pelo material perfeito, de alta e fácil produção, custos mínimos e que ainda é descartável: sim, o plástico. Essa forma acelerada que buscamos as coisas, e que fazemos parte, é um processo insustentável. No sentido mais amplo da palavra. Insustentável para nós mesmos, para saúde mental e física, para a sociedade, para a economia e para o meio ambiente, para a nossa casa, o planeta. A ideia de algo descartável, que prometeu facilitar nossas vidas, resulta em uma produção indiscriminada de resíduo. Que estes, muitas vezes, é comumente descartado em ambientes... Na real, o correto a se fazer hoje, no nosso país, é empilharmos o lixo em um espaço territorial gigantesco, enterrando-os, investindo capital para manter e monitorar e quando atingir o limite suporte, buscarmos outro espaço também territorialmente gigantesco novamente empilharmos, enterrarmos e investirmos no incrível lixo descartável. Para!! Isso está errado! A facilidade para um alto consumo não existe!!!!! Enfim, vamos direto ao assunto:

    Durante a jornada, de 60 kilometros em um leito de um importante rio para o estado e para a bacia do Rio São Francisco, essa cena acima foi comum. A margem lotada de plástico e resíduos, naturalmente urbanos. Porém, o que me assustou, foi saber que estávamos a mais de dezenas de kilometros de um centro urbano! Uma área rural, com um fluxo de água contínuo (e grande), e que apesar disso tudo, ali tinha lixo. Considerando que, no mês de janeiro deste ano, tivemos um índice pluviométrico na região de 900mm de coluna de água, ali, após alguns meses estava ainda com uma enorme quantia de lixo, nas alturas. Então lembrem-se disso, quando forem optar por aquilo que é descartável, e que será mais prático para você, depois que você utilizar e for jogar fora, lembre-se, não existe o tal fora. Continua aqui dentro, as vezes debaixo da terra, as vezes em cima da água.

    Essa problemática do lixo, vai além. Durante o trajeto, encontramos alguns moradores, que acredito eu que sejam de comunidades próximas, desenvolvendo atividades operárias e de pesca. E foi possível notar que estão expostos aos riscos e às contaminações oriundas dessa água. Sobre a pesca, ouvimos sobre a falta de peixe. Sim, o enorme Velhas está sem peixe. Está morto! Além das caracteríscas de visuais, foi notável o mal odor predominante. O mesmo rio que em locais a montante abastece cidades, a jusante delas encontra-se o esgoto. A mesma água que nos cura, também nos mata. Agradeçam pelo acesso à água potável, à coleta de esgoto e à gestão do resíduo urbano. Faça sua parte nisso, lembrem-se dos 5 R's da sustentabilidade: Reduzir, Reciclar, Reutilizar, Recusar e Repensar. Façamos a diferença que queremos no mundo.

    E o meu pedido é este. Pensem nisso, reflitam sobre e ajude o movimento ambiental local a tomar força. Pense globalmente, atue localmente. Me coloco à disposição para conversar, discutir e receber feedbacks. Fizemos também um levantamento de audio-visual, acreditamos que dá para produzir algo. Vamos tentar e buscaremos forças e quando tiver mais concreto, virei para compartilhar também. O meio ambiente ainda vive. O planeta ainda vive. Apesar de que o Rio das Velhas, nem tanto.

    Segue abaixo os perfis de instagram para contato de alguns dos queridos amigos de expedição:

    @nandodada

    @ricardinhosalomão

    @anderson_oliveira_oliveira_

    @felipecesarviana


    E com o apoio da Makai Canoas, oficina do querido Kenken, de Lagoa Santa (momento de merchan: as canoas que ele faz lá são de ótima qualidade e eu indico a tod@s!)

    Um abraço a tod@s,

    Obrigado e até breve!
    .

    1 Comentários
    Marcelo Baptista 01/01/2022 21:30

    Olá Luiz Fernando! Acabei de ler o seu relato, muito instrutivo sob diversos pontos: aventura, conscientização ambiental, respeito aos recursos hídricos. Muito bom mesmo. A foto dos residuos plásticos me deu uma angústia tão grande...pergunta: o rio das Velhas está poluído em que nível? Abraços!!

    Luiz Fernando

    Luiz Fernando

    Vespasiano - MG

    Rox
    19

    Estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária, apaixonado por natureza e amante de aventuras. Chegado numa trilha e num acampamento bão sô!



    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Dri @Drilify, Renan Cavichi e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.