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Nilov 11/11/2015 16:33
    Chapada Diamantina Igatu-Capão por Todo Vale do Pati - Bahia

    Chapada Diamantina Igatu-Capão por Todo Vale do Pati - Bahia

    Trilha excepcional do Parque Nacional Chapada Diamantina, saindo de Igatu passando pelo Vale do Pati até o Vale do Capão Cachoeira da Fumaça

    Uma das trilhas de trekking mais bonitas de todo o Brasil, feita por mim e por um amigo há mais de dez anos! Em 2003 estudava audiovisual em São Paulo e me inscrevi para a Bienal de artes da UNE que naquele ano foi (muito bom por sinal) em Recife/Olinda, onde tive oportunidade de fazer outras aventuras. Mas chegando a semana do carnaval fui até Salvador encontrar um amigo, o Tiago, pra passarmos uma temporada na Chapada Diamantina. Meses antes na faculdade ele me mostrou uma foto em perspectiva do Vale do Pati numa situação de luz inusitada que fazia a luz do sol refletir no leito do rio com o céu levemente escurecido por nuvens carregadas, num efeito que na foto dava ao lugar um visual belíssimo formado por um rio de luz serpeando entre os morros, numa atmosfera mística, transcendente de tão lindo que se mostrava aquele lugar; precisava urgentemente conhecê-lo! Após curtirmos uns dias de carnaval em Salvador partimos pra Igatu no carro do seu pai, um figuraça ítalo-baiano gente boníssima que estava construindo uma casa lá. Eu já tinha passado pela Chapada na estrada que liga o centro-oeste ao litoral nordestino numa viagem feita pra Maceió quando ainda era criança e me lembro do impacto que foi ver os morros próximos do Vale do Capão, mesmo tão brevemente. Mas nada comparado ao que estava preste a vivenciar.

    Chegando na Chapada depois de passar por Lençóis e Andaraí nós adentramos nela por uma linda estrada, boa parte feita de pedra, até chegarmos em Igatu, uma vila que durante o apogeu do ciclo de exploração mineral fora bastante movimentada e que após o declínio tornou-se numa localidade pacata de habitantes simpáticos e um peculiar legado arquitetônico do tempo do garimpo: várias casas feitas de pedra (algumas até com o telhado de pedra) impressionam o visitante desavisado e a torna num lugar único! Ficamos aproximadamente uma semana conhecendo Igatu, seus moradores e atrativos próximos. Ainda hoje me lembro de muita coisa, do bar do seu Chiquinho, do poço de Oxum, Cachoeira dos Pombos aonde me lembro de ver o maior beija-flor que já vi na vida, do Museu do Garimpo, noites maravilhosamente estreladas. Lá encontramos Seu Adão, um guia experiente que faria comigo e meu amigo a travessia da Chapada Diamantina. A princípio ele foi relutante, disse que seria uma aventura um tanto difícil e perigosa. A descida da Rampa do Caim e a subida do leito do Rio Pati seriam os pontos mais críticos da nossa viagem, com riscos de quedas, trombas d'água, encontro com animais selvagens. Depois de convencê-lo e de uma passada na feira popular em Mucugê arrumamos malas e mantimentos e partimos para no outro dia começarmos nossa aventura. Saímos de Igatu andando e após algumas paradas chegamos até a Rampa do Caim de onde se tem o visual do Vale do Pati descrito acima e que tem a vista da foto desta postagem. A descida foi (in)tensa, a trilha recém aberta na época estava fechada e haviam poucas marcas indicando os lugares corretos. Eu estava levando uma bagagem mais leve e Tiago uma mochila bem maior e mais pesada. Quando atingimos o leito do rio Paraguaçu, que encontraria o Pati logo à frente, resolvemos trocar as malas. Já nos primeiros metros levei um tombo e molhei a mochila do meu amigo. Foi o único tombo que levei, a partir dali redobrei a atenção e não cai mais. As primeiras horas subindo o leito do rio dentro do vale do Pati são muito desgastantes. Subindo em pedras com mochila pesada você tem que fazer um esforço enorme quase sobre-humano e ainda tínhamos mais um dia inteiro pra subirmos o rio! Montamos um acampamento selvagem numa reentrância na pedra ao lado da correnteza do rio mas que nos dava certo abrigo. Foi uma noite maravilhosamente mágica, uma das melhores que tive na vida! Os sonhos, a Via Láctea como cenário, as estrelas cadentes mais impressionantes que vi até hoje, tudo era perfeito e ali tive a revelação do que seria minha paixão pra toda a vida: aventuras na natureza selvagem! Em nenhum outro lugar me sinto tão vivo, tão realizado e plenamente satisfeito.

    O cânion do Pati a medida que você vai subindo o leito do rio mostra sua imponência. Paredões com mais de 500 metros de altura se erguem dos dois lados do vale! As inúmeras sequências de pequenas quedas e corredeiras fazem desse lugar um paraíso quase intocado. Muitos bichos e rastros de bichos; ali o ser humano não costuma incomodar. Em geral quem vai ao "Pati de Baixo" passa pela Ladeira do Império vindo de Andaraí, mas essa trilha não pega todo o Pati de Baixo. A travessia de todo o leito do Pati é algo extremamente difícil, fora dos roteiros oficiais da Chapada Diamantina, exige preparo, experiência e atenção máxima porque é um lugar tão isolado que se você tiver algum problema será muito difícil conseguir ajuda rapidamente. Mas a recompensa é uma experiência única, a de estar dentro de uma formação incrivelmente bela e rara, com um contato tão direto com a natureza que fica até difícil explicar em palavras. Na época eu não tinha câmera, mas descolamos uma das primeiras máquinas digitais amadoras e até deu pra fazer alguns poucos registros que infelizmente não sei onde foram parar, restando apenas algumas fotos enviados pelo meu amigo que posto junto deste relato. O segundo dia foi corrido, ficou aquela impressão que deveríamos ter aproveitado mais, mas serve de inspiração ao desejo de voltar pra esse paraíso perdido. Quando você finalmente avista o encontro dos cânions, onde o leito do rio é mais largo já quase chegando na casa de Seu Eduardo o visual é deslumbrante! O Morro do Castelo já bem próximo, o Cachoeirão logo ali, é uma energia forte, você pode sentir naquele lugar todo poder da natureza. Terceiro dia fomos curtir o Cachoeirão. Quando comecei a fazer a trilha sem mochila pesada percebi meu corpo mais leve, perecia que levitava. Um pulo muito alto era incrivelmente mais fácil do que quando pulava de mala nos dois dias anteriores. Foi uma sensação muito boa. No Cachoeirão apesar de não estar naquele dia com um volume de água muito grande, ainda tinha algumas quedas consideráveis. A principal caia em meio as pedras e ao chegar perto você via uma infinitude de pequenos arco íris, pura magia! Me chamou a atenção uma formação das rochas com uma parte em negativo bem lá no alto, perto da cabeceiras das quedas que têm mais de 200 metros de altura. Por muito tempo e bem antes do googlearth eu fiquei pesquisando imagens de satélite daquela região específica, me fascinava o relevo e os cursos d'água que brotam de cima dos morros. Dormimos na casa do Seu Wilson com direito a um banquete delicioso que foi importante para recarregar as energias pro último dia de caminhada forte. Em apenas um dia teríamos que andar mais de 20 km até Caeté Açu, uma vila dentro do Vale do Capão. A saída do Pati, a vista do Morro Branco, dos Gerias do Vieira com a Serra do Sincora ao lado também são cenários belíssimos, assim como a chegada no Capão descendo a Subida do Bomba. Por sorte descolamos já no Vale uma carona até Caeté Açu e deu pra comemorar num barzinho no centro da vila e nos despedirmos do nosso guia Adão. Dormimos em camas numa pousada pra recuperar os dias dormidos em barraca. No dia seguinte depois de reforçado café da manhã fomos à Cachoeira da Fumaça, outra preciosidade da Chapada que mesmo quando está seca impressiona pela dimensão dos cânions. Ao chegar demorei a perceber que as formas coloridas lá em baixo no poço da cachoeira eram barracas e lonas estendidas e que haviam humanos também lá em baixo, bem pequenininhos. Sentei na ponta de um perigoso mirante onde se pode ter boa noção da altura extrema de uma das mais altas cachoeiras do país e meu amigo fez esse registro nessa impressionante foto abaixo, são quase 400 mt de queda livre! Passamos praticamente todo o dia conversando, descansando e aproveitando nossa despedida em grande estilo.

    Chegamos em Palmeiras de carona em uma caminhonete, com agradáveis companhias e de lá descolamos duas passagens pra Salvador. Lembro de ter demorado ainda pra voltar pra São Paulo e que depois disso demorei pra realizar outras aventuras, mas fiquei com isso na cabeça de procurar o contato com a natureza selvagem, de fazer algo extraordinário, que você não vê todo dia. E mesmo depois de voltar pra Goiânia demorei pra conhecer a Chapada dos Veadeiros, só lá pro ano de 2008 e que depois de mais de cinco expedições é hoje um dos lugares de beleza natural exuberante que mais conheço bem. Mas isso vai ficar pra outras postagens. Muito tempo depois refiz mentalmente o caminho desenhando a trilha em um mapa do aplicativo wikiloc, não sei se foi exatamente o caminho percorrido mas acredito ser algo bem próximo da trilha percorrida http://www.wikiloc.com/wikiloc/spatialArtifacts.do?event=setCurrentSpatialArtifact&id=10326204

    Este ano desperdicei a oportunidade de voltar à Chapada Diamantina, pois duas amigas bem legais alugaram uma casa pra uma temporada de cem dias! Mas como estou pra ser papai da Sarinha que deve chegar a qualquer momento tive que adiar um pouco esse sonho que é voltar a pisar num dos lugares mais bonitos que já vi e que provavelmente verei na vida, mas que certamente reviverei.

    Nilov
    Nilov

    Publicado em 11/11/2015 16:33

    Realizada de 11/03/2003 até 15/03/2003

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    Nilov

    Nilov

    Alto Paraíso - GO

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    Guia na Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso, Goiás. Apaixonado pelo Cerrado, ecoturismo e aventuras; especialista em T.L.C. Guia do Caminho dos Veadeiros. Whatsapp (62) 99930 4553

    Mapa de Aventuras
    www.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=1170814&from=10&to=20


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