AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal
Olivia Ganaro 19/01/2016 23:34
    Canion Secreto no Espinhaço 19°26’42.12″S, 43°36’12.50″O

    Canion Secreto no Espinhaço 19°26’42.12″S, 43°36’12.50″O

    Canion pelo Espinhaço

    Era fim de 2015, último dia do ano e eu ao contrário de todas as vezes, não estava com crises de ansiedade para a festa de fim de ano, para a viagem e até mesmo para o destino. Eu estava calma, em paz e segura de que qualquer destino seria inesquecível, inclusive se eu passasse a virada dentro de casa. Sim, é verdade- rs! Sabe aquela música do Pato Fu “Ando meio desligado”? Bem assim que eu me encontrava naquele dia, o que viesse seria lucro pois já sabia que o mais importante para a virada ser incrível, eu já tinha.

    Amo escrever sobre minhas trilhas, sobre as viagens e agora quero vez ou outra falar dos destinos passando apenas as coordenadas para que quem realmente se interesse, tenha o mínimo de trabalho de explorar no Google com a finalidade de descobrir o lugar! Eu tive essa idéia dentro de uma cachoeira, e achei que pudesse ser legal… Chegando à cidade na qual deixaríamos o carro, o sol estava raxando, deitei na sombra de um pé de pequi à espera da primeira grande nuvem que pudesse dar um ânimo para o início da aventura. Nessa hora, toda aquela ansiedade que eu não havia tido, começou a vir em dobro, respirei fundo, olhei para a serra à minha frente e comecei a imaginar que quanto mais rápido eu subisse, mais rápido teria picos de adrenalina, prazer e endorfina.

    Começamos então a trilha depois de comer bânanas (ainda estou falando bânana, consequências pós Bahia) nanicas, no chup chup mode style, coloquei a Neusa nas costas (minha mochila) e simbora meu rei que o show vai começar. Poucos minutos de trilha e já havia um ponto de água, tão cristalina que bebi quase uma garrafinha, troquei a minha que já estava esquentando e seguimos trilha adiante.

    Começava a aventura, um escadão de cascalhos soltos que mais parecia uma escada pro céu de tão infinita que era. Sabia que seria pouco mais de 2 horas de trilha com mochilas pesadas, mas o sol escaldante me fez pensar por vários momentos que a faria em 5.

    A trilha para subir apesar de cheia de pedras pequenas que nos fazem deslizar, foi feita com muito prazer pois já sabia que ao chegar em cima dessa montanha, teria uma vista panorâmica da serra e do vale, e foi assim que aconteceu! Chegamos no topo e o 360 graus avistado por lá era inefável, centenas de Canelas de Ema, pedras avermelhadas pelo chão e vistas impossíveis de descrever.

    Continuamos a trilha por mais alguns minutos e chegamos numa porteira onde entendi com exatidão minha localização, uma vez que, a poucos kilômetros no sentido oposto era um lugar no qual já estive. Andamos mais um pouco e a paisagem foi mudando, a vegetação e inclusive o ar, tão puro, meu corpo formou uma só coisa, totalmente interagido com a mãe natureza já me sentia distante de toda e qualquer civilização. Adentrei-me no vale onde passaria a virada do ano e me apaixonando a cada passo, era a mesma cena de uma criança quando ganha brinquedo!

    Era uma imensidão de belezas naturais e um pouco diferente do que estava acostumada, pedras cravadas no chão como setas e uma série de cachoeiras e quedas com formações rochosas bem diferenciadas. Eu estava em êxtase, tínhamos de escolher o lugar para acampar, ficamos debaixo de uma arvorezinha com um fogareiro natural de pedras com vista para o cânion por onde se via a milhas e milhas abaixo, a cidade mais próxima.

    Tomei um banho no rio que formava a primeira queda e fui para os meus aposentos. Eram as últimas horas de 2015, eu não poderia estar em melhor lugar, ter melhor compania e melhor vista. Era tudo que eu queria. Hora de cozinhar, repor as energias e abrir um vinho. O dia foi caindo e as estrelas surgindo, logo percebi que a virada iria ser bem como desejava, sem ninguém para perturbar meu sossego.

    Quando a madrugada foi aproximando já comemorei a passagem, afinal relógio pra que num lugar desse? Bem distante eu via os fogos nas cidades lá embaixo da serra onde eu me encontrara. Cena de filme! Tão surreal que esqueci de fazer os pedidos pra 2016. Como se não bastasse, atrás da barraca havia outra serra com um pico em segundo plano, bem no meio do vale. Por volta das 3 da manhã a lua nasceu nesse cenário, sabe aquele momento que marca? Então…

    As horas foram passando e uma nuvem muito carregada vinha em nossa direção anunciando bastante chuva… hora de dormir! Imagina como é fácil dormir numa chuva de raios debaixo de uma árvore… HAHAHAHA! E amanheceu o primeiro dia do novo ano, largada, pelada e molhada, sim! A barraca tava pura água! Mas azar, partiu caxu que fala!

    Enquanto fui levada para conhecer as quedas do vale, fui me apaixonando a cada passo ladeira abaixo, que lugar encantador, muito diferente de todo o resto da região do 17° 41′ 39.9″ S, 43° 46′ 59.9″ W / -17.694417, -43.783306, com certeza o lugar mais bonito de Minas Gerais que fui até hoje. A certeza de que estava fechando o ano e abrindo outro com chave de ouro era muito grande, não sei mensurar tamanha alegria e prazer que senti por lá. Lugar maravilhoso na melhor compania do universo e exalando sentimentos bons.

    Era tanta magia que eu dormi numa das cachoeiras, acordei torrada depois de até sonhar ao barulho da água.

    Cheguei até a última cachoeira descendo o cânion e me deparei com outro vale e mais quedas de água, era água e pedra que não acabava mais. Fiquei extasiada.

    O dia estava caindo e era melhor correr para fazer um café a tempo de ver o pôr do sol do mirante exclusivo.

    Essa hora eu vi que paixão era MATO! Simplesmente o pôr do sol mais lindo que já vi em toda minha vida, dificilmente outro lugar irá me proporcionar o que senti naquele momento, um espetáculo da natureza com várias camadas de montanhas, o sol se pondo no meio do cânion e vários andorinhões fazendo voôs totalmente sincronizados num céu avermelhado. Bati palmas, PERFEITO! Dá vontade de chorar só de lembrar.

    Outra noite que se foi, poderia dizer que é o Vale do Pati mineiro, beleza muito peculiar, me tocou. Me curou.

    Gratidão pelos momentos, sensações, ensinamentos, aprendizados, disposição, carinho, atenção, boa vontade, momentos, emoções, arrepios e surpresas que a vida dá, gratidão pelos presentes que a vida dá, pelas estrelas azuis especiais e inesperadas, gratidão pelo amor. Sem você eu não teria vivido isso. Foi difícil escrever dessa vez, porque dessa vez eu estou amando, e ainda estou aprendendo a lidar com o amor.Estou aprendendo a amar.

    Olivia Ganaro
    Olivia Ganaro

    Publicado em 19/01/2016 23:34

    Realizada de 31/12/2015 até 03/01/2016

    Visualizações

    2866

    Olivia Ganaro

    Olivia Ganaro

    Lagoa Santa -MG

    Rox
    103

    Montanhista. Tatuadora, Designer e Colunista sobre esportes radicais, travessias, trilhas e cachoeiras.

    Mapa de Aventuras
    www.inparadise.com.br/category/colunas/olivia-ganaro