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Expedição de 14 dias na Serra do Cipó durante o FEAL da OBB
Aprendizados, evoluções e pés molhados durante 14 dias na Serra do Cipó/MG. Relato por: André "Dino" Leopoldino.
Trekking Montanhismo AcampamentoEm novembro de 2021 tive a oportunidade de participar do programa FEAL (Fundamentos de Educação ao Ar Livre) realizado pela OBB (Outward Bound Brasil) na Serra do Cipó.
Para quem não conhece, a Outward Bound é uma organização sem fins lucrativos que promove a aprendizagem experiencial por meio de aventuras na natureza. A instituição atua em mais de 30 países, com a participação de mais de 150.000 pessoas a cada ano. Os programas Outward Bound visam o crescimento pessoal e aprimoramento de habilidades socio-emocionais dos participantes, através de expedições desafiadoras ao ar livre.
O programa FEAL é embasado nos conceitos do educador alemão Kurt Hahn em que "o objetivo da educação é impelir as pessoas para experiências formadoras de valores, de forma a garantir a sobrevivência das seguintes qualidades: curiosidade empreendedora, um espírito infatigável, tenacidade na busca, e, acima de tudo, solidariedade”
Durante a expedição são propostos desafios que a gente pode, ou não, aceitar. Só que antes de todo desafio, somos munidos de técnicas e informações para que o aprendizado ocorra efetivamente.
E assim o foi!
Foi lindo!
Grupo FEAL - Serra do Cipó - Novembro de 2021
O Relato - Por André Leopoldino (Dino)
Durante 15 dias andamos independentes pela Serra do Cipó entre a Lapinha e Fechados e já adianto: Não foi sobre caminhar longe ou tirar fotos. Foi sobre desenvolvimento, parceria e atenção. Foi uma experiência única que levarei para toda a vida.
No dia 01/11, num grupo de 10 participantes + 2 instrutores saímos em direção ao desconhecido com mochilas carregadas de comida, equipamentos e a mente cheia de expectativas. Cada pessoa ali tinha um objetivo, uma busca interior. Uma coisa marcante no momento da apresentação individual é que não importava a profissão ou o local de origem de cada um, mas sim QUEM era a pessoa. Achei sensacional isso.
Uma coisa comum nas apresentações é que todos se identificaram como "de boas", alguns só até a página 2. Assim nos tornamos o grupo De Boas.
Então começamos nossa jornada rumo ao "desconhecido". Digo desconhecido porque naquele momento ainda não havia sido nos dito a nossa rota. (Dado meu histórico de planejar e andar otimizado, foi bastante chocante começar uma atividade de 15 dias sem saber para onde iria, com uma mochila de 75L com comida para 10 dias - mas muita comida. Muita.
A gente partiu com comida para 10 dias e teríamos um ponto de recarga no meio do caminho, onde teríamos que sair da trilha e encontrar com um time de suporte e retornar.
O grupo é um organismo vivo. Este organismo vai evoluindo de acordo com as características individuais e a interação com a natureza... e pela condução dos instrutores que identificam, apresentam ou até criam situações para que algo de interesse sobressaia para a percepção das pessoas.
Eu fui para a atividade de peito aberto e pronto para aprender e absorver tudo que fosse possível. Ainda assim foi difícil para mim nos primeiros dias estar numa expedição para a qual o destino e o planejamento ainda não estavam claros. Eu me perguntava sempre: mas onde vamos acampar? Só vamos andar 2Km hoje? Como assim vamos sair do camping às 15:30? Demorei uns 3 dias para entender a dinâmica.
Voltando ao grupo.
A cada passo e a cada atividade fomos nos conhecendo, conhecendo os limites dos companheiros e seguindo em frente. O grupo era bastante heterogêneo em todos os pontos de vista, exceto pelo deboísmo. É uma experiência bem diferente (e muito legal!) conversar, perceber as dificuldades e descobertas dos outros caminhantes, pois cada um estava ali com um propósito distinto. Esse, aliás, era meu objetivo no FEAL: melhorar a minha percepção dos indivíduos.
Nossa primeira chuva juntos. Aqui estávamos com a bandeira papa (aquela que chama todos os marinheiros de volta para a embarcação para que ela possa zarpar) num ritual de passagem da bandeira para que pudéssemos partir, assim que a chuva desse uma trégua.
Na nossa jornada os instrutores nos provinham com informações e técnicas para que pudéssemos seguir em frente sem eles. Os dois sempre confabulando ideias para desenvolver algo conosco.
Fomos nos organizando com algumas sugestões dos instrutores e chegamos numa estrutura funcional que ficou adequada por algum tempo. Cada um fazia algo no dia e não tinha ninguém de folga. Ao longo dos dias e com o amadurecimento da equipe, foi ficando cada vez mais clara as características e aptidões individuais e chegou num momento em que não se perguntava mais quem ia fazer o quê. Cada um fazia algo e tudo funcionava. Um negócio lindo! Chega dar um arrepio de lembrar.
Todas as tarefas eram igualmente importantes, mas a cozinha tinha um carinho especial. A criatividade das equipes em fazer coisas gostosas com as restrições de ingredientes que tínhamos foi fabulosa!
Nossa primeira cozinha de muitas. Preparo de lanche do almoço.
Um outro ponto que necessita ser colocado é o desafio. A todo o momento os instrutores nos apresentavam um desafio que, caso fosse aceito, levaria a algum aprendizado. Só que esses desafios não vinham do nada: sempre existia alguma troca de ideias e informações para que o mesmo fosse efetivamente um desafio e não um pânico. A expansão da zona de conforto no ambiente outdoor é algo que merece atenção e os instrutores foram sensacionais nisso.
Instrutor Álvaro ensinando como navegar utilizando mapa-e-bússola.
Com nossa condução tivemos erros e acertos, ajustes e aprendizados. Erramos o caminho, ficamos isolados por rio que encheu com chuva, cruzamos rio com água na cintura, tomamos chuva, ficamos em posição de raio, passamos por cobras, pulamos pedras, conversamos, debatemos, evoluímos.
Chuvinha nossa de cada dia. Neste dia andamos 10km na chuva para chegarmos ao ponto de acampamento planejado.
Todo dia era dia de desafio. Teve um dia que este cãozinho chegou no camping e não largou mais o grupo. A gente tentava mandá-lo para casa, mas ele vinha se esgueirando por fora da trilha. A gente olhava para trás e lá vinham duas orelhas se escondendo no mato. Acabou se tornando um membro da expedição que às vezes espantava o gado e às vezes jogava o gado pra cima da gente!
O mascote “Deboas” que colou no grupo e não largou. Acabou sendo um integrante por mais de 10 dias de expedição.
Era mais um integrante para ser cuidado. Cuidando para que ele não pegasse nossa comida e alimentando-o. O cuidado foi algo muito exercitado na nossa equipe, seja na atenção à hidratação, à exposição ao Sol, ao frio e mesmo o cuidado com os pés.
“O pé de um é o pé de todos”. O cuidado mútuo que leva ao sucesso da expedição.
Então depois de 14 dias andando juntos e chegando nos quilômetros finais da expedição, quando avistamos o vilarejo, o sentimento de nostalgia veio e bateu forte. Depois de tanto tempo no meio do mato praticamente sem ver nenhum ser humano além dos integrantes da expedição, estávamos próximo de chegarmos à “civilização”. Já estávamos acostumados ao som da Natureza, do silêncio e da nossa rotina. Neste momento seria uma ruptura com tudo que vínhamos vivendo nos 13 dias anteriores.
Vilarejo de Fechados lá embaixo. Momentos de nostalgia e pré-despedida.
A nossa última janta foi mais pra uma confraternização.
Desta forma, começamos como um grupo e terminamos a expedição como uma equipe.
E digo mais: é uma experiência única que eu indico para qualquer pessoa que queira se desafiar (seja qual for o desafio escolhido).
Enfim o café decantou.
No meu desafio individual sinto que melhorei bastante a minha percepção das pessoas, o trabalho liderando o time e outras questões técnicas. Além disso, fiquei feliz de cruzar tantos rios e tomar banho em todos quando foram possíveis!
É isso.
Dino
Molhado por molhado, banhei-me num rio.
LEOPOLDINO, André “Dino”. 2021.
Foto 8 – Final da expedição quando retornamos ao ponto de partida.
Por fim, agradeço à plataforma AventureBox e a Outward Bound Brasil por viabilizar esta enriquecedora experiência que venho compartilhar com todos.
E obrigado cozinha!
Fantástico ler seu relato Dino! Quantas memórias!
Belo relato, expedição de aprendizado muito legal! Ainda convenço meu filho a fazê-la.
Legal demais ver um texto carregado de emoções, Dino. Belo álbum de fotos...
Dino... de boas!! Fantástico!! Revivi cada passo, cada dia, cada momento e emoção!! O texto, as fotos.. emocionante!! Grata. Parabéns!
Que aventura incrível!