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Outward Leaders | Canoagem Oceânica em Paraty - RJ

Outward Leaders | Canoagem Oceânica em Paraty - RJ

Relato coletivo escrito durante o curso Outward Leaders de dez/2020, realizado entre Paraty-mirim, o Saco do Mamanguá e a Ponta da Juatinga.

Canoagem Acampamento Navegação

O programa Outward Leaders busca desenvolver habilidades e capacidades de liderança usando como pano de fundo situações reais e concretas durante uma expedição em caiaques oceânicos. Também desenvolve um maior senso de organização e eficácia para cumprir as mais diversas tarefas da melhor maneira possível. O crescimento que acontece dia após dia impressiona a todos. A convivência em grupo promove de maneira muito natural e intuitiva a evolução socioemocional necessária para todos os processos de tomada de decisão. Saiba mais sobre o programa na matéria específica publicada aqui na plataforma: https://aventurebox.com/outward-bound/programa-outward-leaders-canoagem-oceanica

Este relato apresenta o que foi vivido na edição de 2020 do Outward Leaders, realizada entre os dias 30/11 e 06/12/2020. É um relato compartilhado, escrito pelas várias mãos voluntárias dos participantes durante a expedição, que registra o dia-a-dia e os desafios enfrentados. Esse texto é uma transcrição do que foi registrado durante os dias em campo, usando um caderninho e uma caneta, buscando expressar da melhor maneira possível as emoções que ali foram sentidas. A escrita reflete o estilo de cada um dos autores.

Que essa jornada inspire outros aventureiros a conhecer e participar de um programa Outward Bound para cultivar e multiplicar o estilo de vida outdoor.

RELATO

Dia 1 – 30/11/2020 – Bruno Negreiros

Bom, depois de uma longa viagem de carro, chegamos por volta das 1:00 ao Camping do Jesus. Montamos ou aproveitamos estruturas já prontas e descansamos. O dia 30 começou de fato por volta das 6:15, com o sol batendo forte na rede em que dormia. Acordei, olhei ao redor, vi pessoas por todos os lados. Todos com as mesmas expressões: aquela combinação de empolgação e desconhecimento de tudo que viria.

Aos poucos os papos foram surgindo e as apresentações sendo feitas. O gelo começou a quebrar quando, por volta das 7:15, partimos para a lanchonete Piratas, próxima ao camping para tomar café da manhã. Chegamos lá, pedimos os cafés fortes ou com leite, mistos e pães com ovos. Nesse tempo, começamos a conversar sobre tudo o que ali nos trazia e o que esperávamos. Ali já estava no canto nos observando quieto e com bastante atenção um dos nossos instrutores: o Fabio Raimo. Nós nem sabíamos, mas a leitura da nossa dinâmica de grupo já tinha começado. Enquanto isso, Álvaro e Fuchs, pelo contrário, conversavam e socializavam com todos.

Voltamos para o acampamento, pré-arrumamos as coisas, recebemos as primeiras instruções e fomos provocados pela dinâmica do Álvaro: “quem são vocês? Mas olha só, eu não quero saber dos clichês. Para mim não importa a sua profissão, ou sua experiência lá fora. Quem são vocês como seres humanos?” Começou a pegada da OBB. Todos foram provocados a refletir. Eu mesmo não soube muito bem o que responder.

Voltamos às instruções, divisões de refeições e de grupos de cozinha. Terminamos os arranjos, fechamos as coisas e fizemos os porteios de equipamentos e caiaques para a praia de Paraty-mirim. Já na praia, recebemos os ensinamentos básicos: olha não é que a gente boia tranquilamente só com a ação dos equipamentos.

Instruções iniciais.

Voltamos aos barcos, colocamos tudo nos caiaques. Soca, tira, enfia lá no canto, puxa, coloca tudo de novo e soca mais um pouco. Com um pouco de carinho, fechamos os compartimentos com todas as nossas coisas, escolhemos os caiaques e, enfim, partimos.

Barcos a espera dos remadores.

Fomos remando com vontade. Eu, particularmente, sem técnica nenhuma. Confesso com toda a humildade do mundo que estava muito difícil ficar confortável. O pedal estava estranho, eu não sabia bem de como pegar no remo...tava punk. Mas sabe o que mais? Tava difícil e, ao mesmo tempo, gratificante. Eu olhava ao redor e via o mar verde contrastando com as rochas se envolvendo em cores com a vegetação. Ao mesmo tempo eu via os sorrisos estampados nos rostos de todos. Tava todo mundo num perrengue de felicidade.

Seguimos, saímos da enseada de Paraty-mirim e viramos a ponta rumo ao leste. Lá, pegamos algumas ondulações BEM LEGAIS. Rapaz, meu caiaque tava cheio de água e eu lá, segui remando tranquilão, achando que tava tudo bem. No grupo, via cada um na sua. Uns aprendendo devagar e se matando só pra não fazer besteira (eu) e outros desenvolvendo muito bem.

Nosso mundo por 7 dias.

Viramos então para o sul e nos defrontamos com a imensa beleza do Saco do Mamanguá. Continuamos remando por sua margem direita até fazermos uma parada para descansar. O Fuchs olhou para o meu barco e me viu dentro de uma banheira. Perguntou: “tá cheio?”. Respondi com a maior inocência: “acho que tá, uai”. Rimos inocentemente. “sai daí, moleque, você vai afundar assim”. Haahahahhaha... Saí do barco, me joguei na água enquanto ele tirava a água de dentro. Lembro bem dele falando: “olha lá, e o moleque ainda tá rindo. Ignorância as vezes é uma benção”.

Voltamos a remar. Em certo momento, atravessamos rumo ao outro lado do Saco e chegamos na praia. Eu tava exausto. Mano, remar não é fácil, não. Desembarcamos, tiramos as coisas, guardamos os barcos e montamos acampamento no Seu Orlando.

Já tranquilos, fomos tomar um banho de mar e comemorar o dia. Afinal, chegamos bem e sem quebrar nada. Foi uma roda de conversa muito legal. Com direito até ao debate sobre a melhor parmegiana do Brasil. Voltamos, tomamos um banho, cozinhamos um arroz bolado, comemos e nos encontramos por volta das 19:00 para o papo final sobre o dia.

Com a luz do Fabio no centro da roda, falamos muito sobre o que trazemos e o que queremos levar do curso. Com todas as luzes ao redor apagadas, falávamos totalmente conectados com o entorno. Aquelas micro-ondas no mar batendo e o vento soprando entre as orelhas. Eu fiquei mais como ouvinte do que falante. Estava tímido e reflexivo. Que dia, aprendi muito e de todas as formas.

Mais uma rodada de bate-papo sobre a vida e o mundo até que todos voltaram para os seus pontos de descanso. Montei a minha rede, coloquei o mosquiteiro, o isolante e deitei. Antes de dormir, respirei e sorri: “ainda bem que eu estou aqui”. Se o primordial da vida é tomar decisões, a de estar dormindo esta noite com o barulho das ondas foi a melhor possível. Respirei mais uma vez, que venham os próximos dias... apaguei!

Dia 2 – 01/12/2020 – André Bleggi

Barulhinhos de conversas ao longe, pássaros cantando e talvez o som do mar. Mas pode ter sido imaginação. Abro de leve os olhos e vejo o esverdeado da rede e do resto de suas coberturas. Penso: “vish, dormi demais, mas até que não é tão mal assim dormir na rede”.

Mas então, saindo dali havia uma vista bem apaziguadora. Uma manhã brilhante, uma prainha à frente e várias rodinhas de pessoas num gramado verde. Estavam conversando e preparando o café da manhã. Daí lembrei: ‘ah é, viagem da OBB”. Então logo me mexi e me aprontei para ser prestativo como prometera na noite anterior.

Fui ajudar meu grupo no café: uma delícia. Papos furados, risadas e comidas, finalizando com o gesto fofo dos outros grupos e instrutores que se ajuntaram próximos da nossa cozinha, cada um com o seu prato na mão, para alegrar a Hells e a si mesmos pelo animo dessa ideia que ela trouxe na noite passada.

Aquela tapioca no café.

Depois desse momento de espírito de grupo, um clássico da OBB, começou a hora de botar a mão na massa. Nos separamos em dois grupos. Um para tomar caldo, digo, aprender técnicas de assistência e protocolos a serem seguidos em caso de viradas de caiaques. Para ser justo, também foi aqueles tipos de aulas em que se realmente aprende, por que você sofreu (mesmo que só um pouquinho) para isso. O outro grupo sobre as minucias do mapa e dos desafios clássicos numa jornada marinha. No nosso caso, também brisamos sobre como as filosofias dessa viagem se aplicam ou podem ser na vida toda. Isso dá muita força para estar aqui.

Falando sobre mapas e desafios.

Acabamos o dia em mais uma roda, assim como o dia de ontem e como essa manhã, quando comecei a escrever esse relato. Estou perto de cair nesse sono proveitoso e profundo...

André.

Dia 3 – 02/12/2020 – Tânia Brotto

8:10, por que não 8:11??

Se fosse na “escola” do Diogo, provavelmente ele iria escutar... Porque sim! Ou porque eu que decido o horário da “minha aula”.

Diogo.

Mas aqui não, aqui é OBB, então se o fato é irrelevante, por que discutir? Fabião com toda a sua classe concorda: “Ok, 8:11”. Colocamos então as coisas no Caiaque. Partimos 9:32, ou quase isso. Relógio e precisão única do Matheuslistica.

Saímos para nosso desafio. Dia de expedição real (que diabos é isso, gente?). Plano A: subir o saco do mamanguá, parar, hidratar, checar terra, água, ar (esquecemos do fogo)...naaaada o fogo somos nós. O vento parecia ter virado. Leste? Sul? Sudeste? Resolvemos fazer a curva à direita e continuar para a próxima fase. Tudo tranquilo, me motivou a conversar, curtir a remada, fazer xixi 3x, corrigir a remada. Enfim, nos conhecer mais um pouquinho.

Remo na água.

2ª parada (4º xixi): a curva da decisão!! Sim, continuamos no plano A (raridade, né, mas aconteceu). Instrutores vão e vêm, conversam, checam, perguntam... então... fomos! Plano A ainda em ação, viramos a curva (direita). OPA! Todos alertas. Vento novo de sudeste mudando a água que nossos olhos, ou pelo menos os meus olhos ainda não tinham vistos em cima de um caiaque oceânico.

Estava feliz e não sabia. Porque a adrenalina tomou conta... rochão lindo, mar mexido, visual mágico, mar mexido, céu azul... Bruno na água.... vish... som do Rithcock!!!!! Foi próximo de mim, mas Álvaro logo chegou nele e com os poderes de Grayskull e muita persistência, auxiliado pelo Fuchs e a torcida do Corinthians, opa... torcida da galera! Ele foi rebocando o Bruno e resolvendo o problema. Tenho a sensação que o Bruno também estava feliz e não sabia. Ele disse que foi rápido, mas na verdade (e não conte pra ele) foi uma eternidade. Bruno foi um herói virando o caiaque e um mestre, pois nos mostrou que é melhor você aprender o que estão te ensinando. Pelo menos na OBB.

Bruno.

O plano A virou plano A+ (plus). Aquele lestim que iria nos empurrar virou uma ladeira sudestina. Próxima parada: praia deserta. Todos sabiam por onde ir e fomos tocando. O espírito era ALOHA, mas o instrumento era sanfona. E na melodia do FIN FON, chegamos. E aprendemos a remar por trás das ondas pra chegar na praia. IRADO!! Diversão garantida. Éramos felizes e sabíamos. Lugar MARAVILHOSO.

Tânia (Aloha).

Almoçamos e fomos para a missão pica-pau. No jeitinho, Fuchs e eu, aprendiz do mestre, tentamos pedir permissão para acampar. Frutinha amarela pra cá, cara de pica-pau pra lá e parecia que o Seu Everaldo (aloha) já sabia o que iríamos pedir.

Escutamos todo o seriado do podcast ao vivo da situação atual das facções do litoral. Eu não sabia se voltava para o caiaque ou se pedia um helicóptero da PM. Na prosa morreram uns 5. Afinal, não conseguimos acampar lá e provável que não vamos conseguir dormir (😊). Tudo bem, dormir é para os fracos. Continuamos o nosso plano A++PCC. Depois dos relatos, podia vir até um tsunami (SQN). Remamos mais 20 minutos e... MISSÃO CUMPRIDA.

Lugar lindo, tempo estável, chuvinha para abençoar e água de coco (pesca vegana). Passado!! Pelo menos a minha carregada todo o caminho com todo o carinho. O Fuchs salvou. No 6º coco aberto, conseguimos. Água de coco, logo depois reunião. No começo, parecia um programa da Oprah, mas depois tudo resolvido.

CRIAMOS UM NOVO PLANO A.

8:00 na água -> Ponta do Farol ida e volta. 10 milhas, briefing excelente do grupo responsável. O curso começou agora. Estamos mais felizes também... MAHALO. Estamos agradecidos... ALOHA. Gratidão à minha nova família do mar.

Dia 4 – 03/12/2020 – Bruno Negreiros

Com a decisão tomada na noite anterior, acordamos no nosso camping com o nascer do sol. O primeiro olhar foi o verde da tarp, o azul do céu, o mar batendo na areia e o colorido dos caiaques. O tempo estava bom e mantivemos o plano de remar até a Ponta da Juatinga. Arruma as coisas, come uma tapioca com queijo, aquece a água e toma aquele cafézão.

Como não moveríamos acampamento, foi mais fácil estar prontos. Um pouco depois das 8:00 estávamos já na areia. Aqui confesso a minha ansiedade de ir até a Ponta da Juatinga. Já fiz a travessia da região algumas vezes e nunca consegui chegar até esse ponto.

Todos prontos, entramos nos barcos e saímos da praia. O mar estava bem calmo e a remada estava cadenciada. Uma mistura de nuvens e o marzão na nossa frente. Desde que o curso começou, foi a primeira vez que remei calmo e sereno. Eu estava me sentindo completamente conectado com tudo à minha volta. Pá na água, empurra, trava o pé do fundo, tira a pá e gira o ombro. O ritual que se repetia na cadencia de 13 pessoas emanando energia e disposição.

Rema de um lado, do outro e desliza suavemente pela água. Saímos da Cajaíba, viramos à leste, miramos a Ponta e seguimos. Era bonito de ver a paz que vinha do movimento suave do Fuchs remando bem perto das rochas.

Em certo ponto, uma das líderes do dia me pediu para rebocar a Monnik no trecho final. Confesso que não entendi de cara. Na segunda, atendi. Fiquei, de certa forma, empolgado em viver mais uma diferente situação no mar. Conectei e comecei a tentar puxar o outro caiaque. Não conseguia. A Pernambucana arretada danou-se a remar forte no meu ritmo e não puxei foi nada. Fiquei feliz também. Troquei o orgulho egoísta de ser forte pelo prazer de remar e ser motivado por uma conseguidora. Seguimos e chegamos.

Monnik.

Após um tempo de planejamento e logística, conseguimos subir ou amarrar os barcos. E agora? Onde está o lanche de um dos barcos? Pergunta daqui, pergunta dali. Não achamos e resolvemos subir. Calma, para onde é? Aí apareceu o guarda-parque mirim/instrutor da OBB júnior Caíque. Com seu boné, mochila e sandálias foi nos guiando morro acima por 20 minutos de trilha até a Dona de.... um cachorro brabo... opa, não, Dona Carmem nos salvou e pegamos a trilha certa.

Chegamos no Farol!!!! Uma construção branca de aproximadamente 5 ou 6 metros de altura. Encostei nele e pensei: “cheguei aqui, mas... dane-se, prefiro a vista do infinito do oceano, da mata, daquele mar onde meio metro de onda já nos desafiava na remada e agora parecia um belo tapete verde a perder de vista... Conversamos, comemos algo e ouvimos os contos do Caíque.

Chegamos no farol.

Isso é OBB.

Depois de uma pedra, outra pedra. Descemos, chegamos lá nos barcos, tomamos uma ducha, nos jogamos no mar. Opa, cadê meus óculos? Perdiiiiiiiii. Bom, voltei ao ponto de encontro, conversamos e... opa, meus óculos retornaram. A Priscila mergulhou e achou. Foi muito bacana ver as crianças brincando no mar com a enorme felicidade e simplicidade que a vida precisa pra ser vivida.

Hells.

Subimos nos barcos e voltamos a remar. Uma volta calma e tranquila.

Barcos em ação.

Chegamos, conversei internamente com o meu grupo para planejar o dia seguinte. Chamamos todos, conversamos, apresentamos nossas ideias a alinhamos os últimos detalhes. Tudo certo para o que viria... TOMARA QUE SEM FRENTE.

De uma forma geral, foi um grande dia, tanto para o grupo, como para mim. Foram aproximadamente 10 milhas de exploração, histórias pra contar e, claro, experiências na veia misturadas com sal, sol e bolhas dos remos na mão.

Dia 5 – 04/12/2020 – Laura Mastela

O dia amanheceu aberto, como têm sido em todas as nossas manhãs desde o início do Leaders. Temos muita sorte com o tempo. Mas nesse dia específico, o céu azul e o solzinho nascendo eram um bom prenúncio. Afinal, a previsão era de entrada de frente fria, e mesmo que eu não conseguisse materializar bem a ideia, entendia que queria dias de condições ruins para remar. Além de tudo, eu, Bruno e Samir tínhamos a responsabilidade de liderar o grupo na volta até o destino final (e nas decisões).

O plano era chegar ao Saco da Velha fazendo a travessia da entrada do Saco do Mamanguá. Meu nível de confiança estava alto. Os líderes estavam alinhados e com bom timing. No fundo, estávamos levando muito à sério a responsabilidade. Talvez uma pitada de leveza tivesse nos ajudado a reduzir a quantidade de checks de horário com o resto do grupo. Mas o resultado foi que, às 8:15, estávamos todos na água. O termômetro da confiança aumentou uns graus.

Durante a remada, os tão aguardados pelotões se formaram. Foi bonito de ver que nosso plano estava funcionando e parecendo ser útil para o grupo. Muitos pontinhos de confiança a mais. A primeira pausa se deu exatamente como combinamos, na entrada da praia deserta.

Adiante, chegamos à famosa “lá onde o Bruno virou”. O momento teve um pouco de expectativa, se alguém teria problemas. Eu estava no meio e olhava para o grupo da frente e para o de trás, tentando manter a visibilidade sobre todos. As ondas estavam largas, e quando eu estava entre duas ondas, não conseguia ver o caiaque duplo da Monnik e Diogo. Segundo o conselho do Fuchs sobre CLEP, acrônimo para: comunicação, linha de visão, evitar riscos e posição. Decidi pedir que se aproximassem do grupo para melhorar a comunicação e a visibilidade. Não tive sucesso e fiquei indagando se estava controlando muito ou se minha comunicação foi falha: uma pergunta que Raimo responderia mais tarde com seu arcabouço sobre comunicação.

A virada da ponta foi tranquila e chegamos ao remanso da primeira pausa. Água azul, céu azul, sem vento, gargalhadas. Confiança nas alturas. Relaxamos por estarmos surfando no sucesso, expressão cunhada pelo Bruno de forma muito relevante. E no meio da confiança, nossa primeira falha: abandonamos nosso próprio plano de gestão de crise, ignoramos o combinado de nos reagruparmos antes da travessia para reavaliação. Naquele momento não passava pela minha cabeça a possibilidade de frente fria. Cheguei a pensar: vai ser um dia perfeito!

Laura.

Quando o Raimo fizer o debfiefing, só teremos amenidades para contar. Eu estava imersa nesses pensamentos quando, de repente, senti a rajada. Não senti somente no rosto, mas nos braços: a água tinha virado melado ou cimento, por que eu não conseguia mais avançar. Ao contrário, comecei a ir para trás. Em dois piscares de olhos a formação do grupo mudara: a maior parte do grupo na frente. Cá perto de mim, só sobraram Bruno, Fuchs e Raimo. Eu via o grupo da frente parecendo seguir em direção ao Saco do Mamanguá. Pensei: “mas eles vão remar contra o vento? Não seria melhor fazermos a travessia para não gastar energia à toa?”. Inútil pois me dei conta que não poderíamos conversar. Comecei a gritar para o Bruno, e à medida que ele não ouvia, senti um pânico.

Ele acabou ouvindo e pedi que eles esperassem. Eu já imaginava que precisaria do reboque. Isso não era problema. Já precisei passar por muito crux de escalada usando fitas. Aquilo era o crux da minha remada, mas fui inundada pela frustração. Ela vinha do fato de perceber que minha força não era suficiente para suportar o vento e o mar naquelas condições, que nem eram tão fortes assim. E perceber que o grupo tinha seguido sem olhar para trás. Pensei: “será que foi um erro dar tanta liberdade ao pelotão da frente? Qual a medida certa de estrutura e liberdade? Para que os indivíduos não se sintam tolhidos, mas que não rompam o compromisso do grupo?”. Pensei nas nuances dentre ser autoritária e permissiva, e como isso reflete em mim na criação do meu filho e na gestão da minha equipe no trabalho. As internalizações que a mente precisa fazer para entender essa situação. Vim pensando enquanto era rebocada pelo Fabio.

Na entrada da enseada, vi que o grupo tinha se dividido em mais duas partes, uma aguardando e outra avançando. Meu pensamento foi: “falhei como líder”. Falhamos, pois temos a responsabilidade compartilhada. Na hora senti raiva. Samir certamente captou isso pelo olhar que dei quando ele veio me perguntar se tudo estava bem. Ou pela falta de olhar. Minha autorresponsabilidade estava bem baixa naquele momento.

Samir.

Chegando à praia, eu estava com alguns músculos tremendo pelo esforço acima do habitual. Levei um tempo para acalmar as emoções e poder ter uma conversa ponderada com o time de líderes. Tive muita sorte com nossa designação: Bruno e Samir são pessoas sensatas, conscientes e muito observadoras. Entenderam imediatamente o lugar que eu me encontrava e usaram de uma comunicação direta, mas sensível para resolvermos sem deixar farpas soltas. Um momento de acolhimento e aceitação que me permitiu superar a frustração e virar a chave mental para o aprendizado. E que ainda criou pequenos fios de confiança entre nós três. Lembrei do que Raimo disse sobre equipes de alta performance, que conseguem falar sobre os problemas e pensei: “somos um time, entendi o conceito”.

Com a chave virada, fomos para o debriefing ou resumo da situação. Senti o grupo tenso, e não tinha muita ideia se o que tinha ocorrido era válido em canoagem ou não. A conclusão final é que permanecer juntos é o mais importante. Fez sentido, depois de ouvir tantas histórias do Raimo sobre pessoas que passaram perrengues infinitos por terem se separado de seus grupos. É uma reflexão difícil de absorver. Eu fiquei pensando principalmente em quem vive uma vida urbana individualista, onde o senso de vida em comunidade já se perdeu. Também que eu mesma já agi dessa forma em outras atividades. Muitas vezes já fiquei bem à frente do grupo de trekking. Agora sei como se sentem os que ficam para trás. A humildade é característica necessária para exercer a liderança.

Depois da conclusão do papo, decidimos voltar para o camping do Seu Orlando e aprender. A remada estava dura por causa do vento, mas foi curta. Ao chegar, sem refletir muito, resolvemos pedir um PF e desfrutar de um dos melhores pratos de todos: aqueles que não preparamos. Ironicamente, foi a primeira vez que fizemos uma refeição todos juntos, na mesa da tábula redonda. Dizem que passar dificuldades juntos une as pessoas. Eu senti mesmo um outro espírito no grupo. Um sentimento de que agora tínhamos nos enxergado de verdade, com algumas falhas e acertos e não somente com as risadas fáceis de quem está recém se conhecendo.

Sinto que cada um do time aprendeu um pouco com esse dia e me sinto profundamente grata de, no meio de pessoas tão admiráveis e de um cenário de paraíso, poder ter compartilhado com todos de mais um pequeno/grande degrau de aprendizado.

Dia 6 - 05/12/2020 – Matheus Silva

  • O que é ser um líder?
  • Leveza.
  • Estrutura do dia;
  • Acordar, estar pronto às 7:30;
  • Remar por menos de duas horas;

Reagrupar.

Claúdia.

  • Chegar antes das 10:00;
  • Comuna para alinhar o restante do dia;
  • Framework sobre tomada de decisões;
  • Almoço coletivo;
  • Remadas respectivas;
  • Linda Ilha da Cutia
  • Lírios cheirosos;
  • Tour;
  • Água quente
  • Chegada às 5:21.
  • Ducha? Que ducha? Garrafas ou sal mesmo;
  • Jantar coletivo com catchup;
  • Treco ou troço? Boneco anônimo? Maromba?
  • Dormir na mesa? Em baixo? Em cima? Beliche.
  • 13 pessoas: Hell, Samir, Laura, Diogo, Cláudia, Monnik, Tânia, André, Bruno e Matheus.
  • O que é ser um líder?

Outward Leaders 2020.

Dia 7- 06/12/2020 - Matheus Silva

  • Dia 7?

Matheus.

  • Café coletivo. Silêncio.
  • E ontem? Debriefing... debriefing... debriefing... crise energética.
  • Interesse, desinteresse, entendimento, compaixão, liderança.
  • Cada um no seu quadrado. Quadrados, quatro quadrados.
  • Remada até Paray-mirim. Autolíder, autoliderança, chuiva fina.
  • Portal do Fuchs.

Nos portais.

  • Mangues, lindos mangues. Saindo do portal. Intimidade com a natureza.
  • Jesus, lavar, separar, tirar sal, tirar areia. Coletivo.
  • Lojinha OBB, ceritificado.
  • Fechamento. Obrigado, Álvaro, Fuchs e Raimo.
  • Obrigado.

Hell, Samir, Laura, Diogo, Cláudia, Moniik, Tânia, André, Bruno e Matheus.

Líderes? Líderes.

Lavar, separar, tirar sal, tirar areia.

Obrigado, Álvaro.

Grande Fuchs

Valeu, Professor Raimo.

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Publicado em 13/01/2021 18:25

Realizada de 30/11/2020 até 06/12/2020

6 Participantes

Laura Mastella Bruno Negreiros Álvaro Aurélio da Matta Samir Hamra TANIA BROTTO HADDAD Monnik

Visualizações

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8 Comentários
Bruno Negreiros 13/01/2021 18:29

7 dias de muito aprendizado. Obrigado, OBB!!!

Laura Mastella 13/01/2021 18:36

Irado! essa viagem foi maravilhosa! quantos aprendizados! Obrigada OBB e todos os Bounders !!!

TANIA BROTTO HADDAD 13/01/2021 19:07

🌊☀️🥰🤙🏾🙌🏽 ahhhh que show! Gratidão e Saudades!!

Pedro Lacaz Amaral 14/01/2021 06:47

Muito legal!! Está na minha lista de cursos que vou fazer com o pessoal da Outward Bound Brasil!!

Valioso ter esse registro! Parabéns pessoal!

Outward Bound Brasil 15/01/2021 15:08

A OBB agradece a todos os participantes do Outward Leaders 2020. Vocês são os protagonistas disso tudo. Que venham mais histórias transformadoras!

Outward Bound Brasil 15/01/2021 15:09

Obrigado também ao Pedro pela parceria de sempre!

Adelino De Santi Jr 30/04/2021 11:39

Sensacional! Sem querer apaguei um comentário seu na minha postagem! Parabéns pelas aventuras!

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