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Pedro Abrão 05/05/2019 09:17
    Travessia Serra Fina - 4 dias

    Travessia Serra Fina - 4 dias

    Clássica travessia da Serra Fina realizada em 4 dias com pernoites no Capim Amarelo/Pedra da Mina/Três Estados

    Trekking Montanhismo
    • DURAÇÃO: 4 DIAS/ 3 NOITES
    • PERCURSO: 46 KM / 23 HRS
    • DIFICULDADE TÉCNICA: FÁCIL
    • DIFICULDADE DE NAVEGAÇÃO: MODERADA
    • DIFICULDADE FÍSICA: MODERADA
    • MATERIAL DE ESCALADA: NÃO
    • MAIOR DIFICULDADE: GRANDE ALTIMETRIA E LONGAS DISTÂNCIAS

    OBSERVAÇÕES: Galera nesta travessia encontrei muito papel higiênico nos acampamentos e na trilha, de verdade, onde está o respeito com a natureza ? É inadmissível essa conduta deste tipo de "montanhista" que de montanha não entende nada. Vamos respeitar aquela que nos fornece tantas alegrias e que nos traz paz em meio a este mundo confuso ?

    O MITO: Existe o mito de que a Travessia da Serra Fina é a mais difícil do Brasil, este rótulo mistifica a montanha e impede que muitas pessoas possam presenciar tudo que há de bom nesta travessia, ela é sim difícil do ponto de vista físico, mas com um bom preparo e estudando a trilha é possível fazer a travessia em segurança. Aconselho já ter alguma experiência em trilhas e estar com um bom preparo físico para carregar a cargueira por longas distâncias e grandes trechos de subida e descida. E sempre respeitando seu limite e os limites que a montanha impõe.


    Serra Fina!!!! Desde de setembro de 2014 quando comecei a praticar montanhismo eu ouvia falar dessa travessia, considerada por muitos a mais difícil do Brasil, devido a escassez de água e a grande frequência de sobe e desce, totalizando quase 5800 metros de altitude acumulada. Era um sonho para mim, e ele se realizou no dia 30/06/2016. Eu e meu irmão Matheus Basso começamos a planejar essa travessia e depois de um mês de planos, o Matheus veio de Passo Fundo - RS para vivenciar essa experiência ímpar.

    Saímos de São Paulo no dia 29/06 com destino a Passa Quatro através da empresa Cometa, pedimos para o motorista parar no segundo trevo em direção a Passa Quatro depois do município de Pinheirinhos, o motorista não sabia onde ficava esse trevo então olhamos no Google Maps e falamos que era o trevo da fábrica de embalagens, ae sim ele se localizou. Por volta dás 03:50 descemos no trevo e ali começava nossa travessia, decidimos não contratar um resgate para o início da trilha, até porque não estávamos com pressa, iriamos concluir a travessia em 4 dias.


    Seguimos estrada a dentro em direção a Toca do Lobo, da onde se inicia a travessia, foram quase 13 quilômetros e 3 horas e meia de caminhada de baixo de uma lua fantástica. O caminho é autoexplicativo, sem grandes problemas, apenas seguir as placas em direção a Pousada Serra Fina. Chegamos na Toca do Lobo por volta das 07:30. Paramos para tomar um café reforçado, e descansar um pouco já que não dormimos quase nada no ônibus. A toca do lobo é o primeiro ponto de água, mas aconselho a pegar apenas 1 litro de água aqui, pois logo acima depois de 40 minutos de caminhada já existe um outro ponto de abastecimento.

    DIA 01 – TOCA DO LOBO AO ALTO DO CAPIM AMARELO
    Este é o dia onde mais ganhamos altitude, a altimetria acumulada é de aproximadamente 1.300 metros e uma distância de 6,5 Km. O começo da trilha atravessa o Riozinho da Toca do Lobo e se inicia uma subida bem inclinada, não se preocupe a travessia não é toda assim. Seguindo a trilha dentro do bosque após 30 minutos você já vai ter visão da maravilhosa Serra Fina. Na altitude de 1750m você verá uma clareira, onde pode ser utilizada como acampamento, para frente segue a travessia e pro lado direito você verá um vale e escutará barulho de água, existe uma trilha para chegar nessa água, tome cuidado para não escorregar. Eu aconselho pegar 5 litros de água neste ponto, visto que o próximo está localizado na base da Pedra da Mina.
    A trilha segue pela crista, passando por mais um bosque, e depois de umas 2 horas caminhando você terá a visão clara do Alto do Capim amarelo e a trilha para chegar no topo. Esta com certeza é uma das paisagens mais lindas da travessia, a nossa pequenez perante a imensidão das montanhas, nos faz refletir o quão pequeno somos, mas ao chegar ao topo percebemos que dentro desta pequenez existe algo do tamanho do universo, pois ali conseguimos conquistar toda aquela imensidão das montanhas.
    A trilha a partir daí pode ser vista durante quase todo o percurso até o cume, podendo gerar alguma dúvida quando passamos em meio aos capins elefante que podem esconder a trilha dependendo da época em que você for fazer a travessia. O guerreiro Matheus seguiu firme na travessia mesmo com algumas dores musculares, mas para quem estava fazendo a primeira travessia, encarar a Serra Fina de primeira não é fácil não.
    Chegamos no cume do Capim Amarelo (2.392 m, IBGE) por volta das 14:00, o tempo estava começando a fechar mas ainda conseguimos contemplar um pouco a paisagem, armamos acampamento e fomos dormir as 16:00, com muito sono depois de mais de 24 horas acordados.

    DIA 02 – ALTO DO CAPIM AMARELO À PEDRA DA MINA
    Este também é um dia com muita subida e descida, totalizando aproximadamente 1500 metros de altitude acumulada e cobrindo uma distância de 7,5 Km. A saída do acampamento do Capim Amarelo pode ser um pouco confusa, mas a trilha segue a esquerda do acampamento, seguida de uma descida bem inclinada, tome cuidado neste ponto para não se machucar.
    Terminando a descidas entramos em um bosque que segue de uma subida e na sequencia uma área de capim, siga a trilha e você entrará na mata novamente e após alguns minutos entrará no acampamento Maracanãzinho. Passando o acampamento você passará uma bifurcação, escolha o caminho da esquerda, estrando novamente na mata. Passamos na sequencia por dois pontos de escalaminhada chegando em um platô onde é possível avistar a Pedra da Mina.
    Deste ponto você desce um pouco sempre seguindo os totens, e logo a frente você passará pela Cachoeira Vermelha, que fica a direita da trilha principal, pegamos uma trilha secundária até chegar na cachoeira ali abastecemos os reservatórios de água com aproximadamente 3 litros, pois logo no começo do dia seguinte teríamos água no Vale do Ruah. Eu realmente aconselho parar nesta cachoeira, pois tem uma visão linda da Pedra da Mina e do vale que segue abaixo.Após este ponto passamos por um riacho que também possui água potável e então começa o ataque ao cume da Pedra da Mina, cerca de 30 minutos de subida intensa até alcançar o quarto ponto mais alto do Brasil a Pedra da Mina (2.798 m, IBGE).
    A felicidade foi imensa de chegar ali, eu sentia que o Matheus realmente estava vivenciando a energia da montanha. Ali em cima encontramos o Alexander um sueco que estava fazendo a travessia solo, e ficamos conversando por algumas horas, ele contava sobre as suas aventuras ao longo de vários anos de montanha, é incrível como a sincronicidade do cosmos funciona, sempre colocando pessoas que nos somam para nos transformarmos em seres humanos melhores, em almas mais desenvolvidas. E a maioria das pessoas que encontro nas montanhas são assim. Gratidão.O tempo fechou e fomos dormir coam rajadas de vento que passavam os 70 km/h, além de uma sensação térmica negativa, mas estava tudo muito bom.


    DIA 03 – PEDRA DA MINA – PICO DOS TRÊS ESTADOS
    Acordamos para ver o nascer do sol, que espetáculo maravilhoso, são coisas vividas pela alma, algo mais sútil, que não pode ser explicado por palavras, só vivendo. A trilha segue em direção dos totens rumo ao Vale do Ruah, a descida do cume até o vale é em meio a um lajeado de pedra, e pode ficar meio confuso aonde deve-se entrar no Vale do Ruah, eu indico seguir diagonalmente a direita e então você verá uma grande clareira no Vale da onde se parte várias trilhas que tem como objetivo final chegar ao rio que atravessa o Vale até o seu final.
    Chegando nesta clareira fica fácil se orientar pelo “V” que forma o final do Vale e é pra la que temos que ir. O capim elefante constante companheiro no Vale pode dificultar um pouco a orientação, passamos por alguns brejos, se você estiver com um Trekking Pole sempre cheque o passo a frente para você não pisar em um buraco e encharcando o pé. Nesta travessia especialmente este equipamento é importantíssimo para ajudar nas subidas e afastar os capins elefante para que se possa avistar a trilha.
    Encontrando o rio é só segui-lo até o final, nós paramos em uma das cachoeiras para lavar a louça e abastecer os recipientes de água, aqui indico coletar pelo menos 5 litros de água pois o próximo ponto é apenas no final da travessia quase chegando no sítio do pierre. Depois do final do rio a trilha segue a direita passando por um bambuzal. E iniciando então a subida para o Cupim do Boi.
    A trilha é bem orientada pelos diversos totens, chegando no topo do Cupim do boi você enxerga o Pico dos Três Estados a sua frente e ao lado o Pico Cabeça de Touro. Descendo em direção ao vale você passará novamente por um bambuzal e então se inicia a subida ao Pico dos Três Estados que é íngreme mas curta. Chegamos no cume da 10º maior montanha do Brasil (2.685m, IBGE), que é divisa dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, meu estado do coração, armamos acampamento e fomos recepcionados pois vários camundongos, fechamos a barraca e colocamos a comida dentro de sacos estaques.
    Fomos então presenteados com um pôr do sol que nunca vou esquecer na minha vida, o Pai sol se pondo no vale e a serração subindo, e este fenômeno deixava a serração com uma cor avermelhada, mágica da natureza. Quanta simplicidade e quanta beleza. Quando voltamos para a barraca, ouvimos uns barulhos e ao abri-la um rato saiu correndo, ficamos pensando como aquele bicho entrou ali. Cozinhamos dentro da barraca mesmo e fomos dormir ouvindo o barulho dos bichinhos fora da barraca.

    DIA 4 – PICO DOS TRÊS ESTADOS – SÍTIO DO PIERRE
    Ao acordarmos também fomos contemplados com um nascer do sol fora do comum, agora com vista perfeita do Parque do Itatiaia e o sol nascendo atrás do imponente Agulhas Negras. Gratidão Pai. Quando fomos desmontar acampamento percebemos por onde o rato entrou de noite, ele passou pelo sobretudo da barraca e roeu a tela de ventilação, entrou na barraca e roeu o saco estanque, além de roer também a minha mochila kkkkk, pensa num cara que ficou bravo kkkkkkk jogamos todas as comidas fora, além disso eles defecaram em tudo, na barraca, na mochila e etc.... Por isso aqui vai uma dica muito importante se for acampar nos Três Estados escolha uma clareira mais aberta e se possível deixe toda a comida e lixo em um local alto. Mas eu aprendi a lição a próxima vez eu acampo em outro local.
    A trilha segue 45º para a esquerda do marco dos 3 estados, descendo pelo rochedo onde passamos por um pequeno trecho técnico, segue descendo até chegar a um bambuzal, passando pelo Abrigo Bandeirantes. Seguindo os totens começando a subir em direção ao Alto dos Ivos, aonde se tem uma bela visão do Agulhas Negras. Ali mandamos mensagem para o nosso resgate a Patricia, que fez um ótimo preço (contato no final), e seguimos a trilha passando por um bosque de bromélias e na sequência entrando na mata.
    A partir deste ponto é só seguir a trilha que é marcada por fitas coloridas, até chegar a bica quase chegando no sítio do Pierre. Chegamos na fazenda por volta das 12:30 e seguimos com ritmo forte pela estrada de chão até a beira da rodovia, onde a Patrícia apareceu depois de uns 20 minutos e conseguimos chegar a tempo em Passa Quatro para um almoço e uma cerveja de comemoração. Parabenizei o Matheus pela primeira travessia em segurança. Agradeci ao Deus Maior por me oferecer tantas coisas boas e permitir que minha alma desfrute de tantas experiências e aventuras sempre em segurança. Obrigado sempre. Namaste.

    DICAS:

    • Em qualquer trilha é possível encontrar animais peçonhentos, então vá com atenção;
    • Faça esse trajeto de preferência no inverno, no verão é comum tempestades repentinas, e possíveis descargas elétricas;
    • Equipamento correto é sinônimo de segurança, então planeje o que levar;
    • Não vá sozinho para a montanha;
    • Em trechos de escalaminhada, lembre, você deve ter sempre 3 pontos de apoio;
    • Em caso de chuva, aborte a ascensão;
    • No inverno, a temperatura pode chegar abaixo de 0;
    • Vá com calma, dependendo do local uma queda pode ser mortal;

    CONTATOS:

    • Patricia - Resgate: : (35) 91337585
    • Relato muito bom: http://coconomato.com.br/serra-fina/
    • Tracklogs: wikiloc.com
    Pedro Abrão
    Pedro Abrão

    Publicado em 05/05/2019 09:17

    Realizada de 30/06/2016 até 02/07/2016

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    Pedro Abrão

    Pedro Abrão

    Sao Paulo - Brasil

    Rox
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    Doutorando em engenharia civil e apaixonado pelas montanhas. Venho buscando a montanha como meio de encontrar a felicidade. Atualmente no Projeto 10+ Andes.

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