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Leveza na trilha

    Trekking leve ou ultraleve - modo de usar.

    Peter Tofte
    02/06/2020 15:26

    LEVEZA É FUNDAMENTAL, não só na trilha como na vida!

    Vejo muita gente sobrecarregada na trilha, levando peso além do necessário. Costumo dizer que o peso de uma mochila grita se o trilheiro é novato ou macaco velho.

    Além de poupar a articulação dos joelhos e dos pés, a experiência de caminhar vai ser muito mais agradável. Compartilho com vocês aqui o que aprendi em 20 anos de trilha.

    Quanto mais você conhece, menos você carrega e menos MEDO sente. O MEDO é o maior peso que as pessoas carregam na trilha. MEDO de passar fome, comida em excesso, MEDO do frio, roupas além do necessário, MEDO da noite e de bichos, pesadas barracas em vez de tarps (toldos) ou bivaque. É lógico que um pouco de medo para avaliar situações e tomar decisões acertadas durante a trilha é sempre saudável!

    Habilidades também substituem peso. Por exemplo, se você sabe ler o terreno e interpretar uma carta topográfica não precisará levar tanta água na mochila. Saberá onde encontrar.

    Conhecer materiais ajuda a escolher o melhor equipamento. Quanto mais eficiente um material para o seu propósito normalmente mais leve ele é. Um exemplo clássico são os casacos de pluma, com isolamento de melhor desempenho por grama de peso.

    Mas lembre-se: o limite da redução do peso é a sua segurança. Não deixe em casa o que você vai precisar na trilha. Não troque peso por segurança!

    Geralmente equipamentos mais leves são mais caros, porém isto não é regra. É possível encontrar no mercado coisas leves por preços bem mais acessíveis. Recomendo muito os vídeos do GRAXAIM CONGELADO, com boas dicas de itens a preços mais acessíveis.

    Não acredito que “carregamos o peso do nosso conforto”. Creio que dá para fazer trilha muito confortável com pouco peso. Tenho amigos, excelentes trekkers, que gostam de ir pesados, com preparo físico bem melhor em relação a mim. Mas noto que no final do dia estão mais cansados do que eu e as vezes resolvem parar para acampar porque não aguentam mais caminhar enquanto eu ainda poderia prosseguir se desejasse.

    Recentemente li uma postagem que comentava um estudo americano revelando que os 3 fatores que mas predispõem a acidentes na trilha são: (1) inexperiência; (2) obesidade; (3) peso excessivo na mochila. O fator (1) está relacionado ao fator (3). Presenciei vários camaradas de trilha com muito peso na mochila ou cansados e/ou caindo a toda hora (peso excessivo desequilibra).

    Sem tenda mas bem confortável.

    Embora não haja um padrão técnico internacional, por convenção muita gente aceita que até 7,0 Kg de peso base é trekking leve e até 4,5 kg é trekking ultraleve, para 3 estações (excluindo inverno com neve). Peso base é o peso da sua mochila sem consumíveis (comida, bebida e combustível). Os bastões não entram na conta porque leva nas mãos. Idem a roupa e calçado que está vestindo/calçando.

    OS TRÊS GRANDES

    Não adianta cortar o cabo da escova de dente e deixar de prestar atenção nos pesos pesados de qualquer trekking: mochila, abrigo e sistema de dormir.

    MOCHILA: Normalmente num trekking ultralight as mochilas não são grandes (menores que 45 litros) e são de DCF (Dyneema Composite Fabric). Não tem suporte rígido nas costas por isso são limitadas normalmente a carregar no máximo 10 a 12 kg. No meu caso tenho uma mochila minimalista de 45 litros que pesa 680 gramas (a ARCTERYX ALPHA 45) e que não é de DCF, dando conta do recado para até 4-5 dias no Brasil e, por exemplo, 3 dias no outono nos Pirineus. Além disto é impermeável, dispensando capa.

    Outra mochila que tenho é a barata Starting Point da 3F UL. De boa qualidade, dá bem para o gasto. Na Chapada Diamantina se tornou meu padrão. Para ser relativamente leve não precisa quebrar sua conta bancária.

    Há mochilas com suporte que não são muito pesadas. Entre elas destaco as da GRANITE GEAR.

    No Brasil já temos um bom fabricante de mochilas leves, a ALTO ESTILO.

    Eu com a Arc'teryx ALPHA 45 vermelha e Fabio Dal Gallo com uma mochila fabricada por ele e pela Cris, superleve, entre o Ancorado e a Lajes, Chapada Diamantina. Na foto da portada o Edver Carraro com outra Arc'teryx ALPHA 45, na serra catarinense.

    ABRIGO: deixe a tenda convencional em casa. Opte por um abrigo tipo tarp ou abrigos sem varetas, que usam os próprios bastões de trekking como suporte. As varetas são um dos itens que mais pesam nas barracas. Sugiro olhar os sites da HYPELITE MOUNTAIN, SIX MOON DESIGNS, ZPACKS e GOSSAMER GEAR. A 3F UL chinesa tem coisa boa a bom preço. Mesmo as grandes companhias, a exemplo da MSR, estão começando a oferecer produtos nesta abordagem light ou ultralight. Da 3F possuo as tendas modelos Lanshan 1 Pro e Lanshan 2. Prefira os modelos Pro que tem silnylon nas duas faces.

    Escolha abrigos feitos de silnylon, polysil (material novo sendo já aplicado em algumas tendas) ou, se tiver mais grana, de DCF. São leves, resistentes e mais impermeáveis. Esqueça o pesado Nylon com revestimento de PU, material de características inferiores e que degrada mais rápido.

    Notem que principalmente a tarp (toldo) exige alguma prática para escolher o local do acampamento e a montagem. Mas é deliciosa. Você não ficará fechado num casulo. Tem vista ampla e espaço bem maior. Pode cozinhar debaixo dela. Uma sensação muito grande de proximidade com a natureza.

    Abaixo a tarp numa laje de pedra. Sem espeques, usando pedras para prender os cordoletes. Chapada Diamantina.

    Uma Hexamid Pocket Tarp da Mountain Laurel Designs em DCF (Dyneema Carbon Fiber) em Itatim BA. Super minimalista, pesa pouco mais que 100 gramas. Dentro um saco de bivaque marrom da Borah Gear, de 200 gr. Evita que chuva lateral molhe quem está dormindo. Este modelo (Hexamid) é considerada uma tarp-tent (misto de tarp e tenda).

    Na foto acima o próprio bivy tem tela mosquiteiro na altura do rosto.

    Há mosquiteiros levíssimos que deixam sua noite tranquila. Destaco a Nano Mosquito Net da SEA TO SUMMIT. Ou simplesmente dormir com um véu mosquiteiro em volta do seu chapéu. O resto do seu corpo está protegido pelo saco de bivaque. Nunca tive problema com bichos.

    Dormindo na Toca do Ancorado, com o mosquiteiro da SEA TO SUMMIT. Mas o bivy de cor laranja neste caso é de e-Vent, mais pesado porém de excelente respirabilidade,

    SISTEMA DE DORMIR. Saco de dormir aqui no Brasil? Repare que na foto logo acima não há saco de dormir e sim, apenas um liner. Por que não apenas um saco de bivaque com um liner? O saco de bivaque, além de criar um microclima no seu interior, também evita que pingos de uma chuva de açoite atinjam você debaixo da tarp. Na Chapada Diamantina é o meu padrão. No inverno eu coloco também um agasalho e uma calça de lã merino para enfrentar temperaturas menores.

    O saco de bivaque para ser confortável deve ser impermeável/respirável. Considero os de e-Vent os melhores pela sua respirabilidade. O desconforto gerado pelo suor em um saco de bivaque pouco ou não respirável é muito grande.

    Logicamente não dá para usar só bivaque/liner no inverno em Itatiaia, Serra Fina e outros locais mais ao Sul e de maior altitude. Nestes casos não dispense o saco de dormir. Dê preferência a um de pluma (menor peso e mais eficiente). Se po$$ível escolha um de down 800 a 900, que são as melhores plumas. Atenção na previsão do tempo e na temperatura de conforto do saco de dormir. É bom pensar num saco de dormir que tenha uma temperatura de conforto ao menos 5 graus abaixo da menor temperatura prevista.

    Entre os trilheiros ultralight é muito popular o uso do quilt. Ele não forma um saco, se prende por baixo do isolante com uso de tiras elásticas, envolvendo o usuário. A ideia é que não adianta ter o saco de dormir embaixo do corpo porque ele é compactado pelo peso do usuário perdendo suas características isolantes. É mais barato e menos pesado que um saco de dormir, normalmente. Temos bons modelos de pluma fabricados na China, da Aegimax por exemplo. Para o Brasil, de clima mais ameno, é muito bom. Inverno com neve tenho minhas restrições ao uso do quilt. Aí deve combinar com agasalho e calça de pluma.

    Bivaque sem tarp na Chapada Diamantina debaixo de uma noite estrelada, também sem saco de dormir. Mas tive que botar agasalho no meio da noite

    Embora o isolante térmico menos pesado seja um simples de célula fechada (de espuma) ainda gosto e uso os infláveis devido ao conforto. A THERM A REST tem os melhores, por ter mais tempo de mercado, e com excelente relação peso, conforto e R value (medida de isolamento térmico). Levo geralmente um de tamanho 3/4 que dá para cabeça tronco e coxas e o risco de furar é menor. A mochila deitada isola os pés.

    Para completar, uma lona de Tyvek, resistente e leve, impermeabiliza o chão ao redor de seu isolante.

    Itatiaia, camping ao lado do Rebouças, -1ºC a noite. Sem barraca, com tarp, saco de bivaque e saco de dormir.

    COZINHA

    O fogareiro mais leve é uma fogueira. O problema é o apoio para as panelas, o que pode ser arranjado com pedras, se disponíveis. Outro problema é não achar lenha seca. Para resolver isto tenho um fogareiro de titânio para gravetos (gravetos são mais fáceis de achar e queimar). Mas nem sempre é permitido num parque nacional ou estadual ou viável o uso de fogueiras. Para poucos dias uso um fogareiro a álcool. Um fogareiro a gás é o que normalmente representa melhor relação peso/poder calorífico. Mas também depende do número de dias (imagine carregar um monte de cartuchos de gás vazios na mochila, perto do final do trekking). Em alta montanha, acima da linha da neve, não tem jeito. Vai ter que levar um pesado fogareiro de benzina ou um tipo Jetboil com gás apropriado, para conseguir derreter gelo. Assim a decisão depende do número de dias, previsão de tempo e local.

    As pastilhas de combustível sólido da Esbit são imbatíveis no quesito peso. Como não duram muito, o ideal é usar para ferver água para sopa e comida liofilizada.

    Gosto de apetrechos de titânio: panela e talher. São muito leves, extremamente resistentes. Valem o preço porque duram a vida inteira.

    Fogareiro de gravetos Hexagon da Vargo e panela da Evernew, ambos de titânio. Peso do combustível: zero.

    Para lavar a panela e utensilios de cozinha não levo bucha nem detergente. Uso areia (arear as panelas) e musgo para a limpeza. A natureza agradece.

    COMIDA

    Liofilizada, gostosa, altamente energética (alta densidade calórica = carboidratos e gordura). Dá para conciliar? Creio que sim. Infelizmente no Brasil ainda não contamos com muita opção de comida liofilizada gostosa (lá fora tem muita coisa deliciosa). Mas abuse do chocolate, mel, massas (gosto da capelli de angeli ou vermicelli, cozimento rápido). Também tem risotos de cozimento rápido, frutas secas, pasta de amendoim, etc… Todas com ótimo conteúdo calórico. Abuse da tradição dos tropeiros, leve paçoca (farofa pilada com carne de sol, durável e gostosa). Nada de comida light porque seu gasto energético deve ficar acima de 3.000 calorias/dia. Some as calorias das embalagens e veja se suprem sua necessidade energética. Se o trekking vai ser bem selvagem, leve mais um dia ou dois de comida. Ser leve na trilha não significa passar fome! O segredo de diminuir o peso da comida é pouco conteúdo de água (comida liofilizada, desidratada ou seca) e alta densidade energética.

    Normalmente o gasto de comida desidratada e energética é entre 800 a 1200 gramas por dia por pessoa. Costumo ser conservativo e adotar a média de 1.000 gr dia. Se num total de 5 noites de trilha eu pesar minha comida e ficar abaixo de 5,0 kg já fico desconfiado e checo a quantidade de calorias.

    Procure alimentos com uma densidade calórica acima de 2 calorias por grama. Azeite de oliva, bacon (hmmmm) e toucinho de porco são campeões com densidade acima de 8. Relaxe e coma porque vc fez muito exercício físico durante o dia. Divida a quantidade de calorias pelo peso em gramas para descobrir a densidade calórica. A embalagem informa a quantidade de calorias e o peso liquido do alimento. Para alimentos em natura encontramos tabelas na internet. Eu gosto de consultar o livro "Tabela de composição de alimentos" da Sonia T. Philippi (Editora Manole).

    Tire os alimentos das embalagens originais pois muitas vezes são pesadas e não fecham mais depois de abertas. Reembale em sacos plásticos ou ziplocs.

    Para transportar água nada de Nalgene ou cantis de alumínio. Uso garrafas PET de água mineral ou PLATIPLUS. A vantagem do último é que é dobrável quando não está em uso e posso usar como travesseiro inflável se soprar pela boca e fechar.

    VESTUÁRIO

    A boa notícia é que no Brasil (posso falar por mim na Chapada Diamantina/Bahia ou nas Serras Altas de Rio de Contas e ainda nas Serras deJacobina), há um clima excelente para praticar o trekking leve ou ultraleve. Mas SEMPRE devemos consultar sites de meteorologia para termos uma previsão acurada, não ficando com proteção térmica de menos.

    Use o sistema de camadas. Escolha para cada camada o que há de mais leve. Gosto da combinação underwear sintético ou de lã merino, casaco de pluma e, como capa de chuva, um poncho. Alguns modelos de poncho se convertem em tarp (uso esta opção quando quero ir muito leve). Uma balaclava de fleece é essencial (a cabeça é onde mais perdemos calor) ou mesmo de pluma de ganso (duvet) em ambientes mais frios. Um gorro de fleece também é legal para noites mais frias.

    O casaco de pluma é o mais eficiente, especialmente se está parado, gerando pouco calor. Se estiver em movimento e sentindo frio é melhor um fleece.

    As vezes um levíssimo corta vento por cima de uma camisa sintética é suficiente para cortar o frio. Boa parte do frio que sentimos é devido ao vento (chill factor). Considero imprescindível um corta vento.

    A hipotermia é o maior risco para quem vai ultraleve. Não erre a mão!

    Este agasalho verde da foto abaixo, embora não seja de pluma, segura bem o frio - THERMOBALL da TNF. Ou será devido a fogueira e ao chá? Picos da Bahia. O casaco de recheio sintético é melhor quando esperamos muita chuva.

    Basta uma roupa para o dia, outra para noite. A tardinha, já acampado, lavo as roupas que usei durante o dia. Roupas sintéticas secam rápido. Em regra, no dia seguinte estão secas. Roupa de uso, não estou falando de agasalho e capa de chuva, que estão a parte. Esta regra não vale para climas chuvosos e frios onde a roupa de dia não terá oportunidade de secar durante o acampamento.

    Há praticantes de trekking ultraleve que sequer levam roupas para a noite. Dormem com a roupa que usaram de dia ou dormem nus (se o clima permite). Particularmente eu não gosto. Prefiro dormir com uma roupa limpinha depois do banho. Acho que, neste caso, por umas poucas gramas a mais, não vale deixar a roupa de dormir em casa.

    Toalhinha de banho: uma 50 cm X 50 cm de secagem rápida é o que uso, mesmo num banho gelado de rio na Patagônia (delícia kkkkkk).

    CALÇADO

    Atualmente uso um bom tênis do tipo trail runner (um excelente Brooks Cascadia 16). Deixei a tradicional bota apenas para determinadas ocasiões. Os tênis além de mais leves são mais respiráveis e, dependendo do modelo, drenam bem a água. Nos não precisamos tanto de uma bota impermeável mas de algo auto drenante e de secagem rápida.

    Recentemente usei este tênis (o Brooks) no Circuito Ausangate (Peru). Subindo cansado um passo de montanha (5.000 m) o guia observou meu calçado e disse que eu tinha sorte por estar calçando algo leve. Estaria muito mais cansado com uma bota pesada.

    Mas repare que para condições de neve uma bota normalmente oferece maior conforto térmico. E trilhas com muita areia geralmente trituram os tênis (depoimento de amigos). Assim a escolha do calçado depende do ambiente.

    Há modelos de botas bem leves e que oferecem boa proteção para os pés.

    Dois pares de meia de boa qualidade, Um deles apenas para usar de noite, de preferência de lã merino. Se o trekking vai durar vários dias com muita chuva, charcos e travessia de rios, melhor ter 3 ou 4 pares.

    Sandálias. Não leve, afinal você não está passeando na sala de sua casa. Ou eu fico descalço ou uso o tênis sem meia no acampamento. Ao chegar no lugar de acampamento, tire o tênis e lave os pés para refrescar e higienizar. Ao secar, calce novamente os tênis sem a palmilha. Deixe a palmilha secando e aerando. Um tênis ventilado sem palmilha é muito confortável.

    Nunca levei perneiras para evitar picadas de cobra. O que evita picadas normalmente é prestar atenção na trilha, aonde pisa.

    NECESSAIRE

    Boto num pequeno necessaire uma headlamp, um mini isqueiro BIC, mini sabonete biodegradável, mini pasta de dente, mini escova, mini fio dental, pedaço de cordolete extra, mini canivete Classic da VICTORINOX (o menor e mais barato de todos), pequeno lápis, pequeno bloco de notas, uma vela, um travesseiro inflável e um kit para reparo do isolante inflável. Um pouco de protetor solar e labial vão no bolso da barrigueira além de um canivete (gosto de um OPINEL nº 8, com apito).

    MEDICAMENTOS

    Leve seus medicamentos de uso. Além disto costumo levar antisséptico, anti-inflamatório, analgésico e um antibiótico de amplo espectro (gosto do Ciprofloxacino e da Doxociclina - este último é tratamento de referência para a febre maculosa). No caso de antibiótico converse com seu médico para ele receitar. Devem ficar num compartimento rígido (flexível estoura os blisters) e a prova d’água.

    BASTÃO DE TREKKING

    Ainda não tem? Trate de comprar. É o que diferencia homens de meninos na trilha. Além de poupar seus joelhos, evita desequilíbrio, espanta cachorros e é o suporte de seu abrigo ultraleve (tarp e tendas piramidais). Eu não uso os leves de fibra de carbono porque acho caros e frágeis.

    NAVEGAÇÃO E RASTREABILIDADE

    Nada mais leve que um bom mapa topográfico e uma boa bússola. E que também são a prova de falhas. Devem estar associados a habilidade de navegar. Entretanto um GPS deve ser utilizado na falta de cartas topográficas em papel da região em que fará a trilha ou um APP tipo Wikiloc. Estes também são úteis no caso de baixa visibilidade. Há relógios com GPS, o problema é a precisão menor e a autonomia da bateria (digo isto por experiência).

    Se estiver fazendo trilha sozinho ou mesmo com companheiros mas off trail por área selvagem, leve um SPOT ou similar. O pouco peso deste equipamento não é nada em relação a segurança que te trará.

    Um bom mapa, entre outras coisas, é ótimo para visualizar toda a trilha e discutir a rota com os companheiros de caminhada.

    MULTIUSO

    Já citei alguns itens multiuso: poncho-tarp, bastões, agasalhos (substituindo saco de dormir). Merece menção especial o smartphone, um equipamento muito versátil. Substitui uma câmera fotográfica, comunicação (onde há sinal) e alguns Apps podem substituir o GPS (MAPS.ME, LOCUS MAP, OsmAnd, WIKILOC, etc…). No peso do smartphone devemos acrescentar o peso de uma capa de proteção para intempéries e um power bank/fiação.

    Poncho-tarpa na mata atlântica no RJ. Na ocasião esqueci os cordoletes. Tive que improvisar com cipó.

    FINALMENTES

    Uma balança de cozinha digital ajuda muito a escolher dentre as opções possíveis. Mas não é por poucas gramas que você deve deixar de lado algo mais eficiente. Por exemplo, um casaco bem mais quentinho que só pesa um pouco a mais do que outro com bem menos isolamento térmico.

    Muito importante é testar estas combinações de equipamentos leves. O que funciona para um pode não funcionar para outro. Comece minimalista em trilhas mais fáceis e depois aumente o grau de dificuldade, verificando se suas escolhas leves estão funcionando. Não vá ultraleve por terrenos ou climas nos quais nunca teve experiência.

    Há ambientes para os quais não é possível ir leve ou ultraleve. Alta montanha é um deles devido ao intenso frio e as barracas 4 estações autoportantes são mais pesadas, para resistir a ventos fortíssimos. Logicamente, mesmo nestes casos, há materiais/equipamentos mais leves que tornam a subida da montanha mais fácil.

    Vai ter ocasiões em que provavelmente passará por perrengues. Mas faz parte do jogo e tornam a viagem uma verdadeira aventura.

    Não entre na onda de competição e vaidade mostrando que vc vai para a trilha com o menor peso (as vezes notamos isto na comunidade ultralight). Faça escolhas racionais com base na sua experiência e bolso (tem reduções de peso que não compensam pelo grande custo a mais).

    Mesmo que você não compre o pacote todo (por exemplo prefira ainda usar uma tenda convencional), sempre ganhará alguma coisa ao adotar algumas das práticas/equipamentos leves/ultraleves. Seu corpo e espírito agradecerão.

    Venha para o lado ultraleve da força!

    Em tempo: nenhum vínculo, patrocínio ou relação comercial com as marcas aqui citadas. O que uso é porque escolhi e foi comprado com meu dim-dim.

    Um vídeo com meus amigos Ramon Quevedo e Paula Yamamura do Mochilão Sabático, na Chapada. Eu com mochila bem leve.

    40 Comentários
    Fabio Fliess 06/09/2020 19:59

    Também sou a favor da matéria, Fernando. Tema super interessante.

    Peter Tofte 06/09/2020 20:01

    Quando vier para a Chapada Diamantina me fala. Quem sabe possamos ir juntos. Conheço algumas áreas pouco exploradas, fora do convencional. Daí dará para conversarmos mais sobre o assunto.

    Peter Tofte 06/09/2020 20:05

    Gosto de mergulho técnico e uma coisa que tem sido debatido no momento é que há algumas evidências que uma dieta keto ajuda a evitar convulsão por hiperoxia. Também ajuda a evitar ataques epilépticos em crianças. Parece que existe correlação.

    Fernando Cabral 06/09/2020 20:49

    Meu batismo de mergulho foi aí na Bahia. Faz umas três décadas. Depois voltei algumas vezes. Fiz um ou dois naufrágios perto de Salvador. Bons mergulhos. Mas agora mergulho de raro em raro. Mas sim, a medicina aplicou a dieta cetogênica pela primeira exatamente para evitar convulsões. Isto faz 100 anos. Ela era usada para controle de epilepsia e de diabetes tipo I (o tipo II era muito raro, ao contrário do que acontece hoje). Com a descoberta da insulina e de medicamentos para a epilepsia, a dieta foi abandonada. No entanto, nos Estados Unidos ainda há clínicas que usam a dieta cetogênica para tratar de convulsões intratáveis com medicamentos. Há um documentário muito bom sobre isto. Ele foi apresentado por Meryl Streep neste vídeo: https://youtu.be/2_8D1hH7mzo Esta é a Charles Foundation (o garoto que cujas convulsões foi tratada com dieta cetogênica): https://charliefoundation.org/ Este é o pai da dieta cetogênica para atletas (Stephen Phinney): https://youtu.be/1IEuhp8RFMU

    Jose Antonio Seng 06/12/2020 19:18

    Excelente matéria, Peter ! Parabéns. Qual o modelo de tarp que vc usa ? Tou querendo partir para uma travessia solo na Chapada Diamantina, ao estilo do Mochilão Sabático. Mas estou esperando tudo abrir.

    Peter Tofte 07/12/2020 17:28

    Valeu Seng! Tenho uma Upslope da Kelty e uma Escapist pequena da Sea to Summit.

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    Jose Antonio Seng 07/12/2020 23:16

    Show, Peter. Estou pensando em aderir ao “tarpismo”. Mas vou ter que trocar o meu poncho tarp da Sea To Summit pelo modelo ultra sil (15D). Pq a barraca que eu tenho (falei dela num post) é tão leve que pesa quase a mesma coisa que o poncho comum.

    Peter Tofte 02/12/2021 13:22

    Agora vc está muito bem com a Gatewood Cape.

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    Jose Antonio Seng 02/12/2021 19:00

    Sim, sim. Como eu falei no meu relato, resistiu bravamente as chuvas e tb ventos. O tal nylon é bem elástico. E o formato piramidal, se bem montado, faz maravilhas.

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    Jose Antonio Seng 02/12/2021 23:59

    E vc vai gostar desse poncho ! Como tem aquele ziper bidirecional na frente, fica mais ventilado ainda !

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    Denis Gois 06/12/2022 20:20

    Impressionante a quantidade de informações nessa matéria! Parabéns!! Uma leitura de qualidade

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
    3816

    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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