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Rafael Gomes 01/04/2019 21:16
    De caiaque por Belém.

    De caiaque por Belém.

    Uma volta de caiaque pelos rios e igarapés de Belém.

    Canoagem

    Moro no Pará há aproximadamente dois anos e, desde que me mudei para cá, me encantei com os rios e igarapés de Belém e região. A Amazônia encontrando aquele mundo de água doce até hoje me captura, um paulista acostumado com as paisagens fluviais do sudeste. E nestes dois anos venho aos poucos explorando a paisagem ribeirinha que cerca a região metropolitana de Belém. E é com um olhar de paulista se apaixonando pela natureza paraense que escrevo esse texto.

    Bem de frente com Belém temos a Baía do Guajará, formada pelo encontro da foz dos rios Guamá e Acará, e a Ilha do Combu, uma área de proteção ambiental que, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, possui aproximadamente 16 km2 e uma população ribeirinha de aproximadamente 1800 habitantes que vive basicamente da pesca e da extração de produtos da floresta, como o cacau, o cupuaçu, a pupunha e, principalmente, o açaí (ahh, o açaí!!! A boca até salivou). O turismo na Ilha envolve principalmente os diversos restaurantes às suas margens. O acesso a estes restaurantes é feito por lanchas que saem do terminal localizado na Praça Princesa Izabel, em Belém, e que custam R$ 7,00, com a travessia durando em torno de 10 minutos.

    No entanto, venho hoje descrever uma outra experiência: a travessia de Belém à Ilha do Combu feita de Caiaque. Meu contato inicial foi com o Nedson, sócio e guia da Canoeiros Eco-Turismo. Saímos em remada às oito horas da manhã e atravessamos o Rio Guamá em sentido ao Furo da Paciência, um dos cursos d’água que corta a ilha. A travessia da baía, de uma margem a outra, tem aproximadamente dois quilômetros e pela manhã, com as condições de maré e vento apropriados, não é difícil de ser feita. No caminho, cruzamos com balsas, lanchas e pequenos barcos de pesca. O transporte fluvial na região é intenso, sendo possível ver diversas famílias navegando em “bajaras”, pequenas canoas motorizadas. E curioso ver as mulheres nestas canoas se protegendo do sol forte da região com sombrinhas. Também avistamos um grupo de botos nadando no meio do rio.

    Bem, chegando ao outro lado do rio, remamos mais alguns metros até entrar no Furo da Paciência. A remada no furo é tranquila e contemplativa e, às margens do curso d’ água, se observa o típico ecossistema de várzea amazônico, entremeado com plantações de açaí. Além dessa natureza, o Furo da Paciência é uma galeria de arte a céu aberto: o projeto Street River, que foi idealizado pelo paraense Sebá Tapajos e contou com a participação de outros nove artistas nacionais, que juntos grafitaram mais de dez palafitas, residências dos ribeirinhos construídas sobre estacas de madeira. Os desenhos versam sobre o cotidiano dos ribeirinhos e o fundo verde da Amazônia em contraste com o colorido das casas grafitadas dá um toque especial à paisagem.

    O Nedson conhece todo mundo da comunidade! Durante a remada ele cumprimentava por nome as pessoas com quem nós cruzamos no rio, tanto o pessoal das casas quanto o dos barcos. E talvez essa intimidade é que possibilita que nós visitantes atraquemos o caiaque e desçamos para visitar as palafitas. Nesse dia, tomamos um café da manhã colaborativo, onde cada um compartilhou o que havia levado com os outros, com café servido na cuia de tacacá, no quintal de uma dessas palafitas. Bem ao lado do trapiche em que atracamos, em uma árvore às margens do rio, havia um ninhal com mais de 30 ninhos de japiim (Cacicus cela), um pássaro encontrado em diversas partes do Brasil, não só na Amazônia. Medindo entre 20 e 30 centímetros, de penas pretas e amarelas e olhos azuis, constrói seus ninhos em forma de bolsas suspensas, agrupadas em colônias e usando como material folhas de capim ou palmeira. A atividade no ninhal era intensa, com os pais saindo a todo momento em busca de alimento para seus filhotes. Ah, a espécie consegue imitar o canto de outros pássaros, e por isso pude ouvir um variedade de sons partindo do ninhal.

    Ficamos mais ou menos uma hora, comendo, nadando ao lado do trapiche e conversando com os moradores da palafita. Partimos em direção ao continente por volta das dez e meia. Na volta o rio estava um pouco mais agitado e com ventos mais fortes, mas ainda assim o regresso foi tranquilo. Da saída do furo deu para ver a cidade Belém, bem distante, pequena na vista. Ao final, depois de remar quase oito quilômetros, agradeci ao Nedson pela experiência, já com vontade de voltar (e no dia seguinte voltei para a Ilha, mas isso já é assunto pra outra prosa).

    Rafael Gomes
    Rafael Gomes

    Publicado em 01/04/2019 21:16

    Realizada em 01/11/2018

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