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Capim Amarelo
O porteiro da Serra Fina guarda seus desafios para os que querem fazer uma das travessias mais emblemáticas do Brasil
Hiking Montanhismo TrekkingO Portão da Serra Fina,
ou simplesmente Capim Amarelo - um favorito pessoal!
No outono o capim começa a secar. O que antes era verde, hoje fica seco. O que é seco reflete a luz do sol e brilha com uma cor interessante: amarelo - cor do otimismo, da juventude e da fortuna. O cenário amarelo faz o charme dessa montanha que funciona como o portão de entrada da Serra Fina. E o porteiro é quem toma a decisão de quem pode passar adiante. De quem (e quando) ele quer que passe adiante. É uma montanha decisiva. É uma montanha estratégica.
Capim Amarelo!
O LOBO E O ANJO
Encarar o Capim Amarelo em um bate e volta exige um certo condicionamento físico. A trilha se inicia em Passa Quatro, na portaria Toca do Lobo (ingressos tem que ser reservado com antecedência). A toca que empresta seu nome à portaria é rápida de chegar, passamos pelo lobo às 5:30 da manhã. Com a visibilidade reduzida ainda atravessamos um riacho e adentramos um trecho de floresta.
Toca do Lobo. Marca o início da subida .
Esse prólogo de subida insistente, sem parar, já anunciava bem o que é essa entrada da Serra Fina. Ao ganhar altitude, o dia começava a aparecer e junto ia revelando a paisagem que nos acompanha em todo o trajeto. É a Mantiqueira despida em sua melhor forma. É quando fizemos o primeiro ponto de parada para um café - 7 da manhã.
A placa indicava o Quartizito - 2013 metros de altitude. O horizonte revelava o caminho que existe para seguir como próximos passos. A partir desse ponto a trilha é pela crista da montanha, a vista não da chance para o tédio, e as coisas vão ficando cada vez mais interessantes.
Início da manhã. Mantiqueira começa a se manifestar.
Quartizito.
7 e 30 e marcha para cima! Saindo do Quartizito o que vem pela frente é o fenomenal trecho do Passo dos Anjos. É a caminhada pela crista da montanha em seu sentido literal. O que se apresenta pode aparecer de diferentes formas de acordo com o próprio humor da montanha: nesse relato, tive uma vista sensacional para o Vale do Paraíba e de frente para o próprio Capim Amarelo. Já vi quem foi e pegou um tapetão de nuvens que por si só justifica o nome do lugar. Mas também é um trecho totalmente aberto, com menos de um metro de largura, que quando a montanha decide castigar com ventos fortes, fica até difícil de segurar. Do Passo dos Anjos vamos até a área da Prainha. Local bom para um descanso, possibilidade de recarregar as garrafas de água. E onde, enfim, começa o ataque ao Capim Amarelo.
O caminho que vai, o caminho que vem. Foto clássica no Passo dos Anjos. Capim Amarelo ao fundo.
CAPIM: UM PORTEIRO FORMIDÁVEL
Se o Capim é quem toma as decisões de quem entra e quem não entra na Serra Fina, engana-se quem acha uma tarefa fácil convencer este porteiro. Ele se guarda com subidas intensas e extensas. Não apresenta tanta compaixão assim para quem quer chegar ao cume. Mesmo com toda a vista da Mantiqueira para disfarçar, a trilha vai ficando mais íngreme a cada metro vencido até chegar alguns pontos onde se faz necessário uns trechos de escalaminhada.
A imensidão do Capim Amarelo visto de baixo.
Aos poucos vão aparecendo os capins amarelos que dão nome a montanha, a trilha é bem demarcada entre o capinzal, sendo difícil se perder, mas faz por bem ficar esperto. Com algumas pausas estratégicas para apreciar a paisagem (leia-se recuperar o fôlego e se hidratar), chega o trecho com cordas (nada complicada) que marca a proximidade do cume do Capim.
Mas é só depois de ver duas placas escrita: 1) "Capim Amarelo Alt 2392" e, 2) "Pedra da Mina 6.7 km" é que se tem noção, do finalmente, conquistar o cume do Capim!
Se tem placa é porque tem cume.
Era 9:51 da manhã. Grupo bom, anda bem! Tempo o suficiente para aproveitar o máximo dessa montanha, que já explico em fotos o porque de ser uma favorita pessoal.
CAPIM AMARELO - ÓLEO SOBRE TELA
1. Em uma extremidade assinar o livro do cume já de vista com os morros lá de Minas Gerais.
2. A medida que vai avançado cume adentro é possível ver as áreas de camping (alguma barracas já estavam instaladas lá quando atravessamos). Achei um espaço para uma soneca rápida he.
3. Na outra face da montanha revela-se o que há pela frente na travessia da Serra Fina.
4. Amaryllidaceae. Única flor presa a um bulbo subterrâneo. Típica (porém em pouca quantidade) dos morros da Mantiqueira.
5. Pedra da Mina à frente (assunto para outra aventura).
6. Capim Amarelo e sua vista sensacional (e eu tietando o clube de futebol do coração).
No Capim Amarelo aproveitamos até pouco mais de meio-dia. Hora de descer e encarar todo o caminho de volta.
DO CAPIM À TOCA DO LOBO (QUASE QUE LITERALMENTE) EM UM PULO
Até a parte de descida pelas cordas fomos de boa. Com toda calma que a descida da montanha pode exigir. A partir do ponto que a descida perde o único traço técnico decidimos praticar um trail runner de dar gosto, descemos correndo com o bastão de caminhado ancorando como se fosse uma terceira perna. Descemos a ponto de ter que pular uma bela jararaca que se encontrava tranquilamente tomando seu sol no meio da trilha. Nem ligou para a gente. Errada não estava. Tinha mais o que fazer.
A anfitriã da tarde.
Corremos até parar na prainha novamente. E lá perto foi o game over de mais um bastão de caminhada. Equipamento morreu digno, enfrentando o Capim Amarelo.
Na volta deu tempo de de apreciar o Passo dos Anjos novamente e tirar aquela foto clássica que tinha ficado faltando. E terminar o caminho até a chegada na Toca do Lobo, as 15h e 21m.
Toca do Lobo na volta. Despedida do Capim Amarelo.
Missão cumprida nessa montanha que só me trouxe coisas boas. Capim Amarelo, quando quer, não se importa de compartilhar a juventude e otimismo, tão representado por suas cores, com as pessoas que andam por lá.
Capim Amarelo. Um porteiro formidável. Decifra-me ou te devoro!
