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Ricardo Bianchetti 29/03/2024 08:48
    Travessia Juatinga

    Travessia Juatinga

    Carnaval com 4 dias de caminhada e 15 praias selvagens

    Acampamento Hiking Trekking

    Eu já mirava a Travessia da Juatinga há um bom tempo, mas fazer ela completa, com tudo que tem direito, levaria bem mais que os quatro dias que teria a disposição no carnaval. Então decidi fazer no modo básico. Sem muitos desvios da trilha original. Completando em quatro dias e três noites. Mais do que somente a travessia, também organizei essa trilha como um presente de aniversário. Comecei com um amigo, mas já no início do segundo dia, ele teve que pular fora e me restou seguir em frente sozinho. Por mim tudo bem! Foi uma experiência sensacional.

    Dia 1. Paraty Mirim X Praia Grande da Cajaiba

    Distância média: 17 km

    Partindo da rodoviária de Paraty, foi com certa facilidade que pegamos um ônibus para Paraty Mirim (as tabelas e horários no site da prefeitura estão bem atualizados). O dia estava bonito e já anunciava o calor que faria, e que, para mim, foi o principal desafio de toda a travessia. Em Paraty Mirim facilmente se consegue um barco negociando com os caiçaras locais. Pagamos 200 reais (100 para cada já que estávamos em dois) e seguindo rumo à Praia do Cruzeiro.
    O sol já aparecia alto por trás do Pico Pão de Açúcar quando chegamos na Praia do Cruzeiro e eu coloquei o treckloc para funcionar. Café da manhã lá e bora de ataque para o alto do Pão de Açúcar.

    Início da Travessia - Sol no Pico Pão de Açúcar

    O Pão de Açúcar tem uma subida um pouco venenosa de mais de 400 metros, mas sem muitos obstáculos. A vista lá de cima compensa com um 360° que permite ver o Saco de Mananguá e parte do caminho que estava por vir. A descida foi tranquila, estilo leve e rápido e já estávamos prontos para o início oficial da travessia através de uma das trilhas mais bem demarcadas que já atravessei na vida. Cargueira nas costas e seguindo em frente.

    Pão de Açúcar visto de cima

    Da Praia do Cruzeiro foi uma passada rápida na Praia do Crepúsculo e seguindo direto (entre trilhas e casarões particulares) para a Praia do Engenho. Apesar do trecho final ter sofrido uns deslizamentos de terra e da recomendação para pegar um barco ao atravessar esse trecho (fevereiro/2024), não vi nenhuma dificuldade a mais na trilha e fomos por terra mesmo. Nesse ponto o calor era tanto que dava para tirar a camiseta e torcer de tanto suor que tinha. Pontos de água estão sempre presente, mas é um trecho sem sombra nenhuma e cheio de descidas e subidas. Na Praia do Engenho dava para curtir um pouco o mar, almoçar, abastecer com água gelada, deitar debaixo de uma árvore e relaxar um pouco. E depois disso a felicidade toda se esvaziou dos olhos...

    Praia do Engenho - pausa para descansar antes de uma subida sinistra

    ... porque os 423 metros de subida (e depois descida) para Praia Grande se mostrou um pouco mais exaustivo do que estava contando que seria. A trilha é bem demarcada e a subida é em mata fechada, mas este trecho tem uma inclinação generosa. O calor, a mata abafada e a cargueira não contribuiram muito para acelerar as coisas. E se a subida puxou, a descida pecava pelo tédio. Daquelas que não chegam nunca. Mas enfim chegou! Praia Grande que nos recebeu com um bom mergulho de mar, para depois encarar os últimos 1,5 km na areia até o camping.
    Diária R$ 50,00. Camping bem estruturado. Montar a barraca e cama e sono para encarar o próximo dia.


    Dia 2: Praia Grande de Cajaiba X Martim de Sá

    Distância média: 10 km

    Trilhar pelas praias que separam Praia Grande e Pouso de Cajaiba foi um verdadeira prazer. Entre o camping e a praia mais estruturada da região é possível passar por três tesouros pouco mencionados em trecklocs: Itaoca, Calhaus e Itanema. As três se unem por aclives e declives mais suaves, onde o calor foi o único desfio mais pesado entre elas.

    Já Pouso de Cajaiba é uma praia mais estruturada, com diversas opções de restaurantes de caiçaras, bares e serviços de taxi bolt. Parei por um tempo para recuperar um pouco do calor e preparar até a subida para Martim de Sá. Meu amigo também parou, mas para colocar um game over na travessia e anunciar a volta de barco para Paraty. Foi ótimo enquanto durou, mas eu estava mais disposto a seguir em frente

    E não me arrependi. A subida em direção à Martim de Sá que prometia ser desafiadora, se revelou um prazer. Subida suave, com sombra da mata e muitos pontos de água gelada. Fazendo com certa tranquilidade, cheguei ao topo onde uma placa anunciava: Martim de Sá ou Sumaca.

    E aqui me reservo no direito de abrir um pequeno parênteses: o único desvio que pretendia fazer na trilha principal era um bate e volta na Sumaca, esconder a cargueira no mato e ir com a de ataque. Momento de decisão: fazia esse bate e volta para conhecer e não conseguir aproveitar nem Sumaca e nem Martim de Sá ou seguia direto para Martim de Sá e pegava uma praia no resto da tarde?

    Ser ou não ser? - ou vai conhecer Sumaca e não aproveita Martim de Sá? Ou continua na trilha e curte uma praia?

    Tem momentos que o melhor é recuar! Foi um fim de tarde e tanto em Martim de Sá.

    Camping sensacional a 30 reais

    Dia 3: Martim de Sá x Ponta Negra

    Distância média: 19 km

    De longe o dia mais complicado de todos, mas também o mais sensacional.

    A noite em Martim de Sá foi complicada: barraca fechada com muito calor ou barraca aberta devorado vivo pelos mosquitos. O calor me incomoda mais e pesou na decisão he. Mas compensou em tomar aquele banho de mar merecido na primeira hora do dia. O camping fica em frente à praia. Força para seguir a caminhada até Cairuçu das Pedras.

    Ao olhar nos mapas, confesso que foquei mais no morro que separa Cairuçu das Pedras da Ponta Negra e subestimei um pouco o que seria o caminho entre Martim de Sá até Cairuçu. Não tem nenhuma subida que passa os 200 metros de altimetria, também não tem nenhum morro com muitos aclives, mas a verdade é que também é uma caminhada sem fim por dentro da Mata Atlântica até chegar a, enfim, visualizar a casa da família que guarda o camping de Cairuçu.

    A chegada à Cairuçu das Pedras. A praia que me roubou o coração

    A minha intenção era parar rapidinho para um lanche e nem esfriar as pernas antes da subida rumo à Ponta Negra, mas, cara... Cairuçu das Pedras simplesmente roubou o meu coração. Que praia fenomenal! A água de perto transparente, de longe um azul que da gosto. Cabeça ia longe vendo as ondas que batiam nas pedras. E na beira da água, uma piscina natural desaguando no mar. Era uma falta de educação simplesmente ir embora sem ficar um tempo lá (e até me arrependi de não tem programado o camping naquela praia). O que era para ser 15 minutos de parada se extendeu por 1 hora e meia e ainda meio se vontade de ir embora, em parte devido a Cairuçu, em outra parte devido ao desafio que viria pela frente.

    Cairuçu das Pedras - simplesmente magnífico!

    E essa subida entregou tudo que prometeu. No geral, consegui fazer em um ritmo bom e aproveitei bem dos muitos pontos de água para fazer paradas estratégicas no combo: hidratação, descanso e recuperar o fôlego. Coloquei a meta no Garmin de a cada 100m (dos 585 m) de subida alcançada era uma pausa que tinha direito. A conta não fechou. Em algumas partes do morro existe um real sobe e desce que te leva a subir bem mais que 100 m para alcançar 100 m.
    Por mim tudo bem, estava lá para isso.

    Mas na descida não tive a mesma paciência e resolvi fazer tudo correndo. Perdi dois anos de joelhos, mas cheguei à Ponta Negra bem rápido e pronto para pegar um fim de tarde sensacional. Camping por volta de R$ 70,00.

    Fim de tarde com seus tons de cores em Ponta Negra

    Dia 4: Ponta Negra x Laranjeiras

    Distância média: 10 km

    A comunidade de Ponta Negra é interessante demais. Funciona como uma vila bem pequena onde todo mundo parece ter algum grau de parentesco. De longe a mais estruturada entre as que passei nos 4 dias até então. Me organizei sem pressa, com banho de mar, café da manhã na padaria e volta no vilarejo. Tudo na calma. Estaria no dia mais tranquilo da travessia e sem compromisso de horário para chegar em Paraty.

    De Ponta Negra até Praia das Galhetas é um pulo e sem quase desvio nenhum da trilha. A praia é cheio de pedra que cria um clima bem interessante.

    A interessantíssima Praia das Galhetas

    Ainda seguindo vem Antiguinhos e Antigos e, por fim, com uma subida contando com um mirante sensacional chegar até a Praia do Sono.

    Mesmo sendo a mais famosa entre as praias que passei, eu ainda não conhecia a Praia do Sono. Foi a primeira vez lá, mas depois de uma travessia dessas, passando por tantas praias bem mais selvagens, andando no meio da mata atlântica e subindo uns morros generosos, a Praia do Sono me pareceu quase uma Copacabana de tão estruturada.

    Mirante para a Praia do Sono que indicava o fim da Travessia

    Parei para uma caipirinha. Fechou bem a travessia. Ou quase fechou, pois me recusei a pegar o barco e decidi fazer a trilha de 5 km até o ponto de ônibus em Laranjeiras como um epílogo dos que tinha sido os últimos 4 dias.

    E um prólogo do que poderia vir a ser 2024. Por que não?

    Ricardo Bianchetti
    Ricardo Bianchetti

    Publicado em 29/03/2024 08:48

    Realizada de 10/02/2024 até 13/02/2024

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    8 Comentários
    Jose Antonio Seng 31/03/2024 15:03

    Excelente meu amigo. Mas por tudo isso que vc falou, que acho melhor fazer no sentido contrario ! Fiz em 21 Laranjeiras/Paraty Mirim e pareceu mais suave. Mas vc tem razão quando fala do calor ! É massacrante ! De resto, lindos lugares !

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    Ricardo Bianchetti 31/03/2024 15:47

    Sensacional, meu amigo! Eu havia pensado em realmente fazer no sentido Laranjeiras/Paraty Mirim. Mudei pensando que no final, tomar um ônibus de Laranjeiras até o centro de Parary iria ser mais fácil. Mas é o uma boa desculpa para voltar lá e fazer nesse sentido. Talvez no inverno desta vez hehe

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    Jose Antonio Seng 04/04/2024 20:02

    Quente do mesmo jeito. Aproveita a temporada de montanha para fazer montanha. Fiz la de boa fora de epoca e foi sol todos os dias. Calor sim, mas tem muita agua e mar.

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    Ricardo Bianchetti 04/04/2024 23:41

    Dica anotada, meu amigo. Aproveitar a temporada para montanhas mesmo!

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    Jose Antonio Seng 07/04/2024 21:40

    Na verdade, essas praias, é melhor fazer fora de qq temporada, se possivel. Procure não "cair" na praia do Sono nem em Martins Sá no fim de semana. 

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    Jose Antonio Seng 07/04/2024 21:42

    Eu adotei para essa travessia e tb para Ilha Grande (ta la no meu post), ir bem leve (para isso, levei comida só de emergencia e comi muito bem com os caiçaras. Tem comida no Sono, Ponta Negra, Martins Sá, Praia Grande e Cruzeiro. Na ponta do farol vc tb consegue, se for para aquele lado. Nao tem na Sumaca. Só se avisar. 

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    Ricardo Bianchetti 09/04/2024 02:15

    A Praia do Sono eu apenas “passei por ela” para concluir a travessia. Era uma terça de carnaval. Ainda estava bem movimentada. Martim de Sá foi dois dias antes. Cheia também, mas notei que poucas pessoas chegaram lá andando.

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    Jose Antonio Seng 11/04/2024 21:42

    Sim. ali tem isso. Muita gente vai com "sherpa" ou barco. Mas é um lugar interessante. Tem que estar vazio. Como praia, acho mais bonita que ponta negra. 

    Ricardo Bianchetti

    Ricardo Bianchetti

    São Paulo - SP

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    “Como Vejo o Mundo - Diário Pessoal de Aventuras” Montanhas, trilhas e essas coisas Biólogo e Mineiro morando em São Paulo Instagram: @ricardo.bianchetti

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