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Rodolfo Gomes 26/08/2019 19:02
    Travessia Petrópolis x Teresopolis

    Travessia Petrópolis x Teresopolis

    Um bando de calouros ao fazer uma das trilhas mais tradicionais do Brasil, nos seus tradicionais 3 dias e 2 noites.

    Montanhismo Trekking

    Era 2017, me encontrava em uma situação urgente de ir para montanha e ter experiência incríveis que sempre lia e ouvia falar.

    De uma vez, chamei uns 20 amigos para irem comigo. Somente 4 tiveram disposição de encarar umas das maiores aventuras que alguém pode ter. Os corajosos eram a Hérica, o Enzo, o Franks e o Wigor. Ninguém de nós tinha muita experiência em montanhismo. Mas todos decidiram sonhar e encarar essa aventura.

    Concordamos em fazer a Travessia Petrópolis x Teresópolis. Mas ai podemos pensar: como um grupo de iniciantes decidiram percorrer uma travessia tão perigosa e sem guia nenhum?

    Sinceramente, não sei. Lembro que tinha pesquisado sobre roteiros na internet e encontrei o da travessia citada. Todos relatos que lia, sem exceção, descreviam momentos incríveis e paisagens recordáveis para toda vida. Quanto mais pesquisava sobre a travessia, mais sonhava percorrer aquele caminho. Ali, naquele momento, independente de outras pesquisas por outros lugares no Brasil à percorrer, percebemos que já haviamos sido fisgados pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

    Nesses 2 meses que se passaram desde a formação do grupo até a ida para Petrópolis, compramos tudo o que faltava: mochilas, barracas, sacos de dormir, isolantes, etc. Foi uma bagunça. Ninguém nem tinha noção do que era de qualidade e muito menos dinheiro para comprar tudo que precisava. Demos nosso jeito, esperamos o período da faculdade acabar e, no primeiro dia das férias, partimos rumo ao Rio de Janeiro!

    Em algum lugar da 040, patrocínio Petrobras.

    Em Petrópolis ficamos na casa de uma amiga nossa, a Exxtrela. É uma amiga de faculdade que na juventude, como nós, decidiu sair do conforto da casa de seus pais e viajar centenas de kilômetros atrás de uma vaga gratuita em uma universidade federal.

    Chegamos na casa dela numa quarta-feira a noite, com o objetivo de iniciar a trilha no dia seguinte pela manhã. Ao chegar na cidade, sentimos a diferença de temperatura (uns 10º C a menos que Lavras) e do clima de montanha. Com todas as vestimentas de frio resumidas em 1 moleton, os bobões se desesperam a procura de alguma loja de roupa para comprar segunda peles, luvas e meias grossas. Com a sorte ao nosso favor, encontramos uma loja quase fechando e compramos o que precisávamos, ufa!

    A mãe dela, super carinhosa, nos fez uma super janta e quase nos matou por não termos a chamado para fazer a trilha junto, hahahhaha

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    1º dia

    Saindo de casa cedo, deixamos o carro em um estacionamento à uns 100 metros da entrada do parque. Lá, pagamos uma quantia de ~15 reais a diária. Depois, passamos pelo prédio da administração e deixamos todas as papeladas e recibos de pagamento para utilizar os abrigos de montanha.

    Iniciamos a trilha umas 10:00 (bem tarde). A altitude nesse momento batia nos 1.100 metros de altitude. Os primeiros passos são feitos percorrendo um vale com grandes paredões de rocha sã ao lado. É incrível o quanto nos vemos pequenos tamanha imensidão.

    Com 1 hora de caminhada chegamos na Gruta do Presidente e na Cachoeira Véu de Noiva. Mais 1 hora e estavamos na Pedra do Queijo. Um ótimo lugar para ter o 1º descanso e fazer uma boquinha. De lá, é possível ver todo o vale do Bonfim e os picos do Alcobaça e do Alicate.

    Durante o caminho passamos por um dos trechos mais íngremes de toda travessia conhecido como "Isabeloca". No site da ICMBIO, diz que a princesa Isabel tinha percorrido este local em cima de mulas. Já em outros lugares, dizem que uma escrava com esse nome tinha se refugiado no local. Independente da origem do nome, passar por esse trecho foi difícil pra caramba!!

    Mas a recompensa veio logo em seguida. Mortos pelo cansaço, chegamos no Chapadão. Lugar extraordinariamente lindo. Com o horizonte sem neblina e nuvens, foi possível ver toda baixada fluminense, com a capital do rio ao fundo, além de toda serra que envolve Petrópolis. Tiramos altas fotos e a beleza era tanta que acabamos perdendo a hora e percebemos que ficamos muito tempo lá.

    Altas fotos

    Depois do Chapadão, veio finalmente o ponto final do primeiro dia: o Castelos do Açu. Uma interessante formação rochosa repleta de fraturas internas. Lá, é possível caminhar por entre essas fraturas enormes, algo bem surreal. Era como estar em uma caverna e não estar ao mesmo tempo.

    Castelos do Açu

    Ao lado do açu existe um abrigo da montanha. É uma infraestrutura de madeira que oferece banho quente, cozinha e beliches para montanhistas e pesquisadores. Como fiéis estudantes pobres, compramos somente o banho quente (10 reais, já alugar a beliche custava uns 30 conto).

    Abrigo de Montanha à esquerda

    Montamos nosso acampamento perto dos Castelos do Açu e fomos para o Pico do Cruzeiro assistir o pôr-do-sol e ver esse puta sorrisão.

    De banhos já tomados e dentro do abrigo da montanha, conhecemos o Emanuel. Um montanhista de longa data que estava percorrendo toda a travessia sozinho. Um cara firmeza ao extremo que trocamos altos papos, virou companheiro de trilha no caminho restante e acabou nos oferecerecendo sua sopa de ervilha. Que sopa maravilhosa hahahah!

    Com umas 15 pessoas ainda dentro do abrigo, uns usando a cozinha e outros jantando nas mesas, começamos a ouvir reclamações e gritos do funcionário do abrigo para a Hérica sair do banheiro. Descobrimos depois, que o banho quente podia durar somente 10 minutos e ela já estava nos seus 15. Os funcionários do parque começaram a ficar malucos pra água não acabar e quase desligaram a água na caixa d'água. Já a santa, arranjou a desculpa que o chuveiro não havia esquentado desde o início. No final, o que era pra durar 10 minutos acabou durando uns 20 - 25. Essa Hérica viu, só dava trabalho hahahaha!!!

    Com todos de volta para o frio do camping, preparamos nosso arroz, feijoada e legumes. Fomos dormir de barriga super cheia e, com medo de dar trabalho para a Hérica dentro da barraca (por causa da feijoada), pedi pra ela ir dormir primeiro. Permaneci admirando o céu repleto de estrelas e, 30 minutos depois, fui pra barraca. Que arrependimento que bateu de não ter ido dormir antes. Minha barraca parecia uma bomba preste a explodir e a mulher parecia um motor roncando!!! hahahhaha. Essa Hérica....

    2º dia

    Um dia para nunca mais se esquecer, desde o primeiro minuto até o último. Quantas emoções vivemos!

    Primeira aventura do dia: Portais de Hércules. Despertamos as 04:00, lanchamos rápido e partimos rumo à um nascer do sol que muitos diziam ser o mais bonito de todo o Brasil. As informações de tracklog na internet não foram muito fáceis de encontrar, pois nem todo mundo tem a disposição de acordar tão cedo e caminhar na madrugada para encontrar o local. Muito menos informações de pontos de referência, já que está ainda noite e fica difícil se localizar.

    Mas ali estávamos, os 5 caminhando em plena madruga sob as estrelas. Nos perdemos pela primeira vez na travessia, mas acabamos achando uma variante de trilha no Morro do Marco em direção aos Portais de Hécules.

    Ainda em cima do Morro do Marco e percebendo que faltava pouco para o nascer do sol, o Franks, junto com a Hérica, decidiram poupar energia e permanecer lá em cima. Enquanto eu, o Enzo e o Wigor decidimos deixar as mochilas e ir correndo para o mirante. Começamos a correr era umas 6:00, pois os raios de sol já estavam aparecendo no horizonte. Chegamos no mirante a tempo de ver um dos momentos mais espetaculares que a natureza pôde proporcionar. Foi inesquecível! Nem a melhor foto ou o melhor relato consegue descrever a beleza que é o Portais de Hércules. Se você leitor, tiver a oportunidade de um dia realizar essa travessia, é indispensável visitar esse local.

    Franks, no Morro do Marco.

    Amizade pra sempre!

    Lembro que no mirante havia mais umas 10 pessoas. Enquanto o sol nascia, dezenas de pássaros voavam no local coberto por Mata Atlântica intacta enquanto os primeiros raios de sol iluminavam a mata e, assim, umas regiões ainda estavam escuras enquantos outras claras. Era uma paisagem surreal. O mirante fica de frente aos gigantes paredões de rocha que é a Serra dos Órgãos. Ninguém sequer conseguia expressar a emoção que era assitir aquele show aonde a mãe natureza proporcionava para cada um. Nesse momento entendemos porque ali é considerado um dos mais bonitos nasceres do sol, não somente do Brasil, mas como do mundo.

    Inicia-se então a volta para o Morro do Marco e a descida para o Vale da Luva. Após abastecer nossas garrafas de água em um riacho nesse vale, nosso amigo de trilha, o Emanuel, nos adverte e orienta como atravessar essa parte pois a incidência de perda é grande entre os montanhistas sem guias. No vale, estavamos sob florestas densas, sem visão de horizonte algum.

    1 hora de caminhada depois, cruzamos o Morro da Luva e chegamos no Elevador, um dos pontos mais desafiadores da travessia. O Elevador se trata de uma subida de 50 metros em um paredão de rocha. O problema é o seguinte: para subir, apoiávamosmos nossos pés em ganchos de metal chumbados na rocha (sendo que alguns já estão falhos). Entretanto, estávamos com mochilas cargueiras de uns 10 kg nas costas e a combinação de falhar na pisada e desequilibrar, é precipício na certa!

    Depois do Elevador veio o Morro do Dinosauro, um dos pontos mais altos do parque. Lá permanecemos um bom tempo admirando a paisagem.

    Seguindo a trilha, passamos ao lado da bigwall, a maior parede de escalada do Brasil.

    O ponto mais aguardado e desafiador da travessia veio em seguida: o Cavalinho. Lugar de passagem obrigatória para quem vai acampar na Pedra do Sino. De elevada dificuldade técnica, escalar esse obstáculos com as cargueiras e, depois de um dia intenso de caminhada, requer tempo e força física.

    Quando nós 5 chegamos nesse ponto, havia um outro grupo tentando atravessar com muita dificuldade. Tentativas a parte, restava uma mulher e um cara para subir. O homem, todo desajeitado e bem gordinho, reclamava de cansaço físico. Mas mesmo assim fazia a burrice de tentar escalar ao lado de um precipício com duas enormes mochilas cargueiras. Foi preciso a Hérica discutir com ele para deixar as mochilas e, assim, as levariamos em nossa corda. Ele concordou com muito orgulho, montamos nossa corda nos ganchos e elevamos todas as mochilas. Prestes a passar todo mundo pelo Cavalinho, um outro grupo chegou e pediram novamente ajuda para elevar as mochilas. Saimos de lá mortos de cansados, depois de ajudar fisicamente 2 grupos de montanhistas. Que baita de trabalho deu. O doido é que faríamos tudo outra vez na maior alegria, hahahahha

    De acampamento já montado, conhecemos e fizemos amizade com uns estudantes de geologia da UNB. Um pessoal super firmeza que estavam em um congresso nacional no rio e decidiram fazer a travessia de última hora. Conversa vai e conversa vêm, ofereceram para nós uma pinga lá da região deles. Tomamos uma única dose desse trem e já ficamos mais loco que o batman.

    Subimos na Pedra do Sino para ver o pôr-do-sol e as luzes de toda baixada fluminense acendendo de pouco em pouco, foi impressionante e inesquecível.

    Descemos, preparamos nossa janta e dessa vez não deixei a Hérica dormir primeiro hahahhaha

    Que dia memorável meus amigos, que dia....

    O hit da travessia: comprar uma goiaba ou pagar um ônibus?

    3º dia

    Um dia tranquilo. Rumo à saída do parque, partimos do abrigo umas 10:00. Era um dia com total perca de elevação. Encontramos algumas cachoeiras no caminho e trilhamos um zig zag eterno.

    Abrigo da pedra do sino

    Vista de Teresópolis

    Chegamos em Teresópolis por volta das 14:00. Decidimos ir para uma padaria e lá lanchamos cada um super hamburguer. Todos pareciam estar saindo de uma guerra, de tão acabados rsrsr. Acho que a moça da padaria sentiu pena e até colocou uns trein a mais no lanche hahahahha.

    Em um bar perto, comemoramos nossa recém conquista tomando uma das melhores brejas geladas da vida, hahahah. Nos despedimos super emocionados, pois eu tomaria um ônibus para a capital e os 4 voltariam para Petrópolis, pegar o carro e ir para Lavras.

    A travessia do Parque Nacional da Serra dos Órgãos foi uma oportunidade única para cada um de nós 5. Uma oportunidade para estreitar relações, realizar um sonho que haviamos construido juntos, nos conhecermos melhor, disfrutar do silêncio da montanha e viver do básico. Tudo isso pela primeira vez na vida. Saímos de lá com a certeza que seria a primeira de muitas experiências na montanha. E não foi diferente, hoje em dia temos orgulho do que fizemos, sempre contamos histórias engraçadas e tristes que vivenciamos e incentivamos amigos à fazerem o mesmo. É bom pra mente, pro espirito e pro corpo.

    Saudações!

    Rodolfo Gomes
    Rodolfo Gomes

    Publicado em 26/08/2019 19:02

    Realizada de 20/08/2016 até 22/08/2016

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    2 Comentários
    Carla 02/04/2020 15:54

    Olá, tudo bem? Estou fazendo uma matéria sobre a travessia. Queria entrevistar você! Pode ser?

    Rodolfo Gomes 02/04/2020 19:02

    Ei Carla, tudo bem e vc? Que chique hahaha claro que podemos... Como fazemos, por whatsapp?

    Rodolfo Gomes

    Rodolfo Gomes

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